Coesão
Para evitar que continuem chorando, eu acelerei a escrita. Por favor não reparem nos erros, ainda não corrigi.
Boa leitura!
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Yoongi sentiu o corpo arrepiar com frio, seus olhos se negavam abrir, mas ele já não dormia mais.
Alguém jogou um balde de comida através das grades, caindo no chão lamacento, ficando impossível se alimentar com o que quer que fosse. Yoongi não estava com fome de qualquer forma.
Os guardas da rainha fizeram alguma piada sobre ele ser um cachorro ou algo assim. O Rei não entendeu.
Ele foi levado arrastado até o salão principal alguns dias depois. Era engraçado que mesmo que ele mal conseguisse andar, fraco e agora faminto, ainda assim, tinha pelo menos uns trinta soldado à sua volta.
Os soldados que seguravam suas correntes, o jogaram aos pés da nova Rainha no salão principal do castelo. Yoongi caiu de joelhos, se levantando em desafio, mesmo que com dificuldade.
Um dos soldados se aproximou para força-lo a ficar de joelhos novamente, mas a Rainha o impediu com o movimento dos seus dedos.
- Os anciões sabem que você fugiu da prisão? - Yoongi perguntou curioso.
- Não que seja da sua conta, mas os Reis das ilíadas me salvaram desse futuro entediante e eu lhes darei seu Reino. Eu disse que o selo contra a maldição dentro do castelo tinha um preço. Esse foi o acordo que eu fiz com as ilíadas. Acho que foi uma troca justa, se você tivesse me ouvido, claro.
Yoongi negou com a cabeça.
- Isso é tudo que você faz. Joga com a vida dos outros sem medir as consequências, quando os anciões vieram…
- Se os anciões vierem… - A Rainha disse o interrompendo. - … eu terei um exército esperando por eles.
A Rainha estalou a língua, abanando o assunto com as mãos, como quem afasta mosquitos inconvenientes.
- Agora, se me disser onde a ordem dos dragões se esconde, eu o libertarei. - A Rainha disse prepotente. - Parece um ótimo acordo pra mim. Você não acha?!
Já era esperado, que se a ordem tivesse viva, eles se vingariam pela morte do Rei Jimin na primeira oportunidade.
Lealdade era o primeiro mandamento da ordem. Por isso o interesse da rainha em saber seu paradeiro.
Yoongi sorriu para Rainha, a encarando com seu olhar assassino, ainda que parecesse entediado externamente, ele mal conseguia pensar direito, tudo que tinha na cabeça era Jimin, Jimin e mais Jimin.
- Ou me conta onde estão os puros ou precisarei sacrificar algumas ovelhinhas. - A Rainha apontou para o lado, ômegas foram empurrados para frente, a maioria ainda crianças.
Yoongi olhou aterrorizado para seu povo, se mexendo confuso nas correntes.
- O Rei de vocês, meu Jimin, morreu na invasão. - Yoongi disse fazendo os ômegas começarem a chorar. - Eu sinto muito não conseguir protegê-lo.
A Rainha sorriu perversamente enquanto uma choradeira começou incomodar os ouvidos dos alfas no recinto.
- Já chega. - A Rainha gritou, fazendo ômegas suspirarem horrorizados e se calarem, sobrando só um murmúrio em desalento.
- Aparentemente você não consegue proteger nem a si mesmo filho. - A mulher disse debochada. - E então?! O que vai ser? Seus ômegas ou seus puros. Escolha.
Yoongi olhou para os ômegas, assistindo um por um se ajoelhar em rendição e sacrifício em nome do Rei.
Ele virou o rosto envergonhado, se aproximou da rainha e cuspiu aos seus pés.
Um soldado chutou suas costas, o fazendo cair no chão.
O barulho do tilintar das correntes era agonizante. Yoongi teve dificuldade de respirar, mas ficou ainda pior depois de levar vários chutes no chão, quebrando duas, talvez três de suas costelas.
- Levem-no de volta para sua cela. Amanhã ele e todo seu povo serão queimados no alto da montanha para que todos vejam.
- As crianças também majestade? - Um soldado perguntou assustado.
- Todos que quiserem renunciar ao Rei dos dragões e jurar lealdade a mim que se manifeste agora. - A Rainha disse para os sobreviventes. Ninguém se mexeu.
- Então que se calem para sempre. - Ela resmungou, fazendo um sinal com os dedos para que levassem todos dali.
…
Yoongi achou que até os deuses estavam tirando com a sua cara aquele dia.
O céu era de um azul maravilhoso, passarinho cantavam alegres nas árvores próximas.
Ele estava deitado na gaiola em que era transportado para o alto da colina, suas mãos sangravam em atrito com as correntes de ferro, seu corpo estava dolorido e os buracos na estrada de terra não ajudava muito. Yoongi se viu rumo à morte, junto com várias outras gaiolas, cheios de ômegas aflitos e crianças perdidas, sem entender o que acontecia, muitas com seus pais mortos durante a guerra.
O Rei engasgou ao ver o lago onde passou um tempo com Jimin em forma de lobo.
Suga!
Yoongi sorriu desanimado. Ele queria muito morrer, mas sem se sacrificar por amor era impossível e não sobrou nada que ele ainda pudesse amar, nada que já não tivesse perdido. Ele provavelmente queimaria na fogueira junto com seu povo e quando voltasse a vida a Rainha recomeçaria com o interrogatório, até ele entregar o paradeiro dos seus fiéis soldados.
O que era nunca.
A carroça entrou numa trilha estreita. Yoongi inclinou a cabeça, sentindo um cheiro diferente.
