♤ DEZ ♤
Os erros do passado não podem definir o futuro, porém sempre se pode aprender com eles.
— Derek.— digo ao me separar de Valentin.
— Pensei que a sua irmã havia lhe dado o recado e que não quisesse me ver, pois, vejo que estava enganado.— diz calmamente, apesar de seu semblante nada amistoso. Fecho os olhos e imagino o problema que teria se fosse outra pessoa que tivesse nos visto, agora que Valentin não é mais meu “parceiro” tenho que ter cuidado com nossos encontros noturnos.
— Pensei que se tratasse de Valentin, não imaginei que você me encontraria no jardim.— explico e vejo Valentin franzir o cenho, provavelmente não imaginou que alguém como eu conhecia o herdeiro de Limbell.
— Príncipe Derek, é uma satisfação conhecê-lo.— cumprimenta Valentin. A feição de Derek, nesse momento, é suave, embora sinta que ele, por dentro, fervilha.
— Príncipe Valentin, ouço muito sobre sua alteza na corte. Enfim, faço de suas as minhas palavras. Deixarei vocês a sós, não quero atrapalhá-los.— finaliza e reconheço uma anotação diferente em sua voz, como se suas palavras não fossem verdadeiras. Depois que ele sai, lembro-me que Valentin está ao meu lado.
— Então já o conhecia… Por isso, ele a escolheu. É por causa dele que não quer estar com alguém.— garante e passo a mão sobre o meu vestido, retirando uma sujeira inexistente.
— É uma longa história.— digo enquanto ouço o som dos grilos e o brilho de alguns vagalumes nas partes mais escuras do parque.
— Tenho a noite toda para ouvi-la.— assegura Valentin. Volto a minha atenção para o príncipe em questão e me sinto incomodada com sua persistência.
— Apenas não tenho interesse de falar sobre isso no momento.— respondo e dou as costas para Valentin, seguindo de imediato para o conforto do castelo.
Compreendo que teria mil motivos para me apaixonar por ele, mas encontro apenas um forte o bastante para que não o faça.
Ao voltar para meu quarto noto que minhas coisas já foram retiradas no curto período de tempo que estive fora e a placa na porta não está mais com meu nome e sim o da nova promessa. Vou para o corredor sul, no qual estão instalados os nobres da realeza e início a busca pelo meu nome. Óbvio que tudo aqui é diferente, os castiçais são de diamantes e metais como ouro e prata, as paredes possuem detalhes em tons neutros que contrastam com o tom avermelhado. Entre uma porta e outra vejo o nome Derek e fico tentada a bater, no entanto minha mão fica solta no ar.
— Deveria ter batido, teria o maior prazer em atendê-la.— diz o próprio me surpreendendo. Sinto meu coração ganhar um novo ritmo ao ouvir a voz de Derek. É como ser surpreendida por algo que se deseja ardentemente.
— Não sabia se já estava em seu quarto e, na verdade, estou procurando o meu.— minha voz soa um pouco rouca e rogo aos céus que ele não tenha notado essa mudança.
— Se não mudaram, é o próximo, será minha nova vizinha de quarto.— desvenda. Seu sorriso é caloroso e percebo minhas mãos soarem. Que droga! Permaneço algum tempo segurando o seu olhar e me sinto perdida em um mar de chamas.
— Então, penso que devo ir. Nos veremos depois.— quebro o silêncio e obrigo o meu corpo a se mover.
— Com toda a certeza. — ouço antes de chegar à porta de meu aposento.
Ao adentrar o quarto, vejo como é diferente do anterior. O cômodo é decorado com cores neutras e de auto padrão, claro que agora não tenho mais o símbolo de meu reino decorado em toda parte e sim uma libélula demonstrando a posse de Limbell sobre mim. Sento-me na cama enquanto repasso o meu dia, a conversa de Valentin com a rainha Stella, sua súbita mudança de planos depois disso. Seria muita ingenuidade pensar que uma coisa não tem a ver com a outra, só me resta saber o porquê. Continuo a divagar e nem ao menos percebo quando Dara entra em meu quarto, apenas sinto o cheio da torta que está em suas mãos.
— Valentin!— afirmo ao vê-la abrindo a boca para se explicar.
— Isso mesmo, ele pediu a pouco que a entregasse.— explica e sorrio por conhecê-lo em poucos dias e sentir uma certa satisfação por esse feito.
