♤ DEZOITO ♤
Pode iniciar-se uma guerra em nome da paz?
Não posso dizer que sinto ódio por toda a situação que vem ocorrendo, ainda não consigo classificar ou denominar a palavra correta para demonstrar o que estou sentindo. Em um momento de tédio, por ter que ouvir sermões de Sue de como uma promessa deve se comportar, imagino o que teria me acontecido se o destino fosse traçado para que eu vivesse de um outro modo. Entretanto, respirando devagar e em pequenos goles de ar, parei e parti para a ideia mais correta: não tenho como saber ou fazer suposição, minha realidade é essa e tenho que aceitá-la.
Hoje ocorreu algo incomum, avistei Belle, uma das destinas que deveria estar com Ângelo, conversando com a rainha Stella Maris. Claro que como são do mesmo reino não havia motivos para desconfiar ou tomar pré-conceitos sobre o que se tratava o diálogo tão discreto, porém sou tinhosa, tenho meus sentidos aguçados e com minha prática de leitura labial entendo algumas coisas que considerei importante desse diálogo.
A primeira que conseguir entender está relacionado a uma festa surpresa, até aí tudo bem, não há nada e nenhum motivo para desconfiar, contudo, também entendi que a tal festa deveria ser realizada em Limbell, pois lá estaríamos mais seguras que Prylea. A segunda que considerei ainda mais estranha, mas que pude entender foi a culpa que Belle sente em fazer isso, porém, de toda forma, ela sabe que a rainha pode ser bondosa com sua família por essa pequena ajuda. A terceira e não menos importante, foi que Stella Maris teria que dar um jeito de Ângelo ser de Belle novamente e isso, caros amigos da minha mente, não gostei. Podem imaginar a cara que fiz ao saber disso e não poder fazer nada a respeito? Sou apenas uma jovem Promessa contra a Majestade de um povo.
Após desvelar a conversa, sai do meu esconderijo, de onde conseguia observar as duas e fui em busca de alguém que possa me ajudar, talvez se eu contar a rainha Mallory ela me auxilie ou eu consiga ajudá-la em algo que também seja para o meu benefício.
Enquanto cruzo os corredores, apressadamente e sem qualquer cuidado, sinto um impacto forte sobre mim. Com meu descuido, colido com Diana que provavelmente não esperava os meus movimentos bruscos.
— Desculpa, Diana! Essa não era a minha... — antes que eu termine o pedido de desculpas ela interrompe a minha fala.
— Estava procurando por você! — informa e franzo o cenho, apesar da proximidade que tivemos nos últimos dias não sei o motivo que ela tem para estar à minha procura.
— Em que posso ajudá-la? — questiono, ainda sem fôlego, no entanto Diana não responde de imediato, apenas segura a minha mão e me arrasta em direção ao seu aposento.
Quando entramos a vejo fechar à porta atrás de si e verificar se há alguém pelas redondezas. Do vão do seu quarto posso ver a macieira que escalei com Derek e que conversamos sobre o assunto que não me era recorrente, até agora. A vejo buscar papéis dentro de uma caixa e pôr tudo sobre a cama.
— Quando criança eu escrevia muito sobre tudo que encontrava, era uma desbravadora nata, escavava muitas coisas em meu quintal e por todos os lugares que me hospedava. Por muito tempo esqueci de todas essas coisas, porém os meus pais souberam de algo e me enviaram esses envelopes como um alerta. — descortina e observo vários desenhos de pedras verdes desenhadas no papel, claro que sendo um rabisco de criança não dá para entender o que se trata de imediato. — Descobri ainda criança que sob meu reino há jazidas de jadeíte, por coincidência a pedra que deu origem ao seu nome. Não tenho como comprovar, são só conclusões minhas, mas acho que Haffínit também possui o mineral ou outro tipo de minério mais precioso. Todos os outros reinos possuem seu próprio minério e fonte de riqueza. Por que só o nosso não teria? Se juntarmos o nosso reino seremos mais ricos que Limbell, visto que em tamanho seremos maior, além de que quando unirmos nossas riquezas teremos maiores possibilidades de soberania. O que acha? Tenho a resposta para as suas perguntas? — conclui, revelando o que jamais poderia imaginar.
— O que quer que eu faça com elas? — questiono ainda sem demonstrar uma boa reação, tudo que ela disse faz sentido, mas, por que eu? O que tenho de tão incomum a ponto de parecer confiável?
