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Capítulo2


Pela janela, eu só via água e mais água, e ondas quebrando uma contra a outra, enquanto o avião ia descendo. A gente chegava cada vez mais perto do mar sem sinal do aeroporto, enquanto o piloto jurava que estávamos indo para o lugar certo. Eu segurei minha respiração e os braços da poltrona com força e não tirei os olhos da janela, certa de que era agora que íamos pousar na água, até que senti as rodas baterem na pista que aparecera milésimos de segundos antes. O aeroporto de Vilareal era sempre um evento.

Meu amor e meu medo de voar eram proporcionais um ao outro, então já esperava que meu coração estivesse acelerado. Grande parte do meu nervosismo, na verdade, era também por causa da pequena multidão à qual nos aproximamos. Enquanto eu me equilibrava nos sapatos apertados de Mari – porque, aparentemente, minhas botas estavam sujas demais para serem salvas –, repassei na minha cabeça as orientações de Sarah.

Não mostre os dentes.

Não passe a mão no cabelo.

Não olhe muito para o chão.

Não fale nada até estar dentro do carro.

Não tropece.

A última orientação me parecia ridícula, mas era a mais difícil de seguir, principalmente porque, quando a porta abriu e um cara segurando uma câmera grande o bastante para esconder seu rosto entrou, minhas pernas ficaram moles. As outras eram só para garantir que eu não tiraria uma foto ruim que estampasse capas de jornais amanhã.

O avião não era enorme, mal cabia todos nós de pé, então foi fácil fingir que eu sabia o que estava fazendo enquanto saímos em direção à escada. Ben estava atrás de mim, podia sentir sua mão nas minhas costas. Discreta, mas ali sempre que eu sentia que ia cambalear e me inclinava para trás para me lembrar de que ele estava comigo. Matt andava na minha frente, seguindo André, e nós fizemos uma espécie de procissão enquanto o câmera me esperava na saída.

Do lado dele, estavam a comissária de bordo, o copiloto e o piloto. Eles me cumprimentaram e agradeceram a honra de terem me trazido para a capital, o que me fez hesitar por um instante. Aquela era a primeira vez que eu oficialmente interagia com pessoas comuns como uma princesa, e perceber a ironia do piloto estar agradecendo a mim quando foi ele que fez o pouso perfeito logo depois do mar me travou. Quando Ben limpou a garganta atrás de mim, pisquei algumas vezes e estiquei a mão para o piloto apertar. Na hora, me lembrei de que não podia sair tocando em qualquer pessoa, e o sorriso que mantinha em meu rosto se estremeceu. Mas ele, o copiloto e a comissária ainda pareceram bem contentes com a minha reação.

Me virei na direção da escada e me forcei a não olhar para a câmera, que parecia perto demais do meu rosto. Não era a única, sabia que tinha outra do lado de fora, me esperando descer.

Os sapatos de Mari machucavam meu calcanhar, mas eu só tinha que chegar até o carro. A fileira de fotógrafos – imprensa real, não fãs, Sarah tinha me garantido – começava à minha esquerda e, se não fosse pelo sol que brilhava sem qualquer nuvem à sua volta, talvez disparassem flashes. Do jeito que estava, consegui descer, respirando fundo, sem sorrir, sem nem pensar direito, só me certificando de que tinha pisado firme antes de soltar meu peso em cada pé.

Ao chegar ao chão, Ben logo se colocou outra vez ao meu lado, enquanto os outros guardas faziam o mesmo. O caminho até o carro não era longe, mas só cheguei bem até lá, pois Ben tinha uma mão em meu braço e me segurou quando eu quase tropecei no asfalto. Antes de poder cair de joelhos no chão, eu já tinha entrado no carro, que deu partida tão rápido que eu nem tinha respirado fundo antes de ele parar outra vez, agora em um hangar teoricamente privado, onde o helicóptero real nos aguardava.

Outra câmera também estava lá, mas, na confusão dos guardas saindo comigo e com Matt e Sarah e Mari se juntando a nós de outro carro, nem tive a chance de olhar em sua direção antes de entrar no helicóptero.