Ele não teve tempo de notar o porquê do reconhecimento, pois a floresta foi coberta de soldados e a matança começou.
Yoongi se transformou com a adrenalina da guerra. Era um modo automático, seu humano estava fraco demais para questionar as decisões do lobo.
Seu lobo agarrou o máximo de corpos que passavam entre os vãos da gaiola, arrancando suas cabeças e membros com dentes e garras.
Não sobrou ninguém, além das pessoas na gaiola ao seu lado e ele.
Namjoon se aproximou em seu cavalo branco, ao lado da ordem dos dragões e alguns soldados.
A ordem se ajoelhou diante do Rei enquanto que alguns soldados das flores libertavam os ômegas e as crianças.
Yoongi uivou agoniado, chorando esganiçado. Todos os puros se transformaram no mesmo instante.
Namjoon se segurou para não cair com a agitação do seu cavalo.
O Rei foi libertado da gaiola. E então ele saiu, mandando que a ordem dos dragões recuasse.
Ele não pertencia mais a uma alcatéia. Seu parceiro havia morrido, agora ele vagaria pelas terras altas solitário, até que a morte desse um jeito de lhe alcançar também.
Não era uma lei humana, era lei dos lobos, era o que seu coração queria fazer.
Lobos solitários, ficavam amargurados e agressivos com o tempo e nenhum outro parceiro seria escolhido após perder sua alma gêmea. Se ele não era fiel a mais nada, era difícil viver em bando e acabava sendo naturalmente excluído do convívio. Taehyung era a única outra pessoa em que ele tinha uma ligação, e mesmo com o sentimento forte que perder Jimin lhe causou, ele foi capaz de sentir a perda de Taehyung também. Não havia mais nada pra ele no mundo.
Era assim que eram as coisas, também não havia nada que ele pudesse fazer sobre isso.
Yoongi se inclinou para o Rei das flores, mas não se transformou. Ele pretendia nunca mais se transformar, até que seu lobo assumisse, seu lado humano ficasse dormente e um dia finalmente desaparecesse. Era o único jeito que ele tinha de morrer, mesmo que parcialmente.
- Cuidarei do seu povo e nunca negarei abrigo para ninguém da sua linhagem. Você será para sempre bem vindo em minhas terras e em nossos corações. - Namjoon disse, sabendo mesmo que sem palavras, quais eram os exatos planos de Yoongi.
- Espero te rever um dia Rei dos dragões e grande amigo.
Yoongi balançou a cabeça em reverência, mesmo que não se considerasse mais nenhuma daquelas coisas.
Ele ordenou que ninguém o seguisse em suas mentes, proclamou a ordem dos dragões livre para decidirem por suas ações e então partiu.
Simples assim.
Ele era parcialmente grato por Namjoon, ao voltar e salvar seu povo de uma morte horrível, mas não era grato por ter sido salvo também. Aquilo só parecia mais tortura para ele.
Seu pêlo agora era branco, como neve. O inverno chegou e o camuflava por completo, o deixando parcialmente inexistente para o mundo externo.
Yoongi achou que desapareceria com o tempo. Que o lobo tomaria conta de sua mente e corpo, mas não aconteceu isso. O lobo parecia ter muito medo da solidão.
Ele resmungava vez ou outra com saudade do Jimin, tentando mostrar algumas lembranças a Yoongi, mas Yoongi conseguia bloquear todas suas tentativas frustradas.
Foi só no segundo inverno, que ele tentou se matar pela primeira vez.
Se jogou de um precipício quando seu lobo estava distraído com o som de coelhos na floresta próxima.
Seu corpo estatelou no chão e ele apagou. Quando acordou, ainda estava na forma de lobo, mas sua marca de união com Jimin no pescoço, havia desaparecido.
Ele morreu por não ter seu ômega no verão seguinte, mas seu corpo voltou à vida alguns dias, talvez semanas depois.
Então era isso que era ser imortal?!
Não é como se você pudesse escolher qualquer coisa, a natureza estava certa em considerá-lo uma aberração.
Essa era a verdadeira maldição afinal.
Yoongi passou milhões de cios na montanha
Ele passava o mais longe possível da civilização, que crescia em número cada vez mais. A necessidade de um ômega não era tão excruciante assim, ele conseguiu a controlar seus instintos com o tempo.
No entanto, seu lobo lhe levava para direções aleatórios à deriva.
Ele caçava, se alimentava, tomava água na beira do rio e vez ou outra ouvia histórias à distância de pessoas conversando.
Sua língua mudou com os anos, ficou mais estranha, menos côrtes, mais prática.
Guerras vieram, reinos foram desfeitos.
Os ômegas foram massacrados quase que por completo por alfas indóceis.
Os Betas surgiram. Eles eram uma espécie que não tinha um animal interior.
Uma espécie também chamada de humanos ou homo sapiens por alguns.
Eles eram gananciosos e invejosos, mas ainda não dominavam a cadeia alimentar.
Os puros eram a grande ameaça para Betas no poder e a falta de ômega, ajudou com sua extinção quase completa. Agora os puros que ainda estavam vivos, eram chamados de lúpus e se escondiam da sociedade, com medo de serem torturados.
Yoongi achava esses espertos. Existiam coisas piores que a morte, coisas que só um imortal saberia.
Os humanos temiam a morte por ignorância ao fato.
Um puro foi capturado, cem anos depois que Yoongi se tornou um errante. Alguns cientistas fizeram misturas de genes com sangue de puro, criando uma nova espécie chamada de Híbridos.
