Capítulo 4
O reino estava aos prantos, não sei se pela morte do rei e sua esposa ou simplesmente pelo fato de todos os bebês do sexo feminino nascidos naquela noite, serem arrancados de suas mães. Do palácio se podia ouvir os gritos desesperados do povo. Meus súditos já estavam sofrendo com o novo governo, mal sabiam eles que aquele era só o começo.
Os criados amedrontados, sobre a visão do rei morto em seu aposento, eram patéticos, mas seus olhos arregalados diante de mim, foram de certa forma prazeroso. O terror que minha presença lhes causava, estava estampado no rosto de cada um.
Coloquei o punhal de ouro, sobre a mesa, e limpei minhas mãos no lavabo de prata, a água morna, em pouco tempo, tirou a enorme mancha de sangue, que se misturava lentamente na superfície. Observei o tom vermelho se diluir, enquanto a imagem da bela rainha voltava a minha mente, sua beleza era fascinante, confesso que a admirei por alguns longos segundos. Ela estava em um sono profundo, seu rosto levemente rosado era sereno, e seu traje íntimo, deixava seu corpo, ainda mais provocante aos meus olhos.
Retirei o punhal dourado da cintura, e friamente o enterrei em seu peito, a escolhida abriu os olhos, por alguns segundos, junto ao último suspiro que soltou, antes do seu corpo desfalecer sobre o seu leito.
Recobrei a consciência voltando dos meus devaneios, enxuguei minhas mãos, e me dirigi ao leito do rei, retirei o anel real do seu dedo indicador, e o coloquei em minha mão direita.
E os criados, colocaram uma túnica dourada, sobre os meus ombros, digna de um soberano. Me ajeitei, em frente ao meu próprio reflexo, e senti o peso do poder sobre a minha cabeça, no momento, em que a coroa foi colocada sobre ela.
Um sorriso vitorioso, se curvou em meu rosto, finalmente eu havia conseguido colocar minhas mãos na coroa, todos teriam que se curvar ao novo rei. E quem se recusasse seria levado à forca, servindo de exemplo para os outros. Começando pelo meu próprio exército.
As ordens foram claras, eu queria todas as crianças, do sexo feminino nascidas naquela noite, no meu palácio. Mesmo que fosse preciso matar os pais, que se recusassem entregá-los. E os soldados que se negassem a cumprir as minhas ordens, seriam executados em praça pública.
Tudo estava ocorrendo como o planejado, dali a alguns anos, a escolhida se revelaria entre todas as mulheres do meu arem.
Me dirigi a sala do trono, acompanhado por uma pequena escolta real, e dois soldados, abriram as pesadas portas esculpidas em ouro, me dando passagem. Segui em direção ao tão esperado trono, caminhei lentamente pela grande sala vazia, eu queria aproveitar cada segundo daquele momento prazeroso, pena que o meu querido pai não estava lá para ver o meu triunfo, foi esplêndido. Subi os degraus e me sentei no trono, selando o meu novo posto.
A sensação era maravilhosa, podia sentir o poder em minhas mãos, passei anos, planejando me sentar no trono e finalmente consegui. Fiz sinal para os guardas, me deixar sozinho e apreciei minha taça de vinho, após um dos criados me servir e também se retirar. Fiquei, horas planejando os meus próximos passos, meu desejo sempre foi ser poderoso, e conquistar outros reinos, era a verdadeira definição de poder.
O antigo rei era patético, ele nunca quis guerra, sempre se manteve aliado de alguma forma com os outros reinos, sempre assinando acordos de paz, sempre pensando no melhor para o seu povo e seu reino. Mas eu pensava diferente, queria mais poder, se conseguir uma coroa me deu aquela sensação, eu já me imaginava conquistando outros territórios. Tudo estava dando certo, mas quando julguei que não podia melhorar as portas do grande salão se abriram e dois soldados trouxeram uma mulher até mim.
— Como ousam me incomodar? — esbravejei.
— Perdoe-me majestade — um dos homens me dirigiu a palavra — Essa mulher desobedeceu às ordens da coroa, e se negou a reconhecê-lo como seu rei.
— Deixe-me ver seu rosto — ordenei.