Ben se sentou na minha frente, e eu fiquei entre sugerir que ele fosse de carro, para evitar uma viagem que sabia que ele detestava, e me segurar a ele. Tudo estava se tornando real tão rápido, que mal estava conseguindo me situar. Nós levantamos voo enquanto Sarah repetia para mim a ordem do que faríamos, o tempo que teríamos, e Mari me perguntava se eu gostaria de colocar um curativo em meus calcanhares. Sarah lhe respondeu, algo sobre como eu aguentaria e que não poderíamos entregar nada além de perfeito hoje e talvez um comentário sobre meias-calças, mas eu não estava ouvindo.

Estava olhando nos olhos de Ben, que tentou sorrir e manteve seus olhos em mim mesmo quando apertava os dentes e claramente se esforçava para fingir que não estávamos a vários metros do chão. Havia poucas coisas mais bonitas no mundo do que chegar de helicóptero no castelo em um dia de sol e céu limpo. O mar ficava de um azul profundo e hipnotizante e a pedra das paredes do castelo pareciam sempre mais vivas quando o sol batia direto nelas; mas exatamente agora eu só queria olhar de volta para Ben e me esquecer do mundo à nossa volta, da câmera que eu sabia que tinha entrado conosco, da distância do chão, da distância de quem eu era ontem de manhã, de quem teria que me tornar.

A única coisa que eu via eram seus olhos castanhos, o cabelo que crescera sobre a testa, não tão crespo para ser comportado, um pouco rebelde demais para o corte da Guarda Dourada e tão adorável que minha vontade de o tocar era mais inconveniente do que meus calcanhares machucados. Vi quando o canto de sua boca ameaçou sorrir, mas também quando o helicóptero começou a descer e, ao mesmo tempo em que eu sentia o frio na barriga característico e delicioso, Ben respirava fundo e mordia mais forte.

Minha vista tinha sido tão bonita quanto o mar em volta do palácio, mas quanto mais nos aproximávamos do chão, mais caía a ficha de que eu não podia realmente tocar em seu cabelo. Nem podia me esticar para segurar em sua mão. Não importava o que tinha acontecido depois da festa na escola, não importava que só de pensar em nosso beijo, minhas pernas amoleciam por outra razão. Todos estavam de olho em mim agora, e Ben era meu guarda.

A porta do helicóptero abriu, e tive que admitir para mim mesma que não tinha tempo para pensar naquilo.

O heliponto do castelo ficava no campo mais próximo da Ala dos Lordes, distante para não comprometer a arquitetura do século dezessete, mas perto do muro. Quando saí dele, não tinha só imprensa oficial me esperando, mas dezenas e centenas de pessoas com cartazes que gritavam meu nome. Dessa vez, não parei de andar e nem hesitei, mas levantei a mão na direção delas por impulso, acenando de volta. Quis rir quando ouvi elas falarem, "Elisa, olha para mim!", mas neguei com a cabeça quando Sarah me perguntou se eu queria chegar perto, a lembrança da loja de bolo ainda muito recente para isso.

Nós entramos em outro carro, que rapidamente fez o caminho até a entrada principal, e pude ver que a multidão se estendia até lá, o trânsito na Avenida da Batalha praticamente parado. Ao sair, o barulho deles era tão alto que não consegui distinguir nada. Estava distante também, o jardim era tão longo na frente, que nem deviam conseguir me ver direito.

Mesmo assim, quando subi as escadas até a porta, onde funcionários do castelo e outros guardas nos esperavam, depois de um sorriso rápido na direção de cada um, me virei para trás e acenei outra vez. Sorria de orelha a orelha ao perceber que não enxergava o final da multidão.

Era terça-feira, pelo amor de deus. O que essas pessoas estavam fazendo ali? Será que tinham matado aula e trabalho para me ver? Foi a primeira coisa que perguntei quando me virei de novo e Sarah me indicou para entrar com ela.

— O rei declarou feriado nacional, Alteza — ela respondeu, me indicando uma das saletas de recepção, onde uma criada me esperava com um par de sapatos meus.

— Feriado? — perguntei, tirando os de Mari, que realmente tinham acabado com meus pés, e vestindo minhas sapatilhas. — Por minha causa?

