Capítulo 17° - Quero lutar com todas as minhas forças
Stephanie Fearblood, vampira
Ah, aquilo era real. O cheiro de cadáveres e tristeza. O som de choros, pragas e raiva. Não uma estúpida viagem tentando salvar a própria vida e entregar uma mensagem com um conteúdo já conhecido. Seguiram até a base de operações montada em uma loja de armas na noite anterior. Centenas iam e voltavam do lugar enquanto a lua ainda pairava alta, com sua partida milhares puseram-se acomodados ao redor do estabelecimento bélico. A maioria dormia, menos de meia centena comia e uma dezena jogava conversa fora.
Stephanie estava sentada no telhado fitando o horizonte enquanto os odores da cidade a contavam o resultado de ontem sobre o populacho. Há quase nada de felicidade, embora aja mais cheiros tranquilos do que eu teria suposto... mas no fim, tristeza e medo pairam com mais força que qualquer um. ''A melancolia da guerra, da chegada do inverno nortenho e da pandemia, os tambores de Tyr ecoam sobre os ares enquanto vida e morte mais ferozmente se enfrentam'' escrevera um anão com os exércitos humano e oni chocando-se a menos de um dia da Torre de Ivan. E como ele tudo que fiz foi pairar de uma janela qualquer enquanto pessoas lutavam por seu povo e crenças, perdida em meus próprios problemas.
Respirou fundo. Eu vou fazer parte disso. Lutar todas as noites contra monstros para defender os cidadãos. Cerrou os punhos. É quase um bom futuro. A luz da manhã a tocava quente e o estômago roncou. Pôs-se de pé e farejou. A faísca de um odor de sangue congelado seguia reto e a sudeste, há trezentos metros a partir do armeiro. É quase certamente um restaurante que vende para vampiros. Fez os dedos deslizarem pelas moedas no bolso que o elfo de ontem a dera. Então partiu. Helena a seguiu. A elfa estivera em seu encalço desde que se viram no dia anterior. A mulher perguntara se não sabia de algo sobre o ataque a Cruz do Primeiro, comentou que havia sido divulgado que os elfos iriam para suas casas quando um item roubado fosse recuperado e questionou a vampira sobre o nome.
Helena vestia um robe negro desgastado, as íris continham azul e dourado e o cabelo era negro. Não trazia em canto algum o símbolo de Sangue Branco, mas Stephanie murmurou ''Maria'' sobre o nome e mostrou ignorância e desinteresse sobre as questões anteriores.
Conseguiu uma porção de sangue de monstro por cinco ex de bronze. ''O mercado tá saturado de tanto desse ultimamente'' a explicação dada sem ser pedida sobre o valor. Stephanie bebeu após o descongelar. Péssimo, grosso, amargo... péssimo. A caneca voltou vazia à mesa redonda posta a frente do estabelecimento. Levantou. E agora? Haviam longas horas entre ela e mostrar serviço nas fileiras de soldados protegendo a cidade. A mão foi ao bolso e passeou sobre as dez moedas restantes, nove de prata e uma de ouro. Perdera a espada mais recente quando foi capturada.
Talvez consiga uma boa em promoção... ou... fitou na direção da igreja a três ruas à sul dali. Fechou os olhos e mordeu o canto da boca. Pilhagem? Pretende perguntar ao consorte e criança do falecido se podem dar sua arma ou vendé-la por um baixo custo? Andou na direção contrária. E a elfa pôs passos paralelos ao dela.
As mãos de Stephanie semi fecharam, os olhos fixaram-se duramente na frente enquanto a respiração ocorria tensa. O que ela quer...? Parou. Não é óbvio? Esperou.
— Não vai para casa, Maria?
Não há um lugar assim para mim. Calor a percorreu o nariz e as bordas dos lábios bambearam por um instante. Eu não tenho uma casa.
— É órfã?
Sim. Um início de umidade a tocou os olhos. Cerrou os punhos e voltou a caminhar. Não importa o que essa elfa quer, eu não tenho nada com seu desejo de capturar Stephanie Fearblood e entregá-la ao exército de Sangue Branco por alguma recompensa brilhante.