Eram genes metade beta, metade ômega ou alfa.
Era engraçado para Yoongi ver essas espécies, mesmo que de longe. Principalmente porque eles não sabiam o que seriam até completar a fase pré adulta.
Eles poderiam se tornar alfas, ômegas ou betas, dependendo de como a mutação se manifestasse.
E mesmo assim, não existiam puros nas espécies. O que era a grande tentativa dos cientistas, ironicamente.
Em algumas dessas mutações híbridas até tinham manifestações parciais, como caudas, orelhas ou garras, mas esses híbridos não podiam escondê-las como puros faziam. Não existia transformação. Só mutação em crescimento desordenado de células.
Yoongi acharia muito estranho, se aquilo realmente importasse, mas não importava..
Sua segunda tentativa de suicídio veio meio século depois.
Seu lobo o levou para uma travessia oceânica. Como se aquilo fosse caso de vida ou morte.
Ele seguiu o instinto porque não se importava pra onde o lobo estava indo, desde que o deixasse em paz fundo em sua mente, mas uma nevasca os atingiu em cheio, congelando seu corpo debilitado por algumas centenas de anos.
Quando ele voltou a vida, já estava em outro continente, mas teve sorte, não foi capturado ou desmembrado por animais famintos.
De todas as suas mortes, as de desmembramentos eram as piores, era como ser comido vivo, lentamente e depois de alguns anos, você simplesmente acorda com seu corpo intacto novamente.
Bem! Não intacto, seu corpo era repleto de cicatrizes. Como se a natureza precisasse lembrá-lo de que aquilo não era natural.
Ele podia senti-las, mas o pêlo branco logicamente as escondiam. No entanto, ele como humano devia ser horrível agora. Não que Yoongi se importasse, como o usual.
Ironicamente Yoongi conseguia entender melhor seu lobo depois de algumas centenas de anos vivendo dentro dele. Sabia que poderia se transformar em humano quando quisesse, eles não brigavam mais por poder.
O que era irônico, já que era o lobo quem estava no poder agora.
O lobo sentia falta de Yoongi como humano, mas Yoongi por sua vez, era resiliente e não aceitava o choro do lobo com facilidade.
Yoongi se transformou em humano certa vez. Porque precisava passar no meio de uma cidade povoada e um lobo de quase três metros de altura chamaria muita atenção, não lhe deixando outra escolha. Era engraçado andar sobre duas pernas de novo.
Ele roubou algumas roupas, imitou alguns passos menos pomposos que o Rei era acostumado e voilà.
Ainda assim, preferia sua forma de lobo.
Seu lobo o levou para o que era chamado de Ásia agora.
Ele sabia aquilo porque a língua mudou drasticamente e ele precisou, o que pareceu uns cem anos para entender o que aquele povo conversava.
Yoongi perdeu as contas de quantas línguas aprendeu ao longo dos séculos.
Perdeu as contas de quantas vezes tentou tirar a própria vida ou em que ano estavam.
Ironicamente, ele podia sentir cheiros familiares vez ou outra. Ele sabia que a ordem dos dragões o havia seguido.
Alguns se separavam, quando encontravam sua alma gêmea e voltavam quando ela morria. Yoongi agora tinha o luto em comum com quase todos da ordem.
O único que ele nunca detectava a presença, era Shownu. Ele não sabia se o lobo tinha sobrevivido a guerra.
Também tinha Jungkook, que na verdade não era da ordem, mas era um puro. O puro de Jimin.
Yoongi podia contar nas garras todas as vezes em que o nome de Jimin era passado por sua mente, por incrível que pareça. Eram poucas as vezes em que isso acontecia, geralmente em momentos de deslize. Quando estava faminto ou com frio e sede, seu lobo acabava tomando posse da sua mente e pensava em Jimin de forma imatura e chorosa, mas era facilmente controlado por Yoongi sempre que isso acontecia.
Não existiam mais reinos agora. Quase todo o mundo foi dividido em sociedades e o povo decidia seu governante, o que parecia um grande caso em algumas épocas do ano.
As terras eram divididas em cidades e então países. Nada de reinos. Honestamente, Yoongi não via muita diferença de quando era governante, mas ele não estava realmente prestando atenção nas nuances.
Os ômegas, por serem raros, agora era praticamente idolatrados e tinham mais respeito perante a sociedade, já que chegaram a óbvia conclusão de que eram eles que mantinham os alfas vivos e a ciência ainda não tinha conseguido contornar essa pequena lei natural.
Ainda assim, alguns abusos eram cometidos, mas ao contrário da sua época, agora isso era pago com pena de morte. Bem! Na maioria das vezes pelo menos.
Se você tinha dinheiro e influência, a lei não te afetava. Yoongi não achava isso tão absurdo, era assim na época em que nascera, mas ao invés de dinheiro de papel, era ouro e ao invés de policiamento e lei, havia o Rei. Fora isso, era só um pouco mais do mesmo, só que maquiado para disfarçar o empoderamento perante a sociedade que por sua vez, implorava para não saber a verdade, muitas das vezes tampando os olhos com as próprias mãos, para que não perdessem a falsa sensação de liberdade que tinham.
Ele estava caminhando pela floresta ao norte de uma cidade quando sentiu um cheiro familiar.
Yoongi o reconheceu imediatamente e soube naquele momento que seu lobo não caminhava à deriva no final das contas.
Seu lobo mal teve tempo de pensar e ele já estava se transformando.
O cheiro vinha de um prédio, perto da parte central da cidade.
