TPM?
Três dias se passaram desde que nós conhecemos a Lucy.
Desde então, eu não desgrudava do telefone, esperando qualquer novidade que fosse da Sra. Nilton. Christopher entregou todos os documentos no dia seguinte em que fomos lá e meu apartamento estava revirado de cima para baixo graças à minha procura pelos documentos perdidos... Mas no final das contas os encontrei e agora somente a ansiedade tomava conta do meu corpo.
Meus pais estavam para fazer uma pequena visita, pois partiriam para a Europa junto com o meu tio e com o Ben, para aproveitar um pouco a vida. Os convidei para ficar aqui em casa pelos dois dias que ficariam na cidade e eles, mesmo depois de muito dizer que iriam incomodar, aceitaram, e agora Christopher estava uma pilha de nervos porque estava com medo de que eles não gostassem da casa ou algo do tipo.
Eu - como uma boa namorada - o mandei relaxar e sair com os amigos. Fazia tempo que ele falava que não saia com o Plínio e companhia, por isso o expulsei de casa, literalmente. Ele ficou praticamente quatro horas falando que não era certo sair um dia antes dos sogros chegarem, e que passaria uma péssima impressão aos meus pais (como se pudesse) se caso estivesse com um pouco de ressaca. No final, acabei conseguindo o mandar para algum bar ou boate e, ficando sozinha em casa, fiz algo que não deveria ter feito.
Fui ao shopping.
Mas não para comprar roupas ou ver algum filme no cinema... Fui diretamente às lojas infantis, observando as pequenas roupas e mobílias coloridas. A senhora Nilton deixou bem claro que era proibido comprar algum presente para a Lucy e entregar no dia de visitação, contudo não estava comprando para aquele dia e sim para quando ela estivesse conosco.
Comprei muitas coisas, por fim. Não conseguia resistir a um vestidinho rosa, como não consegui ignorar uma sapatilha vermelha. As bonecas também eram atraentes demais, iguais aos kits de maquiagem. As Barbie's imploravam para serem levadas para casa e o ursinho Pooh enorme estava com uma cara de piedade.
Mas cá entre nós, eu não tinha culpa se tinha um coração fácil de ser comprado e um cartão de crédito sem fundo na mão! Comprar presentes para uma criança nunca é pecado, muito menos crime! Por isso aquelas milhares de sacolas não pesavam nem um pouco em minha consciência, e sim, me faziam sorrir... E agora só me faltavam quatro presentes e teria que providenciar no dia seguinte, enquanto Christopher dormia e os meus pais não chegassem.
Voltei para casa e enquanto abria minha comida comprada, assistia através da TV da sala o início de Breakfast at Tiffany's.
Mais tarde, os três cachorros cochilavam em meus pés enquanto eu me encontrava esparramada no sofá, vendo a cena em que Paul pedia para gravarem no anel as iniciais dele e de Holly na Tifanny's, quando escutei a porta da frente abrindo. Não parei o filme, mas me ajeitei no sofá, ficando em uma posição em que conseguisse ver o que se passava.
— Será que a Dul já está dormindo? — escutei a voz do Plínio no hall e tossi para eles me notarem — Ah, é claro que ela estava de vigia! — ele riu e me cumprimentou com um aceno de cabeça — Não se preocupe, chefe, estou entregando o meu parceiro aqui em ótimas condições! — Christopher apareceu atrás dele e revirou os olhos, lhe dando um soco no ombro — Não o deixei beber demais, como também não fomos a nenhum lugar comprometedor! Se quiser, tenho provas de que fomos ao John Stre...
— Tchau, Plínio — Christopher tentou fechar a porta e Plínio, completamente bêbado, acenou para mim outra vez.
— Christopher, tem alguém para levar o Plínio para casa? Quer dizer, olhe as condições dele! — me preocupei e o vi sorrindo.
— Viemos de táxi. A não ser que o motorista também esteja bêbado, acho que o Plínio chega vivo em casa...
— E depois você diz que eu trato minhas melhores amigas mal! — comentei e me ajeitei outra vez no sofá, voltando à cena onde tinha parado de assistir.
Escutei passos na escada e murmurava as frases do filme de cor para mim mesma, fazendo cafuné na cabeça de Luna que estava em meus joelhos. Logo a luz da escada se apagou e o corpo de Christopher tombou ao meu lado no sofá, agora trajando só a blusa social com os botões abertos e com a boxer. Uma de suas mãos pousou sobre meu joelho esquerdo e começou a acariciá-lo devagar.
— Estava me esperando?
— Para ser sincera, não — falei de verdade — Eu estava vendo o filme e acabei perdendo a noção da hora — não desviei o olhar da TV — Onde vocês foram?
— No John Street Bar & Grill — seus dedos pararam de se movimentar, mas a mão dele continuou pousada em minha perna — Nada demais.
— O Alex e o Caio não estavam no táxi com vocês?
— Não — ele limpou a garganta — Os dois foram para o Star Entertainment...
— Onde? — perguntei, não reconhecendo o lugar.