— Sabia que os elfos que derrubaram a Cruz do Primeiro já estão em Semiramis?
Stephanie paralisou, respiração presa e olhos completamente abertos. Eu... deveria... o quê? Fechou os olhos, puxou o ar e forçou os músculos a relaxarem. O que eu deveria fazer com essa informação?
Correr.
Lutar.
Implorar por ajuda.
Deixá-los me matar.
— Estão atrás da filha daquele ladrão, o tal do Jaime Fearblood..
A socou. Forte, com o punho revestido em manopla de aço e energia mágica o suficiente para pô-la a mão enterrada em um crânio sem camada de mana protetora. A cabeça da elfa foi para trás, o tronco seguiu e as pernas perderam o contato com o chão. Exclamações soaram de transeuntes e dois sujeitos saltaram para trás instantes antes da mulher atingir o solo onde estavam pisando.
Ela poderia ter morrido. Aquele golpe seria a morte para alguém como Antony, teria feito um rombo em alguém com habilidades medianas, talvez o pondo a falecer. E sinceramente, eu não sinto nada sobre a possibilidade.
Que essa vadia morresse. Que todos os pares de olhos me encarando fossem enterrados sob a terra. ''Cercada por inimigos e estranhos'' e porquê eu deveria me importar se cada um deles cair duro?
As lágrimas em formação secaram, a respiração tornara-se profunda e os punhos fecharam mais firmemente. Estou de saco cheio. Voltou a andar. Sem rumo, com um... talvez.
Algo havia morrido dentro de si, podia sentir sob uma estranha calma. E espero que dessa vez fique morto.
Achou um armeiro, não o cercado por guardas e aventureiros descansando, e entrou. Seguiu as armas penduradas na parede esquerda. Espadas pendiam ao centro, machados ao alto e lanças em horizontal em baixo. Na parede as costas escudos de diferentes tipos e na frente da vitrine pairavam seis manequins lado a lado vestidos com armaduras.
São todas uma porcaria. Testou cada uma. Metal ruim, equilibrio ruim ou rachaduras na superficie. Pegou uma que era apenas do primeiro tipo. Um metro de aço, cabo de couro e punho revestido de lã marrom. Não lembro de alguma vez ter visto uma que usasse lã. A estendeu na direção da mulher do outro lado do balcão no fundo da loja.
— Vinte e cinco ex de ouro.
De jeito nenhum. A colocou de volta no lugar. Apontou a esquerda. Direita, mais ao lado e ao outro até ter ouvido quantias absurdas para aquele lixo. Soltou o ar pela boca.
Eu deveria matá-la. Fitou de soslaio a rechonchuda licantropa com orelhas felinas. Por que me importar? Por que... eu...
Saiu do estabelecimento. A rua era tomada por pedestres e carroças e pessoas montadas em cavalos. Podia cheirar seus humores, a melancolia era baixa, ao menos entre a vintena cruzando aquela via. Stephanie encostou na parede ao lado da entrada da loja. Fungou e deslizou contra pedra até a bunda encontrar o chão. O rosto foi às coxas e os braços apertaram as pernas.
Irei esperar anoitecer e então... ''podem tornar sua existência um pouco menos miserável. A matando ou sendo mortos. Imagino que tenha uma preferência quanto a isso''. Tenho uma... ou não, não importa, lutarei contra os monstros a noite, contra elfos e contra quem mais quiser. Morrerei ou serei morta... de um jeito ou de outro serei menos miserável. O canto da boca tremeu, ela o mordeu e então forçou-a acima. É quase um bom futuro. Apertou as pernas com mais vigor.
Eu odeio tudo iss...
— Está tudo bem?
Ela ergueu o rosto e fitou para a direita e cima. O elfo de ontem. Voltou a enterrar a face nas coxas.
— Sinto muito... - ele, a voz diminuindo a cada pronúncia de letra, então sentou-se no chão.
Passos e vozes de transeuntes, vento, animais e os caixotes sendo postos na carroça do outro lado da via. O elfo fedia a tristeza. O chão era pedra lisa e morna, a manhã pairava a metade de um braço de marcar onde Stephanie tinha sentado.