— Nosso trato, ele me deve uma todos os dias.— explico ao ver sua face demonstrando dúvida.
— Posso saber qual o motivo?— questiona e vejo, agora, a curiosidade estampada em seu rosto e apenas dou de ombros.
— Talvez! Primeiro irei me deliciar com essa iguaria.— respondo com indiferença. Rimos ao olhar uma para outra e ver o desejo presente em nossos olhos. — Nem acredito no dia de hoje!— confesso, me ajeitando no chão com o prato entre as pernas.
— Estou ciente de algumas coisas. Quer falar sobre isso?— quer saber enquanto mastigo e sinto a maciez da torta, imaginando se deveria contar-lhe minhas preocupações.
— Por hora, desejo apenas absorver isso tudo e depois conversamos sobre isso.— garanto e a vejo assentir após abocanhar um pedaço da torta. Passamos a noite toda conversando sobre outras coisas que não envolvessem escolhas, rosas e coroas.
Ao amanhecer do dia senti-me estranha ao estar em um novo cômodo, era como sair de minha casa para visitar algum familiar distante. Querendo ou não já estava familiarizada com meu antigo aposento, ele é bem semelhante ao que ficava nos tempos que visitava o Palácio junto ao meu pai. Ouço alguém bater a porta e digo que entre, mesmo ainda estando com roupas de dormir. Cefeida entra alegremente com dois envelopes na mão e me entrega um. Leio o nome de papai escrito com tinta dourada e o selo, em formato de uma calla lily, símbolo de Ulyere lindamente estampado na folha branca. Abro tentando não estragar tanto e me ponho a ler as lindas letras de meu pai. Na carta, ele indaga como estou e me conta dos afazeres do dia a dia, solicita que o escreva e me pergunta sobre Valentin. Noto que a carta de Cefeida foi escrita por mamãe, mas não questiono sobre assunto que se trata. Olho para o horário e me decepciono por ter acordado cedo em um fim de semana, o qual não tenho nada para fazer.
— Algo programado para hoje?— questiono para a minha irmã que põe um fio solto atrás da orelha.
— Por hora não, mas no fim da tarde darei uma volta com Ângelo.— avisa animada. Faço um “uh-um” para ela, que dá giros e sorrisinhos de alegria.
— Cefeida, peço que seja precavida.— procuro aquietar seus ânimos para que não faça nada de errado. Ela para o que está fazendo por um momento e a vejo morder o lado interno da bochecha.
— Entendo sua preocupação, embora possa cuidar de mim sozinha.— sentencia. O seu balançar de ombros me faz lembrar dos meus ao desobedecer mamãe, uma forma de rebeldia.
— Tudo bem, faça o que considerar melhor. Mas lembre-se do que me disse agora quando se meter em algum problema.— ralho, sem alterar o tom de voz e a vejo irritada por minha implicância.
— Entendo, mas…— inicia suas argumentações, porém não permito que termine. Cefeida é displicente com certas coisas e não entende isso.
— Não tem mais o que dizer, não quero discussões por causa desse assunto. — replico dando-lhe um basta. Quando ela está pronta para responder, ouvimos batidas na porta. Cefeida vai abrir e sinto seus braços irem em direção a alguém.
— Derek!— fala calmamente, a minha irmã, como se não houvesse discutido a pouco comigo.
— Nossa, como está crescida, Cefeida.— diz ele a envolvendo em seus braços e dando-lhe um abraço.
— Precisamos colocar a conversa em dia depois desse tempo que ficamos longe.— sugere Cefeida animada. Derek passa as mãos por seus cabelos castanhos, enquanto tenta fazer com que ela dê espaço para que ele entre.
— Claro, só marcar!— garante. Minha irmã olha para mim por cima do ombro e faz aquela feição de criança quando está aprontando.
— Podemos aproveitar e sair os quatro: eu, você, Jade e Ângelo.— provoca com sua sugestão e minha boca se abre em um “O” perfeito. Com indignação, fito a minha irmã para que ela saiba que não facilitarei para ela depois disso.
— Para mim, está perfeito.
