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- Um Confortável Moinho -

A taverna estava cheia essa noite mais do que normalmente costumava estar. Durante o dia seu movimento não se mostrava nada a se surpreender, mas esse fato não podia ser dito em relação a noite. Todos os viajantes e andarilhos que atravessavam os campos do Vilarejo Ossoris sentiam a necessidade de parar para comprar comida durante o dia e embriagar-se com ótimas bebidas durante a noite. 

Devido a isso, os frequentadores em sua maioria não eram os moradores do vilarejo mas sim estrangeiros que passavam seus dias em estalagens e hotéis. Dessa forma, havia uma certa concordância entre os asmabelianos das proximidades que o Vilarejo Ossoris era o mais visitado e movimentado economicamente. A taverna não possuía nada de especial que viria a diferenciá-la das demais, mas por ser uma das poucas existentes entre vários vilarejos de Asmabel, uma visita tornava-se irrecusável. 

Sua estrutura possuía madeira e blocos de tijolos como matéria principal. Em seu exterior, sua aparência era rústica embora mantesse o padrão de cores dos estabelecimentos asmabelianos em sua maioria. Um revestimento branco recobria toda sua estrutura exterior e telhas vermelhas formavam o teto; estas apresentavam desgaste e furos pois gotas de chuva costumavam cair nos copos dos clientes. Em seu interior havia várias mesas de madeira grosseira onde um ou dois marmanjos bebiam e riam em cada uma delas. Nenhuma mulher estava entre os clientes nas mesas, nem moradora nem estrangeira. Apenas homens de origens desconhecidas que buscavam por descanso e um pouco de alegria na embriaguez. 

Adilan permanecia atrás do balcão limpando copos como todas as noites costumava fazer. Na verdade, pode-se dizer que todas as suas tarefas resumiam-se em ocupar o balcão atendendo os fregueses, cobrar o pagamento, encher os copos e recolhê-los para enchê-los mais uma vez. 

Desde que Laurelia, sua mãe, lhe arranjou tal trabalho na taverna do Senhor Gordel, seus olhos e ouvidos tornaram-se mais atuadores do que sua voz jamais fora. Observar e ouvir o mais diverso tipo de pessoa que frequentava aquele lugar era a maior parte de sua atividade. Os homens contavam histórias das mais engraçadas às mais absurdas. Adilan por diversas vezes ouvira relatos sobre equinos alados que voavam pelos montes. Ou sobre monstros peludos falantes cujas habilidades culinárias eram extraordinárias. Mesmo duvidando da veracidade destas, o rapaz gostava de escutá-las e de tentar imaginar as aventuras relatadas. 

Enquanto limpava um dos copos que acabara de ser recolhido por ele mesmo em sua passagem pelas mesas, um dos clientes vinha em sua direção. Quando o homem bateu seu copo no balcão, Adilan ergueu a cabeça subitamente por conta do espanto. 

— Cerveja! — o sujeito ordenou, mal conseguia manter o equilíbrio sobre os próprios pés. 

— Vai dar uma moeda. — Adilan evitava olhar nos olhos do bêbado, isso de certa forma lhe causava desconforto.

— Enche essa droga de copo que depois eu pago!

O rapaz não ousaria arranjar uma discussão com um cliente por conta de uma bebida. Além do mais, o odor impregnado no bêbado lhe incomodava perceptivelmente. Encheu o copo em uma das torneiras dos barris na parede e entregou ao sujeito que retornou bamboleando para a companhia de seus colegas. 

De fato, Adilan odiava aquele trabalho mesmo que ele exigisse pouco esforço ou não. Para sua infelicidade, as desagradáveis situações que ele era submetido a passar decerto compensavam a falta de desgaste físico. No entanto, o desgosto de passar por tais situações não se aplicava somente a ele mas a sua mãe também. 

Sem anúncios, Laurelia saiu pela porta da cozinha atrás do balcão carregando uma bandeja com pedaços alinhados de peixe assado. A mulher passou ao lado do filho sem dizer uma palavra e dirigiu-se para as mesas espalhadas na taverna. Adilan, por sua vez, percebeu a passagem da mulher ao seu lado e a seguiu com seus olhos castanhos. Para seu aborrecimento, pela terceira vez ele presenciou o que andava sendo o motivo dos desentendimentos entre ele e sua mãe. 

Enquanto servia as bandejas com os petiscos em uma das mesas ocupadas por dois sujeitos, um deles atreveu-se a dar uma palmada no traseiro de Laurelia. A força do ato foi tamanha que Adilan pôde ouvir no balcão o ocorrido. A raiva transpareceu em sua face como um fogo que lhe consumia. 

