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A PRINCESA QUE VIROU ESTRELA

É véspera de Natal. Lara está ansiosa rodeando a árvore montada em nossa sala enquanto esperamos pelos nossos convidados. Augusto está igualmente ansioso e desconta isso surrupiando os docinhos na cozinha e correndo furtivamente pela casa. Lívia o adverte, mas ele se esconde debaixo da mesa e come suas guloseimas escondido. Eu tento manter o mínimo de organização até a chegada dos demais, da nossa família que agora cresceu, vigiando as comidas sendo preparadas, me certificando que Lara e Augusto não derrubaram e quebraram alguma coisa com a correria deles pelos cômodos. Lívia está comigo me ajudando no preparativo de tudo, mas sua maior tarefa é manter as crianças comportadas e longe dos presentes embrulhados embaixo da árvore, além de separar eventuais brigas entre os dois menores e impedir que Augusto coloque objetos de metal nos buracos das tomadas, ou estrague os enfeites natalinos pela casa, ou se emaranhe nos fios de pisca-pisca ou, na pior das hipóteses, derrube a árvore de Natal sobre seu corpo.

Enzo está no quintal, junto com Ana Beatriz, mais namorando do que fazendo a tarefa que lhe foi designada: arrumar a mesa com a louça e talheres para a nossa Ceia de Natal. Aqui da cozinha posso ouvir os risos e gargalhadas entre os dois, que namoram há quase três anos.

— Aqueles dois... adianta falar com eles? — cochicho para Lívia ao meu lado, terminando de temperar nossa salada enquanto verifico o peru no forno.

— Deixe-os, Alfredo — ela me repreende, olhando pra mim — São jovens e estão apaixonados.

— Até ontem, ainda eram crianças.

— É, mas eles já têm 18 anos.

— Meu Deus, como estou velho — resmungo, e Lívia gargalha alto, jogando uma azeitona em mim.

— Neste caso, também estou.

— Ah, mas você é uma coroa gostosa.

Ela me estapeia no braço e me rouba um beijo profundo. Somos interrompidos pelo soar da campainha, anunciando a chegada dos demais. Lara corre atender a porta, eufórica, e pula no colo do avô — o pai de Lívia — que a recebe com muitos beijos. Augusto não fica atrás e, movendo suas perninhas, vai ao encontro de todos, mas, principalmente, ao encontro de Nina, a filha de Henrique (que ele teve com outra mulher durante uma crise em seu relacionamento com Victória), que tem a mesma idade dele — mais nova apenas duas ou três semanas. Os dois se abraçam e, parecendo se esquecerem de qualquer outra coisa, Augusto a puxa pelos punhos, querendo de todas as maneiras mostrar o novo brinquedo que ganhou.

— Sem subir as escadas, Nina — adverte meu irmão enquanto entra.

Toda nossa família surge através da porta. Mamãe acompanhada de Tarcísio — os dois se casaram oficialmente na primavera do ano passado —, enroscada aos braços dele; Henrique com Victória; meus sogros Marcus e Katia, e meu melhor amigo com sua esposa grávida do primeiro filho: Bernardo e Ann-Marie. Eles irrompem sala a dentro e nos cumprimentam com abraços e apertos de mão calorosos. Enzo surge com Ana, abraçando-a pela cintura, com um sorriso estampado no rosto. O namoro o faz bem... de uma forma que nunca vi desde que voltei da França, quando ele tinha apenas nove anos.

Ele corre abraçar o pai e pergunta da "prima-irmã".

— Está por aí, com Augusto.

— Aproveite e fique de babá com aqueles dois, Enzo — peço, enquanto ele sai junto com Ana.

Enzo continua com seu espírito genuíno e brando, um filho a qual Henrique, Lívia e eu temos orgulho. Num minuto, ele já reuniu os três irmãos no quintal e brinca com eles, juntamente com Ana Beatriz.

