São duas da manhã e eu abro meus olhos após cochilar por algumas horas. Agora é o momento de colocar meu plano em ação e fugir desse castelo por algum tempo, eu preciso me preparar para a revolução.
Faltam algumas semanas para minha coroação e será o dia em que retornarei a este castelo e colocarei Enrico para fora, ele e seus empregados brutos.
Não quero mais ser uma personagem secundária da minha vida, seguindo regras, princípios que certamente eu discordo, vivendo algo que não desejo e sendo imponente. Eu preciso ser a protagonista.
Levanto-me da cama em um salto e coloco algumas roupas debaixo da coberta, moldando-as como se fosse um corpo. Tentarei enrolar o povo o máximo que puder para dar tempo de fugir para bem longe.
Em minha última ida à cidade, me ofereceram roupas de homens para comprar em uma feira, e eu só comprei para ajudar a pobre moça e sua criança. Jamais imaginaria que seria realmente útil ter aquilo comigo.
Prendo meus cabelos em um coque alto e coloco um chapéu que era de meu avô. Tiro aquele vestido sufocante e visto uma blusa e um terno que são totalmente confortáveis. Que injustiça as mulheres serem obrigadas a usarem roupas apertadas enquanto as dos homens são soltas.
Não acho que estou completamente irreconhecível nem quando coloco a calça que falta cair de meu corpo, mas eu a prendo com um grampo. Falta algo... Algo que ganhei de mamãe quando era pequena: um bigode.
Rio de mim mesmo ao me ver no espelho, apesar de tudo, estou contente com o resultado. Escondo meu cordão dentro da roupa e procuro outras joias para que eu venda quando chegar ao local. Também tenho algum dinheiro guardado e isso vai ser muito bom para minha estadia.
Olho para a janela do meu quarto e respiro fundo. Aqui vou eu.
Sinto um medo me invadir, como se eu não tivesse prática em fugir durante e madrugada, só seria uma viagem mais longa.
— Você sempre fez isso, Teresa, não é agora que não vai conseguir. — Tento me tranquilizar e saio pela janela sem olhar duas vezes para trás.
Desço pelos tijolos irregulares da parede e sinto um frio forte, mesmo usando um terno quentinho. Porém, a adrenalina logo fez questão de me esquentar.
Ah Teresa... Onde está se enfiando?
Ao chegar, vejo Pantera, meu cavalo preto, ao lado do estábulo. Monto rapidamente nele, preciso chegar urgentemente à cidade para poder descansar e não posso ser pega no caminho.
O vento está incontrolável, e após me acalmar, sinto que estou tremendo. Eu quero me abraçar, mas preciso me manter firme em cima de Pantera, irei chegar de manhã no local, o que vai tornar tudo mais fácil.
Algumas horas se passam desde que saí, mas continua escuro. Quanto mais cedo eu chegar à cidade, mais fácil encontrarei algum lugar para dormir, estou demasiadamente cansada.
Depois de cavalgar muito, vejo uma estrada de terra e algumas pessoas andando na rua. Ainda está muito cedo, o sol acabou de nascer e alguns homens já estão trabalhando. O lado sul do reino é realmente muito diferente do resto, totalmente carente.
Desço de Pantera e ando ao seu lado, o guiando. O local me assusta um pouco, vejo crianças dormindo no chão e meu coração se aperta, o que acontece por aqui? Até mesmo as casas são sem cor.
Quando descansar, procurarei algum lugar mais perto do castelo do reino de Eartland. Lembro que minha madrinha, Dienly, morava por aqui e que vovó trabalhou durante alguns anos nesse palácio. O que será que ocorreu com tudo isso?
Bocejo sentindo um sono intenso me invadir, preciso dormir logo. Ando por mais um tempo e encontro um lugar que parece um dormitório, para falar verdade, parece ter vários dormitórios.
Olho a placa onde está escrito “Aberto”, amarro Pantera em uma árvore ali do lado e entro pela porta de madeira antiga, que deixou poeira em meus dedos.
— Bom dia, senhor! — Diz uma moça ao me ver entrando e eu lembro da loucura que estou fazendo.
— Bom dia! Desejo um quarto para ficar por três dias. — Engrosso a voz e me impressiono com o quanto minha imitação ficou boa.
Entro no local que paguei até que caro para ser totalmente desconfortável, mas pelo menos tenho uma cama para deitar e eles oferecem a comida também. Até que compensa um pouco.
Não penso em muita coisa, apenas jogo-me na cama e sinto o sono me invadir no mesmo instante. Adormeço rapidamente.