Capítulo 9
Respiro profundamente tomando coragem e respondo:
— Eu aceito. — expiro o ar dos meus pulmões como se um peso tivesse sido tirado de minhas costas.
Doutor Lucas parece imensamente feliz, Lyon sorri levemente e Gaia apenas faz um sinal de cabeça.
— Ótimo, ótimo. Nós podemos... — começa doutor Lucas, mas é interrompido por Gaia.
— Amanhã doutor Lucas. Tandara deve estar com fome e louca por um banho. — ela olha para meu estado deplorável e eu me sinto um pouco constrangida.
Aceno. Um banho com certeza não me faria mal e meu estômago necessita urgentemente de comida.
— Vamos, eu te levo. — Lyon se oferece.
Ele vai à frente e eu o sigo de perto contornando as pequenas construções.
Chegamos ao final da clareira e ele começa a adentrar na mata.
— Ah, Lyon pra onde você tá me levando? — pergunto confusa.
— Pra onde você acha? — ele retruca sem olhar para trás.
— Pro banheiro? — digo meio indecisa.
— Você tem muita coisa pra aprender. — ele ri divertido.
Após alguns minutos andando em meio as árvores um barulho chama minha atenção.
— O que é isso? — pergunto.
Lyon olha pra mim com um sorriso no rosto e estende a mão.
— Vem, você vai ver. — agarro sua mão e o sigo em direção ao barulho.
Minha boca cai aberta quando me deparo com algo surpreendente. Uma espessa quantidade de água corre em meio as pedras á minha frente.
— O que é isso? — sussurro.
— Nós chamamos de rio, mas segundo os livros da escola está mais para um córrego ou riacho. — ele solta minha mão e se aproxima da água corrente.
— Eu já vi isso nos livros, mas achei que não existiam mais. Isso é... é tão lindo. — também me aproximo fascinada.
— É bem raro na verdade, nós só encontramos esse. — Lyon explica. — As nascentes de água foram vítimas da guerra, e as restantes estão em posse do governo.
— Bom, mas eu acho melhor você tomar banho logo se quisermos comer alguma coisa. — ele diz.
— Ah, claro mas como eu...? — gesticulo para a água.
— Você tira a roupa e entra na água. — ele diz como se fosse óbvio.
— Mas e você? — a única pessoa que já me viu nua é minha mãe. Não vou tirar minha roupa na frente de um desconhecido.
Ele parece não entender á principio, mas em seguida seus olhos se arregalam com compreensão.
— Oh, claro eu vou... eu vou me virar. — ele se vira e aguarda meu banho.
Hesito por um segundo com medo de que ele vá se virar, mas a sujeira impregnada em mim fala mais alto e eu tiro minha roupas rapidamente e as deixo nas margens do córrego junto com minha mochila.
Ando com cuidado para não cair nas pedras escorregadias e molho meus pés na água corrente.
A água é gelada, um arrepio percorre meu corpo. Tomo coragem e entro até a altura da minha cintura, é a profundidade máxima do “rio”. Meus joelhos ardem devido aos ferimentos causados pela queda.
É estranho ter toda essa água, em casa só tínhamos uma pequena quantidade de água disponível para higiene.
Mergulho molhando meu cabelo, tirando todo o suor impregnado, esfrego o sangue seco da minha pele. As camadas de sujeira se vão junto com a correnteza.
— Eu não queria te atrapalhar, mas eu ainda preciso tomar banho e já está escurecendo... — Lyon me interrompe e eu percebo que passei mais tempo do que deveria na água.
— Claro, eu já tô... — começo a sair do riacho, mas escorrego nas pedras e caio de bunda na água.
Percebendo minha agitação Lyon faz menção de se virar, mas permanece de costas.
— O que foi? Tudo bem? — pergunta.
— Tudo sim eu só... eu só escorreguei. — digo me levantando.
Ando até a margem e pego minha mochila tirando uma muda de roupa de dentro dela. Visto uma calça azul claro e uma camisa de mangas curtas da mesma cor, ambas de tecido leve. O calor de Aquarius nos impede de vestir tecidos mais grossos, mesmo aqui na mata o clima não é muito diferente apenas o ar parece ser mais limpo, mais fácil de respirar.
Pego as roupas sujas e as coloco em outro bolso diferente das demais, preciso lavá-las mas decido fazer isso em outro momento, Lyon está com pressa.
— Pronto. — digo e Lyon se vira para mim.
Ele me estuda por um segundo depois se encaminha para o riacho. Minha aparência deve estar muito melhor depois do banho, mesmo assim sua atenção ainda me deixa sem jeito.