Sem pensar duas vezes, o rapaz deixou seus copos e panos e dirigiu-se em passos largos e pesados para a mesa em que sua mãe servia. 

— Que tal nós dois irmos conversar ali atrás, gracinha? — O sujeito a segurou pelo braço.

Antes de Laurelia tentar se livrar educadamente do cliente, Adilan surgiu ao seu lado e impulsivamente deu um soco no rosto gordo do bêbado que perdeu o pouco equilíbrio que mantinha sobre o banco. Os homens que bebiam ao redor pararam suas diversões para dar gargalhadas do sujeito caído no chão que esforçava-se para se levantar. 

— Respeite minha mãe, seu porco — Adilan o ameaçou inclinando-se sobre o homem caído. 

— Não devia ter feito isso — Laurelia repreendeu o filho enfurecido. 

— Ele é que não devia ter feito aquilo. 

— O que é isso aqui?! — O vultuoso Senhor Gordel surgiu atrás do balcão. — Quem bateu nesse homem? 

Todos continuaram rindo e bebendo sem anunciar nomes ou erguer mãos. Apenas Laurelia e Adilan continuaram diante do infeliz sujeito no chão, e isso foi o suficiente para responder a dúvida de Gordel. 

— Laurelia...

— Fui eu! — Adilan anunciou antes do barrigudo homem acusar sua mãe. 

— Esse seu filho acha que pode bater nos meus clientes?! Os serviços dele estão me dando mais prejuízos do que lucros!

— Não seja por isso, sempre odiei essa porcaria de lugar. — O rapaz abriu os braços em rebeldia para o homem. Por fim, virou-se para a porta vai e vem e deixou o local à passos largos. 

Laurelia, receosa pelo o que viria a seguir, desviou o olhar da cara furiosa de seu patrão e adiantou-se em pegar a bandeja de petiscos para continuar seu trabalho pelas mesas. 

O exterior da taverna estava o completo oposto do seu ambiente interior. O único som que ouvia-se era o barulho dos grilos e os demais insetos. Enquanto seguia com seus passos pesados e com os punhos fechados, Adilan teve a impressão de ver uma luz amarela próxima à sua cabeça. Ao olhar para cima, viu as esferas luminosas que pairavam sobre os telhados do vilarejo. 

— Luzes idiotas. 

Para a maioria dos moradores que o conheciam, Adilan era considerado um rapaz insociável e despreocupado com a virtude da gentileza. Tal reputação devía-se ao seu comportamento introvertido e desprovido de sorrisos, detalhe crucial durante a tradição dos cumprimentos entre os moradores. 

Ele possuía dezesseis anos de idade mas seu comportamento não se assemelhava a nenhum dos demais adolescentes do vilarejo. Desde a infância, sua preferência pelo isolamento das demais crianças birrentas era considerado estranho para um asmabeliano comum. Devido a isso, sua presença nunca viria a ser desejada pelos rapazes de sua idade e nem por alguma garota supostamente interessada. 

Adilan era magro e seus braços e pernas eram finos. Sua pele era parda e seu cabelo era de um castanho ondulado e desengonçado. A aparência de suas roupas evidenciava sua falta de vaidade pois estas possuíam rasgados e remendos. Usava uma camisa amarela de manga cumprida por baixo de um leve colete de couro marrom. Sua calça escura era segurada por um cinto de couro e em seus pés, botas cuja boca estavam dobradas para baixo. De fato, sua aparência nunca havia sido motivo de fazê-lo tentar agradar quem quer que fosse. 

Após alguns minutos curvando ruas, ele enfim havia chegado ao que para ele era sua moradia e também considerado seu refúgio dos aborrecimentos diários do vilarejo, o moinho.

Infelizmente, este não era um moinho donairoso. Pelo contrário, este era anoso e desgastado. Seus dias de funcionamento haviam se passado há muito tempo tendo em vista seu aspecto sombrio atualmente. A estrutura possuía cerca de sete metros de altura e suas hélices já estavam inativas de tal forma que os mecanismos internos haviam perdido a capacidade de girar pela força do vento. A torre era constituída de blocos cuja pintura branca quase não era mais visível. Tábuas de madeira auxiliavam na sustentação dos pisos internos e das telhas vermelhas. Uma extensão projetava-se na base da torre onde uma única porta permitia a entrada e a saída. Logo, Adilan pôs-se a abrí-la e entrar. 