A família se reúne na sala, e Lívia serve os aperitivos antes da ceia. São por volta de oito da noite. Regando nossas conversas e risadas com um bom vinho, nós temos uma noite agradável antes da virada. Trocamos os presentes no amigo-oculto, um momento divertido e feliz entre nós. Lara está ansiosa para abrir seu presente, Augusto não para de me rodear e de tagarelar. Damos os presentes às crianças, aos risos, e vemos a felicidade deles saltar dos olhos: Lara ganhou um kit de balé, como havia pedido, e fica eufórica quando lhe digo que ela começará as aulas de balé no começo de Janeiro. Ela corre e me abraça forte, depois abraça a mãe, murmurando repetidamente um "muito obrigada, papai. Eu te amo, mamãe". Augusto ganhou sua Ferrari de controle remoto; e Nina, uma capa rosa de super-heroína, do modo como me pediu.

— Eu nunca vi isso — comenta Henrique, amarrando a capa na menina —, ano passado me pediu uma espada de sabre, esse ano quis essa capa e aniversário com o tema do Homem-Aranha. Ela nunca me pediu uma boneca.

— Isso não é problema — comenta Vic, com um sorriso — São brinquedos, e brinquedos são feitos para crianças. Além do mais, Nina é uma super-heroína, não é, Nina? — e Vic brinca com a pequena — Que tipo de heroína não tem uma capa e uma espada?

Todos rimos enquanto assistimos à performance de Nina correndo pela casa, a capa esvoaçando, para socorrer o carrinho de Augusto virado com as rodas para cima, enquanto ele grita "socorro".

— Ainda não acabou, crianças! — digo, pegando mais três pacotes quadrados debaixo da árvore. — Esses daqui são uns presentinhos extras. Principalmente pra você, Lara, que está começando a ler.

Os três se apressam em abrir o embrulho e descobrem três livros idênticos de capa dourada.

Lara lê o título pausadamente:

— A Princesa que Virou Estrela. Por A. J. Hauser. É o nosso sobrenome! — diz eufórica quando reconhece.

— Quem é A.J. Hauser? — pergunta minha esposa, espiando o livro.

— São as iniciais de Alfredo Joseph Hauser, suponho — meu irmão deduz, e ele está certo.

— Você escreveu esse livro, crétin? — Bernardo indaga, surpreso.

— É um conto de fadas, na verdade. Já tem alguns meses que venho trabalhando nisso. A ideia me surgiu numa noites dessas em que contava uma história pra Lara e pro Augusto antes de eles dormirem.

— Leia pra mim, papai! — Lara pede, dando saltinhos de alegria, abraçada ao livro, depois de já tê-lo folheado e percebido que ele é ilustrado, também.

— Leia pra nós. — Enzo intervém, curioso.

— Não... — digo, um pouco encabulado. — Quero dizer... é uma história para crianças, vocês não vão gostar.

Lívia se aproxima e se senta no meu colo.

— Estamos curiosos agora. Por isso, terá de ler para nós. — ela diz, e todos concordam.

— Certeza de que querem ouvir? — questiono e recebo um positivo unânime. — Certo... então... crianças, sentem aqui.

Augusto, Lara e Nina se sentam do meu lado, quase em cima de mim, os demais estão acomodados nos sofás da sala, esperando que eu comece.

Abro a primeira página:

A Princesa que Virou Estrela. "Era uma vez, há muito, muito tempo, num reino chamado Distante e Longíssimo, um rei presunçoso que vivia em seu castelo de imensidões incalculáveis. Mesquinho e egoísta, o rei não se importava com os sentimentos de seu próximo. Podia ser seu súdito mais fiel, ou a donzela mais bonita, ou reis de outros reinos, ou o homem mais nobre... Não havia ninguém na face da Terra que amolecesse seu coração."

"Apesar de toda a sua arrogância e falta de compaixão, havia muitas donzelas que se apaixonavam pelo Rei, provido de belos olhos azuis, um charme e beleza natural que conquistava toda e qualquer donzela que ele quisesse".

— É mesmo um convencido — Lívia murmura, percebendo que o rei da história é minha própria personificação.