No fim da tarde, saímos do Palácio para nosso primeiro encontro em casal, eu, minha irmã e os dois pretendentes. O que achei muito clichê e sem graça, apesar de estar ansiosa com o momento. O caminho dentro do automóvel é perturbador, pois sentir os braços de Derek tocarem os meus me remete um misto de sensações diferentes, já que há muito tempo não tínhamos contato. Tento desviar a atenção observando a cidadela que vamos, Narin, tão acolhedora e aconchegante que nos permite voar além, apenas de observá-la. Narin tem pouco mais de cinco mil habitantes, a maioria dos habitantes de Haffínit se instala aqui para buscar trabalho, já que a cidade tem eventos o ano inteiro e pode se ver, em todos os cantos, pessoas desenhando e cantando em busca de trocados. A cidade é coberta por tinta colorida e textura arenosa, como se tudo fosse planejado para ser semelhante e simétrico desde as pequenas cafeterias aos grandes salões de festas. Da minha posição, banco traseiro e lado direito, consigo identificar a escolta disfarçada. Óbvio que para sairmos do palácio, com dois príncipes herdeiros, haveriam em nosso encalço, guardas armados até os dentes.
Quando chego no destino sinto o aroma dos alissos, como um convite para entrar. O local é uma pequena doceria que vínhamos muito quando estávamos em Prylea. Todos juntos. O ambiente traz a sensação de como se estivéssemos dentro de uma estufa repleta de flores e aromas adocicados. Como combinado, não havia ninguém no local, todo o espaço foi reservado para nós. Confesso que sinto falta do calor humano, de ouvir outras conversas além do nosso silêncio. Deixo que Derek puxe uma cadeira para que eu sente e vejo Ângelo fazer o mesmo com minha irmã. Foco minha visão nos botões do meu vestido acinturado e no tecido de um tom marrom escuro. A gola alta me faz sentir sufocada e penso em mil motivos para pedir licença e respirar um pouco de ar fresco. Ângelo inicia um diálogo, nos questionando sobre as comemorações que se aproximam e o agradeço por quebrar a quietude do momento. Mudamos de assunto e reconhecemos as poucas mudanças que ocorreram no último ano e descrevemos poucas coisas interessantes que nos foi passado. Sinto que Derek aproxima seus lábios dos meus e o impeço a tempo.
— Não, não está certo.— digo enquanto observo Cefeida entretida em bagunçar os cabelos de seu parceiro.
— Jade, antigamente beijá-la não era um problema para você.— lembra e suspiro pesadamente. Encaro seus dois sóis e tento encontrar a mesma pessoa de antes, entretanto sinto que um escudo foi criado entre nós e não consigo atravessar.
— As coisas mudaram, fiquei muito decepcionada com você. Não pude acreditar que não me enviou uma correspondência sequer. Esqueceu de nós tão rápido…— acuso e recuso sua tentativa de tocar em minhas mãos. Observo que hoje ele mudou a cor de seu terno, deixou o tom verde-escuro para uma coloração um pouco mais clara que a do meu vestido.
— Sinto muito por isso e por não ter acreditado em você, porém, o que queria que eu pensasse?— questiona com indignação. Passo a observar as abelhas colhendo o pólen das flores e levando para outras realizando a polinização.
— Como pôde pensar que trairia a confiança de minha irmã e a sua? Ângelo foi e sempre será considerado um irmão para mim, sabe de nossa história e do modo como fomos criados.— argumento, sentindo em meu coração uma tristeza profunda ao relembrar do passado. Derek pisca várias vezes e o vejo pegar a caixinha de óculos.
— Não pensei bem quando ouvi o boato, minha situação não era das melhores e Ângelo me explicou na primeira oportunidade que teve, no entanto demorou muito para que fosse liberado sua entrada no palácio.— explica, porém, me recuso a abrir meu coração para ele mais uma vez. Ainda está tudo recente.
— Deveria confiar em mim e saber que jamais ficaria com o meu amigo e também seu. Você me decepcionou de tal maneira que assumo: não realizou uma boa escolha ao me dar aquele anel.— desabafo e me preparo para levantar de meu assento e ir embora, porém sinto suas mãos tocarem as minhas e seus olhos finalmente trazendo aquilo que tanto procurava.
— Mesmo que não tenha mais o mesmo sentimento para comigo, seria desleal que eu escolhesse outra pessoa quando a única que me importa é a senhorita.
Olá, promessas e príncipes!!
Mais um capítulo para vocês, espero que gostem!!😍😍😗
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