Susto
Morgan Clark
Abro a geladeira e vejo ela cheia de comida, parece que ele fez compras recentemente, ignoro tudo e pego a garrafa de água abrindo a tampa rapidamente.
Era estranho estar aqui, dormir aqui com ele parecia tornar isso mais importante de alguma forma. Normal era quando a gente transava e depois eu ia embora, mas só dormir ao lado dele...
Encosto meu corpo na bancada e olho para mim, estou com uma regata preta dele e apenas com a calcinha rosa escuro que vesti e que ele adorou brincar enquanto estávamos acordados.
Mordo o lábio e cruzo meus braços me perguntando se isso é algo ruim, se estar com ele é algo ruim. Não tenho um histórico muito bom de alguém ficar comigo.
Minha própria mãe me abandonou, vários namorados meus me trocaram por outras garotas, inclusive Will. Nate seria só mais outro na lista se isso acontecesse, mas eu não queria me machucar de novo.
E era incrível o medo irracional que eu ficava quando lembrava do que passei depois de Will dizer que não queria mais continuar com o nosso relacionamento. Não queria sofrer assim de novo.
Ouço um grito e arregalo os olhos, de novo o mesmo grito e corro para o quarto vendo Nate se debatendo na cama como se estivesse tentando escapar de algo.
Fico desesperada sem saber o que fazer e me aproximo pelo lado mais perto da cama, Nate grita de novo e percebo que é um grito carregado de dor e medo.
-Nate.- seguro seu braço e consigo conter os dois.- Nate?- ele vai diminuindo o ritmo.- Ei, estou aqui.- me arrumo na cama.- Ouça minha voz, vai ficar tudo bem
Abraço ele por trás e beijo seu ombro enquanto a respiração dele vai se acalmando e seu coração bate mais e mais devagar que antes. Passo a mão pelo seu braço e continuo o carinho.
-Tudo bem, eu estou aqui.- sussurro.- Você não está sozinho.
Em um momento ele para de se mover e simplesmente parece descansar, respiro aliviada e fecho os olhos encostando minha testa na nuca dele.
Continuo passando a mão pelo braço dele e ouvindo sua respiração, não consigo entender o que acabou de acontecer aqui, mas parece que está sob controle.
Lembro dos surtos do meu pai e lembro que ele não conseguia dormir até alguém está o abraçando com força. Lembro de ficar noites em claro vendo ele dormir para ter certeza de que não ia sair e fazer uma loucura.
Um medo enorme cresce em mim quando me pergunto se é isso que Nate tem, se ele tem a mínima possibilidade de ser igual ao meu pai. Não preciso de outra pessoa igual a ele....
Penso em ir embora, penso em deixar tudo aqui e ir embora o mais rápido possível fingindo que nada aconteceu. De algum jeito, eu não consigo ir, não consigo soltar Nate dos meus braços.
Eu falei a ele que eu estava aqui, falei que ele não estava sozinho. Então eu ia ficar aqui e isso não me dava medo apesar dos pensamentos de ele ser igual meu pai.
Vou ficar com ele. Vou ficar aqui.
✩
Nate Copeland
Abro meus olhos e solto um ruído frustrado quando percebo que não lembrei de fechar as cortinas, passo a mão na minha frente e percebo que não tem ninguém.
Pisco algumas vezes e vejo que, na verdade, Morgan está abraçada de conchinha comigo. Me viro lentamente tentando não acordar ela e observo seu rosto.
Ela suspira e parece reclamar da luz enquanto fica de bruços e cobre a cabeça com o travesseiro de fronha cinza. Sorrio me sentando e passando a mão pelo rosto.
Me levanto e olho para ela de novo, a regata subiu até o meio das costas e a calcinha rosa escuro parece bem realçada na pele branca de Morgan.
Entro no banheiro passando a mão pelo peito e entro no box depois de tirar minha cueca. Ligo a água quente e entro embaixo dela sentindo meu corpo relaxando.
Abaixo a cabeça e passo a mão pelos cabelos molhados sentindo as mechas grudarem na minha testa. Alcanço a escova de dentes em uma prateleira de vidro e a pasta. Começo a escovar ainda com a cabeça baixa para cuspir mais fácil.
Quando passam uns cinco minutos, Morgan entra no banheiro prendendo os cabelos em um coque no alto da cabeça e vai até a pia para lavar o rosto.
Observo ela atentamente e lavo minha boca enquanto ela seca o rosto dela. Então nossos olhos se encontram e ela levanta as sobrancelhas.
-Deveria saber o que significa?- pergunto.
-Vira.- ela explica.
-Virar?- fico confuso.
-É, preciso fazer xixi.- ela aponta.
-Ruiva, acho que esqueceu que eu já vi você todinha e completamente aberta para mim.- explico e as bochechas dela coram.
-Vira logo, Nate.- ela me encara com raiva.
-Isso é só para você tirar proveito da minha bunda.- viro de costas e pego o sabonete.- Sei que é bonita.
-Você tem muita sorte de ser bonito.- ela fala com uma voz sonolenta.
-Acho que é genética.- observo as tatuagens.- Mas, de longe, eu sou o mais gostoso.
-Não sei.- ouço a descarga e me viro a tempo de ver ela ajeitando a calcinha para lavar as mãos.- Ethan é aquele tipo que fica gostoso de terno.- ela cruza os braços e me encara.- Dean fica gostoso naquelas roupas chiques que fica usando. Savannah nem precisa se esforçar para fazer algo e ficar gostosa fazendo.
-E eu?- provoco.
-Você é o tipo que fica gostoso pelado.- ela fala e eu rio alto fazendo ecoar pelo banheiro.
