Adeus
Morgan Clark
Me observo com aquele vestido preto e respiro fundo enquanto junto meus cabelos e prendo eles em um rabo de cavalo. Nate aparece do closet arrumando a gravata preta e fazendo careta.
-Não precisa ir.- falo baixo.
-Tô com você, lembra?- ele sorri.
-Depois do enterro, você pode me levar em algum lugar mais feliz?- pergunto ajeitando os cabelos
-Claro.- ele senta na cama para colocar os sapatos.- Quer ir na praia?
-Praia. Parece bom.- me viro para pegar o sobretudo preto.
-Sabe quem vai estar lá?- ele passa a mão pelos cabelos molhados e isso só faz com que ele fique mais bonito.
-Alguns amigos do meu pai.- explico abotoando o sobretudo.- Não tem muita gente.
-Ok.- ele pega minha bolsa.- Vamos logo.
Ele segura minha mão e deixo que me puxe como tem puxado desde que tudo aconteceu, entramos no elevador e fico bem perto dele para deitar a cabeça em seu ombro.
-Quer que eu deixe você amanhã no escritório?- pergunta.
-Não, eu vou andando, é perto.- explico.
-Posso deixar você, não vai atrapalhar na minha rotina super importante.- ele fala no meu ouvido e rio.
-Se não vai atrapalhar na rotina.- mexo a cabeça.
-Legal.- ele beija minha bochecha.- Melhor da dor de cabeça?
-Muito melhor.- caminhamos até o carro.- Obrigada por cuidar de mim.
-Você tá cuidando de mim também.- ele aperta minha mão e abre a porta para mim.- Vamos.
Entro na caminhonete e puxo o cinto, vejo Nate dando a volta no carro e respiro fundo ajeitando o vestido preto apertado que vai até acima dos meus joelhos.
Não tinha um outro vestido preto para essa ocasião, então o vestido preto que eu peguei era o vestido que eu usava para ir para festas. Não era a melhor escolha, mas só tinha essa roupa para ir.
Nate entra no carro e dá a partida, cruzo meus braços e começo a bater um dos pés no chão. Estava nervosa demais para ver os amigos do meu pai, só via alguns de vez enquanto e eles não eram muito adoráveis.
-Olha, os amigos do meu pai são meio estranhos.- explico.- Então fica frio, ok?
-Claro, se nenhum deles tentar assediar você, vou ficar super frio.- ele fala calmo.
-Nate...
-Relaxa, eles nem vão tentar comigo fazendo a cara Copeland de ameaça.- ele fala sorrindo e eu rio.
-Cara Copeland de ameaça?- pergunto sorrindo.
-É, já vi que Savannah, Dean e Ethan fazem essa cara.- explico.- Então eu fui testando para fazer quando ameaço.
-Eu quero ver.- me ajeito no banco quando ele para no sinal.
-É muito assustadora, você tem certeza?- ele fala dramático.
-Sim, tenho.- assinto.
-Ok.- ele se prepara.
Sorrio quando ele franze as sobrancelhas escuras e seus olhos ficam ameaçadores, o rosto todo de Nate fica sério e frio e eu fico com um pouco de medo.
Misturando aquele rosto com a altura dele e com aquela tatuagem que escapa do colarinho do terno....o cara é o maior gostoso e eu estou com ele. Estou com o gostoso da família.
-E aí?- ele sorri.
-Gostei.- mexo a cabeça.
-Ninguém mexe com você.- ele beija minha testa.- Legal, não?
-Sim.- mordo o lábio e ele volta a dirigir.
Nate parece tão calmo que me transmite calma, por isso fico me perguntando se ele já passou por isso. Coloco a mão em cima da que ele deixa na minha coxa e passo o dedo pela pele dele.
-Já passou por isso?- pergunto e ele fica sério por um momento.
-Já.- ele admite.- Um menino da minha antiga casa morreu quando eles esqueceram de dar comida e....