— Seria ingênuo esperar que, depois de dezoito anos, não haveria curiosidade suficiente sobre você para parar o país.

Nós saímos da sala e fomos em direção à escada, eu seguindo onde me apontava sem questionar, enquanto repetia em minha cabeça o que tinha dito. Curiosidade suficiente sobre você para parar o país.

Eu podia perceber essa curiosidade no caminho todo, nos guardas que não mexiam nada além dos olhos que me seguiram quando passei por eles, nos funcionários; administrativos ou não, que cruzaram nosso caminho e pararam ao lado do corredor, me fazendo uma reverência e me deixando passar antes de continuar; até mesmo no meu irmão, que me esperava na entrada da Ala Real quando viramos o corredor.

— Alex! — Fiz menção de correr na sua direção, mas a mão de Sarah em meu braço me segurou. Quando me virei para ela, meus olhos encontraram a câmera que nos seguia.

— A filha pródiga à casa torna — ele disse, rindo quando finalmente o alcancei e ele mesmo me abraçou.

— Você tá de folga também? — perguntei, esperando que ninguém conseguisse ouvir.

— E eu não vou aproveitar o feriado para ver minha irmã? — Era tão besta, mas ouvi-lo me chamando de irmã com tanta gente à nossa volta fez meus olhos lacrimejarem.

— Esse é o meu irmão — falei, apresentando-o para Sarah, o que era bem desnecessário, mas eu queria falar as palavras. Esse é o meu irmão. Eu sou irmã dele. Eu moro aqui.

Eu sou uma princesa.

— Alteza — Sarah se abaixou em uma reverência junto de Mari.

— Sarah Alexander — ele lhe fez um aceno com a cabeça. — Ouvi dizer que você é a Elena da Elisa.

— Algo assim.

— E você deve ser Matthew Wickham — Alex se virou na direção de Matt e o sorriso em seu rosto aumentou, pouco, mas o suficiente para eu saber que Alex estava era tentando esconder alguma coisa.

Matt não lhe fez uma reverência, só apertou sua mão. Ele não precisava teoricamente, por não ser cidadão parforcense, mas ainda deixou um clima estranho no corredor.

— Eu vim me oferecer para lhe acompanhar até seu quarto, Elisa, mas acho que você já tem um acompanhante. — Alex arqueou as sobrancelhas rapidamente quando nossos olhos se encontraram.

— Que nada — falei, ignorando completamente como minha resposta poderia ser vista como falta de educação. A única coisa que eu queria era poder enrolar meu braço em volta do de Alex e andar com ele pelo corredor.

Foi exatamente o que fiz. Passamos pelas portas dos aposentos familiares, depois pelas dos da nossa mãe, o tempo todo conversando sobre nada.

Mas tinha uma coisa que eu queria saber, então olhei por cima do ombro e pedi para Sarah deixar a gente andar mais distante. Ela segurou a câmera, mas esperei até achar que não poderiam nos ouvir para perguntar:

— Você falou com a Chloe?

Alex continuou olhando para a frente, mas sorriu de lado.

— Sabia que você ia perguntar. — Ele não parecia gostar tanto do meu interesse, mas não falei mais nada, até que respondeu de verdade: — Mandei algumas mensagens, mas, para falar a verdade, ela ainda não me respondeu.

— Quantas mensagens?

Ele deu de ombros, demorando para responder de novo. Nós passamos pelas portas dos aposentos de Arabella, dos quais uma criada saiu. Minha vontade era de pedir para o guarda ali me anunciar e ir ver minha irmã, mas me lembrava bem do pouco de tempo que teria até a entrevista – Sarah tinha feito questão de me lembrar várias vezes – então me segurei.

— Umas dez, doze — Alex finalmente respondeu. Parei de andar no meio do corredor, me soltando de seu braço para olhar em sua cara.

— Doze?! — falei, até alto demais. — Como assim, você mandou doze mensagens para uma garota que está te ignorando?!

Ele olhou à nossa volta, até a câmera, e eu o imitei, disfarçando logo e voltando a andar com ele. Sua mão segurou a minha em seu braço, apertando-a só um pouquinho.

