A Promessa - Um conto sobre o Mundo
Todos sabem que o mundo mudou. Porém, não fazem ideia do quanto... Mas eu sei. Sei porque minha tatatataravó contou para minha tatataravó, que contou para minha... Bem, acho que já deu para entender. E agora conto para você...
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Reza a lenda que os humanos nem sempre foram os únicos capazes de falar. Há muito, muito, muito tempo, o mundo não era tão calado de vozes como é hoje...
Os pássaros tagarelavam, levando e trazendo notícias de todo lugar. Os mensageiros... Os cachorros e gatos, sábios como tal, opinavam sobre tudo quanto eram capazes. Os conselheiros... O vento e as águas entoavam canções melodiosas, que enchiam os momentos de harmonia. Os músicos...
As árvores satisfaziam desejos, oferecendo todo tipo de alimento que a terra pode dar! Os dentes-de-leão realizavam sonhos em troca de um sopro, e depois se despedaçavam, apenas para deslocar-se e a outra pessoa ser capaz de abençoar. E as borboletas... Ah! As belas borboletas sempre a vagar, completando a beleza de qualquer ambiente, tornando o dia melhor com piadinhas e pequenos sorrisos. Tão bondosas... Tão puras...
E o ser humano vivia em completa paz em meio à tudo isso. Preservava a natureza, aquilo que lhe era oferecido, agradecendo sempre por cada detalhe que circundava sua realidade. O problema é que um dia isso mudou...
Numa noite de inverno, no coração de uma aldeia, um andarilho esfarrapado implorou por abrigo. Os animais não entenderam como alguém pudesse passar fome ou sede, frio ou calor, em meio a toda aquela harmonia, portanto aconselharam aos humanos que o conhecessem melhor antes de permitirem que adentrasse o lugar. Mas, infelizmente, não lhes deram ouvidos... Abraçaram ao homem com toda a piedade do mundo e deram-lhe morada na aldeia. Gesto bonito, porém, ingênuo...
No universo perfeito em que viviam, apenas um ser muito malvado em sua essência poderia ser negado pela natureza de tal forma ao ponto de passar por necessidades. Os animais reconheciam isso, mas os humanos não... Fecharam seus olhos para o mal e permitiram que os corrompesse.
O vento e as águas cessaram suas melodias. Os pássaros calaram suas vozes. Os cães e os gatos tornaram-se inimigos dos humanos. Os dentes-de-leão negaram-se a conceder desejos e as árvores pararam de produzir frutos. E as borboletas... Ah! As belas borboletas deram fim a suas piadas e pequenos sorrisos. Tão bondosas... Tão puras... Mas até mesmo elas nos deixaram.
A natureza se afastou à medida que o mal entre os humanos se espalhou.
Não agradeciam mais, não sorriam mais, não observavam mais! Não viviam mais... Enfrentaram um período de trevas.
O mundo ficou por inteiro quieto. Tão quieto que os próprios humanos perceberam o erro cometido. Mas não havia volta... Num universo perfeito, não há lugar para um ser corrompido e imundo. Não há lugar para um andarilho...
A esperança, porém, é a última que morre. E em um belo dia, essa esperança nasceu. Uma doce criança com o dom da bondade veio ao mundo no coração de uma aldeia. A mesma aldeia que, no passado, tivera acolhido um homem muito mal e ocasionado todos os problemas que o mundo vivia. O pequeno ser humano, inclusive, pertencia a linhagem do tal andarilho! Porém houvera nascido com a alma das pessoas do passado.
Esta criança voltou a agradecer pela vida e, pouco a pouco, os demais começaram a imitá-la. Respeitavam mais uma vez a natureza, observavam o mundo, davam valor aos detalhes que circundavam o ambiente.
Mas não era suficiente. Os animais, o vento, as águas, as árvores... Todos foram traídos uma vez, e não seriam de novo.
As borboletas, porém, tão bondosas e puras, resolveram negociar. Por intermédio da criança que carregava o bem em sua essência, firmaram a promessa de jamais traírem uns aos outros, e todos aceitaram, inclusive a natureza. Porém, com algumas restrições...
As árvores ofereceriam a partir de então apenas um tipo de fruto. O vento e as águas só revelariam sua melodia durante a madrugada, quando tudo é silêncio. Os cachorros e gatos (este segundo meio à contragosto) voltariam a acompanhar os humanos, mas agora em um profundo silêncio, sem mais oferecerem conselhos ou opiniões. Os pássaros voltariam a tagarelar, entretanto, o fariam em uma língua que nenhuma pessoa seria capaz de entender. Os dentes-de-leão realizariam sonhos, mas apenas de pessoas que carregavam o bem em sua essência. E as borboletas... Ah! As belas borboletas não sorririam mais. Tão belas e puras, agora seriam apenas o sinal de que uma promessa foi firmada.
Promessa que, porém, nos dias de hoje já receio ter sido quebrada...
De madrugada, as águas e o vento choramingam com tanta poluição. Os pássaros se afastam e não nos abençoam mais com seu canto tranquilizador. As árvores estão morrendo e os frutos crescem sem gosto. Os cães e gatos atacam humanos e, os que ainda prezam pela amizade entre as raças, são abandonados nas ruas. E as borboletas... Ah! As belas borboletas estão sumindo. Tão bondosas... Tão puras... Desistiram dos humanos.
O mundo mergulhado novamente em trevas.
A esperança, porém, é a última que morre. E eu, agora, ansiosamente a espero nascer. Mas... Será que essa esperança é você? Pense...
FIM!
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Esse conto sobre o mundo chegou ao fim, mas gostaria de conhecer outro? Acesse meu perfil e conheça Estações! Aguardo vocês ;)
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