Yoongi se transformou em lobo, arriscadamente dentro de um prédio abandonado ao lado do que era seu verdadeiro alvo, para poder ouvir o que as pessoas diziam dentro do lugar lotado.
Foi difícil se concentrar com tanto falatório, mas ele acabou descobrindo que aquilo era um orfanato e que as crianças ali, podiam ser adotadas. Desde que você tivesse, dinheiro, documentação e boas referências.
Yoongi não sabia muito bem o que eram essas coisas.
Ele se transformou em sua forma humana mais uma vez e foi até o ninho, onde a ordem geralmente ficava.
Yoongi sempre soube daquele lugar, mas fingia não saber para que os puros não se aproximassem e todos respeitaram seu espaço por quase meio milênio.
Assim que Yoongi pisou no território da ordem Baekhyun se aproximou, ajoelhando diante do Rei assim que reconheceu seu cheiro.
Yoongi só tomava banho de mar ou lago há anos, sua barba era enorme e seus cabelos desgrenhados e por quase nunca se transformar em sua forma humana, sua pele era quase translúcida de tão branca.
Ele estava irreconhecível, mas ainda assim seu cheiro não era possível mudar.
- Seja bem-vindo, majestade.
- Yoongi. - ele disse, o corrigindo. - Não sou mais Rei de nada. - ele completou quando Baekhyun pareceu não entender.
Sua voz era rouca, quase falha. Ele nem lembrava a última vez que precisou realmente falar para se comunicar. Talvez tenha sido duzentos anos atrás, quando precisou passar no meio de uma cidade litorânea.
Yoongi comeu e ouviu a conversa entre os puros. Baekhyun mostrou como funcionava o chuveiro. Depois o barbeou e cortou seus cabelos.
Ele também lhe ensinou sobre garfos, facas e roupas apertadas.
Chanyeol que tava achando aquilo extremamente divertido lhe explicou o significado de algumas gírias que ele não tinha entendido durante suas escutadas ilícitas à conversa alheia.
Todos riam e pareciam felizes pelo Rei finalmente tê-los aceitado de volta, mas Yoongi era inexpressivo, tanto por dentro quanto por fora. Honestamente ele não sentia nada quanto à isso. Ele não sentia nada quanto a nada.
Só estava ali, porque tinha uma dívida a ser paga e não podia esquecer uma dívida.
Era assim que alfas eram afinal. Leais até a morte.
- Algo te aflige majes… Yoongi? - Chanyeol perguntou curioso, o que fez todos ao redor da mesa pararem de falar para escutar Yoongi.
Yoongi mexeu a sopa de ervilha em seu prato com lentidão, os olhos perdidos em pensamentos, estranhando comer algo além de carne fresca de animal.
- Preciso adotar uma criança. No orfanato central de Busan. - Yoongi disse, falando do orfanato da cidade em que eles estavam agora, no lado sul do que era chamado a Coréia.
Os lobos se entreolharam sem entender, mas mesmo que quase meio milênio tivessem se passado, ninguém ali estava disposto a discutir com o Rei.
- Do que precisa? - Uma ômega, alma gêmea de um dos puros perguntou.
Yoongi a encarou, se perguntando se ela sabia que em breve seria a maldição de seu amante, assim que perdesse a vida, mas logo balançou a cabeça, lembrando do porque estava ali.
Sim! Ele foi até seus fiéis seguidores para pedir favores e não estava nem um pouco envergonhado por isso.
Acho que talvez um Rei, sempre um Rei, afinal.
- Preciso de documentos, emprego estável, dinheiro e boas recomendações.
- Podemos forjar tudo isso. - Suho disse com tranquilidade.
- Vai precisar de moradia também. - Baekhyun falou, fazendo com que todos se entreolhassem.
- O que foi? - Yoongi perguntou incomodado.
Ele tentava demonstrar o que estava sentindo, com uma sobrancelha levantada ou algo assim, mas tinha se passado tanto tempo com ele vivendo só em sua mente que ele genuinamente tinha esquecido de como ser humano.
- Nós nos reunimos um tempo depois da destruição da Hungria como a conhecíamos e resgatamos algumas coisas tanto do Reino dos dragões, quanto das flores e o pouco que sobrou de Alicante. - Chanyeol disse.
- Quadros, pinturas, jóias, pertences importantes pra você. - Suho disse baixinho.
- Nada é importante pra mim. - Yoongi resmungou pensativo, mas todos o escutaram.
Baekhyun tossiu, olhando feio para os irmãos de matilha.
- De qualquer forma. - Ele começou tímido. - Já que seu lobo pareceu convencido em ficar por essas terras. Compramos uma propriedade aqui perto. Vivemos atualmente nos arredores dela, mas sua extensão é gigantesca e tem uma mansão perto do lago leste. Você pode dizer que mora lá.
- Você vai matar a criança? - A ômega parceira do alfa perguntou.
Todos a encaram abismada e Sehun rosnou para ela, mostrando que era seu alfa.
A ômega abaixou a cabeça e se mexeu incomodada, exalando medo pela mesa.
Seu cheiro era enjoativo e irritante, acabou fazendo Yoongi torcer o nariz.
- Me leve até o lugar. - Yoongi ordenou, mas então tossiu tímido, com a mão na boca. - Por favor? - ele completou com certa dificuldade.
Baekhyun sorriu na sua direção, concordando positivamente.
- Vou preparar o lugar para a chegada da criança. Qual a idade dela?
Yoongi tentou recuperar algumas das conversas de uma das diretoras do orfanato, que sempre falava alto demais, deixando tudo mais fácil para sua audição capturar.