— Sei que você não está acostumada com uma vida pública, Lis, mas será que dá para falar mais baixo? — ele falou tudo sem nem mexer a boca direito, sem perder a expressão calma e controlada que tinha no rosto, nem alterar sua voz.

Tal proeza ainda me faltava.

— Doze mensagens, Alex — repeti.

— Não sei se foram doze, eu não contei.

— Isso significa que pode ter sido mais, né? Meu deus, foi mais. Nunca pensei que veria o dia em que você ficaria mandando mensagem para uma garota te ignorando.

— Ninguém falou que ela está me ignorando — pela primeira vez na conversa, ele se virou na minha direção, sua expressão levemente ofendida. — E não é como se ela não tivesse mais interesse, ela só está irritada. Por sua causa, devo acrescentar.

Suspirei, mas não queria perder a chance de provocá-lo.

— Mesmo assim. Como os grandes caíram, hein, Alex? Logo você, correndo atrás. Estou impressionada.

— Acho que vou te deixar por aqui — ele fez menção de me soltar quando chegamos à porta dele, mas me agarrei ao seu braço, puxando-o comigo na direção dos meus aposentos.

— Não, você prometeu que ia me levar até meu quarto!

— Eu ofereci, é diferente — ele corrigiu, mas já tinha voltado a me levar. — Sabe por quê?

— Porque você é um cavalheiro, digno da realeza como um dia eu ainda serei.

— Dignidade não depende de realeza, Lis — ele disse, apertando minha mão outra vez e se virando para olhar para mim. — Não depende da educação que recebeu, da etiqueta que seguir, das fotos e dos rumores que espalharem de você.

— Alex...

— Pelo menos, é o que Chloe me disse.

Sorri involuntariamente, mas logo meu sorriso se desfez, por saudades dela, por causa da culpa de não ter confiado nela, por afeição pelo meu irmão – meu irmão!, queria gritar, apontando para ele.

— Ela é bem inteligente mesmo — comentei, me forçando a não deixar uma única lágrima cair e estragar a maquiagem que Mari tinha feito em mim.

— Por que você acha que mandei vinte mensagens e dois áudios para ela?

Dois áudios?!

— Foi por isso daqui que quis te trazer — ele disse, me ignorando e virando o corredor comigo.

As portas principais dos meus aposentos estavam abertas, destrancadas. Joana e Michelle e outras três funcionárias me esperavam na frente, junto de alguns guardas.

— Qual foi a última vez que você entrou em seu quarto pelas portas? — Alex perguntou em um sussurro.

Eu tinha parado de andar de boca aberta, só absorvendo a cena, o sorriso satisfeito de Michelle, o aceno discreto de Joana, então a câmera e o resto do grupo se juntaram a nós.

Olhei na direção de Alex, que me soltou devagar.

— Nunca — respondi baixinho, mas ele me ouviu, pois sorriu.

— Obrigado pela honra — disse ao se aproximar e me dar um beijo no rosto, que eu sabia que a câmera estava feliz de capturar. — Te vejo daqui a algumas horas?

— Mal posso esperar — respondi, indo até Joana e Michelle e entrando em meu quarto pela frente, por uma entrada oficial, nada escondida ou secreta, pela primeira vez.

***

Meus aposentos estavam um pouco diferentes. A sala de estar estava cheia de flores frescas, com as janelas abertas e um lugar separado para eu me arrumar. Sentado ao pé da poltrona estava Magnus, que se levantou e pulou em mim assim que me viu, lambendo meu rosto e não me deixando nem abrir os olhos ou respirar direito. Eu ria, tentando controlar suas boas-vindas, mas qualquer tentativa de ser fina e elegante se perdeu por causa de um vira-lata que nunca se importou com meu título real.

Durante as próximas horas, dezenas de pessoas entraram e saíram do meu quarto, me arrumando ou servindo de um jeito ou de outro. Finalmente tomei um café da manhã digno e nem tive que dividir com Matt, pois o levaram logo para o quarto em que se hospedaria. Uma equipe trouxe opções de roupas novas, outra cuidou de minhas unhas, chegando ao ponto de ter quatro pessoas ao mesmo tempo cuidando de cada pé e mão meus. Também tinha a equipe dos cabelos, mas eram só três pessoas. Eles queriam pintar minha raiz, que deixava bem claro que meu cabelo era castanho naturalmente, mas era pouco tempo e não valia a pena, na minha opinião. Eu até gostava da raiz mais escura e não fazia questão de fingir que meu ruivo era natural.

