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A casa na colina

Não sabia que apenas passava pela vida ao invés de vivê-la — ela murmurou

Era noite quando chegaram.

Pessoas normais não se mudam a noite. — Gabriel pensou enquanto o carro atravessava a fina bruma branca que cobria todo o caminho da porteira à casa. Eduardo era o único que conhecia o local, havia comprado o imóvel de forma tão abrupta que nenhum deles já tinha conseguido assimilar a ideia da mudança.

Regina encaixotou os bens da família e enviou em um caminhão alguns dias antes e, embora se sentisse apreensiva, tentava não demonstrar aos filhos. Compartilhava com o marido a concordância de que precisavam se mudar, deixar certos problemas para trás e que uma terra tão grande não se compraria tão barata sem uma grande dose de sorte.

Ela considerava que de fato tinham muita sorte de um negócio como aquele aparecer praticamente do nada quando Gabriel precisava ser afastado de más companhias, e havia a preocupação com Samantha, a filha mais nova. Embora a garota fosse em geral tranquila, havia nela um estranho senso de deslocamento, como se apenas observasse a vida e as pessoas, e a única coisa que realmente a fizesse parecer viva era uma égua Shire albina gigante.

A criatura era magnífica, intratável e aceitava que apenas Samantha se aproximasse o suficiente para ministrar os cuidados básicos. Serem donos do próprio haras eliminava o problema de arrumar um lugar adequado para o animal, que despertava medo em homens adultos. Ao mesmo tempo a preocupava, pois significava que a filha passaria mais tempo cuidando dela.

Mas não houve muito tempo para pensar em prós e contras, algo na simples menção daquele lugar se assemelhava a um canto de sereia. Eduardo e a esposa sentiam a atração exercida por aquela terra muito antes de terem a oportunidade de ver o haras, e depois da visita em que fechara o negócio, ele não conseguia parar de pensar no lugar.

Embora o pobre vendedor parecesse apavorado com a obrigação de mostrar o ambiente, Eduardo sentia que poderia ter se mudado no momento em que seus pés pisaram naquela terra. Havia tanto trabalho a se fazer: arrumar cercas, consertar estábulos, tratar os poucos animais que restavam e a casa.

Ele havia conhecido o local durante o dia, em uma viagem que nada tinha a ver com comprar uma nova casa, e sua família o contemplava à noite. Uma construção estranha com altas paredes brancas que pareciam nascer de uma larga base de pedra bruta e nua de um lado.

Em um ponto a partir do meio da base, a hera, antiga e folhosa, nascia formado veios que abraçavam a casa, seguindo para a lateral que era mais íngreme. Naquele ponto, a pedra formava uma descida abrupta, como uma fenda na terra. Eduardo imaginava que, por segurança, a cerca de arame farpado começava presa à pedra, cobrindo o último torrão antes daquele acidente geológico, e seguindo contornando o bosque.

À noite, com a névoa espiralando entre as árvores, mal se podia ver a fenda do outro lado da cerca, mas ele sentia que estava lá, como uma boca aberta e faminta à espreita. Isso não diminuía em nada a satisfação em ter comprado a casa. Não importava se era uma construção estranha, ele sentia que não havia qualquer outro lugar no mundo para estar com sua família.

Gabriel gemeu ao ver que a única entrada era uma escada ampla que dava para altas portas venezianas, cobertas de arabescos, que pareciam imitar a mesma hera que cobria a pedra. Não conseguia sentir o mesmo entusiasmo que o pai, nem a admiração da mãe que, ao entrar, mal olhou para as caixas espalhadas pela sala principal. Os olhos dela brilhavam de satisfação ao ver os antigos vitrais preservados, as arandelas e os outros detalhes.

Os funcionários do antigo proprietário haviam recebido o caminhão de mudança e encaixotado pouca coisa, já que a casa contava com quase toda mobília original e ninguém se dispunha a ficar na propriedade depois do anoitecer.

Samantha não se incomodou em subir os degraus e nem se sentiu intimidada pela amplitude da sala. Regina estava apaixonada pela história da residência e explicou que inicialmente a casa servira como lar dos primeiros clérigos da cidade e fora a primeira igreja da região.

Ela sabia que fora uma compra de "porteira fechada", mas não esperava que tanto da arquitetura original estivesse preservada, ou que os móveis estivessem de fato em bom estado.

O passado se fazia presente nas altas paredes e, embora ostentassem camadas de argamassa, ainda tinham traços da pedra bruta de que eram feitas. Os vitrais cuidadosamente instalados ainda continham os vidros multicoloridos e delicados do período colonial. Em um ponto, podia-se ver a imagem de Nossa Senhora com seu manto azul.

Uma segunda escadaria conduzia aos quartos. Havia mais quartos do que precisava uma família de quatro pessoas.