Risadas despontam da sala, e eu ignoro seu comentário com um sorriso e continuo com a história:

— "As tolas meninas que se apaixonavam pelo Rei eram levadas pelo seu sorrisinho bonito e pelo brilho dos seus olhos, pelo seu charme e palavras vazias, mas elas não conheciam seu coração, seu interior, que faziam dele ele mesmo. Em seu coração não havia espaço para um pequeno sentimento chamado amor. O Rei nunca amara alguém de verdade, ele não conhecia tal sentimento e zombava daqueles que o cultivavam em seu coração. Para ele, o amor era tolice. Um desperdício de tempo. Mais tolos ainda eram os homens que amavam. Ele pensava ser imune a esse sentimento. Os outros à sua volta, também. Como podia o Rei amar alguém sendo tão mesquinho e egoísta? Zombando de algo tão bonito, singelo e poderoso?".

"Enquanto isso, lá no céu, observando os humanos, havia dois anjos incumbidos de vigiar o reino Distante e Longíssimo. Certa vez, sobrevoando o reino acima das nuvens, os dois anjos se depararam com uma cena incomum: uma donzela se arrastava aos pés do Rei, implorando pelo amor dele, lhe fazendo inúmeras promessas de amor, de ser uma ótima esposa e Rainha, de lhe dar herdeiros fortes e bonitos. Mas o Rei, desinteressado, apenas zombava da pobre moça, lhe dizendo como era tola por achar que ele pudesse se apaixonar por ela, ou acreditar que o amor era um sentimento bom e verdadeiro."

"Horrorizados com a cena, os anjos decidiram que o Rei precisava conhecer tal sentimento para ver como estava aquele tempo todo terrivelmente enganado, ver como o amor era um sentimento poderoso e genuíno. Assim, os anjos bolaram um pequeno plano para o Rei. Então, numa manhã, o Rei saiu para uma das suas caminhadas diárias. Ele gostava de passear pelo seu reino, andar entre seus habitantes, respirar o ar puro que vinha do vilarejo, o vento trazendo o perfume das flores, o cheiro dos pães na fornalha."

"O Rei parou num pátio aberto com uma fonte de pedra ornamentada jorrando água potável, onde uma grande festa acontecia ali entre seus habitantes, que dançavam, cantavam e riam alegremente. Ele reparou em toda aquela alegria e se perguntou o motivo dela. Ele não via, mas, ali em cima, pairando sobre ele, os dois anjos o seguiam desde o castelo, carregando uma flecha longa de ponta em forma de coração, pronto a acertar o Rei com a 'flecha do amor'. Foi quando ele olhou para uma linda donzela de cabelos dourados como o sol e trançados, os olhos castanhos reluzentes, de pele branca e delicada, o sorriso completamente encantador. Ela dançava com outro homem, rindo alegremente, contagiando todos a sua volta, no ritmo da música saindo dos alaúdes e bandolins. Naquele instante, os anjos agiram. O Rei sentiu uma ponta súbita em seu coração, algo totalmente novo invadindo sua alma, e ele se pegou olhando fixamente para aquela moça, não querendo parar de olhá-la nunca mais. Então, ele percebeu que estava apaixonado por ela. Que a amava."

"O Rei se aproximou da donzela, que agora parara para descansar de sua dança, e a cada passo mais perto dela, seu coração saltava com uma emoção diferente e perturbadora".

— Eles vão se casar, no final? — Lara interrompe, impaciente.

— Calma, meu amorzinho, nós vamos chegar lá. Continuando...

"O Rei convidou a donzela para caminharem pelo vilarejo, a sós, onde poderiam conversar com mais calma, sem o barulho da música alta atrapalhando suas palavras. A donzela, embora desconfiada do Rei, aceitou o pedido e o acompanhou, afinal, ele era o rei. Caminharam por muitos minutos, e o Rei pediu que ela lhe contasse tudo sobre ela, sua família, seus gostos... tudo. Ele não queria perder nada dela, queria conhecê-la a fundo, como nunca quis um dia conhecer alguém. Ao final, o Rei se declarou e a pediu em casamento. Queria torná-la sua Rainha, jurou amor eterno e dedicação total. No entanto, o Rei tinha uma má reputação, e a donzela não acreditou em suas palavras. Na verdade, ela conhecia a fama do Rei de zombar dos sentimentos dos outros, de ser egoísta e mesquinho, de não se importar com as pessoas e nem de acreditar no amor".