Meus olhos o seguem enquanto ele se abaixa para tirar as botas em seguida a camisa. Lyon está de costas para mim então não consigo ver muita coisa, mas o movimento de seus músculos chama minha atenção, sua cintura fina que sobe em um tronco forte seguindo para seu braços magros porém musculosos.
Ele começa a tirar a calça porém para ao notar meu olhar.
— Você vai virar ou vai ficar me olhando? Sinceramente eu não me importo. — ele fala divertido sem olhar para mim.
Mortificada e com o rosto queimando pela vergonha de ter sido pega me viro fitando as árvores. Não era minha intenção espioná-lo, mas confesso que fiquei impressionada com seu corpo. Nunca vi um homem nu, nem mesmo sem camisa, isso só é permitido depois do casamento.
O escuto tirar o resto da roupa e entrar na água. Após alguns minutos Lyon sai da água, aguardo ele vestir a roupa para me virar.
— Pronto, vamos. — ele diz já ao meu lado.
Agarro minha mochila e o sigo de volta a clareira.
Já está escuro quando chegamos e a iluminação chama minha atenção. Não há energia elétrica então a luz vem de recipientes com fogo, vários posicionados no chão, nos telhados, nas árvores e inclusive na gigante mesa posicionada no meio do lugar. A mesa estava cheia de comida, várias pessoas sentam-se em bancos ao redor da mesma e outras estão ao redor de uma fogueira no mesmo lugar onde existia uma pela manhã, uma conversa animada reverbera.
Gaia está sentada na ponta direita da mesa, ela se levanta ao nos ver, todos os olhos se voltam em nossa direção e a conversa cessa.
Gaia vem em nossa direção e pega minha mão me levando para a mesa. Todos os olhos me seguem e subitamente me sinto tímida com toda essa atenção.
— Muitos de vocês já devem tê-la visto. — Gaia começa. — Mas eu gostaria de apresentá-los: essa é Tandara e ela é uma vermelha. — ela aponta para mim.
Um burburinho começa e a líder trata logo de dar fim à conversa.
— Ela é a mais nova integrante da nossa comunidade. — ela diz elevando a voz para que todos se calem. — E como sempre, espero que vocês a tratem como parte da nossa familia, ela é uma sobrevivente como nós.
Assobios, palmas e gritos de bem-vinda ecoam pela mata, eu apenas aceno com a cabeça agradecendo.
— Podemos comer agora. — ela diz me encaminhando para um banco ao seu lado e se sentando.
— Até que enfim. — escuto um sussurro ao meu lado, seguido de uma repreensão. — Zaya!
Olho para o lado e vejo a menina que me acordou acompanhada por uma mulher mais velha parecida com ela, imagino que seja sua mãe.
A mesa está repleta de recipientes com comida, sopas, frutas, folhas, todas parecem apetitosas e minha barriga ronca de repente reclamando pelas horas de jejum, a última vez que comi alguma coisa foi ontem, nem sei como ainda estou de pé, provavelmente adrenalina.
As pessoas começam a se servir passando os recipientes à frente, uma tigela é colocada à minha frente, Gaia a segura esperando por mim. A pego rapidamente e estudo seu interior, está cheia de algo redondo de cor clara menores do que minha mão fechada.
Indecisa por um segundo logo noto um prato posto em minha frente, procuro algum tipo de talher, mas ao observar os outros percebo que todos se servem e comem com as mãos.
Pego uma das bolas e passo a tigela para a pessoa seguinte, isso se repete várias vezes até que todos os recipientes estão vazios e todos estão servidos. Lyon aparece com outra roupa e senta-se ao meu lado.
Provo todos os tipos de comida como se fosse a primeira vez que comi, o que não deixa de ser verdade já que passei toda a minha comendo a mesma comida mandada pelo governo.
Após o jantar as tigelas e pratos são removidos da mesa sendo levados para uma construção á esquerda que Lyon diz se tratar da cozinha. Todos ajudam inclusive os pequenos, carregando os mais leves, me sinto inútil por não ajudar mas a organização deles é tamanha que tenho receio de atrapalhar. Rapidamente a mesa está vazia e todos se dispersam, seja para suas casas, para a beira da fogueira ou para correr como as crianças.
Me levanto e caminho em direção á fogueira, Lyon me segue de perto. Observo as chamas por alguns segundos em silêncio. Muita coisa aconteceu no intervalo de 24 horas, ontem á essa hora eu era apenas uma garota normal aguardando a Cerimônia de pares, agora sou uma fugitiva abrigada junto a excluídos do governo. Nem em meus mais fantasiosos sonhos eu imaginei algo assim.
