Capítulo 18° - A grande pergunta é se há sonhos
Stephanie Fearblood, vampira
— Ei, garota, está para começar. Mete o pé.
Stephanie piscou, olhou a mão esquerda e a boca abriu. Fechou. Estava no topo de uma padaria, metade da tarde passada e a brisa acertando-a um tanto menos quente. Mas o quê...? Piscou, fitou os topos de lojas vizinhas em suas superfícies retas, triangulares e redondas despidas de gente.
— Não, você não está vendo e ouvindo coisas — e a coisa riu. — Ouça bem, criança. Eu sou o caos, eu sou a vida, eu... ah!
A vampira acertara o dedo mindinho enegrecido contra o piso violentamente.
— Que porra!
De novo.
— Pare com essa merda!
Ela encarou o dedo. Era dividido em dois pedaços ligados, delimitação feita pela largura maior da base da superior, no abaixo do meio possuía um olho lilás. Veias roxas ramificavam-se por ele, o mindinho, branco e liso até meio minuto atrás, da vampira.
— Me ouça se quer viver, maldita! - o dedo enegrecido, tinha uma boca na metade de cima. Nojento. O acertou contra o chão. Não sinto nada nele. Um frio a percorreu o corpo. O que é isso? - Para, garota maldita! Eu sou o caos, eu sou a vida, eu sou aquela que cria e desfaz! E... puta que pariu, para com sá merda!
Acertara o dedo contra o teto de pedra. O olho e as veias brilharam. A vampira paralisou. O fedor daquilo se tornara subitamente... ''mau'' a palavra, o significado a piscava na mente como uma tocha no breu sob o cheiro. Não azedo, doce, fresco, podre, queimado... só ''mau''.
— Me escuta - a coisa. - Em trinta e três minutos e trinta e três segundos, o demônio da gula irá arrancar a cabeça da criança que brinca com os mortos. Isso será o bastante para o há muito enterrado assumir, parece que fez um acordo com o hospedeiro, mas os detalhes não importam. Semiramis será engolida por mortos tentando enterrar os vivos. Vá para o norte, posso garantir que monstros não a pertubarão a noite. Entendeu, maldita?
— O que é você...? — a vampira, olhos completamente abertos. O que são todas essas palavras? Por que isso tá no meu dedo? É real? O cheiro é horrível. Desde quando está aí? Se eu cortar fora me livro...?
— Presta atenção, maldita!
O odor piorou. O nariz da vampira enrugou e ela pôs-se de pé em um salto. A íris da coisa brilhava intensamente.
— Me escuta, dê o fora daqui, maldita.
— Por quê? O qu...
— Faça o que eu digo!
Silêncio, três e então trinta segundos. Devo levar a sério? ''A criança que brinca com os mortos'' deve se referir a Ícaro... o ''demônio da gula'' talvez seja a bêbada. Fechou os olhos com força. Abriu. E o que importa? Vou só acreditar em um monte de baboseira cuspida por... seja lá o que for essa coisa? Respirou fundo, a agitação se aquietou e as palpebrás desceram um tanto. Por que não? Frio voltou a enrolá-la as entranhas. Verdade, mentira... não é como se fizesse diferença, não é como se alguma vez eu houvesse feito a diferença.
— Se impedir o demônio da gula... — a vampira. — Impeço o ataque dos mortos?
A coisa piscou uma e duas vezes.
— Cê não ia dar conta, maldita.
— Onde está esse demônio?
— Me escuta!
Andou até a borda do telhado.
— Em que direção?
— Mais que porra! Só vaza daqui!
Farejou o ar. O odor da bêbada estava fora de alcance. Mas há restos dele, posso encontrar ela.
— ... Norte, vá para o norteeee! — a coisa.
A vampira pulou para a via, uma dupla de homens praguejou sob seu súbito aparecimento e então ela disparou. Subiu e desceu residências, cruzou ruas e fez curvas. Alcançou a igreja Note a Dama, parou um instante diante a visão dos últimos três cadáveres sendo postos em uma carroça. Uma menina chorava na borda do veículo. Stephanie fechou os punhos e desviou o fitar. Não é como se eu pudesse ter feito alguma coisa...