"— Como quer que eu acredite em você e no seu amor depois de ter feito tantas donzelas sofrerem por amor, por amar Vossa Majestade? — a donzela indagou, em tom de acusação. — Eu jamais poderia amar aquele que tanto fez outras sofrerem. Agora, será sua vez, meu Rei, de sofrer por amor, para pagar todos os seus erros — declarou a donzela, e então ela se foi."

Nisso, eu olhei para Lívia. E, pelo seu sorriso pequeno, ela sabia que a donzela era a sua personificação. Com um "continue, papai" de Augusto, pigarrei e tornei a leitura:

— "O Rei ficou muito chocado com aquela reviravolta em sua vida. Nunca havia sofrido por amor, e nunca nenhuma donzela o rejeitara. Mas aquela donzela por quem se apaixonara não era qualquer donzela. Era uma de personalidade forte e teimosia incomparável. Era a Donzela de Coração Duro."

"Abalado com seu amor não correspondido, o Rei voltou para seu castelo, abatido, entristecido, com o coração partido e, ao mesmo tempo, arrependido de por tanto tempo ter zombado das pessoas por elas amarem, de ter debochado daquelas pobres moças do vilarejo, ou das princesas de reinos distantes, que lhe declararam amor eterno. Por muito tempo o Rei ficou amargurado, amando em segredo sua Donzela de Coração Duro."

"Acima das nuvens, os dois anjos assistiam ao fracasso de tentar fazer o Rei se apaixonar por uma donzela, o vendo constantemente amargurado e tristonho. O fizeram conhecer o amor, mas o fizeram sofrer por esse mesmo sentimento. Pensaram em acertar uma 'flecha do amor' na Donzela de Coração Duro, também, mas nada adiantaria se não estivessem frente a frente. Bolaram, então, outro plano, e decidiram eles próprios de descerem do Céu para a Terra e cumprir a missão pessoalmente. Primeiro, veio o apenas um anjo, em forma de uma Princesa de cabelos cor de mel e bondade genuína, que morava no reino vizinho."

"Certa manhã, o Rei precisou viajar até o reino vizinho para tratar de negócios. Chegando lá, ele conheceu a filha do rei daquele reino, uma linda princesa de cabelos cor de mel, olhos bondosos e sorriso caloroso. Ela se apaixonou pelo Rei no instante em que o viu, mas o Rei não podia retribuir ao seu amor, pois ainda amava a Donzela de Coração Duro. A Princesa de Coração Bondoso declarou seu amor por ele, e lhe jurou que seria uma Rainha paciente, carinhosa e poderia ajudá-lo a superar sua decepção amorosa. O Rei desacreditou por alguns instantes, ele achava impossível amar outra pessoa como amava àquela donzela de cabelos dourados e olhos castanhos reluzentes. O Rei a ignorou, a questionou como ela poderia amar alguém como ele, tão desprovido de sentimentos. Apesar das palavras do Rei, a Princesa de Coração Bondoso insistiu, afirmando que poderia tirar a amargura de seu coração, e o Rei acabou cedendo."

— Isso não pode acontecer — protestou Lara, cruzando os braços. — O Rei ama a Donzela de Coração Duro, tem que ficar com ela!

— Seja paciente, meu amor — murmurei para ela, afagando seus cabelinhos presos em um rabo de cavalo. — "Assim sendo," — segui, virando a próxima página, ilustrada com o desenho do Rei em seu casamento com a Princesa — "o Rei mandou organizar uma enorme festança em seu reino para receber a Princesa de Coração Bondoso e realizar seu casamento. Na cerimônia, o Rei avistou, ao longe, sua Donzela de Coração Duro, e seu amor por ela aflorou-se em sua pele, quase transbordando de seus olhos. Mas ele havia feito uma jura diante seu reino, diante sua Princesa, agora jaz sua Rainha, e se esforçaria ao máximo para cumpri-la. Não queria mais ser aquele rei mesquinho e egoísta de antes. Da pior maneira, ele aprendera sua lição".