O cômodo era pequeno e o espaço disponível para a locomoção não permitia mais do que duas pessoas. Em uma parede havia uma mesa quadrada que mantinha potes e recipientes repletos de grãos e no lado oposto, um forno escuro de metal enferrujado. As poucas panelas e caldeirões estavam pendurados em ganchos pelas extremidades da minúscula cozinha. Os talheres permaneciam enfileirados em hastes na parede e nada além de três pratos era necessário para alimentar a família. Adilan mal preocupou-se em fechar a porta pois era realista em acreditar que ninguém invadiria a pior moradia daquele vilarejo. Atravessou o interior da cozinha e começou a subir a estreita escada que dava acesso aos dois cômodos superiores. 

O rangido inquietante dos degraus sendo pisoteados incomodavam os ouvidos de Talion. Este, ao virar-se para trás, viu seu irmão surgir das escadas dando passos pesados e com a feição emburrada.

— O que há com você? Foi despedido? — Talion perguntou. 

— Como adivinhou? — Adilan não parou seus passos. 

— A mãe também veio? 

— Não. Ela acha que aquele trabalho é importante demais para largá-lo. — Sua voz tornou-se um eco saindo da estreita escada que acessava o terceiro e último cômodo. 

Talion apenas suspirou pois sabia que tal atitude do irmão lhes traria iminentes complicações. Sua mãe ainda demoraria para chegar do trabalho para trazer explicações do ocorrido. Logo, ele tomou seu martelo novamente e voltou a martelar os pregos que prendiam as bordas da janela. 

Não havia uma noite em que Laurelia não era sobrecarregada pelos afazeres na taverna. Quando conseguiu o trabalho meses atrás, sua função seria apenas servir os petiscos para os frequentadores. Mas logo suas atividades dobraram-se em ajudar a prepará-los, serví-los em bandejas e recolhê-las no final. 

Quando os clientes deixavam o local no meio da madrugada, tendo em vista o horário que o Senhor Gordel fechava seu estabelecimento, as tarefas tornavam-se outras. Organizar as cadeiras e os bancos que rolavam devido aos divertimentos dos clientes, limpar os resquícios de bebida e pedaços de carne pelo chão são alguns exemplos de atividades extras. Quando enfim terminou de realizá-las, Laurelia comunicou sua saída ao seu patrão que contava seus lucros da noite atrás do balcão. 

— Repreenda esse seu filho, Laurelia — o homem recomendou. — Não vou tolerar que ele desrespeite meus clientes. Trate de colocar isso na cabeça dele ou ele pode esquecer o pagamento das noites.

— Ele não vai fazer isso de novo. Vou conversar com ele esta noite. 

— Uma surra seria mais adequada. 

Laurelia apenas acenou com a cabeça e deu meia volta para enfim deixar o local. Seu desagrado em estar ali estava explícito em seu rosto descontente. 

— Espere um momento — Gordel chamou em voz alta. — Quero que me pague o aluguel deste mês do moinho. 

— Mas ainda não é o dia do pagamento. 

— Não importa. Vou precisar comprar mais alguns barris de cerveja para o estoque. Me dê as moedas desse mês ou trate de arrumar outro buraco para morar. 

Sem alternativa, Laurelia viu-se obrigada a atender a ordenança do homem que também era o proprietário do moinho. 

— Tenha uma boa noite. — Gordel encerrou sem expressar o mínimo de empatia. 

A velha estrutura em que a mulher e seus dois filhos moravam era o único local que o trio conseguiu arranjar após perderem sua casa anterior. Os altos impostos cobrados pelo governante do vilarejo tornaram-se impossíveis de serem pagos. Em Asmabel, alguns governantes davam-se ao luxo de cobrar impostos por moradia já que algumas casas pertenciam aos nobres senhores. 

Embora acabara de perder o pagamento da noite de trabalho, Laurelia conseguiu pegar algumas verduras e pequenos cortes de carne salgada da cozinha da taverna. Estes não foram usados nas refeições da noite e logo seriam destinados a virar adubo ou alimento para cães. 

O desagrado de Adilan havia se tornado comum e era raro um dia em que ele não dirigisse reclamações para a mãe. No entanto, a mulher poupava-se de prosseguir as discussões pois já estava farta de ter que lhe explicar sua motivação de continuar naquele trabalho que, segundo ela, era pior do que recolher bosta de vorgo. 

O pagamento por noite era pouco, três moedas por dia de serviço. Portanto, viu-se a necessidade de Adilan também trabalhar no local para que juntos conseguissem obter dinheiro suficiente para garantir a refeição de cada dia e pagar os impostos mensais da estadia no moinho do Senhor Gordel. Na verdade, a taverna não foi a primeira escolha de Adilan, mas devido a suas dificuldades de socialização, Laurelia viu-se obrigada a implorar pela aceitação do filho no estabelecimento. Ainda que inicialmente não fosse do agrado de Gordel, o homem o aceitou pagando apenas uma moeda por noite como garantia que não iria se arrepender lamentavelmente no futuro. 