— Temos mesmo dinheiro para comprar um lugar assim? — perguntou Gabriel.

— Não — admitiu Eduardo. — Mas ninguém mais nessa cidade parece querer manter essa casa, nem mesmo a igreja. As pessoas aqui são realmente supersticiosas.

Samantha escolheu o quarto que desejava, com uma sacada voltada para a floresta que, meio acobertada pelo véu branco, se estendia até as falésias e a uma distante faixa de areia, que morria em um padrão de pedra. Gabriel preferiu um quarto maior e mais próximo das escadas, e os pais já estavam acomodados no outro extremo do corredor, com a vista voltada para o interior do haras.

Por um longo tempo a garota ficou ali, parada. Mesmo à noite, a faixa de areia parecia refulgir à luz da lua quase como se convidasse Samantha a, de algum modo, cruzar a floresta e se deleitar nela com os pés descalços.

Parecia um mundo fascinante fechado em si mesmo, o pequeno espaço entre um pico e outro. Em um mundo cujos mistérios haviam sido engolidos pela tecnologia, existia algo antigo e primitivo naquela paisagem. Primitivo em um sentido difícil de traduzir em palavras, como se a fenda entre a base da casa e o início do bosque marcasse uma espécie de fissura no tecido do mundo.

A névoa branca espiralava sobre as copas das árvores e seguia descendo o vale, na direção das areias que cintilavam à luz da lua e eram como um véu pronto a ser erguido. Do outro lado daquele véu, o mistério rondava o alto do rochedo de pedra escura, que contrastava com as areias. Toda a calmaria parecia se transformar em violência quando as águas, que beijavam as areias, arrebentavam contra as pedras. Ela fechou os olhos, mas estava longe demais para ouvir o som do mar, só podia imaginá-lo.

Mesmo depois que todos os outros foram dormir, Samantha ainda observava a misteriosa paisagem. O som do vento agitando a folhagem era como uma cantiga hipnótica, o cheiro que subia era selvagem e parecia aquecer o sangue em suas veias. Ela nunca se sentira tão viva, se fechasse um pouco os olhos era capaz de sentir a respiração do bosque. Era como se sentisse o pulsar de cada coisa viva lá embaixo.

Ela ainda não sabia nada sobre a névoa, nem ouvia o murmúrio oculto no silêncio da noite. Mas a antiga melodia das árvores, da terra e da noite estavam lá, pulsando e vibrando. E trouxeram o primeiro sonho.

Samantha sabia que era um sonho, porque não sentia que habitava o próprio corpo. Sentia-se estranha e antiga, com vestes pesadas e macias. Um calor aconchegante a envolvia, e algo adornava a fronte: uma tiara com uma pedra preciosa lapidada. Sob as mangas podia ouvir os braceletes tilintarem.

Havia uma imensidão branca e gelada à frente, que delineava um homem alto, pele cor de ébano, queimada pelo sol. Que sol? Tudo que vejo é neve.

Estava claro que nem ela nem o homem pertenciam àquele lugar. Quem sou eu? Samantha se perguntou confusa. Não reconhecia as próprias mãos, com dedos mais longos, finos e delicados. Deveria estar usando luvas. Era como se houvesse duas correntes de pensamento juntas. Como dois rios sobrepostos. Uma Samantha reconhecia como sendo a si mesma; e a outra, a mulher que cujo corpo a garota parecia habitar no sonho.

Enquanto a mais nova estava confusa, os pensamentos da outra eram cheios de urgência e certeza. Nada ficaria em seu caminho e não aceitaria um simples "não" como resposta.

O homem seguia à frente, segurando um bastão longo e cheio de entalhes que lembravam runas. Com o bastão, ele tateava o chão em busca de um lugar seguro para os pés enquanto os ventos gelados lhes açoitavam, fazendo estalar os ossos.

Em meio à imensidão branca, surgiu aquela que buscavam: delicada, com longos cabelos cor de céu descendo pelos ombros como uma cascata cristalina. O ar dançava em torno dela, e os cristais congelados eram como diamantes estelares. Sem dizer uma única palavra, seu espírito comandava uma multidão de jovens espíritos elementares, invisíveis aos olhos comuns. Todos eles marchavam no mesmo ritmo, imantados por um indescritível sentimento de amor e compaixão que emanava dela, cada um ocupando seu lugar na manutenção das forças naturais.

A mulher de longos cabelos azuis celestes era uma fada, cujo canto murmurava no vento e corria pelas águas sob a grossa camada de gelo sobre a qual caminhavam. Uma fada que brilhava como uma estrela, enchendo de vida aquele mundo de gelo e neve.

