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♤ TRÊS ♤

— Nessa primeira etapa será feito um sorteio. Sete meninas terão o direito de conhecer um dos príncipes, passarão quinze dias no cortejo para depois ser a vez das outras sete restantes. — inicia a supervisora. — Depois desse primeiro contato poderão haver trocas, sabemos que todos podem interagir e não conversarão apenas com seus parceiros. Depois de feito a troca, caso haja, passarão mais um mês com seus parceiros e no fim desse período serão entregues os receptáculos informando a decisão do príncipe. Se positiva, a promessa passará mais um mês vivendo nas maravilhas do reino. Se negativa, poderão voltar para casa e iniciar o treinamento para seus futuros cargos. — conclui Sue e a vejo pegar duas caixas, colocá-las no birô e sortear os primeiros nomes.

— Príncipe Brendon e Senhorita Jenna. — sorteia e observo o príncipe seguir em direção a garota que treme descontroladamente. No entanto, não compreendo a razão para tal descontrole.

A instrutora continua o sorteio e no fim Cefeida tem a sorte de já conhecer o seu destinado, príncipe Kendrick, já eu terei que ser cortejada pelo príncipe Valentin.

— Agora que todas as sete promessas estão cientes de seu parceiro inicial, as outras sete estão livres para conquistar seus pretendentes. — finaliza e as outras sete meninas dão risinhos satisfeitas com o anúncio. Enquanto eu, apenas rezo para que elas conquistem logo o meu pretendente.

Saindo da sala, já preparada para buscar meu aposento, sou surpreendida por um certo príncipe no qual a sua presença me desagrada.

— Olá, boneca! — diz ele, enquanto permanece estagnado na minha frente, me impedindo que continue com o meu percurso.

— Ângelo! — falo de modo nada agradável. Seu sorriso é caloroso como sempre, sei que deveria ter raiva, mas não consigo. Não dele.

— Como está? — questiona e contemplo seus olhos da cor de avelã sorriem e me seguro para não passar o mesmo.

— Ainda com raiva e irritada por ter que te suportar por um tempo.— respondo fingindo uma certa irritação e o vejo trocar o peso de uma perna para outra, ao mesmo tempo que ajeita a sua gravata cinza.

— Qual é! Faz tanto tempo, Jade!

— Ela só tinha quatorze anos e fui a sortuda para levar toda a culpa. Me submeteram a um interrogatório sem fim, fora todos os exames que tive que fazer para comprovar que não fui usada. — vocifero e a falsa irritação de segundos atrás torna-se real ao lembrar do ocorrido.

— Sabe que não fiz nada, você viu que não fiz nada. — alega e suspiro pausadamente semelhante a minha mãe, pois nisso somos parecidas. Quando vê que o assunto não irá para frente, Ângelo ele decide mudar partindo para outra conversa.

— Minha mãe está encantada por ela, desde o dia que esteve na sua residência. — revela animado e faço uma carranca com a lembrança de sua visita.

— Todos estão, se não andar rápido… — aconselho sabendo que não deveria.

— Desejo sua irmã como a minha promessa e como um príncipe de sangue eu tenho direito à escolha. Basta iniciar as trocas que farei a minha. — garante e faço que sim enquanto o observo se encostar na parede. Seus cabelos loiros escuros esvoaçam com a ventania da janela próxima a nós e o reflexo da luz os fazem parecer fios de cobre.

— Como está com Valentin? — indaga curioso. Retorno ao mundo, saindo de meus pensamentos e reviro os olhos ao ouvir seu questionamento.

— Fomos feitos um para o outro!— ironizo, mesmo ainda não tendo o encontrado e mexo meus cílios rapidamente como geralmente as princesas fazem e caímos na gargalhada como nos velhos tempos.

— Tem visto Derek? — replica a indagação. “Quanto questionamento, senhor!” Penso comigo.

— Não. — digo secamente.

— Está sabendo que ele e Lucas cortejarão nesta temporada? Pelo que sei a destinada de Lucas está garantida, mas houve problemas com a de Derek, não há mais nobres para serem avaliadas e provavelmente resgatarão alguma das promessas. — revela e penso que mamãe deve estar feliz com a notícia, rodopiando em casa por provavelmente uma de suas filhas se tornar uma princesa real.

— Cefeida pode ser chamada, todas as rainhas comentam de sua graça e beleza. Então, cuidado meu amigo ou a perderá antes do tempo. — preconizo. O príncipe Ângelo mostra um sorriso arqueado e elevo uma de minhas sobrancelhas em questionamento.