Os assobios e as irritantes investidas dos clientes bêbados que acostumaram-se a assediar Laurelia tornou-se o motivo dos desentendimentos entre ela e seu filho mais novo. Laurelia compreendia completamente o descontentamento do filho, mas se ela concordasse expressamente com ele, sua necessidade de permanecer no único trabalho que conseguiu iria simplesmente perder a razão. Dessa forma, suportar em silêncio era a única opção que sua necessidade lhe permitia fazer. 

A porta de entrada do moinho estava emperrada como nunca estivera antes; o esforço para abrí-la tornava-se maior a cada dia. A cozinha estava da mesma forma que ela havia deixado antes, sem nenhuma vasilha ou talher por lavar, tendo em vista que o almoço não era garantido todos os dias. Laurelia fechou a porta atrás de si e colocou a cesta que trazia consigo sobre a pequena mesa. 

— Eu trouxe o jantar! — a mulher anunciou para os filhos que certamente estavam nos cômodos acima. 

Sem demora, as pisadas de Talion nos degraus frouxos denunciaram sua descida.

— Mais alguns dias aqui e esses degraus vão me deixar surda. — Laurelia apanhou uma bacia e começou a lavar as verduras que trouxe.

— Eu sei que eles estão muito barulhentos. Quando eu acabar de consertar todas as janelas vou cuidar dos degraus, mãe. Seus ouvidos podem aguentar mais alguns dias — disse Talion limpando o suor de seu rosto com um pano. 

— Acho que teria sido melhor consertar os degraus primeiro, pelo menos as janelas não fazem esse barulho infernal.

O estado atual da estrutura não estava nem um pouco agradável. As últimas semanas da primavera trouxeram chuvas e ventanias de tal forma que por dias o céu de Asmabel transformou-se no descolorido céu de Vordia. Os ventos entortaram as tábuas das janelas e a chuva abriu buracos no telhado da torre. Por ser o mais forte fisicamente, Talion ficou responsável por consertar os danos causados pelos temporais. Embora as atividades lhe causassem certas dores, ele não ousava pedir a ajuda de Adilan pois duvidava seguramente de sua disposição em ajudar. Além do mais, o físico do rapaz não expressava garantia de sucesso. 

— Adilan está aí? — Laurelia perguntou ainda lavando as verduras numa bacia.

— Está sentado na janela. Quase quebrou os degraus subindo as escadas com tanta raiva. O Gordel despediu ele de vez?

— Ainda não. Se as coisas funcionassem somente pela vontade de Adilan ele já teria saído de lá há muito tempo. Mas eu convenci o Senhor Gordel a deixá-lo mais alguns dias. 

— Acho que meu irmãozinho ainda não entendeu a necessidade de ganharmos as moedas daquele Gordel. 

— Não fale como se ele fosse menos responsável do que você, porque ele não é. — Laurelia olhou ligeiramente para o filho. 

— Nossa. Agradeço por me dizer isso, mãe. Realmente agradeço. — O sarcasmo do rapaz estava mais evidente do que qualquer tipo de revolta que ele poderia sentir naquele momento.

— Não falei isso para você se sentir mal. Eu entendo muito bem a causa da revolta do seu irmão. E seria melhor que você entendesse também e parasse de implicar com ele.

— E qual é a causa? Os bêbados daquele chiqueiro andam brigando com ele? 

— Não...

— O Gordel não acha bom os serviços dele? 

— Não... quer dizer, sim. Todos esses são motivos que fazem aquela espelunca ser tão ruim para ele, Talion. Mas a revolta de seu irmão é por minha causa. 

— Eu já imaginava que trabalhar com a própria mãe não iria dar certo. 

Laurelia teria ficado indignada se não tivesse percebido o sarcasmo do filho. 

— Pare de fazer graça, Talion.

— Ah, qual o problema de brincar com a situação? Ele não foi despedido mesmo. Mas por que você diz que a revolta dele é por sua causa? 

Por um momento a mulher hesitou. 

— Alguns clientes — disse ela. —, bebem tanto que perdem toda noção de educação. Pensam que qualquer mulher que aparecer em sua frente vai gostar de ser abusada. 

— Abusada? O que eles te fizeram? 

— Nada. Não fizeram nada de mais. 

— O que eles te fizeram, mãe?! — o rapaz insistiu. 