"A festa de casamento do Rei durou uma semana inteira! Repleta de música, comida, danças e risos. Com o passar do tempo, apesar de o Rei ainda amar profundamente sua Donzela de Coração Duro, ele foi se apegando à sua Rainha, cultivando um sentimento sincero e bonito por ela. De começo, ele achava não ser o suficiente, acreditava que era uma grande falta de respeito para com sua esposa não amá-la como uma esposa merecia ser amada. Mas a Rainha tinha um coração do tamanho do mundo e compreendia perfeitamente o jeitinho único do Rei em amá-la. Ela não lhe exigia nenhum tipo de regalias nem de amor exagerado. Cumpria sua promessa de ser dedicada, paciente e carinhosa, mas a única promessa não cumprida era de ajudá-lo a superar a Donzela de Coração Duro. Talvez nem ela nem ninguém fosse capaz de tal coisa. O Rei agora conhecia o sentimento que chamavam de amor, havia sofrido por ele, depois o ignorou e sentiu profunda raiva, mas então sua Rainha apareceu em seu caminho para abrandar seus ânimos e lhe mostrar novamente a beleza de tal sentimento. Embora o Rei quisesse muitíssimo retribuir igualmente todo aquele amor oferecido a ele, ele não conseguia, pois seu coração ainda clamava por outra pessoa. Entretanto, ele amava sua Rainha. De uma forma distinta e única, diferente do seu amor pela Donzela de Coração Duro, mas amava. E quando Rei percebeu que o que sentia por sua Rainha — por menor que fosse — era amor, então o segundo anjo lá no céu decidiu que era hora de descer à Terra e fazer o Rei conhecer uma nova forma de amar. O anjo veio, então, em forma de um bebê".

"Meses depois do casamento do Rei, eles tiveram uma linda bebê. De cabelos caramelos e olhos negros como a noite, a pele delicada e perfeita, a Princesinha era a coisa mais linda que o Rei vira em toda sua vida. Sua alma foi preenchida de amor paterno — um amor novo, diferente, mais profundo e intenso do que qualquer outro sentimento — quando aquele pequeno serzinho segurou seu indicador e o apertou fortemente, como se se agarrasse ao pai e confiasse a ele toda sua vida. Durante os meses em que a Rainha esperava pela bebê, e, na cadeira de balanço, cantarolava canções sobre antigos reis, de longe, o Rei observava e se sentia ser invadido pouco a pouco por amor. Aquele sentimento que por tanto ele achou tolo, patético e um desperdício. Ele sequer vira o rostinho de sua filha; ainda, à época, sequer sabia se seria um rei como ele ou uma rainha como a mãe, mas, incondicionalmente, ele já amava seu filho, com todas as forças da sua alma, e seria capaz de dar toda a sua vida, enfrentar os dragões perigosos e os ladrões espelhados pelos sete reinos."

"O sentimento se intensificou incalculavelmente no instante em que conheceu sua Princesinha, quando a segurou no colo e a sentiu apertar seu dedo. O Rei conhecera, naquele momento, a outra face do amor, a do amor recíproco, porque ele sabia que era amado por sua filha. Ela ainda não era capaz de falar, sequer sabia o nome de seu pai — por Deus, ela ainda nem abrira os olhos! —, porém naquele gesto tão simples, sentido a pelezinha de sua Princesinha, o Rei sentia a reciprocidade do seu amor por ela. Pela primeira vez em toda a sua vida, o Rei se sentiu completo, e repleto de amor recíproco."

"Um tempo se passou, o Rei era feliz à sua maneira, com sua Rainha e sua Princesinha, que começava a dar os primeiros passos pelos quintais do castelo. Em todos aqueles anos, o Rei fora incapaz de esquecer a Donzela de Coração Duro, seu amor por ela continuava em segredo no fundo de sua alma, e ele a amava mais todos os dias."

"Numa tarde encalorada de verão, o Rei resolveu dar um passeio de carruagem com a Rainha e sua Princesinha. No entanto, durante o percurso por um vale de montanhas rochosas e desfiladeiros intermináveis, algo terrível aconteceu. A carruagem fora assaltada; os cavalos — assustados com a ação daquelas pessoas más — ergueram-se nas patas e saíram galopando, desembestados. Passando por cima de uma rocha, e com o balanço brusco, a carruagem se soltara dos cavalos e, perdendo o controle, caiu no desfiladeiro".

