Jantar
Nate Copeland
Abro a porta da casa de Ethan e ouço o choro de Sabrina, vou até a cozinha e abro a geladeira para pegar uma cerveja. Já vi o carro de Dean aqui.
Savannah falou que ia chegar tarde e eu precisava de uma cerveja, então abri ela e joguei a tampa no lixo enquanto caminhava até a sala.
-Ela me odeia.- April fala fazendo bico quando pega Sabrina.
-Eles tendem a sentir a aura das pessoas.- falo sorrindo e ela me dá língua.
-Calma, amor, ela só precisa se acostumar.- Dean fala fazendo careta para o choro.
-Cadê os pais da criança?- pergunto.
-Foram tomar um banho.- Dean explica.
Sabrina continua chorando e eu me jogo no sofá para colocar as pernas em cima da mesinha. Apoio um dos braços nas costas do sofá e com o outro seguro a cerveja.
Vejo April tentando acalmar Sabrina e Dean parece estar segurando a risada enquanto ela fala várias coisas que não escuto, ultimamente não escuto muito.
Pego o celular e faço a mesma coisa que estou fazendo desde quarta, coloco no número dela e o teclado sobe para eu escrever alguma coisa.
Fico encarando aquilo e decido.
"Quer dar uma volta mais tarde?"
Estou praticamente pedindo para ela me chutar, mas vou arriscar dessa vez, ficamos mais leves depois daquela conversa, ela até deu um sorriso para mim quando se despediu.
-Nate.- Dean chama.- Que foi? Ficou surdo?
-O que?- levanto as sobrancelhas.
-Pode ir lá em cima pegar a bolsa de troca?- April pergunta.- Acho que ela quer realmente me traumatizar.
-Claro.- me levanto deixando a cerveja.
Subo as escadas de dois em dois e chego no quarto de Sabrina, abro a porta do quarto e deixo ela fechar enquanto abro o armário e procuro pela bolsa.
Abaixo minha cabeça quando consigo pegar a bolsa e vejo o chão arranhado do armário. Minha respiração começa a acelerar e deixo a bolsa cair.
Me deixa sair! Me deixa sair!
Escuto minha voz dentro da cabeça e faço careta quando me sinto dentro do armário que eles me prendia. Caio no chão com um grito e me encolho quando imagino ele abrindo o armário.
Já falei que não é pra gritar, pirralho!
Cubro meu rosto em posição fetal e grito na lembrança dele jogando as garrafas de cerveja em mim e me chutando. Parece que eu sinto a dor, a mesma dor.
-Não, por favor!- grito alto.- Não!
-Nate!- a porta abre.- Nate!
Grito quando sinto ele quebrar uma das minhas costelas e recebo um apertão, pisco várias vezes e percebo que Ethan está me abraçando com força no chão.
Soluço algumas vezes e Ethan continua me abraçando até que eu me acalme, estou tremendo quando ele me ajuda a sentar e passa a mão pelos meus cabelos.
-Nate?- vejo o olhar preocupado dele.- Nate?
-Eu...- minha voz sai rouca e a garganta dói.
-Você se machucou?- ele se afasta e olha para mim de verdade.- O que aconteceu?
-Nada.- sussurro.
-Como nada? Parecia que você ia morrer de tanto gritar.- ele balança a cabeça.
-O que aconteceu?- Harper aparece amarrando o roupão e percebo que Ethan está só de toalha.
-Nada.- repito mais convencido.
-Conseguimos ouvir lá de cima.- ela vê a bolsa de fraldas no chão.- O que houve?
-Nada, de verdade.- me levanto e Ethan faz o mesmo mais cuidadoso.- Eu vou levar a bolsa para Dean e April.- pego de novo e passo por eles.
Recupero minha respiração e desço as escadas com calma, estou distraído quando eles perguntam se eu ouvi alguém gritando e sento no sofá bebendo a cerveja de uma vez.
Abaixo a cabeça encarando meus pés e sinto meu celular vibrar, engulo em seco tentando esquecer aquilo e pego o celular para ver se Savannah está chegando.
Mas não é ela. É Morgan.
"Minha carona de volta para casa adoeceu, então, sim, quero dar uma volta. Mas não é pra tentar nada, mocinho."
Sorrio fraco e guardo meu celular, bebo o resto da cerveja e dou uma desculpa de que vou pegar outra. Mas preciso ficar um pouco ao ar livre.
Quando Morgan terminar lá, eu já vou estar esperando. O jantar aqui deve acabar bem rápido por causa do horário de dormir de Sabrina e, consequentemente, Harper e Ethan.
Então é só esperar.
✩
Nate Copeland
Estou praticamente enfiando a comida na boca, Harper e Ethan me olham cuidadosos enquanto as conversar alternam entre April, Savannah, Carter e Dean.
Estico a mão para pegar a minha cerveja e ergo os olhos para ver Harper me observando, odeio que eles tenham me visto daquele jeito.
-Nate? Como foi a palestra?- Dean pergunta e todos olham para mim.- Não vá dizer que dormiu...
-Não.- balanço a cabeça.- Essa eu assisti toda.- assumo um tom brincalhão.
-Sabia que tinham pessoas que ainda me amam.- Savannah sorri e beija minha bochecha.
-Foi sem querer! Tinha acabado de voltar de um treino...
-Enfim, foi legal, não?- ela o ignora e April sorri.
-Foi, ainda mais naquela ressonância que mostrou.- mexo a mão.
-Ah. A ressonância durante o sono.- ela sorri.- Passamos dois meses para conseguir que o paciente dormisse dentro da máquina.
-Nate teria dormido em uma hora.- Dean fala.
-É ainda mais rápido quando tomo vodka.- sorrio.- Me faz ficar com sono.
-Por que estão calados?- April pergunta para Harper e Ethan.
-Acho que não conversam mais com quem não tem filhos.- Dean cutuca April e ela sorri o empurrando.
-É o cansaço.- Harper explica abrindo um sorriso.- Sabrina, aparentemente, puxou a teimosia de Ethan para dormir.
-Minha?- ele pergunta.
-Até por que você é um poço de não-teimosia, né, Harper?- Savannah pergunta e ela faz careta.
-Ou seja, ela veio duas vezes mais teimosa.- Dean cantarola.- Vocês estão ferrados.
-Bem, temos que ir.- Savannah informa.- Amanhã eu preciso dar a palestra de novo.
-Ela vai ficar famosa.- Carter fala orgulhoso.- Não tanto quanto eu...
-Panthers tá uma bosta, ela vai ficar mais famosa.- Dean explica e os dois se encaram com raiva.
-Ok, vamos também.- April puxa Dean.
-Ótimo.- me levanto rapidamente.
-Nate.- Ethan me chama.- Espere...
-Tchau, pessoal! Amo vocês!- grito passando por todos eles e indo até o carro.
Dou a partida e logo estou na rua, demora só um pouco para chegar na boate em que Morgan está trabalhando e talvez eu compre um sorvete do outro lado da rua.
Não queria mais ficar com Harper e Ethan com eles me olhando daquela forma, a única pessoa que me tratava normal e não sabia dos meus surtos era Morgan.
Então eu ia só levar ela para casa e voltar para o apartamento, talvez tomasse um café e passasse a madrugada toda fazendo revisão dos relatórios.
Só não podia dormir.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro