38
Saímos da StarBucks de mãos dadas e nossos celulares tocaram. Nos entreolhamos e atendemos.
— Ok Paula, já estou indo... – eu falei entre os dentes e desliguei. Ele também já havia desligado.
— Quero te ver mais tarde... – ele comentou e eu sorri.
— Depois do trabalho vou dar uma volta pelo Central Park. Vai comigo? – eu perguntei enquanto passava meus braços pela cintura dele e encaixava meu rosto em seu pescoço, dando um beijo leve ali.
— Vou... – as mãos dele subiram pelas minhas costas e o ouvi soltando um suspiro – Que horas?
— Lá por umas cinco?
— Perfeito... – nós continuamos abraçados mais alguns minutos, tentando matar um pouco da saudade, quando meu celular tocou novamente.
— Droga... – resmunguei – Tenho que ir, amor...
— E eu já deveria ter ido... – eu ri e levei minhas mãos ao encontro do rosto dele, aproximando-o de mim.
— Amo você... – falei enquanto dava um selinho demorado nele.
— E eu amo você... – ele respondeu me dando outro selinho, e depois disso, nos despedimos.
Quando meus sapatos Miu Miu tocaram o chão da Uckermann&RP, todo mundo praticamente pulou em cima de mim, me assediado com palavras e eu me senti tão... Na selva.
— Dul, é verdade que o Jay-Z vai fazer parceria com a gravadora do Christopher? – Letícia perguntou.
— Ouvi dizer que até o U2 vai ir na estréia... – Bette comentou.
— E a Shakira? Ela vai? – Tom questionou.
— E a diva Madonna? – ouvi a voz de Andrew perguntar.
— Ouvi dizer que virão até cantores internacionais! – Nicolle afirmou em seguida.
— Tomara que venha aquela morena maravilhosa do Brasil! – Tom torceu.
— Você é tão... Idiota. – Bette o xingou.
— Mas e ai, Dul? – Nicolle tentou mais uma vez e eu que já estava tão tonta de tantas perguntas, somente sorri.
— Para ser sincera, eu não faço a mínima idéia... – e sai dali, antes que eles me deixassem mais tonta.
— Dulce... – Paula me chamou quando eu já estava em minha sala. Eu desviei minha atenção do computador e a encarei.
— Oi... – eu sorri e ela fechou a porta da minha sala e sentou-se logo em seguida na cadeira em frente a minha.
— Preciso de um favor seu...
— Qual? – isso está me cheirando a aumento.
— Não é bem um favor, é mais um trabalho... A UckermannRP está fazendo parceria com uma nova boate e eu gostaria que você organizasse a estréia...
— Mas porque isso seria um favor, Paula? – eu perguntei, sem entender... Aquilo era um trabalho normal para mim.
— É porque a boate não vai ser aqui em Nova York, Dulce, e sim na Espanha. Como você é a única pessoa no escritório que fala espanhol fluente, sem contar que é a melhor daqui, eu gostaria que você fosse para organizar tudo...
— Como assim fosse? Você não quer me mandar para Espanha, quer? – eu senti que minha voz ia falhar e cerrei os olhos, tentando parar o tempo e fingir que nada do que ela havia me falado tinha sido realmente real.
— Não quero que você fique para sempre lá, Dul. É uma questão de tempo, e pouco, te prometo. Não serão meses, nem anos... Só algum tempo.
— Quanto tempo, mais ou menos?
— Um mês, no máximo, creio eu...
— Um mês... – eu olhei para baixo e balancei a cabeça negativamente – Desculpa, Paula, mas dessa vez eu não posso ir...
— Dulce, não estou te pedindo para decidir agora, você tem tempo para me dar a resposta. É uma proposta ótima, sem contar que você ganhará muito com isso tudo... E um mês não é muito, Dul.
— Paula, não posso... A Bette e o Tom sabem falar um espanhol básico e tenho certeza que eles vão aceitar...