Nesse instante, Lara deu um gritinho agonizado, Augusto e Nina se encolheram perto de mim, assustados. Olhei para todos, os traços estavam desenhados em tensão. Sabiam que aquilo era uma personificação do meu próprio acidente. Inspirei um pouco de ar para os pulmões e continuei:

— "O Rei acordara de volta em seu castelo, sobre sua cama macia, completamente perdido. Seu corpo todo estava dolorido por causa da queda no desfiladeiro. Ao seu lado na cama, cuidando dos seus ferimentos na cabeça com um tecido delicado e água morna em uma bacia, estava a Donzela de Coração Duro, e, só por um instante, ele pensou estar tendo uma alucinação".

"— Minha Rainha... minha Princesinha... — murmurou o Rei, fraco — Onde estão?"

"A notícia da morte de sua Rainha e de sua Princesinha causou no Rei uma profunda e infinita tristeza. Uma tristeza muito maior do que aquela sentida quando sofrera pela Donzela de Coração Duro. Infinitamente maior. Incomparavelmente maior. O Rei afundou-se em sua solidão e definhou em sua dor por muito tempo. De um homem egoísta e mesquinho tornou-se um homem amargurado, entristecido e mal-humorado. Todos à sua volta tentavam animá-lo, mas o Rei mantinha-se recolhido à sua dor e aflição. A única coisa que, às vezes, o alegrava um pouco era a visita da Donzela de Coração Duro. Desde o incidente, ela o visitava constantemente. A notícia da morte da Rainha e da Princesinha se alastrou pelo reino como fogo em mato seco, e quando ela soube da situação do Rei, seu coração duro amoleceu completamente, uma onda de empatia e compaixão a tomou, e a Donzela de Coração Duro se ofereceu para ajudar o Rei. Primeiro, ela ajudou nas feridas graves de sua pele, limpando-as, tratando-as, curando-as com os remédios do curandeiro e, inconscientemente, com amor, também. (Ela o amava, só não sabia disso). Depois, quando o Rei caiu em sua profunda tristeza, ela o convencia a comer, a sair para o pátio e respirar ar puro, a conversar, voltar, pouco a pouco, a viver outra vez".

"A convivência da Donzela de Coração Duro com o Rei despertou em ambos aquele sentimento que os anjos do Céu tanto quiseram acender no Rei. Nele, reacendeu o sentimento em seu coração, que se perdeu quando seus amores morreram, e agora ele já não vivia mais enclausurado em seu quarto, deprimido e triste. O luto pelas suas perdas ainda existia, mas o Rei não se deixava mais ser consumido por ele. Nela, despertou um amor sincero e genuíno, um que secretamente já cultivava pelo Rei, mas que nunca fora revelado por medo de ser zombado e debochado — como ele fizera com tantas donzelas que se declararam — e fora abafado pela raiva que sentira um dia pelo Rei. Nem mesmo depois da declaração do Rei para ela, tantos anos antes, a fizeram tomar coragem e confessar. Temia ser mais um jeitinho do Rei em magoar as pessoas".

"Contudo, eles descobriram o amor mútuo nascido em seus corações. O Rei nunca a esquecera, e a Donzela de Coração Duro aprendeu a confiar em seu amor. Assim, pouco a pouco, os dois venceram a dor que arrasou o coração do Rei, apesar de, constantemente, ter pesadelos e mudanças bruscas de humor por causa de seu luto."

"Então, certa noite, enquanto o Rei dormia, uma luz muito forte penetrou seu quarto, o fazendo acordar. Ele se levantou, cambaleante, e andou até o parapeito da janela. A luz forte vinha do céu e, estranhamente, de uma estrela brilhando com força. Sua luz era intensa e hipnotizadora, e o Rei demorou a perceber que ela traçava um caminho vertical do céu para a sua janela, exatamente. Ele olhou para os lados, mas ninguém mais via aquela luz angelical. Ele ficou ali, parado, olhando o brilhar da estrela, até que ela — a estrela — começou a ganhar tamanho, ficando mais próxima. O Rei apertou os olhos, tentando entender o que via, até que a luz se transformou, pouco a pouco, numa silhueta infantil. No segundo seguinte, uma menina de cabelos pretos e longos sacudindo ao vento estava parada no parapeito com um sorriso inocente e encantador. O Rei reconheceu seus olhos no mesmo instante."