- Dezesseis anos. - Yoongi disse quase certo.
A ômega suspiro horrorizada e começou a chorar, de certo pensando que Yoongi estava se forçando pra cima da criança ou algo assim.
Sehun ordenou algo com sua voz de alfa e a mulher saiu correndo desesperada enquanto puxava suas crianças que brincavam próximas, para dentro de uma das casas.
- Desculpa por isso majestade. - Sehun disse solene.
Yoongi ficou com preguiça de corrigi-lo, então só concordou desinteressado.
- Vou preparar a documentação. - Suho disse se retirando da mesa.
- É uma menina ou menino? - Chanyeol perguntou, curioso e tagarela como sempre.
- Menino. - Yoongi disse se arrepiando com a lembrança.
…
O resto da semana foi mais simples. Yoongi aprendia rápido e não precisou de muito para saber se vestir.
Baekhyun foi ao shopping com ele e fizeram uma compra completa, tanto para ele, quanto para o garoto que Yoongi pretendia adotar.
A mansão era realmente gigante, era quase metade do seu antigo castelo. A diferença é que era feita basicamente de madeira e muito vidro ao invés de pedras lapidadas a mão.
Os espelhos eram muito mais claros do que as pedras e o reflexo da água no qual ele estava acostumado, mas de qualquer forma a curiosidade durou pouco, logo ele estava se escondendo de seus próprios reflexos.
Baekhyun mostrou o quartos com todos seus quadros ouros, jóias preciosas, coroas. Tinha coisas do reino das flores separados que Yoongi não reconhecia e muitos baús de jóias ali.
- Nós todos trabalhamos para nos misturarmos, então sua riqueza quase não foi usada e o que usamos, já foi reposto.
- Eu não me importo. Vocês podem pegar tudo se quiserem. - Yoongi disse passeando pelo salão oval, cheio de riquezas velhas.
- Não queremos nada. - Baekhyun disse com toda educação que conseguiu.
Eles eram leais ao Rei e isso incluía suas posses também.
- No entanto, tudo que é nosso, é seu majestade. - Baekhyun completou.
- Yoongi. - ele o corrigiu novamente.
Baekhyun só concordou com a cabeça.
- Tem uma coisa, que preciso que veja. - Baekhyun disse com medo, praticamente tremendo, o que ganhou a atenção de Yoongi.
- O que é?
- Suho redesenhou como era, pegou todos os móveis, os selou com vedação própria e trouxe para cá. - Baekhyun disse enquanto caminhava pelo corredor longo da casa.
- Um arquiteto beta a montou exatamente como no projeto de Suho, para que não houvesse cheiro estranho no local. Ninguém nunca mais entrou aqui. - Ele disse girando a chave e abrindo a porta.
Betas realmente não tinham cheiros fortes ou que incomodasse um alfa. - Yoongi pensou, olhando para a porta aberta, com curiosidade.
Assim que ele entrou suas pernas fraquejaram e seus joelhos foram ao chão.
Sua mão foi em seu rosto e ele chorou feito uma criança sem pudor algum.
Era seu ninho. Seu ninho com Jimin, uma quase exata réplica do seu antigo escritório destruído, onde ele viveu momentos felizes de uma época tão longínqua que ele nem tinha mais certeza se um dia foi real .
Ainda tinha a memória de um cheiro misturado ali, mas talvez fosse só sua mente lhe pregando peças.
- Me deixe sozinho. - Yoongi ordenou entre o choro e Baekhyun se retirou obedientemente.
…
Yoongi passou três dias dentro do quarto, sem comer, tomar água ou ir ao banheiro, mas eventualmente ele tomou forças e saiu.
Baekhyun o esperava na porta, cansado e tão destruído quanto ele.
- Fecha essa porta e joga a chave fora. Não quero que ninguém nunca entre nessa lugar. - Yoongi disse.
Baekhyun concordou, mas ficou pensando porque o Rei simplesmente não mandava destruir tudo então, mas ele obviamente não contestou.
- Está tudo pronto para que entre com o pedido de adoção. - Baekhyun disse na mesa de café que Luísa, a ômega apavorada de Sehun, preparou para ele na mansão
Yoongi se perguntou se havia veneno na comida, não que ele fosse morrer com isso, mas não tinha. Talvez ela fosse mais esperta que isso afinal.
- O garoto vai precisar de material para escola, brinquedos, uma escola pra ir. - Yoongi enrugou a testa confuso, pensando se aquelas memórias vinham de conversas de pessoas daquele século ou não.
- Será tudo providenciando, mas primeiro, você precisa conseguir a adoção. Talvez Luisa possa fingir ser sua…
- Eu vou sozinho.
- É que casais têm mais chances de…
- Não é um tema para discussão. - Yoongi disse e Baekhyun se calou imediatamente.
- ...Não é implicância. - Yoongi ouviu Louisa dizer baixinho enquanto ele descia as escadas do seu novo quarto. - … é só que ele se acha o Rei da porra toda. - ela disse indignada.
- Isso é porque ele é. O que significa que é melhor você ir se acostumando. - Baekhyun disse, também baixo.
O problema é que foram muitos séculos, aprimorando a habilidade de ouvir a distância a conversa alheia, o que significava que agora ele podia ouvir tudo, quase sempre.
- Oh! Você ficou ótimo. - Baekhyun disse quando ele se aproximou. - Só deixa eu… - ele arrumou a gravata do Rei e abotoou as abotoaduras do terno italiano risca de giz que tinham comprado naquela semana. - Prontinho. - Baekhyun disse arrancando a etiqueta do terno caindo na nuca de Yoongi.