— Vou te dar umas três semanas para se decidir, ok? – ela se levantou ainda me olhando nos olhos e foi em direção à porta – Não se esqueça que é uma oportunidade e tanto, Dulce.
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— Luna, volta aqui! – eu gritei e minha cadela olhou para trás, me encarou, e voltou a correr pela grama amarelada graças ao outono do Central Park. Enquanto ela corria atrás das pombas obesas que havia ali, eu me sentei em um banquinho, apoiei meu rosto em minhas mãos e fiquei observando as pessoas que passavam por ali.
Uma mulher extremamente arrogante, da minha idade ou um pouco mais velha, sentou-se ao meu lado no banco e gritava xingamentos e palavras que eu nunca havia escutado na minha vida no celular... Havia acontecido algo com a empresa em que ela trabalhava e pelo visto quem estava sofrendo as consequências era ela. Fingi que estava procurando minha cadela para examiná-la melhor... O tipo básico de executiva: terno giz, saia até a altura dos joelhos, sapato preto social, coque impecável, e muitas, e muitas, e muitas rugas. Não demorou muito para ela levantar do banco e sair gritando parque a fora.
Eu fechei os olhos e senti minha garganta queimando. Ela estava fazendo o trabalho dela e eu deveria fazer o meu. Droga. Por um lado estou louca para aceitar a merda da proposta, porque deve ser mesmo uma oportunidade e tanto... Mas não quero aceitar e não posso aceitar. Ai que droga, droga, droga!
— Você está bem? – uma voz feminina surgiu em minha frente e levantei o olhar para ver quem era.
— Sim, estou... – eu sussurrei, mas não vi necessidade de mentir para ela – Para ser sincera, não estou não... – eu comecei a chorar sem parar e percebi que ela havia sentado ao meu lado.
— Tome... – ela me estendeu um papel com cheiro de bebê e eu limpei meus olhos.
— Obrigada...
— A propósito, me chamo Olívia. E você? – ela deu um sorriso meigo e retribui.
— Me chamo Dulce...
— O que aconteceu, Dulce? Quer me contar? – ela perguntou ternamente e depois disso, as palavras começaram a sair da minha boca.
— Olha, Dulce, posso te fazer uma pergunta? – eu confirmei com a cabeça e limpei as lágrimas – Você está satisfeita com o que tem hoje em dia?
— Claro! – eu respondi, rapidamente – Tenho o Christopher, o meu trabalho, o meu apartamento, as minhas próprias coisas...
— Então porque você não se contenta com o que tem? Se você ficar sempre buscando por mais, vai ter uma hora que você vai perceber que era feliz quando tinha menos... – ela abriu um sorriso e eu retribui – Você tem um homem que te ama aqui, você gosta do seu trabalho e recebe o suficiente para ter seu apartamento e suas coisas... Acho que você não precisa atravessar o oceano para se sentir realizada, não é mesmo?
— Você está certa... – eu suspirei, sentindo aquele peso do meu coração sumindo – Não tem motivo para...
— Mãe, vamos embora porque se não eu vou perder o The Mighty Duck Show! – um garotinho de seis anos no máximo puxou a barra da blusa dela, fazendo uma cara de emburrado.
— Nós já estamos indo, Adam, dê um minuto para a mamãe, ok? – ela levantou-se e estendeu a mão para mim, me cumprimentado – Espero que você esteja melhor, Dulce...
— Eu estou, muito obrigada mesmo... – eu abri um sorriso, levantei e lhe dei um abraço.
— Ma-mã-e! – Adam ditou e começou a puxá-la pela mão, e ela, rendida, foi embora.
Eu me sentei novamente no banco e voltei a pensar em tudo o que ela havia me falado naqueles minutos que se passaram. Era verdade... Eu já tinha tudo o que queria, não precisava de mais para ficar feliz. Eu sorri quando a Luna apareceu e se deitou no meu pé, cansada de ter corrido tanto. Eu fiz um pouco de carinho nela, e quando fui olhar para o relógio para ver que horas eram, senti duas mãos firmes cobrindo os meus olhos.
