Capitulo 1
Abri os olhos com dificuldade, meu corpo todo estava dolorido e mais pesado que o normal. Minha visão turva lentamente se tornava firme e limpa, e um teto de palha foi a primeira coisa que avistei. Demorou alguns segundos para me lembrar de tudo e perceber que já estava em território inimigo.
Olhei a minha volta assustada, o lugar era uma cabana de madeira e havia muitas ervas e plantas em cima de uma mesa surrada. Rapidamente procurei o meu colar, e soltei um suspiro de alívio ao perceber que meu cristal ainda estava lá. Me levantei devagar ficando sentada na cama de madeira improvisada, sustentada com palha na superfície para ser mais confortável. Meus braços e pernas estavam com folhas úmidas e verdes, tirei uma do braço esquerdo revelando um corte profundo. A causa de o corpo estar dolorido, eram vários cortes, devido ao efeito colateral da travessia.
Segurei meu cristal com a mão direita e concentrei toda a energia do meu corpo nele, que começou brilhar emitindo uma luz vermelha. Uma névoa no mesmo tom me cobriu transpondo os ferimentos, causando-me um formigamento por toda pele, senti uma dor aguda em cada corte, seguido de uma ardência que queimava a carne exposta. Então cada um por mais profundo foi se fechando lentamente, e às duas estruturas se unindo, sem deixar nenhuma cicatriz.
Não havia percebido que uma mulher velha me observava, assustada por presenciar tudo, ela tremia de medo, seu pavor era tão grande que eu podia escutar seus batimentos cardíacos. Me levantei lentamente sem desviar meu olhar dela. Seus longos cabelos eram brancos e ralos, sua pela enrugada era rosada com algumas manchas marrom, tinha olheiras que se destacavam, provavelmente ela não dormiu quase nada, seus lábios finos estavam entre abertos enquanto sua respiração pesada dificultava a passagem do ar entre eles; e seus olhos negros arregalados. Em sua mão esquerda havia um tufo folhas verdes e na outra, uma pequena faca enferrujada. Ela apertava o cabo de madeira com força, mostrando ainda mais seu nervosismo. A observei por longos segundos, como uma fera preparada para atacar a sua presa. Não importava se ela estava cuidando dos meus ferimentos, era humana, e somente isso me bastava para tirar a sua vida.
Apesar de nunca ter matado antes, não me senti mal, e nem tive compaixão por aquela mulher, ver sua vida desvair de seu corpo, não era o bastante para mim. Eu queria causar pânico, vê-la sofrer, tortura-la com sua própria faca. Minha vontade era fazê-la sentir, tudo o que o meu pai sentiu.
Levantei o braço esquerdo em um único gesto, fazendo seu corpo levitar com o movimento. Serrei o punho com força, e fiquei assistindo-a sufocar enquanto colocava as mãos no pescoço em busca de ar, seu desespero era como sentir o aroma da flor mais perfumada do jardim real, a sensação era prazerosa, avassaladora.
Seu rosto enrubesceu, e seu braço desmantelou sem forças, soltando a faca. Já estava perdendo a consciência, então a soltei, deixando seu corpo estatelar brutalmente sobre o solo gélido. Ela grunhiu aflita, causando-lhe uma tosse árdua. Me aproximei, e desci lentamente apoiando um dos joelhos sobre o chão, olhando-a nos olhos, que ainda permaneciam em mim. Peguei a faca próxima ao seu corpo e apontei para o seu pescoço.
— Poupe-me — a pobre mulher falou com dificuldade — Eu lhe imploro — lamuriou.
— Suplicar por sua miserável vida, não mudará minha decisão — esbocei um sorriso malicioso. — Matarei todos, um a um.
— Você é um deles. Mas eu cuidei dos seus ferimentos, te trouxe para minha casa — sua voz rouca estava fraca.
— Foi a pior decisão que já tomou! — enterrei com força a faca em seu peito vendo seus olhos perderem o brilho rapidamente, junto ao seu último suspiro.