— Tudo bem? — Lyon pergunta ao meu lado.
Suspiro.
— Sim, é só... muita coisa aconteceu. — respondo o fitando.
Ele acena.
Uma movimentação começa do outro lado da fogueira, pessoas começam a se amontoar trazendo bancos, outros sentam-se no chão, parecem animados com algo.
Olho para Lyon esperando uma explicação, mas ele apenas sorri.
Uma garota aparentemente da minha idade, de cabelos claros, surge do aglomerado ficando a frente de todos.
Espero ansiosamente que ela faça algo, ela olha para todos inclusive para mim e começa a bater palmas. No começo estranho sua ação, mas em seguida todos se juntam á ela - inclusive Lyon que permanece ao meu lado - batendo as mãos de forma rítmica, duas batidas juntas e uma separada.
Observo-os por alguns segundos e logo me junto á eles tentando manter o ritmo. A menina então começa a cantar.
Sua voz é linda, suave e ao mesmo tempo firme. Logo os demais começam a cantar junto, em um tom mais baixo, fazendo com que a voz da garota se sobressaia ás demais.
Logo a música acaba e uma discussão para decidir a próxima começa.
— Essa é Yva, ela é nossa cantora. — diz Lyon apontando para a garota que estava cantando.
— Ela tem uma voz muito bonita. — elogio.
— Sim, ela tem. — ele olha para Yva.
Seus olhos me dizem que Yva é bem mais do que uma cantora para ele.
Outra música logo começa sendo seguida por outras, algumas sendo cantadas por Yva sozinha, outras sendo acompanhada por todos.
Na quinta música solto um bocejo, não entendendo como ainda posso ter sono depois de ter dormido quase o dia inteiro.
— Com sono? — Lyon pergunta ao notar meu bocejo.
Aceno com os olhos cansados de repente.
— Vem, você pode dormir na minha cama já que pareceu gostar tanto dela. — ele brinca seguindo em direção ao seu quarto
— Espera, mas e você? — pergunto o alcançando.
— Eu me viro. — ele diz.
Ao chegarmos deposito minha inseparável mochila ao lado da cama e sento na mesma para me livrar dos meus tênis.
Lyon me observa por um instante parecendo querer falar algo, mas em seguida sai.
Deito na cama e olho para o teto pensando em meus pais. O que estariam fazendo a essa hora? Será que já sabem da minha fuga? Estão seguros?
Um movimento na porta chama minha atenção, penso que é Lyon mas sou surpreendida quando Gaia pergunta:
— Ainda acordada?
Levanto sentando na cama. Ela entra e se senta também.
— Tandara, eu sei que muita coisa aconteceu com você, sua cabeça deve estar confusa, mas nós realmente precisamos da sua ajuda.
— E eu concordei em ajudar. — retruco.
— Sim, e eu agradeço muito por isso. Mas você deve imaginar como estamos, anos á procura de vermelhos e de repente você aparece. — ela para e respira. — Doutor Lucas já estava querendo começar os testes imediatamente, mas eu pedi que tivesse calma. Eu sei como tudo isso deve ser pra você. Mas você precisa entender que isso é maior que todos nós, é a cura para uma doença que dizima milhões. Eu vou garantir pessoalmente que nada aconteça com você, entretanto os testes precisam acontecer.
— Por que você está me falando isso? — pergunto.
— Porque apesar de tudo isso eu nunca a obrigaria a nada, portanto eu preciso que você concorde totalmente com isso.
Ela me encara e eu me pergunto que tipo de testes são estes. Entretanto minha decisão já tinha sido tomada, eu vou ajudá-los.
— Eu concordo.
Ela então acena com a cabeça parecendo satisfeita.
— Bom, então preciso que você vá ao laboratório do Doutor Lucas amanhã combinar tudo. — ela diz se levantando.
— Tudo bem.
Espero ela sair e volto para minha posição pegando no sono alguns minutos depois.
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Oie gente!
Sumi um pouquinho eu sei 😭 tive uns problemas com internet e talvez eu vá ficar um pouco sumida, mas não desistam de mim eu volto e vou trazer novidades!
Já peço desculpas adiantadamente e agradeço.
Espero que tenham gostado desse capítulo, muita coisa vai acontecer com a nossa protagonista!
Não esqueçam da estrelinha ⤵
Beijos e até mais 😘
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