- Como eu vou? Não posso me transformar com esse terno.
- Sugiro não se transformar de maneira alguma majestade. Sohu preparou um dos seus carros pra te levar. Ele vai te explicar o procedimento de uma adoção no caminho.
Yoongi tinha ouvido quase todo o funcionamento daquele lugar durante quase um mês. Ele até sabia as datas de entrega do leite fornecido através de doação de uma fazenda vizinha, mas não negou a ajuda de qualquer forma, mesmo que fosse absolutamente assustador entrar em um daqueles monstros de metal para se transladar.
…
V estava sentado na sua beliche entediado, enquanto jogava uma bola de futebol americano para o alto, batendo no estrado de cima.
Ele era um híbrido que deu errado, se mostrou um ômega extremamente indócil já aos quinze anos. Seus criadores o jogaram na rua, porque ninguém o comprava.
Todos interessados, só compravam um híbrido ômega dócil, mas ninguém comprava um com o temperamento de raposa.
Se não compravam porque que o inventaram então?!
V odiava ser uma mistura da ciência que deu errado, mas ele era.
Ele tinha até um rabo avantajado e uma orelha que dificilmente conseguia esconder.
Seus hormônios eram aflorados e ele tinha que ser trancado no quarto durante seus cios com brinquedos duros de borracha que o machucavam muito.
Ele era só uma criança e a vida já era bem cruel, na verdade ele sabia que um dia seria adotado pelo primeiro pervertido que gostasse de uma personalidade forte nos seus brinquedinhos e por sorte, talvez ele morresse cedo.
Parecia mórbido, mas honestamente era a melhor opção.
O orfanato sempre dizia que eles olhavam a lei com igualdade e que ômegas, betas, alfas e híbridos dos mesmos tinham o direito igualitário ali, mas é óbvio que qualquer um com dinheiro e interesse ganhava vantagens naquele lugar.
- V a diretora está te chamando. - uma funcionária disse, batendo em sua porta.
- Já vou. - V resmungou mal humorado.
- Agora. - A mulher gritou, fazendo ele se levantar aturdido e a obedecer.
Seus olhos cravaram no homem de cabelos sedosos imediatamente. Ele era um alfa. O ômega dentro dele podia sentir aquele cheiro há distância.
Um alfa imponente e assustador.
- V. Quero que conheça seu novo pai adotivo. - A diretora disse fazendo o menor estremecer e tentar se esconder atrás da funcionária que foi lhe buscar.
- Não seja tímido, saia de trás de Marie e venha conhecer seu pai adotivo.
Dono, você quer dizer, neh?!
V empinou o nariz, foi até o alfa e chutou sua canela.
Ele foi correr, mas o alfa lhe pegou pela gola da camisa e o virou com delicadeza, mas muita habilidade nos gestos.
- Pede desculpas. - Yoongi ordenou com a voz de alfa, fazendo as ômegas e V se inclinarem com a cabeça baixa na sua direção.
- Desculpa. - V sussurrou aterrorizado.
Nenhum alfa falou com ele daquela forma antes, ele podia sentir seu ômega triste por ter importunado o alfa.
V ficou quieto num canto depois disso. Balançando freneticamente a cauda enquanto descia mais a touca que escondia suas orelhas atentas.
Uma maleta de dinheiro estava em cima da mesa enquanto o alfa assinava o contrato da sua adoção.
V tremeu, porque já imaginava sua vida, num daqueles prostíbulos chiques enquanto as pessoas faziam tudo o quisessem com seu corpo.
As lágrimas rolaram por seus olhos marejados, mas ele não ousou sair do lugar. Tinha um alfa jovem no orfanato que sempre lhe dizia o quanto ele era inútil e que acabaria vendendo o rabo numa esquina como o resto da sua espécie fazia tão bem. Ele não entendia muito bem o que isso queria dizer, mas não parecia boa coisa, o tal prostíbulo ainda parecia uma ideia melhor, o que significava que ele estava tentando ser positivo quanto a tudo aquilo.
As coisas estavam estranhas na opinião de V.
Ele teve 20 minutos para pegar todos os seus pertences, que não eram muitos e se despedir dos seu amigos, que era ainda mais escassos. Depois ele entrou num carro chique e com o vidro filmado e nada aconteceu.
O tal alfa não tentou tocar nele, nem o agarrar ou coisa assim.
Eles chegaram numa mansão e o alfa mandou uma ômega lhe mostrar a casa, depois disso ele foi apresentado para o seu quarto.
Tudo cheirava a novo e era infantil demais, mas ele ainda analisava cada coisa com cuidado.
V ficou tenso quando o alfa parou na porta do quarto, assistindo seus movimentos, mas ele estava com medo de se virar.
- Gostou do seu quarto? - O alfa assustador perguntou sério, não parecendo se importar com sua resposta.
V concordou positivamente com a cabeça, com medo das suas palavras não saírem corretamente e ele parecer um fraco. Era sua tática para não apanhar no orfanato. Nunca parecer um fraco.
- Ótimo. - O alfa respondeu seco. - Agora troque de roupa e desça, o jantar está pronto.
- Sim, alfa. - V respondeu com medo. Seu ômega tentando agradar o alfa o melhor que podia.
Ômega idiota.
V tremeu com o som do alfa reverberando em seu ouvido.
- A propósito. Meu nome é ham... Suga. - O alfa disse, se retirando do quarto e fazendo V finalmente soltar o ar que prendia nos pulmões.
Suga?!