Joana e Michelle eram quem coordenavam tudo, junto de Sarah, que mais ficou no telefone. Dessa vez, por não ter um helicóptero ou avião por perto, eu poderia usar um vestido rodado, gola conservadora, em um tom de verde água escuro. Era tão bonito e vivo, que destacou meu cabelo e a maquiagem que outra equipe fez em mim.

Só faltavam quinze minutos, mas Sarah insistia que faltava um detalhe, então ela, Joana, eu e mais quatro guardas, incluindo Ben, seguimos pela escada dos fundos até o subsolo em vez de irmos já até a entrevista. Nós entramos em um corredor com paredes de pedra e chão de metal que parecia um cofre e seguimos quase em fila única até chegar à sala mais segura do castelo.

As luzes acenderam quando os guardas responsáveis ainda estavam abrindo as portas, mas eu podia ver pelas grades as joias as refletindo, uma a uma. Meus sapatos ecoaram pelo chão também fortificado enquanto entrava sozinha. Passei devagar por cada estande de vidro, debaixo dos quais estavam as joias da Coroa e uma pequena explicação de cada. O anel que George Belforte deu de presente de casamento à Rainha Elisa, e depois aquele que ele mandou fazer para ela quando foi coroada ao seu lado. O colar de diamantes negros da Rainha Luísa, minha bisavó, que fora perdido por vários anos até ser encontrado na Inglaterra em 1980 e alguma coisa. Até mesmo o orbe real usado nas coroações e que eu seguraria na minha confirmação quando fizesse dezoito anos.

Era tudo tão maravilhoso, até mesmo as joias mais novas, encomendadas pelos meus pais, tão impecável e intocável mesmo para mim, que não sabia se seria uma boa ideia vestir algum deles. Não que eu nunca tivesse usado alguma joia, mas nunca alguma histórica.

— Se quiser a minha opinião, eu gosto da tiara de Aquamarine — ouvi atrás de mim e me virei para encontrar minha mãe entrando na sala.

Abri um sorriso, que ela imitou, ainda que começasse a andar igual eu tinha feito, seguindo o caminho pelos estandes.

— Eu estava pensando nessa, o que acha? — perguntei, me aproximando do estande central, em que a coroa de George Belforte estava exposta.

— Pelo que seu pai me contou, ela ficou um pouco grande em você — minha mãe comentou, divertida.

— Ele é tão fofoqueiro — falei, e ela riu, já que ele tinha contado era da noite em que eu os tinha visitado da última vez e que eu o encontrei em seu escritório. Por alguma razão, a coroa estava com ele e ele a colocara em minha cabeça, só para eu sentir seu peso. — Por que a de aquamarine? — questionei. Não era a mais preciosa ou rara que tínhamos e, honestamente, eu não esperava usar a de George, mas queria aproveitar a oportunidade para usar outra mais especial.

Minha mãe parou bem à minha frente, levantando o queixo para me olhar nos olhos. Ela era mais baixa do que eu, bem mais baixa, mas conseguia ser tão imponente, que nem precisava de tiara.

— Sua entrevista será no corredor principal, e o sol não bate lá de tarde, então usaremos luz artificial — ela disse, fazendo um sinal para o guarda, que entrou e começou a destrancar o estande da tiara que ela sugeriu. — As luzes daquele corredor são brancas. Filipe — ela o chamou, e ele tirou do bolso uma pequena lanterna. — Como essa, olha.

Ele mesmo mirou a lanterna na direção das pedras de Aquamarine. Eram bastante claras, mas refletiram a luz como o mar próximo da superfície. Mas não era as pedras que chamavam a atenção.

— Uau — falei em um suspiro, pois todos os pequenos diamantes em volta de cada pedra de Aquamarine pareciam tomar vida ao refletir a luz da lanterna.