— É uma... Bem, casa de strip-tease — a voz dele saiu abafada enquanto a minha boca se entreabria e eu dava um sorriso irônico.
— Ah, um bom lugar para se ir com os amigos...
— Eu e Plínio não fomos. O Plínio não está com condições nem de recitar o nome dele completo e eu não fui pela razão mais aparente.
— Claro. A namorada em casa. – falei e revirei os olhos.
— Você está falando tudo isso como se isso fosse ruim!
— Deve ser péssimo para você não poder ir se "divertir" — fiz aspas com a mão — para ter que voltar para casa cedo e aguentar a namorada.
— Dulce, o que é tudo isso? — ele retirou a mão do meu joelho e me encarou boquiaberto — Parece que fiz isso por obrigação!
— E não fez? — eu disse sarcasticamente.
— É o que você acha? — o olhar dele era cortante. Negando com a cabeça ele se afastou de mim no sofá, indo sentar do outro lado — Você é realmente incrível! — disse entre os dentes.
— E porque eu sou incrível? — rebati a frase da mesma maneira.
— Praticamente me expulsa de casa falando que eu preciso de um tempo com os meus amigos, um tempo de "macho de respeito" — foi a vez dele fazer as aspas com os dedos — e quando eu saio, mesmo que contra a minha vontade, volto e sou recebido dessa maneira, como se tivesse feito algo de errado ou que você não soubesse!
— Fez errado de não ter ido no Star sei lá o que!
— Você queria que eu tivesse ido? — a pergunta dele soou incrédula.
— Claro que não! — revirei os olhos, ainda mais incrédula com aquela pergunta.
— Então porque você queria que eu tivesse ido?
— Porque como você disse que eu disse, a careta da sua namorada disse que essa era a sua noite de "macho de respeito" e é isso que os machos fazem, não é mesmo? Saem com os amigos para verem mulheres nuas se esfregando em canos de metal!
— Dulce, por acaso você bebeu?
— Eu não, mas pelo visto você sim!
— Eu realmente não estou lhe entendendo! — ele levantou as mãos para o alto e deu um murro na almofada — Você fala que quer que eu saia, mas aparenta o contrário! Reclama para eu ir, reclama quando eu volto! Quer que eu faça o errado, não quer que eu faça o errado! Você está me confundindo! Nem sei qual é o nexo dessa briga idiota! — ele falava com calma, porém eu podia notar a alteração em sua voz, sem contar que o olhar dele era ameaçador — O que você quer afinal?
Nós dois nos afundamos no silêncio, deixando somente a voz de Holly e Paul ecoando pela sala. Eu me encontrava afoita, com a garganta inflamada. As palavras queriam sair de minha boca, mas eu não conseguia elaborar uma frase coerente e que conseguisse explicar o porquê de todo aquele drama. Para ser sincera, nem eu mesma sabia o porquê de tudo aquilo que eu havia dito e feito.
— Eu — parei de falar e suspirei — não sei o que eu quero com toda essa briga... Desculpa.
— E só para a sua informação, eu não deixei de ir ver mulheres nuas se esfregando em canos de metal por obrigação! — ele disse mais tranquilo pelo que eu podia ver — Não me parecia ter graça... Sem contar que eu voltei cedo para casa porque queria ficar um pouco com a careta da minha namorada, mas ela me recebe com tapas ao invés de beijos... O que eu posso fazer?
— Desculpa — pedi outra vez, deduzindo que aquilo era o mais correto para se fazer — Não sei o que aconteceu comigo.
— Você está bem, Dulce? — dessa vez ele perguntou com preocupação, contudo não se moveu. Continuou do outro lado do sofá me encarando, provavelmente com medo de se aproximar e eu detoná-lo com mais palavras idiotas.
— Não — respirei fundo — Quer dizer, sim. Mas... Não sei se você entenderia o que está se passando comigo, Christopher. Estou muito nervosa desses tempos para cá. Tem muita coisa acontecendo, muita coisa mudando... — desengatei a falar — Estou nervosa por causa desse emprego novo, por causa dessa demora do processo de adoção, por causa da opinião dos meus pais a respeito da adoção... Sem contar que acabo acolhendo problemas externos, como a confusão do relacionamento de Anahí com Alfonso e que agora falta muito pouco para a Sophia nascer. Sei que não deveria, mas acabo descontando minha raiva em você, porque você é o único com quem tenho passado muito tempo ao dia... Antes eu descontava na Letícia, na Bette ou até mesmo no Andrew, mas agora não tenho mais com quem gritar! — dei um pequeno sorriso tímido e limpei uma lágrima que custava em sair de meus olhos — Eu não estou acostumada com mudanças tão grandes... Não que eu estivesse acostumada com a rotina, mas parece que tudo deu uma reviravolta, me entende? Claro que praticamente tudo foi para melhor, mas há um ano atrás eu nunca pensaria na probabilidade de estar para mudar de emprego! Que uma das minhas melhores amigas engravidasse. Que eu teria uma briga horrível com a outra. Que eu mudasse do meu apartamento em que há anos vivia. Que adotasse uma criança e juro, juro mesmo, que não pensava que me apaixonaria. Nesse ano aconteceram muitas coisas, Christopher, e acho que só nesses últimos dias comecei a perceber que tudo com o que eu estava acostumada, mudara... Sei que não deveria estar nervosa por causa disso, porque tipo, tudo mesmo mudou para melhor... Emprego novo, crianças, amizades reforçadas, você... Mas não sei, me deu um lapso agora e... — fui reduzindo a velocidade em que pronunciava as palavras e olhei para baixo, parando de fitá-lo nos olhos.