E qual foi à primeira coisa que eu fiz? Gritei.
— SOCORRO, LADRÃO! ASSASSINO! ASSALTANTE OU QUALQUER COISA DO TIPO! SOCORRO! – bem, se você estivesse no meu lugar, faria a mesma coisa. Do nada, você está no Central Park, sozinha, e alguém tampa seus olhos e não fala nada? A primeira coisa que passa na sua cabeça é que é um sequestrador ou um estuprador, vai saber! – ALGUEM ME...
— Dul... – ele gargalhou e destampou meus olhos, ainda rindo.
— Christopher! – eu gritei, estupefata – Que susto da merda você me deu! – eu reclamava enquanto ficava de pé e lhe dava tapas no ombro, e ele não parava de rir.
— Amor... – ele me abraçou e seguiu rindo, sem conseguir falar mais nada.
— Para de rir de mim... – eu falei com voz de bebê, tentando esconder a vergonha.
— Bebê, é que você tinha que ter visto a cena do meu ângulo... Dul, o Central Park não é perigoso do jeito que você pensa... – ele continuava me abraçando, com o tom de voz ainda meio divertido demais pro meu gosto.
— Christopher, você sabe que o meu trabalho me obriga a assistir muitos filmes, e caso você não se lembre do filme com a Sandra Bullock e com a Dorothy Fielding, em que uma garota é encontrada morta no Central Park e...
— Dul, é só um filme... – ele riu novamente,
— Mas eu acho que o filme Assassinatos no Central Park foi baseado em fatos reais! – eu mordisquei a unha do dedão e suspirei.
— Amor, não vou deixar nenhum sequestrador ou estuprador te matar, ok? – ele deu um beijo na minha testa e pegou na minha mão, ainda rindo.
— Promete mesmo? – eu fiz novamente voz de bebê e ele sorriu, confirmando com a cabeça.
— Prometo... – ele me deu um selinho – Agora vamos andar um pouco? – e foi só ai que eu percebi que o Sloan, o cachorro do Chris, estava ali.
— Oi, docinho! – eu me abaixei e fiz carinho na cabeça dele. Luna logo foi atrás, enciumada – Luna, não precisa me morder! – eu reclamei e fiquei de pé novamente, colocando a coleira nela – Pronto, vamos?
— Vamos, mas anda do meu lado para eu te proteger de tudo e de todos os suspeitos... – ele me puxou e me colocou do lado dele, o que me fez rir.
— Que desculpa, Uckermann! – eu lhe dei um beijo na bochecha – Se quer andar colado comigo, é só pedir... – eu pisquei para ele e sai correndo na frente com a Luna.
— Dul... – ele gritou me chamando.
— Deixa de ser molenga, amor... Vem me pegar! – eu gritei, sorrindo.
— Não fale as palavras "te pegar" que eu levo para o outro sentido...
— Cala a boca! – eu gritei novamente e quando já estava distante dele não escutava mais nada, só os passos que eu dava pelo chão do Central Park.
O céu estava um cinza feio, o que anunciava que mais tarde choveria. O tempo estava mudando e eu já estava prevendo dias chuvosos pela frente, o que é uma beleza... Como diz aquela música brasileira mesmo? São as águas de março fechando o verão... Se bem que nós já estamos em abril, e aqui em NY já é primavera, mas tanto faz. Ah, Dulce, fica quieta!
— Dul... – eu levei outro susto quando percebi que ele estava correndo lado a lado comigo e por pouco consegui desviar de um ciclista que quase me atropelou.
— Hoje você tirou o dia pra me assustar, não é? – eu coloquei a mão no coração e parei de correr.
— Amor, você está muito assustada... – ele colocou a mão em meu ombro e olhou nos meus olhos – Está acontecendo alguma coisa com você?