"— Minha Princesinha... — murmurou o Rei, com lágrimas nos olhos. Ele sentia imensa saudade. — Como eu sinto a sua falta. Por que teve de partir, meu amorzinho? — o Rei perguntava. Ele nunca entendera o seu destino, por que uma criança e uma Rainha partiram tão abruptamente?".

"— Papai... — a menina disse, a voz um soprano angelical. — Todos nós temos uma missão em nossas vidas. Mamãe e eu tínhamos a nossa. Você era um Rei de coração impenetrável, egoísta, mesquinho, desprovido de sentimentos. Apesar de amar aquela linda Donzela, você ainda não conhecia o valor inestimável do amor. Só amar não o ajudava. Precisava amar e ser amado. Assim, mamãe e eu fomos incumbidas a isso. E cumprimos nossa missão. Você amou e foi amado. Por isso, nós partimos, papai. E agora você tem a chance de continuar amando e sendo amado. Aquela Donzela lhe ama mais do que tudo, e você a ama também, igualmente. Há um amor bonito e puro entre vocês."

"— Não me peça isso, minha filha... — o Rei rebateu, amargurado. — Eu jamais poderia esquecer ou substituir vocês. E eu sinto tanto a sua falta"

"— Sei disso, papai. Você não nos substituirá, nem nos esquecerá, nunca lhe pediria tal coisa. Apenas viverá a sua vida, será feliz, e dará continuidade à sua missão, pois assim como eu e mamãe tínhamos a nossa, você e aquela Donzela têm a de vocês. E sempre que sentir minha falta, papai, olhe para o céu e me verá. Eu sou a estrela mais brilhante que você encontrar. Poderá falar comigo, e se sentirá mais confortável e perto de mim."

"O Rei se despediu, então, aceitando melhor aquela partida abrupta de sua Princesinha. Ele concordara com suas palavras, e ela tinha razão. Sua Rainha e sua Princesinha mostraram a ele o sentimento mais lindo que um homem poderia conhecer. Um sentimento capaz de erguer um reino todo. Ele seguiria seu conselho, daria continuidade à sua missão — fosse ela qual fosse — e viveria sua vida. Em honra ao pedido de sua Princesinha, ele viveria."

"No outro dia, o Rei despertou revigorado. Mandou que pães, bolos, patos assados e um banquete extraordinário fossem distribuídos no pátio do castelo, e os portões fossem abertos. Ele queria uma festa de uma semana, pois se casaria ainda naquele dia. Foi até o vilarejo e pediu a mão de sua Donzela em casamento. E ela, muito feliz, aceitou de todo coração."

"O Rei casou-se outra vez, sua Rainha o fazia feliz e lhe deu três lindos filhos, a qual o Rei amou imensamente. Rei Alfred III e sua Rainha Lívia, juntamente com seus filhos, o príncipe Enzo, a princesa Lara e o príncipe Augusto, viveram felizes para sempre. Fim".

Termino o conto, sem perceber que minha garganta está seca e faço um esforço grande para segurar algumas lágrimas de emoção. Resumi toda a minha vida num conto de fadas infantil para meus filhos. É estranho, mas também me preenche de uma forma indizível.

— Somos nós nessa história? — indaga Lara, animada em ver seu nome e sua ilustração no fim do livro. — E minha irmãzinha Lauren é a Princesinha que virou estrela?

— Sim, meu amorzinho, isso mesmo.

Lara pula no meu colo e me abraça forte, sem motivo aparente, e não diz nada. O ato enche meu coração de felicidade e amor paterno.

Depois de alguns comentários positivos e alegres sobre meu conto, nos reunimos em torno da mesa para Ceia de Natal. À meia-noite, estamos na sacada, na parte mais alta de casa, para assistir à queima de artifícios. No meu colo, enquanto assisto ao espetáculo de luzes, Lara se remexe inquieta e eufórica e grita:

— Papai! Papai! Olhe lá — ela aponta com o dedinho para o leste. — É minha irmãzinha! É Lauren! Conto especial de Natal!

Olho na direção de seu dedo e vejo uma estrela brilhando forte. A mais brilhante de todas. Um grande sorriso se abre em mim. E então digo, emocionado:

— Sim, meu amor. É Lauren. É a nossa Princesa que virou estrela.

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