Diana crava seus olhos em mim, a sua face similar à noite revelando a intensa sensação de que também está em perigo.
— Temos a mesma preocupação. Quero ajudar o meu povo e você ao seu, talvez possamos passar essas informações para as demais. Sua rainha pode conversar com a minha, informar sobre os ataques e problemas que estão ocorrendo em seu reino. Certamente avisará ao rei Élan e ele poderá tomar algumas medidas de segurança. — propõe e sinto minha cabeça latejar, uma dor fina e que se concentra em boa parte da região superior da face. Toco meus dedos sobre a testa e início uma massagem em círculos.
— Tudo bem, vou ver se consigo fazer algo.
No almoço aparentava que eu havia engolido um punhado de areia, a comida não descia, o gosto se tornou ruim e eu sabia exatamente o motivo. Nunca me senti tão impotente, aparenta que não sei fazer nada além de ficar quieta e sentindo a devastação se aproximar do meu mundo. Como se tudo que eu precisasse era que um salvador viesse e me tirasse desse estado ou protegesse a todos de quem quer que seja.
Os minutos inquietantes queimavam a minha mente em brasas, meus neurônios tentavam formular encorajamentos e memórias sobre os meus pais e como eles me educaram para ser mais. Mais que uma plebeia e bem mais que uma promessa, alguém em quem poderiam confiar.
Então, agora, depois de muito pensar e tentar elucidar uma forma de ajudar o meu mundo, tirei as minha próprias conclusões. Não preciso de um príncipe que me salve, eu sou mais que uma simples Promessa, sou filha do homem mais corajoso de Sandelle, não posso fraquejar nem por ele e nem por mim. Sou uma guerreira e treinada durante toda a vida como uma, preparada para governar um exército e é isso que farei, terei o meu próprio grupo de combate.
O corredor está vazio, por incrível que pareça chove demasiadamente e todas se acomodam em seus respectivos aposentos. Convido Diana, deixando visível o quão importante é o chamado, e solicito que convoque todas as jovens de confiança e que Belle ou alguma amiga dela esteja envolvida.
Todas estavam amedrontadas com o que disse, joguei todos os meus padrões ao lixo, me tornei a soldada que meu pai tanto ama e que minha mãe tanto teme. Cefeida me olha com certo brilho e admiração, principalmente depois que disse a todas o motivo da reunião. Joguei tudo na face das dondocas, sem qualquer medo do que pode acontecer depois.
— Não cansam de ser fúteis, salvas o tempo todo por príncipes? — questiono, não reconhecendo a minha própria voz. — Será que só pensam em unhas e cabelos? O que são? O que as movem? O reino de todas estão em perigo, a família de todas podem desaparecer a qualquer instante. Quando todos estiverem mortos irão se importar com esses detalhes? Todas essas coisas são supérfluas, passageiras e que crescem com o tempo. Se querem pensar em filhos e casamentos, tudo bem, podem sair daqui e viver até o dia que conseguirem, sem ambas as coisas. Quem as garante que sairão vivas dessa? Sem treinamento não durarão um dia, nessa guerra apenas uma quer ser vitoriosa e ela não pensa em levar ninguém consigo. Podem se juntar a mim e serem fortes, mudarem seus destinos tão semelhantes. Podem deixar de serem apenas Promessas, para serem quem vocês quiserem. Eu quero ser a minha melhor metamorfose, sem medos e amarras. E vocês, o que veem em seus espelhos? Se quiserem prosseguir como promessas tudo bem, não vou dizer que estão erradas em desejar príncipes, no entanto sejam as melhores que puderem ser. Sejam aquelas que lutarão por aquilo que terão no futuro. — concluo, sentindo-me forte.
Dara sorri para mim, sabe que por dentro meu peito bombardeia com uma velocidade além do normal. Ela e Diana são as únicas que aceitaram de prontidão antes que eu recrutasse as outras.
— Então, quem está comigo?— indago em um sorriso caloroso.
Observo o resultado sendo melhor que o imaginado, todas erguem-se de seus respectivos assentos em sinal de aceitação. Respiro um pouco aliviada, para depois lembrar que tenho pouco tempo para treiná-las. Uma mensagem de alerta vêm em minha mente, algo que ainda não detinha encaixado na minha decisão. Eu tenho pessoas, além delas, que podem me ajudar, agora preciso saber se eles concordaram com essa sandice. O não já possuo, me basta apenas correr em busca do sim.
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