Assim que V entrou na sala de jantar, na qual a ômega chama Louisa lhe mostrou antes, sentiu o cheiro de um outro alfa, misturado com o do “seu alfa”. O que fez com que seus passos fossem mais cautelosos e lentos pelo corrimão de vidro.
No entanto, assim que ele entrou na sala o alfa menor lhe encarou e arregalou os olhos, como se tivesse visto um fantasma.
- Kim Taehy…
- V. - Suga disse apreensivo, enquanto olhava feio para o outro alfa menor. - O nome dele é V. - Suga completou.
O alfa olhou assustado para V, cheirando o ar com espanto.
Seu nome era Vante na verdade, mas ele não iria corrigir o alfa agora.
- Eu… com licença. - o outro alfa disse com lágrimas nos olhos, correndo porta afora.
V levantou uma sobrancelha, encarando seu novo dono.
Suga bufou irritado, olhando para a porta da saída da casa.
- Coma. - ele disse voltando sua atenção para V enquanto batia com os dedos na ponta da mesa.
V correu para aquele lado da mesa, tomando cuidado para levantar o rabo e não cair em cima dele ao sentar. Então ele olhou para Luisa enquanto batia os garfos nas mãos com curiosidade para saber o que iria comer.
Yoongi saiu da casa e colocou as mãos nos bolsos do terno, esperando Baekhyun parar de chorar ajoelhado no gramado em frente a casa.
O alfa se levantou e virou para Yoongi que permanecia inexpressivo no começo da escada.
- Como soube? - ele perguntou angustiado.
Yoongi deu de ombros.
- Meu lobo o seguiu no instante em que ele nasceu.
- Mas você chegou aqui tem pouco mais de dez anos. Por que só agora? - Baekhyun falou curioso, se arrependendo imediatamente da gafe, porque isso comprovava que eles andavam sempre de olho no Rei.
- Eu sou um pouco teimoso, acabei brigando um pouco com o lobo. - Yoongi resmungou levemente revoltado com o próprio gênio.
Ele não imaginava que era por isso que o lobo queria vir pra cá e acabou demorando mais do que devia para perceber a alma de Taehyung , mas o lobo parecia saber exatamente o que queria, então eventualmente ele a encontrou.
Era mais coisa de instinto, provavelmente por causa da ligação que uma vez eles tiveram, quando Yoongi salvou Taehyung na sua infância formando a ligação de lealdade entre puros. Talvez aquele tipo de ligação nunca fosse rompida por completo.
- Como isso é possível? Quero dizer. É ele. Tem seu cheiro, sua semelhança, sua essência. É a alma do Taehyung. - Baekhyun disse em choque.
Yoongi deu de ombros, também confuso com aquilo. Apesar de Taehyung ter nascido com traços asiáticos, o deixando mais delicado e com a aparência menos felina, ainda assim era ele, se parecia com ele, tinha sua voz.
Nem em um milhão de anos ele imaginaria que almas poderiam voltar ou algo assim.
- E será que ele lembra de antes?
- Não é o Taehyung. O garoto pode até ter sua alma, mas não é o nosso Taehyung, nem nunca será. Você entendeu?
Baekhyun concordou distraído. O que fez Yoongi suspirar em derrota.
- Talvez por ele ter tido sua vida interrompida. - Baekhyun sussurrou em pensamentos longes. - Você acha que…
- Não. - Yoongi disse sério. - Nem pense nisso. - Yoongi disse resoluto, dando uma ordem silenciosa a Baekhyun, que sabiamente o escutou.
- A propósito meu nome é Suga, para todos os propósitos a partir de agora. - Yoongi disse, quase se arrependendo do apelido que lhe veio à mente quando precisou dizer ao ômega seu nome.
Baekhyun concordou distraído.
- Eu preciso…
- Vá. - Yoongi disse e entrou na casa ainda mais chateado do que como saiu.
V não lhe perguntou nada sobre aquilo.
…
Na manhã seguinte Suga acordou relaxado. Fazia um tempo que ele não dormia tão bem assim, talvez ele estivesse finalmente mais calmo, por encontrar a alma de Taehyung. Seu lobo tinha um voto para proteger aquela alma, tê-lo por perto o deixava um pouco menos agitado ou talvez fosse a mágica da tal cama king size em seu quarto.
O alfa coçou os olhos, sonolento, estranhando a presença de V no meio da sala principal, olhando através do vidro que cobria do chão ao teto a entrada principal da mansão.
- Está tudo bem? - Sua voz era rouca de sono.
V virou com tudo da janela, encarando Suga com seus olhos assustados enquanto pensava no que fazer com as próprias mãos balançantes por causa do nervosismo.
O garoto estava realmente fofo. Suas pantufas rosas de coelho e o pijama na mesma cor o deixava ainda mais infantil.
- Por que tem um bando de alfas me encarando do lado de fora? - V perguntou assustado enquanto batia com seus dedinhos no vidro para mostrar sobre o que estava falando.
Suga desceu as escadas, olhando através do vidro sua ordem dos dragões.
Os alfas pareciam idiotas, rindo e chorando ao mesmo tempo enquanto uns tentavam sugar o ar vindo da direção de V, ainda incrédulos.
Ele suspirou pesado, indo abrir a porta da casa.
No mesmo instante todos se ajoelharam diante de Suga, alguns o agradecendo, outro só chorando mesmo.
V arregalou os olhos apavorado, pensando que tipo de alfa deixaria um bando inteiro de alfas fortes aos seus pés em prantos.
Ele devia ser um monstro muito cruel.
