Capítulo 13 - parte 2
Ele suspirou, era alívio e talvez uma pontada de medo. Sua pequena estava indo embora. Conrado observou o navio deixar a ilha apenas com seu fiel companheiro no ombro em silêncio.
Ele estava péssimo, sabia e sentia que seus dias estavam não muito longe de acabar. Conrado caminhou para casa apenas depois do navio sumir ao horizonte.
Ele poderia ter ido junto? Sim, ele talvez poderia, mas não suportaria morrer em um lugar que fosse longe de onde ele fora mais feliz na vida.
Conrado amou uma pessoa do sexo feminino, no passado ele temia que por seu estilo de vida nunca fosse amar alguém do sexo oposto. Mas não foi do jeito que ele imaginária amar.
Sim, isso mesmo, ele amou sua pequena incondicionalmente. E foi a melhor experiência de sua vida. Poderia parecer a morte mas foi um grande presente para ele ter ido parar naquele lugar pacato sem nada além de natureza e nativos que nada sabiam de leis ou etiqueta.
Sua chegada naquela ilha foi um desastre, ele tinha um bebê recém-nascido chorando e sem saber o que fazer apenas com uma canoa cheia de coisas mas nenhuma delas comida ou mamadeira de bebê. Céus, mesmo se tivesse uma mamadeira onde ele iria arranjar leite? Uma vaca-marinha?
A pior coisa do que o desespero sem saber o que fazer era a forma como eles foram recebidos na ilha.
Uma nativa corria de três homens, também nativos, ela estava em desespero gritando.
Os homens pararam encarando Conrado quando a mulher caiu aos seus pés num tropeço, ela olhou para eles chorando e Conrado estava paralisado sem saber o que fazer. O homem gritou alguma coisa na língua deles mas a mulher não respondeu, ele falou então de uma forma que Conrado jurou que ele estava a xingando de alguma forma. Então os homens se foram e a mulher suspirou se encolhendo quase que aos seus pés.
Atordoado Conrado se abaixou e tocou o ombro da mulher seminua com cuidado, ela estremeceu e sua expressão mostrava pânico completo quando ela o viu. O homem não sabia se dizia alguma coisa mas nem precisou, na mesma hora sua pequena Bella chorou tão alto que foi de fazer os ouvidos doerem. A mulher nativa de pele escura bronzeada esqueceu completamente o seu medo na mesma hora e puxou devagar o pano que envolvia a bebê, quando ela viu a menina Conrado viu aquele olhar em seus olhos, aquele olhar materno inconfundível.
Ele era ótimo em analisar pessoas, seus anos como comerciante tinham lhe dado essa visão aguçada. Ele confiou naquele mesmo momento na mulher quando ela olhou para ele tentando se comunicar para que lhe desse a bebê.
Ele ficou com um pé atrás apenas por receio da mulher sair correndo mas então ele deixou que a mulher pegasse sua Bella.
Devagar a mulher levou a sua pequena chorona até um dos seios onde silenciando o choro, a bebê mamou. Conrado se surpreendeu, sim, ela estava mamando, a mulher na sua frente tinha leite para dar a pequena faminta.
A mulher sorriu sussurrando leves rimas na língua nativa que Conrado associou a uma cantiga para bebês.
Ele olhou na direção de onde aquela mulher tinha vindo mas ela protestou puxando o braço dele que a encarou, ela balançou a cabeça apontando para lá, então apontou para si mesma e suspirou claramente tentando explicar que não viriam atrás dela. Ela fez mais alguns gestos e ele entendeu, ela estava "morta".
Ele fez um aceno de confirmação para ela saber que ele tinha entendido. Então ela bateu no próprio peito de novo e apontou para a canoa, para sua Bella e para ele, depois para si mesma de novo.
– Quer me...ajudar? – Ele olhou para canoa depois para ela de novo
Ela simplesmente se levantou carregando Bella indo em direção a canoa na margem.
Desde aquele dia a mulher não desgrudou mais deles. Aos poucos por gestos e tentativas de ambos em tentar se comunicar ela lhe explicou que um animal feroz da ilha tinha, por culpa dela, comido o seu bebê, ela era irresponsável por ter deixado o filho do líder deles morrer e os homens queriam bater nela.
Mas ela fugiu não só por medo mas por culpa e agora ela só iria viver para ajudar a cuidar de Bella. Sim ele e a mulher tiveram um relacionamento, mas nunca chegou a ser realmente amor, Conrado se perguntava se tinha chegado até mesmo a se apaixonar por ela um dia. Foi uma época boa, Bella era muito apegada a nativa quem ele dera o nome de Margarida.
A tristeza é que quando Bella tinha quatro anos Margarida simplesmente sumiu, Conrado sabia, ela tinha morrido, por algum motivo mas nunca encontrou o corpo. Sua Bella ficou arrasada por meses, mas ele acredita que fez um bom trabalho a criando e ensinando tudo que podia, não foi o melhor, mas deu tudo de si para isso e em troca ele adorava receber o sorriso de felicidade de sua pequena até o momento que ela cresceu e começou a se tornar mulher.
Aí sim ele entrou em desespero, não sabia o que fazer, não sabia o que dizer e pior, ele agora tinha medo. O que aconteceria com ela se ele simplesmente sumisse um dia como Margarida ou pior, morresse e ela se encontrasse sozinha naquela ilha?
Ele estava doente já, mas agora que ela tinha ido embora daquele lugar finalmente estava feliz porque nenhum dos seus medos se realizaria.
Ele caminhou até ao penhasco todos os dias, almoçava lá, ficava lá até o pôr do sol junto de Arthur. Aquele era o lugar favorito dele na ilha, a vista era perfeita e lá era o lugar onde ele ia sempre que podia com sua pequena para brincar ou simplesmente lhe contar histórias das aventuras dele como um comerciante solitário.
Ele contava dos grandes impérios muito ao leste das terras depois do mar, seu lugar favorito por causa das roupas coloridas dos festivais, dos desertos, dos lugares frios e dos lugares mais quentes que tinha conhecido.
No seu último dia de vida Conrado tinha fechado a casa como de costume para nenhum animal indesejado entrar, tinha subido o penhasco, colocado o colar de Bella pendurado na árvore. Aquele colar não era dele, a parteira do navio tinha lhe entregando antes de abandonar o navio com ela.
O colar era da criada, mãe de Bella, a parteira tinha lhe contado. Ele esqueceu infelizmente de devolver e contar a verdade, sim isso era a única coisa de que ele se arrependia de não ter feito antes dela partir, entregar o colar.
Então ele se sentou na beirada do penhasco admirando a vista enquanto respirava com dificuldade o ar puro e salgado da brisa vinda do mar. Seus últimos pensamentos foram a comparação de Bella pequena correndo pela cabana e Bella na última vez que a tinha visto, já uma mulher jovem adulta e belíssima. Ele imaginou seu sorriso e sorriu, sentindo um aperto no coração de tanta saudade antes de Andrew sair da floresta e acertar o velho apenas com um tiro nas costas, Conrado não viu a figura de cabelos loiros que lhe tirara a vida com tanta facilidade e sem remorsos.
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