Laurelia sentiu como se sua boca recusasse pronunciar a palavra que descrevesse o ocorrido. 

— Um tapa. 

Seriamente, Talion refletiu por alguns segundos o que sua mãe lhe disse. 

— Sabe o nome do desgraçado? 

— Isso não é da sua conta, Talion. Não quero que arranje problemas com o Senhor Gordel. Você sabe que por qualquer problema ele pode nos expulsar daqui. 

— Que se dane o Gordel! Aquele miserável acha que pode fazer o que quiser com a gente. Ele pensa que somos animais, mãe. Todos nessa droga de vilarejo pensam assim. 

— Não somos daqui, Talion. Não nascemos e nem crescemos aqui. Não posso me indignar por não ter uma casa descente se não pertencemos à este lugar. 

— Então aonde nós pertencemos? Por que não saímos daqui e vamos para outro vilarejo? Ou talvez para a cidade do reino? Não deve ser tão difícil chegar lá.

— Não há um dia em que eu não pense em sair daqui. Em ir embora desse lugar, ficar longe dessas pessoas falsas e mentirosas que gostam de nos humilhar.

— Então por que não vamos? Por que você insiste em ficar aqui?! Eu sei que há algum lugar melhor que...

— Você não sabe o que está falando, garoto. Não sabe dos tipos de pessoas que existem lá fora. Assassinos, estupradores, pessoas capazes das piores crueldades por uma só moeda! Eu sei disso porque já passei por isso, Talion. Dois anos — ela gesticulou com a mão. —, dois anos foi o tempo que eu caminhei com você e com seu irmão no colo, se lembra disso? É claro que não, você era uma criança. Caminhei com pessoas que eu não sabia se eram confiáveis ao ponto de eu poder dormir tranquila com a certeza que acordaria no dia seguinte. Por várias vezes eu quase perdi vocês dois por homens que me atacavam querendo a comida que eu conseguia para comermos. Em toda a minha vida eu nunca precisei brigar por comida, mas enquanto atravessei essas terras procurando um lugar para morar, eu vi pessoas se comportarem como animais. 

Talion escutou todo o desabafo em silêncio e aparentemente a revolta em sua face havia desaparecido. Por um instante ele pôde ver os olhos de sua mãe levemente lacrimejar. Sem dizer mais nada, ela virou-se para as verduras novamente. 

— Não somos mais crianças, mãe. Não precisamos que você cuide de nós dois o tempo todo. 

— É mesmo? — Ela virou-se para o filho. — Então o que vocês iriam jantar se eu não trouxesse essa cesta que peguei na taverna? Hein?

— O Adilan eu não sei, mas eu consigo pegar um dos coelhos que aquela Senhora Linolis cria no quintal dela. 

Laurelia permaneceu observando-o por alguns segundos. Sentiu uma leve vontade de rir mas se conteve. Logo, apanhou uma faca e começou a cortar os legumes. 

— Isso não está certo, mãe. Nós ficarmos aqui se ninguém nos quer por perto.

— Mmm, deixe-me ver, nós três sairmos viajando por aí sem saber o caminho de lugar nenhum. Isso não tem a menor chance de dar certo. Vamos morrer de fome ou sermos mortos antes de chegarmos no vilarejo mais próximo. 

— Eu acho que não. A melhor mãe dessa droga de vilarejo e seus dois filhos de dezesseis e dezoito anos, com certeza nós damos conta de uma gangue de bandidos. 

Laurelia não pôde evitar um leve sorriso e isso foi percebido por Talion. 

— Tome — Ela virou-se e entregou uma bacia de alumínio para ele. — Seja um bom rapaz e vá até a casa da Senhora Lerina devolver a bacia que ela me emprestou. 

— É uma boa bacia. Não acha que devíamos ficar com ela? 

— Enquanto continuarmos nesse lugar, é melhor mantermos a amizade de todos os vizinhos possíveis. Agora vá lá e seja gentil com ela.

— Mas já é madrugada. 

— A Senhora Lerina não dorme durante a noite. Ela me disse que sofre de uma doença que eu esqueci o nome. Agora pare de enrolar e vá logo, sim? 

Antes de Talion puxar a pesada porta para abrí-la, ele rapidamente se aproximou de Laurelia que ainda cortava legumes e a deu um inesperado abraço. 

— Está bem, está bem. — Um tímido sorriso estampou o rosto da mulher que tentava se livrar dos fortes braços do filho. — Vá logo e trate de tomar um banho quando voltar. Você está fedendo como um porco. 

Sendo assim, Talion adiantou-se em obedecer ao favor lhe pedido e deixou o moinho em meio a noite.



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