Capítulo 3
Meu braço direito começou a formigar, e a luz vermelha já transparencia em meus dedos. Um dos soldados atravessou a porta e foi em direção a mulher. Já estava pronta para ataca-lo, mas o sorriso no rosto de Laysla me fez mudar de ideia imediatamente.
— Meu amor, você está bem? — o homem beijou sua testa com carinho — É o nosso filho — comentou surpreso.
— Uma menina — ela sorriu.
— Uma menina? Não! Não pode ser — em um ato de desespero colocou as mãos sobre a cabeça.
— O que está acontecendo Enrico? — Laysla perguntou aflita.
— Nossa filha corre perigo — sua voz saiu carregada de angústia.
— Do que você está falando? — a mulher perguntou segurando seu bebê com mais firmeza, enquanto olhava espantada para o seu marido.
— O rei está morto, e o novo homem a ocupar o trono, ordenou que todas as meninas nascidas nessa noite, fossem levadas para o palácio.
— O que ele quer com os bebês? Enrico; quem roubou a coroa? — seus olhos transmitiam pavor.
— Dmitre...
— Não, não vou entregar nossa filha a ele — a mulher se debulhou em lágrimas.
— Vou, protege-las com minha própria vida se for preciso.
Continuei escondida, não queria chamar a atenção para mim, e precisava sair logo daquele casebre. Espiei o lado de fora e as ruas continuavam tomadas pelos homens da guarda real. Os corpos dos pais que tentaram impedir que seus bebês fossem levados estavam largados sobre o solo ensanguentado. E o choro dolorido das mães ecoava.
Meus olhos brilhavam presenciando tudo aquilo, minha vingança já estava acontecendo, e eu nem precisava fazer nada, eles mesmo se destruíam por si só. E todo aquele sofrimento estava sendo causado por um único homem, confesso que me despertou uma curiosidade em conhece-lo. Pensei que talvez me aproximar dele, fosse útil para os meus planos.
De repente, mais dois homens da guarda entraram no casebre. Enrico habilidosamente empunhou sua espada aparentemente pesada impedindo a passagem dos homens.
— Vai mesmo querer lutar? — o homem de cabelos alaranjado sorriu maliciosamente. — Não percebes que estás em desvantagem, apenas entregue a criança.
— Ninguém vai levar a minha filha — manteou-se firme em sua posição.
— Veremos...
O soldado empunhou sua espada semelhante à do seu adversário e avançou com precisão, Enrico foi ágil o suficiente se defendendo a tempo, eles travaram uma luta pesada e agressiva, as lâminas se chocaram causando um som alto e arrepiante, seus movimentos pareciam espelhados, provavelmente pelo mesmo treinamento que receberão no quartel real.
O segundo homem mais alto de pele negra, tentava ultrapassar para alcançar o bebê. Mas, Enrico se voltou para ele lhe atacando de maneira certeira, cometendo um erro fatal de deixar sua guarda aberta para o outro oponente, que enfiou a espada em suas costas atravessando seu corpo. O pai da criança soltou sua arma enquanto perdia as forças e caiu de joelhos.
Senti um tremor dentro de mim, e antes que eu percebesse já estendia a mão em uma ação involuntária sufocando o homem esguio que executou Enrico. Me aproximei devagar e enfiei minha mão direita em seu peito, seus olhos castanhos ficaram maiores e seu rosto mais ruborizado que o normal, em um único gesto arranquei seu coração, deixando um buraco no corpo que desabou no chão. Me virei para o outro homem, caminhando lentamente em sua direção, podia sentir seu pavor, seu medo em cada músculo definido. O avaliei minuciosamente, ele estava gravemente ferido, o golpe que recebeu foi certeiro, e o sangue que escorria por sua boca, encharcando a barba negra, indicava que não iria sobreviver.
Presenciar o Enrico sendo atacado pelas costas me fez lembrar do meu pai, os relatos da última visão que tiveram dele era exatamente aquele. Foi apunhalado pelas costas com a sua própria espada, após abrir um portal para o nosso mundo sem seu talismã, dizem que ele estava decidido a presenciar o meu nascimento. Foi do amor dele por mim que tirou forças para fazer algo que para todos era impossível, não era atoa seu título de ser o mais poderoso de Zaygonn.
O choro de Laysla tirou-me das lembranças, estava aos prantos, agarrada ao seu bebê que dormia tranquilamente em seus braços com seu pequeno rosto rosado.
— Fuja! Se continuar aqui vão tira-la de você.
— E o Enrico? — perguntou entre soluços.
— Ele está morto! — disse sem cerimônia — Logo iram notar a ausência dos guardas e viram atrás, então se apresse.
— Obrigada por salvar a minha filha de novo, serei eternamente grata, seu povo não é o monstro que descreveram.
— Eu sou o monstro que descreveram! — dei um sorriso malévolo, fazendo a expressão da mulher ficar ainda mais perturbada.
— A propósito — me aproximei olhando o bebê — Seu nome será Haad.
Peguei um dos belos trajes de Laysla, e me vesti, dessa vez sem camuflagem. Sem perder tempo, estava na hora de acabar logo com aquilo e voltar para Zaygonn.
Diante de tudo o que aconteceu, só conseguia pensar em um nome, Dmitre.
A noite estava mais fria, ainda se podia ouvir alguns gritos de dor, e o choro de desespero das mães sem seus filhos, mesmo que distante. Alinhei os longos fios claros do meu cabelo em uma trança lateral, expirei fundo, sai do casebre, e caminhei em meio ao caos. As ruas do vilarejo, se encontravam literalmente banhadas de sangue, e alguns soldados estavam removendo os corpos sem vidas do chão, o que os deixou ocupados demais para notar a minha presença quebrando a ordem de ficar em casa.
Decidi seguir para o Palácio, de algum modo, precisava conhecer o homem responsável por todo aquele caos, eu não queria admitir, mas algo naquele ser humano me intrigava, estava sendo atraída para ele sem perceber, era como se o Dmitre tivesse me dando um presente de boas-vindas, meu coração estava consumido pela vingança e apenas um homem havia causado dor e sofrimento o bastante, para chamar a minha atenção para ele. Mas, com outros olhos. Era mais forte do que eu a vontade de conhece-lo, olhar nos olhos dele e ver o que eu ia encontrar. Talvez tenha me precipitado ou simplesmente sido impulsiva, mas eu precisava daquilo, naquele momento.
Cheguei aos portões do castelo, que eram guardados por dois homens, assim que notaram a minha presença, eles empunharam suas espadas.
— O que faz aqui? — um dos soldados caminhou em minha direção — Não ouviu o toque de recolher?
— Sim, ouvi — indaguei olhando em seus olhos escuros — Mas, não sigo as ordens do seu rei.
— Só tenho um aviso para você, mulher tola — o homem cuspiu as palavras. — O rei não é misericordioso.
— Eu também não sou! — curvei meus lábios em um sorriso maldoso.
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