Capítulo 2
Vou para o salão de baile e todos me olham. Eu poderia ter sido mais discreta na escolha da roupa, assim não teria que ficar de castigo quando papai notasse meu atraso, o que claramente acontecerá.
Sempre foi assim, se eu fizer algo que o desagrade, ele me deixa presa no quarto por horas... Até mesmo dias. Isso quando não me bate... E ele faz a mesma coisa com minha mãe e minha irmã, ela é apenas uma criança e não merece isso.
Eu vou expulsá-lo daqui quando tomar minha coroa.
Mamãe é uma pessoa boa e sei que até gostaria de fazer algo para me salvar, mas também o teme. Ou eu vou embora daqui ou ele vai, prefiro que seja ele.
— Filha, onde estava? — Mamãe me pergunta com doçura e eu dou um sorriso amarelo.
— É uma longa história, mãe.
— Em breve começarão as danças, procure um par para você — diz meu pai ao se aproximar e eu estremeço com a raiva em sua voz. É um homem extremamente carrancudo.
— Tudo bem, papai — respondo com a voz baixa e olho os garotos que se aproximam da pista de dança, formando um círculo.
Essa experiência é muito importante para mim, não posso deixar que ninguém a estrague. Nem mesmo meu pai.
As meninas fazem uma fila na frente dos rapazes, esperando ansiosamente que um deles as chamem para dançar. Dá para sentir a tensão entre todas as pessoas, inclusive na família das garotas que esperam conseguir um bom partido para elas.
Observo cada uma das opções e não me sinto interessada em ninguém, são os mesmos rostos, as mesmas conversas... Porém, eu o vejo, e sinto o ar se tornando mais espesso. O guarda está ali, e ele me olha de uma forma intensa.
E então a música lenta se inicia, os acordes do violino ecoam em meus ouvidos, mas mal posso ouvir, me sinto chamada, como se um ímã me atraísse para ele, cada célula do meu corpo quer se conectar com o seu.
Eu estou no segundo andar, e desço as escadas quase que depressa, tentando não cair. Sinto seus olhos fixos nos meus e um pensamento invade minha cabeça de maneira natural demais: é ele.
Me desvio de todas as pessoas e fico em sua frente. Posso ver que ele logo dá um sorriso ao me ver.
— Olá, princesa. — Ele sussurra e faz uma reverência, que eu logo retribuo.
— Jovem-herói.
— Não acho que você precisava ser salva. Parecia lidar bem com eles. — O moço ri e eu o acompanho enquanto ele coloca lentamente as mãos em minha cintura e me puxa para perto para iniciar a dança.
— Eu aprendi a me defender bem.
— Percebi — diz e sorri. — A senhorita é bem corajosa. — Ele me gira, me deixando perdida por alguns segundos. Dançar e conversar ao mesmo tempo é algo bem difícil.
— É o que eu gosto de passar, gosto que pensem assim de mim — digo ao voltar para perto dele e nossas respirações se misturam.
— Duvido que consigam pensar algo diferente — sussurra.
Quero rir, pois sei que tenho vários medos que não tenho coragem de enfrentar, mesmo que eu tenha treinado anos para realizar isso. Um deles é enfrentar meu pai, defender minha família e me defender.
Eu planejo fugir desse castelo desde que me entendo por gente, mas nunca tive coragem de sair. O que seria de minha mãe? O que seria de minha irmã mais nova, Alicia?
É simplesmente a criança mais doce que eu conheço e eu pretendo dar a ela uma vida cheia de felicidades.
— Está me ouvindo ainda, princesa? — O moço me chama e eu balanço a cabeça, voltando-a para o seu lugar: o presente.
— Gostaria de dizer que sim, mas seria uma mentira. Todas as pessoas aqui já estão cercadas por barreiras de falsidade, porém, não quero ser mais uma delas.
— Estava perguntando o seu nome — diz e eu percebo que a música está quase no fim. Já está perdendo seu ritmo e ficando lenta. — Além disso, me parece diferente das pessoas daqui,
— Teresa Anika. Como você não sabe? É meu baile de aniversário, e você está nele — indago enquanto me sinto pasma. Como ele vem ao meu aniversário sem sequer saber meu nome?
— É uma longa história... — Ele mexe nos fios negros de seu cabelo, me retirando a atenção por alguns instantes antes de voltar a encará-lo. — Meus parabéns, princesa Teresa.
— Queria que minha mãe tivesse deixando apenas Anika no meu nome, mas nada ocorre como queremos, não é mesmo?
— Também gosto mais de Anika.
— E como você se chama? — O questiono e seus olhos sorriem por algum tempo, como se estivesse preste a me revelar algum segredo.
— Bem, meu nome é... — Ele começa a dizer, mas é interrompido por uma voz gritando e eu me separo dele institivamente.
— Matteo Rowen Castelo. — É papai, e ele não parece muito contente com a situação tendo em vista o fato de que carrega uma arma na mão e seus dentes estão cerrados. De onde ele tirou essa arma?
Entro em pânico ao perceber o que meu pai pretende fazer. Ele planeja matar o garoto que acabei de conhecer e eu não posso deixar isso acontecer. Me coloco à frente de Matteo e meu pai me encara com uma veia saltando.
Todos estão nos olhando com curiosidade.
— O senhor está ficando tresloucado? — O indago e ele me olha com uma fúria nunca vista, apesar de saber que ele não é uma das pessoas mais calmas.
— Saia de frente deste inquilino!
Ele me segura com força pelos braços e me empurra para poder segurar o colarinho de Matteo, porém o homem é mais rápido e dá um soco em seu rosto, o deixando atordoado.
Matteo se aproxima de mim rapidamente enquanto meu pai se recupera, ele se agacha ao meu lado, tocando meu braço onde meu pai havia apertado.
— Espero que me perdoe pelo soco que dei em seu pai, mas se ele lhe machucar mais alguma vez, temo que levará outro ainda pior.
— Vejam só o que temos aqui, um Rowen infiltrado dentro do meu castelo, ainda por cima estava dançando com minha filha!
— Ouvi que convidaram todos de todos os reinos... — Matteo dá de ombros com seu olhar de deboche que parece tão natural, como se fizesse isso sempre.
— O convite não se estende aos ladrões dos reinos.
— Eu não sou um ladrão! — Matteo se revolta e grita, causando ainda mais atordoamento no povo e chamando ainda mais atenção.
— Pouco me importa se é ou não, você é filho de um dos maiores ladrões desse mundo. Filho de peixe, peixinho é.
— Que ditado ridículo. — Matteo cospe as palavras e meu pai fica a cada segundo mais vermelho, parecia que o mataria logo se eu não estivesse tão perto.
— Vá embora da minha casa e nunca mais... — Se aproxima e segura a orelha de Matteo, olhando-o nos olhos. — Nunca mais chegue perto da minha filha.
— Prometo que volto para te livrar desse pesadelo, princesa. — Matteo saí de perto de meu pai e sussurra em meu ouvido e eu me agarro a essa esperança. A esperança de que vou vê-lo novamente, a esperança de que finalmente irei embora desse maldito lugar.
— Sempre se lembre, Enrico, isso não é um "adeus", é um "até logo".
Meu pai soca uma das pilastras e me encara, fazendo com que eu estremeça. Eu não quero imaginar o que vai acontecer essa noite.
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