Quando os olhos das duas mulheres se encontraram, Samantha sentiu o impacto de sua presença. A mulher de cabelos azuis era uma verdadeira força da natureza, e mesmo assim se curvava em uma mesura respeitosa, como se aceitasse um convite que não foi traduzido em palavras.

Acordou sentindo frio e desorientada. Sob o barulho de Gabriel espancando a porta do quarto, levantou-se e esfregou os olhos. O que quer que ele gritasse do lado de fora não dava para ouvir através das grossas portas de madeira. Mesmo assim, Samantha conseguia sentir a irritação dele irradiando e se sentiu realmente grata por haver aquela grossa porta de madeira entre os dois. Na casa antiga, conseguia sentir as emoções do irmão por toda a parte: alegria, raiva, confusão, tudo junto. Mas as grossas paredes de pedra e a madeira maciça faziam tudo isso parecer um eco bem mais fácil de ignorar.

A garota se arrastou para fora da cama e não pensou mais no sonho. Tomou um banho rápido e desceu para o café da manhã, sendo obrigada, desde então, a ouvir as intermináveis reclamações do irmão. Enquanto Samantha estava grata pelos funcionários terem deixado os quartos limpos com lençóis ainda com o cheiro do amaciante, Gabriel havia detestado o quarto, que parecia um museu de móveis antigos, a cama de madeira escura e até o chuveiro que só tinha duas regulagens: gelado ou escaldante.

Ele protestava e se queixava sobre tudo enquanto o pai se esforçava para explicar sobre a nova escola pelo longo caminho do haras até a cidade. Apesar de tudo que o pai dissera, nada os preparou para a estranheza e imponência daqueles portões.

— O que é isso? — Gabriel observava um porteiro vestido como monge franciscano indicando onde deveriam estacionar.

— Angelus não é apenas um colégio — explicou Eduardo —, é o motivo de termos vindo para cá. — Pela janela do carro, Gabriel observava a imensidão do pátio e a quantidade de prédios.

— Isso mais parece um condomínio. — O garoto estava completamente chocado.

O monge calmamente veio ao encontro deles, cumprimentando um por um. Era um homem mediano de semblante amigável e voz baixa.

— Podem me chamar de irmão Paulo. Vou levá-los à sala da coordenadora Calla, ela já os espera.

— Que tipo de lugar é esse? — perguntou Samantha.

— Um colégio — respondeu Eduardo.

— Sim, e um pouco mais que isso. Dentro desses muros temos uma catedral, um mosteiro, um convento e o colégio propriamente dito, além da universidade — explicou o monge. — Está vendo os prédios mais distantes ali? São os mosteiros, o da direita é um mosteiro franciscano, e outro é dominicano, e naquela ponta temos as irmãs Clarissas.

— Eu nunca ouvi falar dessa universidade. — Gabriel ainda não conseguia acreditar no que estava vendo.

— Tenho certeza que não. Nossos estudantes, em sua maioria, são filhos, netos e bisnetos dos nossos egressos. Muito raramente formamos alguém que não tenha vínculo com a comunidade. — O monge sorriu antes de anunciar a entrada deles no escritório de Calla. — Embora pareçamos grandes, somos mais como uma instituição familiar.

Samantha observou aquela mulher com curiosidade e cuidado. Calla não emanava a mesma sensação de tranquilidade que o monge. Ao contrário, era uma mulher rígida em todos os sentidos, começando pela aparência impecável: os longos cabelos vermelhos acobreados estavam presos em um coque extremamente apertado, os brincos discretos e maquiagem comedida, porém bem-feita. As unhas pintadas de vermelho vivo. Usava um terninho bege e sapatos de salto muito altos.

Primeiro ela colocou o histórico de Gabriel sobre a mesa.

— Esse é o garoto sobre o qual falamos?

Eduardo fez que sim.

Ela analisou Gabriel como um comprador de gado faria com um bezerro. Em instantes seus olhos estudaram o formato do rosto, a postura ao sentar e o modo como o garoto se articulava. Estava satisfeita por ele estar desconfortável e inseguro.

— Gabriel?

— Sim, senhora — respondeu o jovem.

— Deve estar ciente de que não temos o hábito de expulsar alunos — falou ela calmamente. — Em especial porque não há outras escolas no raio de pelo menos meia dúzia de povoados. Desde o início da nossa comunidade, o mosteiro foi responsável por polarizar o ensino da região. — Ela parecia satisfeita. — Podemos não ser uma escola conhecida pelo país, mas somos uma grande escola de tradição. Os jovens que estudam aqui, em todos os níveis, tiveram seus pais, avós e bisavós formados dentro destas paredes. Educamos do filho do lavrador a filhos de grandes empresários da indústria, agricultura e mesmo metalurgia. Portanto, há uma diferença muito clara entre os nossos alunos.