— Você deveria ir ao sul, deixe qualquer coisa que possa ter com um guarda e diga-o para levar ao governo - o elfo suspirou. - Sangue Branco se contentará só com o livro.
Oh. Ergueu a face para encarar o homem. Ele tinha o triplo da largura dela, trinta centímetros a mais em altura e fedia a pelo menos três vezes e meia a quantidade de mana da garota. A vampira põs-se de pé. Se for para fazer isso, o primeiro movimento vai decidir minha vitória ou derrota. Frio, raiva e calma e dor agitavam-se no estômago dela, corriam-na pelas veias. As íris azuis do elfo a encontraram. Eram odiosas piscinas em meio ao rosto magro e mal barbeado com um cabelo loiro cinzento e desgrenhado. Eles falam de melancolia.
O acertou a jugular. Que direito a merda de um elfo, a porra do mesmo monstro que os que mataram meu pai, tem de sentir melancolia?! O que porra qualquer um de vocês saberia sobre isso?! O acertou a têmpora com a mão envolta em aço, então o queixo e a outra lateral da testa e logo o nariz. E de novo. Vai se foder! Vai se foder! Todos vocês elfos deviam se foder!
Quando parou estava arfando, o rosto do sujeito uma mescla de carne rosa, vermelha e roxos. Ele era forte, outro menos capaz de manter a energia mágica defendendo apesar das pesadas pancadas, em pontos considerados excelentes para nocaute, teria morrido. O cheiro de sangue contra ar entrou-a pelo nariz. ''Ainda baba pensando em todo aquele sangue, sim? Seu estômago se agita, suas pupilas dilatam e essas belas presas expandem em três centímetros afiados ansiosos por perfurar, certo?''. Desviou o encarar e fechou os olhos. O que eu estou... o que ele estava fazendo? Ele poderia ter lutado de volta e vencido. Ele não deveria ter só... mordeu o canto esquerdo do lábio inferior, soltou o ar pela boca e andou sob os comentários dos transeuntes. Estava suja de sangue e lutando contra a vontade de admitir que gostava. Era doce, era promessa de paraíso e estava por toda frente dela. E... ruborizou ao notar, ''O gosto, o cheiro, a textura, a aparência... oh, só de pensar isso coloca arrepios a subirem lá de baixo, certo?''. ''Subirem lá de baixo'' não era só um jeito de falar e não era só sobre o estômago.
Uma mão a desceu sobre o ombro uma horas mais tarde.
— É você quem anda batendo nos outros, mocinha? - um homem qualquer. - Me acompanhe até a delegacia.
Haviam mais dois juntos a ele. O odor de mana do mais forte chegava a pouco mais da metade do da vampira. Moveu o ombro para fora do agarro. E andou.
— Ei!
Quase parou. Quase girou para trás e o acertou do mesmo modo que a elfa Helena. Ou pior, como atingira o homem. Esse sujeito não é como eles.
Teve o antebraço segurado.
Ele não sobreviveria.
— Você vem comigo! Não fui acordado do meu descanso depois daquelas desgraças a noite para... uuoooh!
Stephanie o agarrara o braço e lançado-o contra a parede. Virou-se para os restantes, as mãos deles indo aos cabos de suas armas e os rostos marcados por olheiras tensionando. Atingiu o da esquerda no nariz, ele caiu, a da direita fez o aço ir em diagonal debaixo ao pescoço da vampira. Stephanie abaixou, avançou, agarrou o tronco da guarda e a jogou para cima e trás. Ela caiu com o som do metal da placa de peito acertando a calçada.
Correu, três e sete passadas, então parou. Para onde estou indo? A cabeça pendeu para cima e ar a escapou os lábios. O céu pairava em um azul com meia dúzia de nuvens largamente espaçadas. Eu não faço ideia...
As pálpebras baixaram. Poderia seguir o cheiro da oni e... cerrou os punhos. O que eu quero fazer? Abriu os olhos. O que porra eu quero fazer, merda?!
O vento a soprava os fios dourados, o populacho soltava sons e as lojas esculpidas de pedras a fitavam com íris mortas de terra e pó.
Respirou fundo.
Eu quero lutar.
Eu quero morrer ou matar...
Mas acima de tudo... quero lutar com todas as minhas forças.
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