— E...
— Sei que nenhum de nós dois gosta de comentar sobre esse assunto, mas quando o vi entrando pela porta a pouco, foi como se eu tivesse voltado no passado — limpei a garganta e o vi cerrar os olhos, entendendo qual seria o rumo da conversa — Foi como se alguma cena de cinco ou quatro anos atrás estivesse para se repetir... Não estou falando que você me lembrou o seu irmão! — me apressei em colocar — Pelo amor de Deus, não! — neguei com a cabeça — Mas tive medo de que no meio de tantas mudanças, algo mudasse entre nós dois. Sei que é uma besteira o que estou lhe falando agora e que, se mudar, será por tantas idiotices infantis vindas da minha parte, mas eu não consigo ignorar certas cenas que, como essa, me lembra o que eu não gostaria e... Ai meu Deus, já nem sei muito bem do que estou falando.
— Dulce — ele pausou o filme e respirou fundo. — A vida muda, amor. A minha vida também mudou muito do ano passado para esse e você não imagina o quanto. Em outubro do ano passado eu estava na Índia fazendo uma trilha e agora estou aqui! Quando que eu imaginaria que voltaria para NY, encararia meus fantasmas, seguiria em frente, abriria meus próprios negócios e conheceria a mulher dos meus olhos? — sorri novamente, ainda sem erguer o olhar — Nós não poderíamos ficar presos para sempre em algo que nos atormentava! Eu tinha que enfrentar os meus fantasmas e você vencer os seus dragões. Quando a conheci, você, sem saber, me ajudou a me adaptar em um lugar que antes era inabitável para mim. Deu-me uma razão para permanecer aqui e força para eu me tornar o que sou hoje. Sei que é brega o que irei dizer, mas você foi como uma luz no fim do túnel para mim — meu sorriso se abriu ainda mais — E pouco a pouco, todos os meus fantasmas foram desaparecendo, sobrando apenas à luz. Não sei se consegui transformar tanto a sua vida como você transformou a minha, como também não sei se consegui afastar os seus temores... Mas Dulce, não importa o tempo que levar, eu estou disposto a destruir todos os seus dragões... — engatinhei no sofá e sentei no colo dele, apoiando minha cabeça em seu peito e entrelaçando nossas mãos, sem dizer nada — E não quero que você pense no que lhe fez mal no seu passado, ok? — concordei com a cabeça — Quero que você pense no presente... Na Maite, na Anahí, no Christian e na felicidade deles. Maite está radiante e Sophia está chegando! Imagine como será bom um bebê na vida dela, amor? E Anahí está se ajeitando com o Alfonso porque eles se amam. Logo Anahí estará radiante também, porque terá sua felicidade outra vez. Christian encontrou o que procurava, o que nos leva a ver que todos os que participaram da parte boa do seu passado, estão participando da parte boa do seu presente... O seu emprego novo será maravilhoso, meu amor. Você continuará fazendo o que gosta e o que lhe dá prazer, então eu não vejo com o que se preocupar. Você continuará sendo um sucesso, agora e sempre. Seus pais irão aceitar a ideia da adoção, mesmo se contrariarem no começo. E por mais que a sua vida tenha mudado, lembre-se que você mesma disse que ela mudou para melhor. Não quero que você pense em mais nada que não lhe agrade, e sim, quero que pense em mim, em você, em nós...
— Meu maior motivopara continuar sorrindo...
— O meu também... — nósdois nos entreolhamos e sorrimos juntos — Por isso não se preocupe, meu anjo,porque não importa quantas mudanças surgirem, se você permitir, estarei ao seulado para enfrentá-las...
— Eu permito — fiz vozde bebê e segurei seu rosto entre minhas mãos, fazendo os meus dedos dançaremsobre sua face — A melhor mudança da minha vida foi você...
— E da minha foi... Otelefone.
— O telefone? — nãoentendi e o encarei pasma.
— Não, meu amor! Otelefone está tocando...
— Ah... — suspireialiviada — Maldito seja quem interrompe esse momento — reclamava enquanto mecolocava em pé e pegava o aparelho — O que é agora? — atendi nada educada, sempaciência para educação.
— A bolsa estourou.
~~~
Boa tarde!
Aqui está mais um cap, não tenho mais nada editado, então volto aqui só no dia 26/12.
MAS, caso ainda não tenham visto, publiquei a sinopse da mini fic que vou liberar inteirinha amanhã, em um capítulo único. Salvem na biblioteca de vocês pra não perderem!! É uma mini fic de Natal Vondy, muito meiguinha! Espero que gostem!!
Bjuuuu e um Feliz Natal 🎄🎁
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