— Tenho minha certeza que não, não é dela de quem falam. — declara e fico intrigada, ansiando para que ele continue, no entanto ele apenas encara minha face com um riso divertido. — Todo ano que a vejo tem mais disso. — implica tocando as minhas sardas de uma forma nada legal e faço o mesmo com as suas.

— Para de ser chato! Só porque tem menos que eu acha que está no direito de me caçoar? — ralho, mas não resisto por muito tempo. Rimos e chamamos a atenção dos outros para nossa conversa, ele percebe e passa a mãos por entre seus cabelos, pois de certa forma falarão sobre isso depois.

— Sei de um lugar que podemos conversar sem que ninguém atrapalhe. — diz e fico receosa. Caso nos vejam juntos podem piorar os boatos, embora nunca tenha me importado realmente com isso e não sei porque, agora, me encontro tão preocupada a respeito.

— Onde? — ao perguntar noto que outros olhos já nos observam prontos para nos delatar.

— A biblioteca. — revela animado.

Claro, promessas são ensinadas sobre moda e beleza, jamais sobre livros, por essa razão lá é o melhor lugar para estarmos. Aceito o convite, vamos caminhando lado a lado e retomo os pensamentos do porquê de termos nos afastado tanto por conta de uma fofoca.

Ângelo sempre foi um bom rapaz, no entanto possui a fama de mulherengo. Apesar do que todos pensam ele nunca ousou tocar em mim e não passou de beijos com minha irmã. Quando mamãe soube do falatório ao meu respeito exigiu exames para saber se não fui violada, nesse caso eu seria obrigada a casar com Ângelo pelos princípios morais do casamento puro. Para ela, isso estava sendo maravilhoso até descobrir que eu continuava imaculada. A questão é que para o boato não recair sobre a minha irmã fingi que eu era quem estava no jardim aos beijos com ele, enquanto minha irmã me pegava no flagra.

Ao adentrar na biblioteca sinto o odor do mofo pois, como a parte do castelo menos visitada, as criadas passam muito tempo para arejar o local. Sento-me na poltrona com coloração acinzentada e sinto meu corpo afundar na maciez do assento. Ao mesmo tempo, eu e Ângelo damos um suspiro pelo conforto proporcionado e fechamos nossos olhos para aproveitar o pequeno momento de paz que teremos antes do início da avaliação. Eu por desejar ardentemente retornar para casa e ele por saber que sairá daqui com uma noiva a tira colo, mesmo que ela não seja a minha irmã.

— Depois daquela confusão a rainha não permitiu que eu voltasse aqui.— revela em meio a um sussurro. Abro meu olhos para encarar a feição tristonha de meu amigo e me sinto feliz por poder estar ao seu lado mais uma vez, mesmo em condições desfavoráveis para mim.

— Mamãe também não, ela disse que eu não servia nem para segurar um príncipe.— desabafo, sentindo o seu olhar recair sobre mim e me viro rapidamente, em direção ao lado oposto, por odiar que sintam pena.

— Ela não mudou, não é?— indaga e faço que sim, meneando a cabeça em positiva, sentindo sua mão pousar na minha.

— Senti sua falta, principezinho malcriado.— digo e retiro minha mão de um jeito que não dê para notar meu desconforto e volto a olhá-lo.

— Derek mudou tanto, não temos mais a mesma proximidade de antes. A mãe dele tem planos para ele que não envolve amizades.— relata e foco os meus olhos, agora, em olhar para o tapete felpudo.

— Sei disso, estava presente quando ela o baniu de visitar outros reinos. Só não entendo porque não fez o mesmo com Lucas.— exponho e o vejo pôr a mão abaixo da boca, em um leve roçar no queixo, como se estivesse pensando em uma teoria maluca.

— Nem ele a entende, ela mudou e quer fazer o mesmo com os filhos.

— Sim, penso até que...— início, mas, antes de concluir a frase, ouço o barulho da porta sendo aberta. Sue olha para nós como se fôssemos os piores criminosos do planeta e ela está pronta para nos julgar da pior maneira possível.

— É por esse e outros motivos que deveríamos separá-los, Vossa Majestade que Reina Serena.— esbraveja e engulo em seco ao ver a rainha, escorada na soleira da porta, nos observando. Aguardo qualquer reação ruim, alguma ordem de desprezo, porém o que ouço é inesperado.

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