Continuou a se mover. O cheiro da bêbada estava a aproximadamente dois quilômetros. Outra pessoa seria impossível de localizar tão longe em meio a tanta gente.
Foi derrubada ao chão, súbita e violentamente. Dor gritou pelos nervos, saliva a escapou os lábios e um joelho foi enterrado contra a base da coluna. Empurrou o solo e teve a cabeça agarrada e pressionada contra o chão.
— Por que os atacou? — a voz de um dos elfos de ontem... Aeolus.
O gosto da areia entre as placas do calçamento a entrou a boca e o próprio queimava-lhe.
— Você ficará detida até contar onde está o livro. — ele levantou e a ergueu pelas costas do pescoço. — Em nome de Sangue Bra...!
Fogo explodiu contra o rosto do elfo, a mão largou a garota que girou, enquanto ele recuava levando os punhos à face e grunhindo, e puxou a espada dele para fora da bainha. Era um metro e vinte de aço grosso. ''Em nome de Sangue Branco'' saira-o da boca. É um deles. Ergueu a arma ao alto. Aqueles outros três devem o ser também. A lâmina reluzia a luz do meio da tarde, as íris da vampira eram esferas rubras e gélidas. Que sorte. Pôs a lâmina a descer.
O elfo pisou para trás velozmente e a espada enterrou-se no chão. As chamas haviam apagado, no rosto dele ficaram marcas vermelhas. A vampira avançou, a espada longa deslizando sobre o assoalho com um alto som agudo. Então parou e a girou diagonalmente, acima e à esquerda. O tronco do elfo inclinou para trás, a lâmina cortou o ar a centímetros de seu nariz, e ele avançou. A vampira foi percorrida por um arrepio. Ainda estou na finalização do balanço do golpe. Tinha as costelas expostas e um elfo vindo ao ataque.
A armadura foi materializada e o chute de Aeolos a fez deslizar meio metro a esquerda. Haviam mais dois elfos com ele, na esquina a frente, e treze passos, dela. Um dizia aos transeuntes para se afastaram e o outro encarava a vampira.
— Se renda — Aeolus. Fede a raiva. Raiva porque bati em seus amigos? As presas da vampira dilataram. Vai se foder. Vocês mataram meu pai! O peitoral dilatou, contraiu e de novo sob a respiração. Ativou o nível dois e o nível três. — Se continuar não hesitarei em usar força letal.
Avançou. A espada voou violentamente na direção do elfo, acima, abaixo, esquerda, direita e diagonais. Ele desviava, tentava se aproximar e falhava. Então os pés dele foram presos por uma súbita elevação de terra e a lâmina pesada o encontrou o ombro sob a ombreira da armadura e o lançou dois metros a direita com uma trilha de sangue disparando do local de impacto. Ele é muito forte, conseguir sair desse golpe só com um corte de média profundidade é quase inacreditável. O elfo que ficara na borda investiu contra ela, gritando e erguendo a lança a altura do pescoço. Stephanie esquivou da estocada e o dividiu com um golpe que o cruzou da anca esquerda à omoplata direita. Sangue disparou sobre ar, a vampira e o chão. Oh, finalmente fiz isso. Os olhos esbugalhados a fitavam enquanto o tronco caia, a boca pairava aberta em um grito mudo e os dedos largavam a lança. Desprezando seus sonhos, medos e laços. O elfo atingiu o chão com um som úmido. Odiando-o e... sentindo nada em matá-lo. Civis nas esquinas e na calçada do templo soltaram gritos, alguns correram para fora das bordas da rua semi circular a frente de Note a Dama.
Aeolus usara o nível dois, o odor a contava, e o outro elfo desembainhou o machado. Ambos rumaram a vampira. Aeolus atacou subitamente com um chute, Stephanie parou o golpe com lateral da arma e foi empurrada um metro para trás sob o impacto. Os dentes de cima pressionaram os de baixo vigorosamente. Que força...! Pisou para o lado sob a descida do machado do segundo, o metal do homem fincou no chão, e ela enviou a lâmina rumo a cabeça dele. O elfo foi puxado para trás por Aeolus e a espada cortou ar.
