Capítulo 19
Gabriel narrando:
Levanto 6h horas em pleno sábado para buscar minha mãe, dona Luiza. Tomo banho , faço minhas higienes e visto um short e blusa. Saio do quarto e sinto falta do café da manhã de Milena , ela se encontrava dormindo e fico feliz por ter conseguido dormir o resto da noite.
Milena sempre costuma ter o sono meio conturbado.
Como qualquer coisa e vou buscar minha mãe. Estaciono um pouco longe para meu pai não ver o carro. Me aproximo silenciosamente e mando mensagem para minha mãe dizendo que estou na janela da cozinha. Ela pede para esperar ,mas demora demais.
Pulo a janela e procuro por ela. Ouço barulhos lá em cima e fico tenso. Subo com medo do que posso encontrar. Quando vejo meu pai batendo na porta loucamente e gritando para minha mãe sair. Assim que ele percebe minha presença me olha com raiva e eu já sei o que vai acontecer.
Tudo estava extremamente familiar, o clima pesado, seu olhar sem vida. O medo que minha mãe sentia era quase palpável.
Tento não me distrair com as lembranças , que voltavam com força ao observar cado canto da casa.
Meu pai se aproxima na intenção de me bater e eu apenas desvio, fazendo com que ele caísse escada a baixo.
— Mãe, ele caiu ,eu não fiz nada — Digo quando minha mãe aparece, completamente assustada.
Ela não diz nada, volta para o meu antigo quarto e busca suas malas.
Observo tudo de longe para não sufocá-la e estranho a demora.
Chego um pouco mais perto e ela parecia estar lendo um bilhete, ao finalizar, deixa-o em cima da cama.
Seguimos apressados para o carro e eu até cogito perguntar sobre o bilhete, mas prefiro deixar para uma outra hora.
—Milena é a sua namorada?— Minha mãe finalmente diz , quebrando o silêncio que se estendeu por grande parte do caminho.
— Não — Murmuro e observo suas expressões.
Ela abaixa a cabeça e suspira:
— Certo... E você... você contou pra ela....— Ela pergunta.
— Sim , mãe— Respondo.
— Você confia nela?— Minha mãe pergunta e eu fico alguns segundos em silêncio.
— Sim, mãe —
Coincidência ou não, infelizmente Milena e eu compartilhamos de histórias não tão felizes.
Luiza suspira e permanecemos em silêncio o resto do caminho e quando subimos ainda está tudo quieto. Milena deve ter saído ou ainda está dormindo.
Milena narrando :
Sou acordada por um peso que sinto nas costas. Quando me dou conta de que se trata de Cami e Lari pulando em mim.
— Ai — solto um resmungo de dor , e as meninas se assustam
— O que foi , amiga ? — Elas perguntam preocupadas.
— Eu caí ontem. Por que estão aqui? —Pergunto tentando parecer tranquila. Tomo um banho e elas gritam lá da cama e eu do chuveiro.
— Milena?!?! Não acredito que você não lembra!— Lari grita.
—Estávamos conversando sobre o niver da Larissa , de 18 anos. Você balançava a cabeça pra tudo que falávamos — Cami fala alto.
— Quando foi isso ? —grito.
— Ontem! —Lari grita.
—Não lembro disso não — digo.
Saio do banheiro com toalha no cabelo e no corpo e percebo que as meninas já arrumaram minha roupa.
— Mas ontem eu bebi— Digo enquanto visto roupa.
— Tá tudo bem. Vamos decidir logo as coisas— Lari diz empolgada. Passamos umas 2 ou 3 horas conversando sobre o niver da Larissa. Com dor de cabeça bebo logo 2 comprimidos para aliviar.
Deito de novo e fecho todo meu quarto. Fecho os olhos e dou uma relaxada. Fico cochilando até ouvir vozes. Com preguiça e ainda com muita dor de cabeça continuo deitada. Quase fechando os olhos novamente quando alguém bate na porta. Milagre . Me levanto grogue e vejo Gabriel e uma mulher mais velha.
— Você deve ser Milena, Gabriel não parava de falar de você. — Ela diz me deixando envergonhada.
Sinto o olhar de Gabriel em mim e evito olhar para ele. A mãe dele parece ser um amor ,mas não pude deixar de perceber suas marcas.
— Espero que tenho sido bem — Digo encarando Gabriel e o mesmo se incomoda com minha provocação, sei que no fundo ele não vai falar nada de bom sobre mim.
-— Foi querida. Já almoçaram? — Ela pergunta. Negamos com a cabeça mas já adianto que estou exausta e dolorida.
— Ela está de ressaca mãe — Gabriel diz e fico com uma vontade de enforcá-lo.
O que a mãe dele vai pensar de mim?!
— Estou sim, Gabriel ,eu e o amigos bebemos e jogamos baralho. Acordei determinada a limpar o apartamento e acabei encontrando uma garrafa sua escondida de baixo do sofá — Minhas palavras fazem a mãe de Gabriel arrepiar. Bebida. O marido dela tem problema com bebida .
Fico com raiva de mim mesma ,mas ao ver a cara de Gabriel me sinto me melhor , ele me lança olhares e sorri.
