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Capítulo 7

Acordo e vou andar pela casa para conhecê-la melhor, e, apesar de o chão fazer um barulho irritante a cada passo que eu dou, eu posso me acostumar com isso tranquilamente.
Vou em direção à casinha, estava apertada faz tempo, porém as outras necessidades falaram mais alto.  Quando abro a porta, me deparo com o ser mais repugnante, nojento e horrível que existe: um sapo.
— AHHHHHHHHH! — Grito e saio correndo para fora do quarto, tentando manter distância do bicho gosmento, porém, em minha saída, esbarro em uma garota morena de olhos escuros.
Eu não tenho coração para esse tipo de coisa.
— Céus!
A moça coloca a mão sobre o coração que parecia saltar e eu me encontro na mesma situação.
— Entrou alguém no seu quarto, senhor? — Nessa hora a ficha cai e eu percebo que estou gritando como uma garotinha, uma verdadeira donzela em apuros.
— Não, não — falo imitando uma voz grossa e mexo os braços desordenadamente. — Eu jurava ter visto um fantasma. — Ofereço um sorriso amarelo e ela retribui.
— Até tem um boato de que esse local é assombrado. — Falto estremecer com isso, mas me mantenho firme. — Se precisar de alguma coisa, pode me chamar. — Ela pisca e eu coro. — Oh, céus! Você está corado. — Coloca a mão na boca abafando um riso e saí andando. — Meu nome é Liane.
Essas foram suas últimas palavras antes de ir embora, deixando-me sozinha no corredor. Será que é realmente assombrado? Balanço a cabeça, isso não faz sentido nenhum.
Suspiro e fico a pensar sobre até quando eu vou conseguir manter esse disfarce e o que farei quando encontrar Matteo. Ninguém pode saber minha verdadeira identidade, papai pagaria um montão para quem me entregasse e depois disso... Só Deus sabe.
Se alguém me descobre eu estou com o pé na cova.
Deixo a porta e a janela aberta e vou tentando retirar o sapo do quarto, a cada pulo que ele dá, meu coração dá dois.  Depois de uns 10 minutos fazendo isso, ele finalmente vai embora e eu decido ir passear um pouco para espairecer.
Ao sair, percebo algo: os reinos não se importam verdadeiramente com seu povo. As pessoas dormem na rua e crianças passam fome, isso não é comum. Sei que quanto mais perto dos palácios, melhor são as condições de vida das pessoas, o que é muito injusto.
Quando se vive muito tempo em um castelo, você acaba esquecendo-se do dever dos príncipes, princesas, reis e rainhas, que é amar e cuidar do seu povo. Sei que vovó Cristal e o vô Nicholas fizeram um bom trabalho e orgulharam a todos, mas minha mãe estava deixando meu pai destruir o nosso reino tão amado.
Vejo algumas mães brincando com seus filhos, pessoas correndo atrás de algumas galinhas, tirando leite da vaca e fico contente, pensando que eu gostaria de conseguir guardar todas aquelas imagens na minha memória para sempre. É tudo tão diferente do que sou acostumada.
  — Ah, bom dia, senhor. — Uma criança me cumprimenta. — Pode pegar aquele brinquedo para mim? — Aponta para uma boneca que estava em cima do muro de uma casa não tão alta.
  — Claro, mocinha.
  Pego impulso e me jogo em cima do muro, tentando escalar por alguns buracos que estavam ali e algumas irregularidades. Sorrio ao pegar a boneca e desço feliz, mas paro ao notar o público me olhando com espanto.
  — Que homem forte. — Ouço alguém dizer e ignoro, me voltando para a garotinha que me pediu o brinquedo.
  — Aqui está! — Ela sorri e me dá um abraço doce que eu retribuo.
  — Obrigada, moço. Você salvou a Bela.
  — É o nome dela?
  — Isso mesmo! O senhor gostou? — Afirmo com a cabeça e alguém grita. — Mamãe está me chamando, até mais.
  E a criança sai saltitando toda feliz para sua mãe que está a esperando no meio da multidão também.
  — Quem é o senhor? Novo na cidade? — Uma moça loira me questiona ao se aproximar.
  — Vamos dizer que acabei aqui por acaso, e gostaria de saber exatamente onde estou.
