Uma pequena garotinha...

Faltando somente cinco dias eu me encontrava uma pilha de nervos. Não conseguia trabalhar sem desviar minha atenção para outra coisa e a cada cinco minutos alguém ligava para perguntar sobre o casamento. Floristas, organizadores, garçons... Até mesmo minha mãe não parava de telefonar. Sem contar que ficava escutando a tarde inteira os gritos de Ana Júlia e Mariana vindos do corredor, discutindo qual seria o vestido ou o sapato que usariam no "evento de nossas vidas", como elas próprias descreviam. Elas no momento eram a minha única fonte de diversão, porque as coisas absurdas que elas gritavam me faziam rir divertida e afastava um pouco a tensão... Mas naquela tarde os gritos foram os piores e quase que cheguei a pensar que elas tinham visto uma barata, quando um "AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH" cortou o silêncio.

— OI CHRISTOPHER DA DIVA! – as escutei gritando.

— VOCÊ VEIO VER A DIVA? – dessa vez foi somente a voz de Ana Júlia que gritou.
— Você que ele não veio ver, né, amiga? – coloquei a cabeça para fora da porta e o vi parado, encarando as duas com um sorriso no rosto – Christopher da diva, você quer que eu chame a diva?
— E enquanto ela chama a diva, quer um café? Água? Suco? Refrigerante? Champagne?
— Não vai embebedá-lo, porque senão a diva não vai gostar! – deixei uma risada escapar e fui andando até eles, balançando a cabeça.
—: Oi amor! – dei um selinho nele e ele me abraçou por trás – Meninas, se acalmem! Já disse que não quero que vocês tenham um ataque do coração antes do meu casamento... Quer dizer, depois também não.
— Tá, diva! – os olhinhos de Ana Júlia brilharam e eu ri – Mas vocês querem que eu leve alguma coisa no seu escritório?
— Não precisa... Eu trouxe o favorito da Dulce – ele ergueu uma sacolinha da Starbucks no ar, me fazendo sorrir – Também trouxe café para vocês... Acho que a Dul deve estar deixando vocês duas loucas nesses dias, por isso merecem um brinde...

Ele entregou uma sacolinha para Mariana e por um segundo acreditei que elas começariam a gritar outra vez, porém as duas sorriram que nem bobas e foram se sentar, em silêncio (o que foi MUITO estranho!).

Quando entramos em minha sala, Christopher sorriu por vê-la pela primeira vez sem milhares de caixas ao redor. Tinham acabado de arrumá-la há pouco tempo e faltavam poucos detalhes para ela estar do jeito que eu queria. Ele andou até a minha mesa e pegou o porta-retrato que tinha uma foto de nós dois, tirada em Cozumel e sorriu.

— Seu escritório ficou lindo...
— Eu sei que ficou! – sorri – Mas você não veio aqui para me trazer café ou ver o meu escritório novo, não é mesmo?
— Não – ele abriu um sorriso ainda maior e esticou um pedaço de papel para mim. Eu peguei o papel e o olhei curiosa, esperando alguma informação adicional, mas ele não deu nenhuma – Considere isso como um presente de casamento extra...
— O que é? – baixei meus olhos até a folha e comecei a ler.

Querida Dulce,
Christopher compareceu ao meu escritório algumas semanas atrás para saber como andava o processo e se vocês tinham conseguido a aceitação. Quis escrever pessoalmente este recado para você para primeiramente parabenizá-la pelo casamento e agradecê-la por me convidar. Escrevo justamente para falar algo relacionado ao seu casamento. Christopher, além de querer saber sobre a adoção da pequena Lucy, também me fez um pedido que eu não tive como recusar... Como o dia em que vocês passariam juntos com Lucy teve que ser adiado devido à gripe que ela estava, ele me perguntou se o dia com Lucy não poderia ser exatamente no dia do seu casamento, pois tanto ele, quanto você, queriam que ela estivesse ao lado de vocês em um momento como esse. Conversei com os superiores, também pessoalmente, e consegui a permissão para que Lucy esteja com vocês neste dia. Espero que você goste dessa surpresa, como gostará da outra.
Um beijo, Sra. Nilton.

— Como... Como...Quando... Você... Outra? – comecei a gaguejar e ele colocou suas mãos em minhas bochechas, aproximando nossos rostos e colando nossas testas – Outra surpresa?
— Adivinha quem estará em nossa casa quando voltarmos da Lua de Mel...
— Você... Você... Está falando... Sério?
— Mais sério é impossível,mi amor... E posso contar um segredo? Nesse dia, quando fui encontrar a Sra.Nilton, conversei com Lucy durante alguns minutos e sabe o que ela estavasegurando?
— O... O... Quê? – jáestava me engasgando com as lágrimas e um dos dedos de Christopher deslizavam pela minha face, enxugando-as.
— A boneca que você enviou para ela... – ele sorriu e vi que os olhos dele também estavam úmidos, o que me fez chorar ainda mais – Ela abriu um sorriso enorme quando soube que ia ao nosso casamento e perguntou se podia levar a boneca...
— Chris... topher... – comecei a soluçar e ele me abraçou forte, passando as mãos em meu cabelo e beijando a minha testa.
— Nós conseguimos, meu amor... – ele sussurrou em meu ouvido e solucei alto outra vez – Conseguimos...