Minha mãe sorriu, satisfeita, e fez um sinal para que Joana viesse até mim. Ela encaixou a tiara em meu cabelo e, dando os toques finais, me garantiu que eu estava pronta.

***

— Lembre-se do que eu falei, Alteza — Sarah me dizia enquanto caminhávamos até o corredor principal. Suas últimas orientações, ainda que fossem as mesmas que ela me falara no avião. — Eles vão querer te provocar, fazer perguntas que te façam se perder e falar algo não planejado. E como você vai responder?

— Sem comentários — falei automaticamente, passando a mão pela barriga e sabendo que ainda tinha uma câmera logo atrás de nós.

— Qual partido você prefere, Conservador ou Democrata?

— Democrata.

Alteza!

Revirei os olhos discretamente, agradecendo por não me filmarem de frente.

— Sem comentários — repeti.

Ela respirou fundo. Nós não andávamos rápido, mas tampouco poderíamos ir devagar. Estávamos fazendo um caminho mais longo do que aquele que minha mãe faria, tudo para poder chegar pela porta certa, e não poderíamos nos atrasar.

— Você gostaria de um dia assumir o trono?

— Sem comentários.

— O que acha da administração do atual Primeiro Ministro?

— Sem comentários.

— Acha que seu namoro influenciará nas relações de Parforce com o Reino Unido.

— Sem comentários, e esse é sério. — Bufei, e Sarah me olhou com uma sobrancelha arqueada. — A última coisa que eu quero fazer é comentar sobre o meu... — olhei na direção da câmera. — ...namoro.

— Sem bufar — Sarah disse, ignorando o que falei. — Sem revirar os olhos, sem franzir a testa.

Dei as costas para a câmera para revirar os olhos uma última vez, mas só para provocá-la.

— A não ser que você queira que eles tirem uma foto sua com os olhos brancos e publiquem na primeira página amanhã, Alteza.

— Seria bem mais eu do que... — engoli o que diria ao olhar para baixo. Eu estava impecável, minhas unhas perfeitas e clarinhas, todos os roxos de minhas pernas disfarçados com maquiagem, e meu cabelo caía em ondas exatas que se movimentavam como se tivessem sido programadas.

Estava linda, era verdade, mas até meu batom era rosa comum e não roxo. Pelo reflexo no espelho de um dos corredores, tinha que admitir que a tiara caíra muito bem em mim, ainda que não fosse a mais cara e exclusiva da coleção. Mas ela fazia meus olhos parecerem mais verdes do que castanhos, menos sem cor definida como eu os definia. Eu parecia mais velha também, uma versão um pouco mais ruiva da Arabella. Isso deveria me deixar feliz, mas a verdade é que beleza nenhuma conseguiria ofuscar a sensação de impostora que vinha sorrateiramente tomando conta de mim.

Quando chegamos à sala que daria ao corredor principal e vi Arabella, me senti patética. Ela vestia um terninho comum e rosa claro, nada único ou especial, mas só de se levantar e vir em minha direção, já deixou claro que eu não pertencia ali.

Eu vestia uma fantasia de princesa. Arabella era uma princesa. Não importava qual tiara colocassem em minha cabeça, quais respostas eu ensaiasse. Ainda era um papel que eu faria, atitudes e palavras decoradas. Eu nunca seria princesa suficiente.

Nunca tinha sido. Nunca pude me comparar à minha irmã. Nunca nem tinha chegado aos seus pés e, para falar a verdade, tinha desistido de tentar há muito tempo. Tinha feito tanta questão de aproveitar enquanto não sabiam quem eu era, que nem me importei se sabia realmente ser uma princesa ou não. Estivera bem confortável enquanto não exigiam a mesma perfeição de mim que exigiam da minha irmã. Mas e agora que todos estavam de olho em mim, só me esperando tropeçar e provar que não merecia estar ali?

Todas as respostas que vinha praticando em minha cabeça se transformaram em uma única frase, Eu não sou a Arabella, e senti uma onda de calor me subir até a nuca. De repente, a porta da sala pareceu me empurrar para trás, como uma força magnética repelente que me fez dar um, dois, três passos para longe em vez de me puxar para dentro, quase esbarrando em Ben.