A sensação de tirar uma vida foi estranha, e me fez pensar em como o meu pai foi morto, se teve uma dor rápida ou ficou agonizando por algum tempo? A mancha de sangue em minhas mãos era só o começo da vingança, que não estava perto de acabar.
Levantei, me afastando do corpo imóvel, seguindo até a saída do casebre. Tirei a madeira que bloqueava a porta como uma tranca e sai, o sol brilhava intensamente, e a cabana era cercada por uma floresta robusta. Fiquei perplexa, em como o mundo dos humanos era parecido com o reino de Zaygonn, em alguns aspectos. Por exemplo, o sol parecia ser o mesmo e o canto dos pássaros, também soou familiar.
Meus pés estavam descalços, e a cada passo, sentia a minha carne esmagar pequenas pedras e galhos, causando um desconforto penoso. Meu vestido glamoroso, com detalhes em pedras preciosas, antes vermelho, já não passava de farrapos encardidos; e meus longos cabelos encontravam-se embaraçados, e ásperos. Minha pele estava suja de barro, e se não bastasse, meu estômago roncava.
Voltei para a cabana, me deparando novamente com o corpo imóvel da mulher, que ignorei, me dirigindo a suposta cozinha improvisada. A procura de algo que pudesse saciar a minha fome, mas a única coisa que encontrei, foi um caldo verde com um gosto desconhecido, em uma panela de barro. Tomei o ensopado ficando satisfeita. Peguei duas facas que encontrei na mesa junto as ervas, uma panela de barro, um recipiente de água e algumas cobertas. Juntei tudo e fiz uma trouxa, trajei um dos vestidos velhos da mulher; uma capa preta de capuz e tecido grosso que encontrei, e calcei suas sandálias, saindo logo em seguida.
Apontei para o lugar, causando um pequeno incêndio, que em poucos minutos tomou conta de tudo. Findei observando as chamas avermelhadas queimar cada pedaço de madeira, que foi se deformando, até destruir a base que sustentava o abrigo, tudo desmoronou rápido, com uma brutalidade fascinante, que me encheu os olhos.
Era assim que pretendia destruir a humanidade, como as chamas vermelhas, queimar os alicerces daquele povo desconhecido, fazendo-os desabar, assistir há queda deles de perto e depois vê-los virar pó, um a um.
Já estava escurecendo, então segui pela floresta, em busca de algum lugar que eu pudesse pernoitar. Precisava descansar, colocar as ideias no lugar, e me concentrar no meu próximo passo.
Mas, aquela noite estava mais movimentada do que eu previa, de um certo ponto da floresta pude enxergar um castelo. De longe, já dava para notar que a propriedade não era pequena.
Inúmeros homens, estavam em posição como se esperassem ordens de alguém. O local era iluminado por tochas de fogo e cercado por um muro alto. Senti um aperto no peito com a possível hipótese de ser exatamente o lugar onde meu pai ficou preso.
Expirei fundo, e segui a trilha que aparentemente me levaria ao castelo. Apressei os passos, tomando cuidado com as raízes e pedras no caminho barroso. Não sabia ao certo o que faria ao chegar lá, mas meu instinto me guiava intensamente, era domada por um único propósito! MATAR. Mas, precisava de um plano, embora estivesse seguindo sem um.
Chegando ao fim da mata, não muito longe dos portões, onde dois homens guardavam a entrada principal do reino, reconheci que não poderia correr o risco de ser descoberta, afinal, o meu pai, que era o mais poderoso foi capturado. Eles eram muitos, tinha que ser cautelosa, e não deixar o ódio me cegar. Considerei várias formas, e a mais conveniente, seria uma mulher velha, aparentemente inofensiva, tentar passar pelos guardas.
Usei o cristal, me camuflando com a aparência da mulher que matei, todos me enxergariam com seus cabelos ralos e sua pele enrugada. Aprontei-me e segui para os enormes portões. Cheguei de cabeça baixa, sem me pronunciar, meu coração batia mais rápido, e minha respiração levemente densa.
— Enfim apareceu mulher — um dos homens advertiu. — Sabes que não pode ausentar-se por tanto tempo.
— Perdoe-me — murmurei.
Ele bradou e os portões se abriram.
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