  — Você está em Eartland, mais precisamente na parte pobre de Eartland, mas não parece ser alguém sem condições financeiras — deduziu. Eu sei que estou em Eartland, porém me parece diferente do que falaram.
  — Não, mas achei aqui acolhedor.
  — Diga isso até começar a ser assombrado pelos saqueadores da rua. A gente já não tem nada e o pouco que temos, tomam de nós.
  Franzo o cenho e suspiro, nada muda de um reino para o outro.
  — Preciso ir, senhora. Muito obrigado pela recepção.
  Me despeço e saio andando. Eu preciso chegar até a parte nobre sem ser notada e me esconder por lá até o dia da coroação, até porque minha outra vontade é inútil, de nada me adiantará encontrar Matteo agora.
  Fico andando pelo reino para observar a movimentação, tudo é bem pacato e humilde. Quando volto para casa já é tarde da noite e me sinto exausta, louca para tomar um banho, então, antes de subir para meu quarto, peço para a moça levar um balde e água para mim.
  Estranhamente continuo ouvindo barulhos dentro da casa, mas ignoro e decido que preciso descansar. Tiro aquele chapéu da minha cabeça, deixando meus longos cabelos loiros soltos, usar esse negócio na cabeça o tempo inteiro é cansativo.
    O barulho não cessa e preciso tomar uma atitude, mesmo com medo. Será que realmente existem fantasmas aqui?
  Não vou pagar para ver, começo a fazer uma oração enquanto ando com a lamparina pelo quarto, procurando de onde vem o som.
  Me mexo lentamente para meus sons não ocultarem o barulho que pretendo encontrar, estou me sentindo muito tensa. Paro de respirar por alguns segundos e noto que há outra respiração no local, o que me deixa amedrontada.
  Abaixo para curiar embaixo da mesa e levo um susto, soltando um grito.
  — QUEM É VOCÊ? AI, QUE SUSTO!
  — Não, quem é você? — A criança sai debaixo da minha mesa e fica me encarando, suas mãos estão na frente de seu pequeno corpo.
  — A pessoa que alugou esse local! — respondo e me abaixo para ficar do tamanho dela. — E você?
  — Bem... — Mexeu as pequenas mãos e fez cara de choro. — Eu sou Nina e fico nessa casa desde sempre, ninguém nunca alugou esse quarto.
  — E como você vive?
  — Eu... vamos dizer que quando as pessoas não estão percebendo, eu vou e retiro alguma coisa delas.
  — Você furta as pessoas?
  — Bem... Sim.
  — Tão jovem... — murmuro e sinto uma tristeza profunda em meu coração. Uma criança precisando roubar para viver, bem que a moça me avisou sobre a existência de saqueadores na região.
— Você faz isso sozinha?
— Claro que não, eu não sou tão boa nisso. Se fosse depender de mim para conseguir sobreviver, eu estaria morta há muito tempo — fala de uma forma tão natural e se senta na minha cama.
— Entendo.
Como eu irei reagir a isso? É só uma criancinha que não deve passar dos 8 anos. Que mundo é esse onde as crianças precisam furtar para viver?
— Você vai me expulsar daqui?
— Deveria... — Sento na cama ao lado dela e olho para fora da janela, percebo que venta muito, agitando várias folhas das árvores.
— Eu sei que está fugindo do palácio e que é uma princesa, não um rapaz e eu posso contar para alguém — diz como se fosse uma ameaça. Talvez fosse, não posso arriscar.
— Espertinha. Como saberia disso?
— Vi suas roupas e achei isso aqui também. — Me mostra o meu colar que ganhei da vovó e eu retiro rapidamente de suas mãos.
— Tudo bem, você fica! Mas... Eu tenho uma condição.
— Diga.
— Você nunca mais vai furtar ninguém — imponho e ela me olha meio pensativa.
— Irá cuidar de mim? — Seus olhos brilham em plena animação e eu tento conter o sorriso.
— Melhor que ninguém!
— Será que consegue cuidar de mim melhor que o meu "maninho"? — Faz aspas com a mão.
— Que seria?
— Não posso falar sobre ele, sou proibida. — Coloca a mão sobre a boca como se fosse um segredo e eu balanço a cabeça.
— Tudo bem. Vamos comer e dormir que estou cansada. — Pego o pão que comprei durante a tarde e me sento à pequena mesa com ela para comermos.

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