-Você passava fome lá?- fico surpresa.
-É.- ele limpa a garganta.- Os mais velhos pegavam a comida dos mais novos. Então...
-Nossa, que horrível Nate.- cruzo meus braços.- Eu não consigo imaginar....
-Já passou.- ele sorri.- Estou aqui com você.
-Ok.- continuo acariciando a mão dele.
É difícil pensar que Nate pode estar sorrindo depois de tudo isso, e algo na minha cabeça me faz pensar que não foi só isso que aconteceu nos lares adotivos de Nate.
Abaixo minha cabeça e coloco minha mão embaixo da dele e aperto, Nate sorri levantando nossas mãos para a marcha e trocando. Estamos chegando perto do lugar e nem lembro do nervosismo.
Estou começando a ficar com medo, estar com Nate passou a ser necessário e acho que estou mais confortável com ele aqui do que ficaria normalmente.
✩
Nate Copeland
Aperto meu braço envolta dos ombros de Morgan quando um daqueles caras olha para ela e mexe na calça. O padre ainda está falando do crime que o pai dela cometeu e que ele será perdoado algum dia quando o nojento faz isso.
Morgan é a única mulher aqui, tem alguns caras mais velhos e outro em uma cadeira de todas velho demais para ser amigo deles. Deve ser um cara que só trouxeram para cá.
Demora um pouco para começarem a enterrar ele de verdade, respiro fundo e Morgan morde o lábio vendo a areia cobrindo o caixão. Vejo lágrimas se acumulando em seus olhos e acaricio suas costas.
-Morgan.- alguém a chama e paramos.- Acho que seu pai nunca falou de mim.- um cara se aproxima e observa ela com um sorriso pervertido.- Sou seu tio.
-Ele falou.- ela cruza os braços mais séria.- Mas ele também falou que era para ficar longe de você.
-Seu pai não tinha mais sanidade.- ele mexe os ombros.- E você precisa de um lugar para ficar, em família.
-Eu já tenho um lugar.- Morgan explica.
-Ficar indo de ficante em ficante não é lugar.- ele fala calmo e aproximo Morgan de mim.
-Eu não sou ficante.- murmuro.
-Minha casa é bem perto.- ele explica olhando rapidamente para as pernas dela.- Pegamos suas coisas, você tem um quarto lá, somos uma família...
-Eu não preciso.- ela segura minha mão.- Mas obrigada.
-Morgan.- ele segura o braço dela e não penso duas vezes.
O tio dela cai no chão segurando o nariz, e olho para baixo vendo sangue no meu punho, olho para Morgan e ela parece surpresa por eu ter feito isso.
-Não toque nela de novo.- digo com raiva e começo a levar ela embora.
Morgan vem na minha direção com passos mais rápidos e percebo que estou puxando ela demais. Começamos a diminuir o passo e ela respira fundo enquanto nos aproximamos do carro.
Abro a porta dela e ouço um grito feminino, só vejo Morgan ser atingida por outra mulher ruiva. Arregalo os olhos quando Morgan tenta se soltar e empurra a mulher contra o carro.
-Mãe?- ela parece surpresa.
-Porra, Morgan, você é forte.- a mulher com roupas curtas demais ri.- Como empurra sua mãe assim?
-Minha mãe?- Morgan parece que vai chorar.- Doze anos.
-Ah, é, nem parece.- ela sorri ajeitando os cabelos e percebo que parece bem jovem.- Quem é essa gracinha?- ela aponta para mim.- Já vi você em algum lugar, querido....
-Vamos.- Morgan entra no carro.- Vamos, Nate.
-Sério, você vai fugir de mim?- ela parece machucada.- Morgan, qual é...
Entro no carro e dou a partida, Morgan respira fundo e cobre o rosto com as duas mãos enquanto dirijo até o apartamento, ela não parece nada bem.
-Morgan...
-Eu tô tão ferrada.- ela fala rouca.- Tão ferrada...
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