Gabriel se perguntava do que serviria um diploma de uma faculdade de quem ninguém tinha ouvido falar quando Calla bateu as mãos na mesa, exigindo que ele prestasse atenção. O tom de sua voz se tornou ferino quando prosseguiu, os olhos fixos no garoto, que sentiu o impulso de se encolher na cadeira.

— Um bolsista não participa de todas as nossas atividades extracurriculares, como as aulas de música ou times desportivos. O acólito apadrinhado pode participar das mesmas atividades que seu particular. Os meio-bolsistas têm uma situação semelhante: podem participar de uma quantidade limitada de atividades extracurriculares, a não ser que sejam apadrinhados.

Ela inclinou o corpo na direção de Gabriel, que encolheu ainda mais, desejando poder se afundar na cadeira.

— Não temos progressão automática e nossas turmas são separadas por rendimento. Quanto mais baixa sua nota, mais baixo você fica na escala das turmas. — Aquilo soou como uma ameaça. Gabriel se lembraria de nunca medir forças com aquela mulher, pois ela dava mais medo que qualquer pessoa que já tinha conhecido, incluindo os pais em seus piores dias. — As turmas A, B e C são para as melhores notas, as turmas D, E e F para os medianos e as turmas G, H e I são... você entendeu. Apesar dos seus problemas de disciplina, pelo seu histórico, você vai para a turma dois B e será observado.

Quando se deu por satisfeita, e Gabriel estava completamente oprimido, a mulher virou para Samantha, que era mais baixa que o irmão e os longos cabelos dourados estavam presos em uma trança que descia pelas costas, indo até a linha da cintura.

— Temos regras bastante rígidas para garotas — disse ela. — Nada de jeans. Usará saia e camisa de uniforme, não irá customizar as peças, ou seja, nada de reduzir o comprimento da saia ou apertar a camisa. Nada de maquiagem. — Samantha fez que sim com a cabeça, e Calla teve certeza de que logo aquela garota desapareceria na multidão, sendo mais uma das muitas pirralhas invisíveis nas quais ela sequer pensava uma segunda vez.

Em seguida, ela fez sinal para que os dois jovens saíssem, ficando a sós com Eduardo. Mesmo ele se sentia intimidado por aquela mulher.

— Gostaria de falar sobre o assunto sobre o qual tratamos por telefone.

— O haras?

— Sim. Em uma cidade que pensa pela cabeça dos padres e supersticiosos, estou feliz que haja alguém que não tenha sido intimidado pelas crendices locais. Como está indo a mudança?

— Lenta. É difícil conseguir mão de obra — admitiu ele. — E me preocupa que não tenha movimento quando abrirmos as porteiras.

A mulher sorriu.

— Tenho particular interesse no seu negócio. Nossa escola é grande, por isso temos alunos demais, de modo que nosso espaço para atividades laborativas acaba ficando restrito. Muitos dos nossos jovens são filhos de fazendeiros, mas que não têm a menor noção do que isso significa. Enquanto os pais trabalham, eles vivem no conforto, mimados demais para pôr as mãos na terra. Esses jovens ociosos precisam de atividades que os preparem para lidar com os negócios de família. O que estou querendo dizer é que podemos trocar, com autorização dos padres, uma meia bolsa para seus dois filhos pela disponibilidade de usar sua propriedade duas vezes por semana.

— Como a senhora...

— Senhorita.

— Como a senhorita mesma disse, é uma cidade supersticiosa e receio que nem os padres, nem os pais dos alunos...

— Os padres são menos tacanhos que as pessoas — respondeu ela. — Claro que eles têm suas reservas, mas já nos deram a permissão. — Despejou os papéis sobre a mesa. — Falta apenas a sua assinatura. Quanto aos pais, aquela bandeira lá fora é boa suficiente para calar a boca de qualquer um deles.

Eduardo suspirou olhando para o contrato.

— Eu precisarei de um tempo para ler antes de assinar.

— Claro — respondeu ela, ciente que aquilo era um sim. Eduardo precisava de dinheiro e não conseguiria de outra forma, devido ao medo que as pessoas tinham do haras. Tudo que restava eram detalhes e formalidade. — Há ainda outro assunto — disse apresentando um termo de responsabilidade.

Eduardo pegou a folha.

— Gabriel pode ter sido imprudente no passado — disse ele. — Mas algumas necessidades nos obrigam a abrir concessões.

— É claro. Nossos alunos que moram muito longe podem ter permissões para dirigir, desde que seja do caminho para a escola e que estacionem aqui no horário das aulas. Esse termo assegura que os pais estejam cientes de que eles serão responsabilizados por qualquer eventual infração dos filhos.

Eduardo assinou o termo de responsabilidade e colocou o contrato na pasta.  

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