— Que? Comigo? – eu tentei disfarçar e voltei a correr, mas desta vez, mais devagar, porque tipo assim, meu preparo físico não está dos melhores...
— Não, amor... Com a rainha da Inglaterra! – percebi que ele estava correndo ao meu lado e revirando os olhos descontraído. Eu acelerei um pouco mais o passo e tentei elaborar uma resposta em dois segundos, mas logo ele estava novamente a poucos centímetros de mim – Dul?
— Eu estou... Bem.
E sem dizer mais nada, comecei a correr tão rápido que em questão de um piscar de olhos Christopher já havia desaparecido atrás de minhas costas.
Corri por no mínimo uns cinquenta minutos. Cinquenta minutos movendo minhas pernas, acho que mais tarde eu vou sofrer por isso. Assim que eu já não conseguia mais dar um passo e a minha franja molhada de suor caia sem parar nos meus olhos, eu tombei para o lado debaixo de uma árvore e comecei a pegar o máximo de fôlego o possível, limpando as gotas de suor que desciam pelo meu rosto com uma toalhinha. Dei um gole na garrafa de água que já estava fervendo e percebi que a Luna estava caída exausta no meio das minhas pernas.
Pobrezinha, não está acostumada a se exercitar tanto... Quer dizer, nem eu estou.
— É, Luna, você sabe como é o ditado: Se correr o bicho pega... Se ficar, o bicho come! – eu sussurrei para ela e logo em seguida dei um tapa na minha cabeça, me odiando por ter dito aquilo. Fiz um "cafuné" nela enquanto olhava ao redor, percebi que Christopher estava chegando e logo ele sentou ao meu lado, suando vinte vezes menos que eu...
— Eu não sabia que você corria tanto assim... – ele fechou os olhos e deu um sorriso lateral.
— Para ser sincera, nem eu... – estendi a garrafinha de água para ele, que deu um gole longo. Eu, é claro, fiquei ali na expectativa de que ele jogasse o resto da água pelo corpo, mas ele não fez isso.
Droga.
— Mas não sei o porquê, tive a impressão de que você só correu daquele jeito para fugir de mim... – eu engasguei com a saliva e olhei um tanto quanto espantada para ele, que continuava com os olhos fechados, mexendo nos cabelos encharcados.
— Claro que não... Corri por que... Por que... Bem, porque nós viemos aqui para correr, né? – eu dei um pequeno sorriso e quando ele me olhou nos olhos, percebi que não ia conseguir continuar fingindo.
— Dulce... – e foi o que bastou para eu soltar um longo suspiro e olhar novamente nos olhos dele.
— São só coisas do trabalho, amor, te juro. Eu estou um pouco abalada por algumas coisas, mas não são nada demais. O que importa é que eu estou aqui com você agora, e me desculpa se agi de forma meio estranha agora pouco, é que eu estava com a cabeça nas nuvens...
— E agora?
— E agora o que? – eu perguntei, sem entender.
— Você está com os pés no chão? – ele deu um sorriso e me abraçou. Eu ri e segui olhando nos olhos dele, encantada.
— Sei que o que vou falar é ridiculamente piegas, mas quando estou com você, eu me sinto nas nuvens... – eu falei com aquela voz de criança e ele soltou uma risada perto do meu ouvido.
— Dulce, vem cá... – ele me segurou pelos braços e me levou até um pouco mais próximo dele, ainda rindo – Te amo muito...
— Também... – e ele deu um beijo na ponta do meu nariz, sorrindo.
— Mas você está bem mesmo, né?
— Melhor impossível, amor...
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Olá, meus amores!!
To muito feliz por ver leitores novos por aqui, principalmente por estarem gostando!! Sejam muito bem vindos!!
To com preguiça de pensar em um título pro cap, acho que vou começar a colocar números mesmo, o que vocês acham? Ou preferem que eu coloque minha cabecinha pra funcionar pra pensar em títulos?? hahahaha
Bom fim de domingo pra vocês!
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