— Saia — Aeolus, desviando da estocada da vampira. O machado foi passado a ele e o elfo partiu a ofensiva. Golpes atrás de golpes, Stephanie os aparava e de novo, metal gritando, faíscas voando, pés indo a frente, trás e lados. A respiração de ambos subira o tom e suor os marcou. A vampira só conseguia defender, com uma espada daquele tamanho não podia mudar para ofensiva contra a velocidade do elfo com um machado. Fez energia mágica descer a terra, formar um circulo usando a palavra ''earth'' e controlou o solo a agarrar os pés de Aeolos. Mas ele pisou para esquerda e a jogou contra o chão com um golpe que Stephanie encontrou usando a barriga da arma. Girou sobre ele, o machado abriu um talho onde estava e ela pôs-se de pé. O ritmo, a força e os reflexos dele são absurdos. Os músculos da vampira queimavam e as roupas estavam empapadas sob a transpiração.
As íris rubras encaravam as azuis. Havia dois metros e meio entre eles, a sombra de Note a Dama marcava a ambos e o som de suas respirações enchiam o ar. Deram um passo rumo ao outro, então mais um, as armas apertadas sob os dedos e as vozes do público soando em murmúrios ao fundo. Avançaram em um rápido impulso, machado desceu a diagonal e baixo, espada a diagonal e cima. O tronco da vampira pendeu para trás, o elfo abaixou, o metal da placa de peito de Stephanie rasgou com um ganido metálico e a orelha do elfo disparou corpo a fora. Dor a ardeu da borda inferior da omoplata às costelas. Giraram as armas de novo, lâmina encontrou lâmina, faíscas voaram e então fizeram outra vez.
'' Nessa luta inútil
Vida vaza
Meses, anos, sorrisos, lágrimas...
Nesse combate inútil
Vida escapa-me
Sonhos, desejos, dores...
Em cima de uma rua qualquer, olhando uma história qualquer
Perder tudo e mais uma vez
Desejar tudo e desistir mais uma vez
Se desesperar e fazê-lo mais uma vez
Vida vaza rubra, quente e saudade de um futuro que nunca virá me enche ''
Estava cercada, elfos e licantropos e mestiços e... Ícaro. O cheiro dele era mesclado ao de carne congelada dos zumbis. ''A criança que brinca com mortos''. Ele gritou algo enquanto machado e espada encontravam-se, então avançou a eles e o elfo que Stephanie espancara, que a salvara na noite anterior, puxou Aeolos para trás. A vampira ergueu o pé, o moveu à frente, parou antes de tocar o solo, sangue espirrou do corte no tronco, dor a engoliu os sentidos e rubro a escapou por entre os lábios. Merda, merda, merda! O corpo pendeu rumo ao chão e mãos a agarraram os ombros. Inclinada, apoiada por outro e com pernas moles, teve as íris rubras a irem a direita e cima. Ícaro, olhos dourados e fedendo a um mescla de sangue élfico e carne congelada. Ele sorriu largamente. O elfo tinha a pele pálida e veias finas o marcavam as bordas do rosto. Um dos punhos a largou e foi ao cabo da faca atada a cintura. Longa, negra e com punho de ouro. Então é assim que acaba? Fechou os olhos.
Bem que demorou para acontecer.
Sangue jorrou, uma, duas e três vezes, pingou sobre o aço da armadura e rua. Ela fora solta e atingiu o chão com um plaque metálico, um de carne soou logo após. Sangue se espalhou em uma poça sob Stephanie. Quente.
''Sabe, garota? Acredito que a morte é o sono em letras maiores... ou escala...'' a oni dissera quando caminhavam dias atrás pelas vias, a mulher estava bêbada e tinha decidido substituir o silêncio entre elas por sua voz, ''Você fecha os olhos e o mundo atual some'' então rira. ''A grande pergunta é se há sonhos ou se a nossa vida foi o último deles''. Um arrepio cruzou a vampira. Se perguntou se teria mais ou se aquele pesadelo era a última coisa que sua consciência presenciaria.
''É tão triste, pessoas que morrem em um sonho ruim. A ânsia por outro se torna maior sob tais infortúnios.''.
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