Senti suas mãos me segurarem e me virarem antes que eu trombasse nele. Ele buscou uma explicação em meu rosto para o que estava acontecendo.

— Eu não consigo — me ouvi falar, ainda que não pudesse pensar direito. — Não consigo fazer isso. — Não tinha escolhido ignorar completamente a presença de Sarah e os guardas ali, simplesmente não lembrei que estavam presentes. — Me tira daqui. — Era mais que um pedido direcionado a Ben, eu falava para qualquer pessoa que conseguisse me ouvir, só sentindo a presença da porta do outro lado da sala às minhas costas como uma chama quente demais para tamanha aproximação. — Por favor, me tira daqui.

— Alteza, do que você está falando? — Ben buscou meus olhos com tanta preocupação em seu rosto, que só aumentou o nó na minha garganta.

Quando realmente consegui focá-lo, depois de praticamente empurrá-lo e fazer com que cambaleasse comigo mais um passo para longe da porta, abri a boca para responder, mas nada saía. Então só balancei a cabeça freneticamente, sentindo as lágrimas começarem a despontar nos meus olhos.

— Lis, o quê...

— Eu não consigo dar essa entrevista! — Finalmente fiz minha voz sair, ainda que bastante estridente. — Não vou entrar lá. Eu não sou a princesa que eles querem. — Foi quase impossível falar essas palavras, e Ben percebeu, pois não demorou mais nem um segundo para me abraçar, ignorando completamente qualquer etiqueta real e as pessoas ainda à nossa volta.

Assim que senti meu nariz enterrar no tecido duro de seu uniforme, apertei os olhos forte o suficiente para as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Ele me abraçava um pouco desconfortável, provavelmente tentando se encaixar em mim com a tiara pesada e enorme em cima da minha cabeça, mas não me importava. Só queria desistir daquela entrevista e correr para o mais longe possível de tudo aquilo, de preferência para algum lugar onde todos não estivessem se enchendo de expectativas para mim. Qualquer lugar onde eu não fizesse parte da realeza, onde não me conhecessem e nem quisessem conhecer. Aquele abraço parecia ser o primeiro passo para ele me ajudar a fugir dali.

Mas Ben se afastou logo depois, me segurando outra vez pelos ombros e buscando meus olhos para que eu o estivesse encarando quando falasse:

— Vai ficar tudo bem.

Mas não foi o suficiente. Ele ainda não entendia! Dava para ver em sua voz que ele nem sabia do porquê do meu pânico, e minha única resposta foi praticamente despejar nele tudo que estava pensando e sentindo.

— Não vai ficar — falei, no mais perto de um grito que um sussurro conseguia chegar. — Não vai. Eu já sei exatamente o que vai estar na primeira página de todos os jornais amanhã. Era por isso que esperamos tanto? — Fiz uma voz mais afetada, metade para tentar imitar todas as outras pessoas do país, metade por não conseguir respirar direito ao sentir meu nariz começar a acompanhar as lágrimas. — Porque é só isso que eu sou. — Engoli a seco para continuar falando, tentando puxar algum ar e acabando ainda mais sufocada. — A garota medrosa, — mas eu forçava, — egoísta e sem talento algum que, por algum mistério da vida, teve a sorte de nascer na família mais importante de Parforce! Eles passaram dezoito anos me imaginando, me moldando em suas cabeças, criando expectativas baseadas no resto da minha família, sem saber que eu não chego nem aos pés deles! Ben, eu nem chego aos pés dela! — Minha voz suplicava que ele me entendesse sem que eu precisasse falar mais alto.

A câmera estava dentro da sala, esperando minha entrada, eu sabia. Mas eu lhe dava as costas, puxando Ben cada vez mais para longe.

— Não posso ser comparada à minha irmã! Eles estão esperando outra Arabella! Mas eu não sou ela! Como vou sair lá? Não dá. Me tira daqui. Por favor, me tira daqui!

Só faltava que eu ajoelhasse no chão – e estava disposta a me jogar nele assim que sentisse que precisava – mas algo na expressão de Ben me deu a sensação de que ele tinha entendido. Estava sério, como se não precisasse pensar mais nem um segundo no assunto. Só tomar uma decisão e agir.

Então ele agiu.

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