Á mulher se desvencilhou dos guardas abruptamente, retirou os fios loiros, que caiam sobre seu rosto, e me encarou com seus olhos verdes.
— Então você é o rei sem compaixão?
Me perdi por um tempo indecifrável analisando a sua beleza, ela era a mulher mais linda que eu já vira. Seus traços finos eram perfeitamente desenhados e sua pele não estava judiada pelo sol, como as das mulheres do reino. Ela era delicada e aparentemente não possuía medo, definitivamente não pertencia àquele lugar. Mas, eu já estava decidido, a mandá-la para forca, quando coloquei meus olhos no cristal que ela carregava em seu colar. Naquele instante eu soube, que mais uma vez, o destino estava conspirando ao meu favor. Meu pai possuía um cristal igual ao dela, mas na cor azul. Disse ser de um portador que ele matou, me explicou cada detalhe sobre eles que não pertenciam a esse mundo e eram muito poderosos. Mas, que quando se conseguia capturar o cristal de algum, era possível controlá-lo. Confesso que nunca acreditei. Mas, ela estava ali, bem diante dos meus olhos. Tudo que ele havia me dito, estava se confirmando naquele momento.
Foi aí, que surgiu meu novo plano, eu não queria só o poder da descendente. Eu desejava a imortalidade. Então usaria as habilidades da portadora, que estava diante dos meus olhos, ao meu favor; mesmo que isso custasse a vida dela.
— Não vai se curvar? — perguntei curioso.
— Não me curvo a ninguém! E você não é meu rei — a bela mulher despejou as palavras sem cerimônia.
— Você não pertence a esse lugar, acertei? — me levantei, me aproximando lentamente dela.
— Sou de outro reino sim, é assim que costuma tratar os seus hóspedes? — Ela continuava me encarando imóvel, não se intimidou com o fato deu estar me aproximando dela, um ato corajoso devo admitir.
— Não! Costumo tratar ainda pior..., mas, não é o seu caso — li dirigi um sorriso simpático.
— E por que comigo, agiria de forma diferente?
— Por que a partir de agora, você é minha convidada. Como devo chama-la? — demonstrei o máximo de interesse possível.
— Íris Swansder! — respondeu, aparentemente desconfiada de minha atitude repentina.
— Encantado. Meus guardas vão acompanhá-la até um dos aposentos real, vou disponibilizar alguns criados para ajudá-la em sua estadia no palácio, mandarei alguns trajes e joias para poder escolher o que usar hoje durante o banquete.
— E, porque eu deveria aceitar?
— Digamos que não irá se arrepender.
— Tem até o amanhecer, para me convencer a ficar!
Que atitude ardilosa...
— Perfeito...
— Parece que finalmente estamos nos entendendo, majestade. — Ela esboçou um leve sorriso e se retirou da sala do trono.
Me deixando um rastro de curiosidade, Íris Swansder era uma mulher peculiar, e de personalidade forte, devo admitir.
Algumas horas se passaram e o banquete estava cada vez mais próximo, eu literalmente contava cada segundo para vê-la novamente, enquanto escutava impacientemente o som tilintar do meu anel se chocar contra a taça de ouro em minha mão.
A ideia de ter uma rainha ao meu lado antes de encontrar a escolhida, nunca havia surgido na minha mente, mas, ter uma mulher tão ou mais poderosa, não me pareceu uma má ideia.
O som das portas de abrindo me sugou dos meus pensamentos insanos, me levando de volta para realidade, tê-la novamente diante dos meus olhos foi fascinante, ela trajava um vestido vermelho digno de uma rainha, destacando sua pele clara, o corpete marcava sua cintura fina, e seus ombros, aparentemente macios estavam expostos, seus cabelos, antes desalinhados em uma trança desfeita, estavam presos em um coque formal.
— Por que não está usando o colar que te dei? — perguntei intrigado.
— Sinto muito, majestade, mas tenho meu próprio colar — ela levou umas das mãos ao pescoço, e tocou o cristal vermelho que descansava sobre seu decote farto.
— Não me parece tão valioso quanto o que te dei — protestei; aparentemente conseguir colocar as mãos naquele colar, seria mais difícil do que havia pensado.
— É uma relíquia de família, tem muito valor emocional. Se é que me entende!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro