Three
A garota baixinha de cabelos compridos e encaracolados, na epoca ainda bem claros, e de braços fofinhos e perninhas curtas, não devia ter pouco mais do que sete anos de idade. Ela corria na neve, se escondia entre as árvores e os buracos. Segurava uma risadinha toda vez que ouvia a chamarem.
Naquela época, o Sr e a Sra Castor haviam acabado de se casar, e Sr Tumnus ainda era um fauno adolescente.
-Princesa! Volte aqui!- ela ouviu a voz da Sra Castor se aproximando da árvore onde ela estava. -Querida, volte aqui! Está na hora do almoço.
A garotinha então sente seu estomago roncar. Não havia percebido o quão faminta estava até aquele momento. Ela sai de trás da árvore, dando de cara com a Sra Castor, que esboçou um sorriso aliviado.
-Ai está você! - disse a Castor se aproximando da pequena.
-Eu queria brincar mais um pouco.- disse a menina para a Sra Castor.
-Ah, querida, eu sei, mas você sabe que é perigoso! Se a Feiticeira Branca te pega, ai ai, por Aslam, não quero nem imaginar!- disse a Sra Castor visivelmente preocupada.
-Ela não pode me fazer mal, Sra Castor. Aslam vai me proteger, assim como vocês. Assim como eu prometo que um dia vou tirar aquela mulher horrível de Nárnia.- disse a menina batendo o pé com força na neve. A Sra Castor deu um sorriso calaroso.
Todos em Nárnia, os bons e os maus, sabiam o que aquela menina representava. Esperança. Ela era a esperança. Ela fazia viver no coração de cada um ali a pequena faisca de esperança de que um dia, ( um dia! ) A feiticeira iria perder e os quatro tronos de Cair Paravel iriam ser ocupados.
Ela era a princesa, a esperança e a paz. Ela era o que mantinha a Floresta e os animais vivos. O que os fazia lutar! E enquanto aquela pequena garotinha, filha de Eva, continuasse a visita-los, tudo ficaria bem.
A feiticeira mal ousava chegar a dois metros da pequena garotinha, sabia que ela era protegida por Aslam, que mesmo distante, estava sempre de olho em tudo o que acontecia. Tocar em um fio de cabelo dela resultaria na volta do Rei, e isso era tudo o que a Feiticeira não queria. Afinal, deixava que eles tivessem esperanças. A feiticeira sabia ( ou pelo menos se forçava a acreditar ) que aquela menina nada de especial tinha, e que para vencer a feiticeita, o essencial eram os reis e rainhas que iriam ocupar os tronos de Cair Paravel. Enquanto fosse somente uma filha de Eva, nada poderia ser feito contra a Feiticeira Branca.
-Eu sei minha querida, eu sei. Agora, vamos, vamos almoçar, o Sr Castor nos espera, pegou agora mesmo umas trutinhas que tenho certeza que ficaram uma delícia!- disse a Sra Castor pegando na mão da menina e a levando até o Dique ainda em construção.
-Princesa! Por onde se meteu?- disse o Castor para a menina quando ela se sentou a mesa.
-Estava brincando, Sr Castor. - disse ela tomando um gole de leite da xícara que a Sra Castor colou a sua frente.
-Imagina se a Feiticeira de pega! Precisa ter mais cuidado, Princesa. - disse o Castor aflito.
-Aslam vai me proteger.- disse a garota confiante. -Sei que vai. Ele me disse que sempre iria me proteger.
Os Castores se entre olham. Há aguns dias a menina vinha vindo com um papo de que havia conversado com Aslam na floresta, mas como ninguém mais o viu, não acreditaram muito na historia. Afinal, ela só tinha sete anos. Mas a princesa sabia bem o que tinha visto e com quem tinha falado e abraçado.
-Bem, não acha melhor voltar a seu mundo logo depois do almoço? Assim não corre tanto perigo.- sugeriu a Sra Castor gentilmente.
-Mas, Sra Castor, - suplicou a menina. - eu prometi ao Sr Tumnus que tomaria uma xícara de chá com ele e brincariamos de pega pega antes de eu partir!
-Tudo bem, tudo bem. - disse o Sr Castor acalmando a menina. -Fazemos assim: logo após o almoço nós dois lhe acompanhamos até a caverna de Tumnus, vocês tomam chá e fazem o que tem de fazer e depois ele te leva até o lampião e você parte, o que acha?
-Acho uma ótima ideia!- respondeu a menina começando a comer as deliciosas trutas da Sra Castor, que ela saboreou até o último pedaço.
Comeram os três conversando, como sempre, e antes de saírem para ir a casa de Sr Tumnus, a Sra Castor pegou um pequeno lenço que havia costurado para a Princesa. Havia as duas primeiras iniciais de seu nome bordadas em dourado embaixo de uma pequena coroa, e a menina sorriu largamente para a Castor.
-Eu adorei!- ela disse sorrindo e abraçando a Sra Castor, que deu um sorriso.
-Vamos, o Tumnus já deve estar cansado de esperar. - disse o Sr Castor.
Sairam de dentro do dique e a menina olhou mais uma vez para as iniciais bordadas antes de o guardar no bolso de seu cansaço: A.C
Ariel acordou outra vez se sentindo muito estranha; dessa vez o sonho não havia sido tão intenso como o outro, mas havia sido tão confuso igual. Castores falantes? E quem era a garotinha, afinal? No fundo, bem no fundo, Ariel sabia. Só não via, afinal, o essencial é invisível aos olhos, e naquele momento Ariel não buscou ver as coisas com o coração.
Tentando esquecer do sonho, ela se levantou da cama e foi se trocar. Era o dia em que iria até a casa de seu padrinho, e estava muito ansiosa para ve-lo. Sentia saudades de passar a tarde ao lado dele, lendo historias e ouvindo as histórias dele.
Ela pegou sua mala onde estava suas roupas e desceu as escadas. A mãe já havia levantado, estava na cozinha, preparando os lanches para a menina levar na viagem, que não seria nada rápida.
-Bom dia, mamãe. - ela disse indo até a mãe e dando um beijo em sua bochecha. A mulher deu um sorriso triste a filha. Ficaria completamente sozinha ali. A garota notou. -Por que você não pode vir comigo a casa do padrinho?
-Ah, querida, eu gostaria muito. Mas tenho muito o que fazer aqui, e nunca se sabe quando Jacob e seu pai podem voltar. - disse a mulher colocando uma mecha de cabelo da filha atrás de sua orelha e sorrindo fraco. Ariel deu um suspiro.
-Tudo bem.-ela disse.
As duas se sentaram e ficaram em silêncio, nenhuma sabendo ao certo o que dizer.
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