— Bom, nem me apresentei, sou a Luiza — Mãe de Gabriel diz mexendo com as panelas.
— Você quer dormir no meu quarto, dona Luiza? — pergunto.
— Só Luiza meu bem. Acho que sim , se não se importar.
—De maneira alguma. Pode deixar que arrumo suas coisas mais tarde — Digo me retirando para meu quarto. Deito por um tempo ,mas a dor aguda em minha barriga me faz levantar e ver o mais novo machucado.
Paro em frente ao espelho e levanto minha blusa com as mãos meios trêmulas. Minha barriga ainda tem os roxos dos chutes de meu pai , embora mais claros , o arranhão é um pouco comprido ,mas não é fundo.
Passo o dedo levemente na minha barriga pensando no porquê ele quer tanto me ver sofrer?
Eu a amava também. A sensação de estar rodeada por pessoas ,mas nenhuma delas te entender nem poder fazer nada para te ajudar. Ele é meu pai , devia me amar. Cresci em um ambiente no qual nunca senti amor paterno , meu irmão cuidava de mim, mas via que ele estava cansado de ser "meu pai ". Sou tirada de meus pensamentos com a voz de Luiza , ela abre a porta bruscamente e abaixo a blusa tão rápido que esbarro a mão nos meus roxos me fazendo morder o lábio.
— Querida , estou te chamando faz um tempo , vem comer — Ela diz e passa os olhos em mim.
— Você está bem ?
Balanço com a cabeça positivamente e digo que estou sem fome. Deito novamente e não demora para receber uma mensagem de Cami:
Passa aqui em casa às 16h , amanhã vamos para a da Lari. Estamos resolvendo a festa dela.
Mando um "ok" e checo as horas. São 12h. Saio para pegar minhas pomadas. Estou determinada a não me machucar mais, estou cansada da dor, cada movimento que faço sinto uma dor aguda. Cansada. Definitivamente estou cansada.
Preciso pegar um banco para alcançar os remédios e me concentro para que não haja mais acidentes.
— Você sabe que pode pedir minha ajuda, né? — Gabriel diz
— Sinceramente, não sei de nada — Digo sem olhar para ele pois minhas mãos apalpavam o armário em busca dos remédios.
— Eu tirei daí, para evitar acidentes. Eu passo em você — Ele diz e dou um leve sorriso.
— Eu consigo sozinha — Digo e parece que é a vez dele de dar um leve sorriso.
— Não faz isso...— Murmuro.
— Isso o que?— Ele pergunta.
— Isso de me tratar como uma criança. Não me deixa sair. Cuida dos meus machucados. Tudo bem que queira ajudar , mas me deixa andar sozinha — Disparo e parece ter intrigado ele. Desço da cadeira e pego as pomadas , já entrando no meu quarto lembro de algo.
—Quando e onde você vai começar a me ensinar? —pergunto
— Amanhã , quando você puder —Ele responde.
Apenas confirmo com a cabeça e espero Luiza sair do banheiro para me medicar.
Quando ela sai, tomo um banho demorado e passo a mão levemente pelas áreas machucadas.
Apenas de langerie, demoro mais um pouco ao passar a pomada e na barriga acabo enrolando até uma faixa.
Termino de vestir roupa e quando saio, Luiza já não estava mais em meu quarto.
— Onde você vai, Milena? — Gabriel pergunta e eu serro os olhos
— Na casa da Cami , festa da Lari esqueceu? — respondo.
— É hoje ?— pergunta
— Não ,hoje vamos organizar — falo já abrindo a porta.
— Posso ir com você? — Ele diz já procurando uma camisa para vestir e meus olhos demoram em seu abdômen.
— Por que quer ir?— Questiono , segurando a vontade de sorrir.
— Também são meus amigos —Ele diz e então o observo.
Gabriel vestiu a blusa do avesso , seu cabelo estava todo bagunçado e por fim, ele parou na minha frente com um sorriso.
Não aguento e acabo sorrindo também.
Ainda o analisando, me pergunto se conto ou não que sua blusa estava do avesso
— Gabriel , sua camisa...— Começo e ele já entende, tirando ali na minha frente.
Seguimos em silêncio para o carro e dessa vez não se tratava de um silêncio desconfortável.
— Onde está a Luiza? — Pergunto quando já estávamos à caminho.
A música do rádio tocava bem baixinho e meus cabelos voavam para todo lado.
Gabriel demora o olhar em mim, e então diz:
— Ela quis sair um pouco para espairecer —
— Por que quer aprender a lutar?— Ele pergunta e a resposta vem fácil:
— Para me defender —
— Você sabe que para aprender a lutar não tem como não sentir dor — Ele diz e eu só confirmo com a cabeça.
Meus olhos o encaram por um momento. Ele parece mais paciente. Feliz. Luiza que o deixa assim. Sem se incomodar com meu olhar , ele aumenta o rádio.
Relaxo durante o caminho, mas percebo que está demorando demais para chegar. Olho pela janela e vejo que o caminho da casa da Cami não passa por aqui.
Estamos perdidos.
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