-Vem cá ficar gostosa comigo, então.- puxo ela e Morgan grita rindo.
Jogo a regata no chão e faço a mesma coisa com a calcinha, Morgan passa o braço pelos meus ombros e trago a gente para baixo da água. Sinto seu corpo contra o meu e minha mão acaricia sua lombar.
-Não escovei os dentes.- ela desvia o rosto e beijo sua bochecha.
-Espera.- eu me estico do box até uma gaveta e pego uma escova nova.- Aqui.
-Obrigada.- ela sorri e já vê onde eu coloquei a pasta.
Morgan se vira e começa a escovar os dentes enquanto eu passo o sabonete pelas costas dele, aproveito para passar a mão pela pele macia e provocar um pouco.
-Você teve um pesadelo.- ela fala depois de cuspir.
-Sério?- fico tenso.
-Sim.- Morgan parece tomar cuidado.- Fique com medo...
-Desculpa.- falo rapidamente.- Eu, normalmente, não....
-Nate, tá tudo bem.- ela vira colocando a escova na mesma prateleira que a minha.- Você se acalmou depois, foi só um pesadelo, certo?- o brilho nos olhos dela diz que ela quer que seja só isso.
-Certo.- assinto.
-Ok.- ela parece sorrir mais aliviada.- Agora a gente pode se divertir.- ela começa a beijar meu peito e fecho os olhos.
-Não tem que ir para casa?- aperto a cintura dela enquanto sinto seus lábios chupando meu pescoço nos pontos certos.
-Acordamos cedo.- ela explica quando a coloco contra a parede.- Tenho tempo ainda.
-Ótimo.- seguro o rosto dela com uma mão e a beijo com desespero.
Parece que tudo é resumido a isso, preciso dela o tempo todo e está ficando mais difícil de parar de querer ela o tempo todo. Sinto as mãos dela nas minhas costas e meu corpo arrepia.
Ela não precisa saber dos pesadelos, isso foi um evento fora do comum e não vai acontecer de novo enquanto ela dormir comigo. Então, não precisamos entrar nesse assunto.
O sexo está bom, a conversa está boa. Isso que importa.
✩
Nate Copeland
-Tem certeza que quer ir sozinha?- pergunto ajeitando minha calça de moletom.
-Tenho.- Morgan pega o casaco e a bolsa.- Eu pego um táxi.
-Posso ligar pra você mais tarde?- observo ela passar a mão pelos cabelos molhados.
-Pode.- ela termina de se arrumar e me encara.- Foi legal.
-Claro que foi.- mexo os ombros e levo minhas mãos até os quadris dela.- Foi comigo.
-Idiota.- ela ri quando beijo os lábios dela.- Você é convencido demais para seu bem.
-Fale agora que você não está saindo comigo por causa dessa qualidade e da insistência.- digo fingindo seriedade e ela revira os olhos.
-Te vejo depois.- ela se afasta ao beijar minha bochecha.
Abro a porta para Morgan e arregalo os olhos quando vejo Harper na porta, ela olha para mim e então para Morgan e então para mim de novo e para Morgan de novo.
-Atrapalhei?- pergunta tentando não sorrir.
-Não.- é Morgan que fala.- Já estava saindo.
Ouço um barulhinho e abaixo a cabeça junto com Morgan vendo que Sabrina está aqui também. De alguma forma sinto Morgan ficar tensa na minha frente.
-April não pode vir, então eu vim.- ela explica.- Você tem que se preparar para o tera...
-Eu sei.- falo antes dela terminar.- Pode entrar, eu vou deixar Morgan no elevador.
Abro espaço e puxo Morgan até o elevador, percebo suas bochechas muito vermelhas e então aperto o botão do elevador vendo que Harper entrou e fechou a porta.
-Sua cunhada?- pergunta.
-É, marcamos algo.- explico vago.
-Ok.- ela sorri olhando para a porta.- Legal a relação de vocês.
-É, elas são legais.- admito.
-Espera! Ela me conhece!- Morgan parece lembrar.- Savannah me mostrou para ela!
-Calma, Morgan.- acaricio sua bochecha.- Eu resolvo, ok?
-Ok.- ela morde o lábio.
-Falo com você.- beijo os lábios dela.
-Obrigada.- ela beija meus lábios de novo.
A observo entrar no elevador e sorrio dando tchau antes de fechar, então corro de volta para o apartamento e não a vejo em nenhum lugar.
-Harper...
-É imaginação minha....- ela fala quando entro no meu quarto e percebo que está escolhendo minha roupa.- Ou você está fornicando com a amiga de Savannah?
-Primeiro, fornicando?- pergunto.
-Sabrina.- ela aponta para a filha em cima da cama.
-Ok, deixo passar.- balanço a mão.- Segundo, eu preciso que deixe isso entre nós.
-Impossível.- ela sorri.
-Por favor, Harper.- me aproximo.- Por favorzinho.
-Ok, ok.- ela suspira.- Mas só se você se esforçar nessa terapia.
-Ok, ótimo!- mexo as mãos sorrindo.
-Agora vista isso.- ela se senta na cama e então olha para mim.- Vocês...
-Não aí.- balanço a mão pegando minhas roupas.- Mas não chega perto desse travesseiro. Usei ele nela para...
-Não quero saber.- Harper me encara.- Só vai logo.
Contanto que Morgan não soubesse sobre a terapia, os pesadelos e o meu passado mais traumatizante, estava tudo bem. Podia me esforçar ou fingir que a terapia ia ajudar.
Só queria continuar essa coisa nova com Morgan, e precisava que nada dessa merda de traumas e ajudas da minha família interferisse. Isso, era disso que eu precisava, só ficar sozinho com Morgan.
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