V Deus alguns passinhos para trás, formando um bico fofo enquanto fungava o nariz para não chorar.
Nunca parecer um fraco, nunca parecer um fraco.
Suga virou o rosto para dentro da casa, olhando com curiosidade para V, que tinha molhado as calças com xixi de tanto medo.
O alfa coçou a nuca confuso, mas tentou fingir naturalidade com aquilo.
- Aqui fica o banheiro, para hmmm. Sabe ?! - Suga falou sem graça enquanto encarava o banheiro do andar de baixo junto ao pequeno e envergonhado ômega.
- Eu sei muito bem o que é um banheiro. - V gritou, chorando de vergonha enquanto entrava no recinto e batia com a porta na sua cara.
Mais tarde V entrou na agitada sala de jantar. Agora devidamente vestido e com os cabelos ainda úmidos do banho.
Haviam dezenas de pessoas conversando alto, animadamente ali, o que foi exatamente o que levou V até o lugar. Curioso com o som das vozes, como sempre.
Porém, no instante em que ele entrou, todos se calaram, virando a cabeça para olharem na sua direção.
- V. Sente-se à mesa. Vamos tomar café da manhã. - Suga disse entediado, sem olhar na sua direção.
V obedeceu imediatamente, sentando numa ponta da mesa.
Todos começaram a falar quase ao mesmo tempo, se apresentando, falando o que faziam e oferecendo todo tipo de coisa caso ele as quisesse, como um cachorro de estimação ou um corte diferente no cabelo.
V se interessou pelo alto que estava lhe oferecendo sorvetes, mas ele não teve muito tempo para respondê-lo.
O pequeno ômega riu bastante com aqueles alfas. Eles eram atrapalhados e brincalhões, o deixando confortável pela primeira vez ao redor de alfas, porém sua atenção foi puxada para o outro lado da mesa, onde Suga comia sua refeição com calma e silêncio, completamente alheio a bagunça que os alfas faziam ao redor da mesa. Ele podia muito bem estar sozinho ouvindo Mozart enquanto comia, seria a mesma reação da qual já tinha.
O alfa parecia tão solitário e triste. V não entendia como alguém poderia ser assim diante de tanta alegria e bagunça.
- Eu… - V começou a falar pela primeira vez. Todos se calaram, olhando com fascínio na sua direção, o que deixou o coitado terrivelmente vermelho por ter toda a atenção pra si.
Ele tossiu um pouco sem jeito e tentou continuar.
- … eu posso sentar do seu lado, Sr. Suga?! - V perguntou com a voz falha e insegura.
O garoto não conhecia seu pai adotivo ainda, mas odiou vê-lo sozinho e triste na outra ponta da mesa.
- Não. - Suga disse seco e continuou comendo.
V se encolheu na cadeira, fungando um pouquinho, mas sorriu fraco quando o alfa ao seu lado acariciou seus dedos gelados na tentativa de reanimá-lo.
…
Um mês se passou e V já tinha se acostumado a sua nova vida.
O seu pai adotivo não era uma pessoa ruim, nem boa. Foi sua conclusão final.
V queria muito se aproximar do alfa e fez muitas tentativas para que isso acontecesse, no entanto, tudo que ele ganhava em resposta era um sorriso fraco e um aceno de aprovação quando o alfa era agradado.
Ele não entendia muito o porquê disso, os alfas da alcatéia do seu pai, tinham medo de tentar explicar.
V pensava que um lobo solitário como Suga, havia lhe adotado para não ficar sozinho, mas o alfa nunca queria sua companhia, então ele não entendia muito bem o que estava fazendo ali.
A matilha de alfas eram outra história. Eles eram engraçados, bobos e faziam exatamente tudo que V tinha vontade.
Em menos de um mês ele já tinha um console lotado de vídeo games de última geração, uma geladeira lotada de besteiras e tudo que era tipo de coleção que ele tinha vontade de colecionar em suas prateleiras abarrotadas.
Nesse momento ele estava dando uma de artista, pintando de qualquer jeito uma tela em branco na sacada do seu quarto.
Luisa tinha forrado o chão todo com papel pardo e agora ele tinha entendido o porquê. Havia mais tinha no chão, do que no próprio quadro.
Ele descobriu que seu pai trabalhava com recuperação e coleta de artefatos antigos, parecia dar um bom dinheiro, visto que ele era muito rico. Por isso V se interessou por arte, na tentativa de fazer seu pai adotivo se interessar nele, mas não funcionou.
- Lave as mãos e vem comer. Vamos visitar escolas hoje. - Suga disse ao abrir a porta do seu quarto.
V pulou da banqueta em que estava e saiu correndo para o banheiro, animado com a ideia de voltar a estudar e de sair com Suga também.
O alfa era imponente, sério e exalava poder. Todos ficavam olhando na sua direção por onde ele passava e V adorava a atenção.
E também, a mansão era incrível, mas ele se sentia muito sozinho ali. Suga não gostava muito que ele saísse de vista e ele por sua vez não gostava de ficar enfurnado na casa o tempo todo. O que era motivo de brigas épicas entre eles.
…
V conheceu sua nova escola com muita empolgação, mas Suga parecia absorto em pensamentos enquanto uma tutora mostrava o lugar aos dois.
Depois disso eles foram ao shopping, comeram lanches e tomaram sorvetes.
Suga era tão difícil de conversar. Todas as tentativas de V eram frustradas.
Foi quase duas semanas depois do começo das aulas que V fez seu primeiro “ amigo”. Ele era bem mais velho. Tinha 23 anos e dava aula de dança embaixo de onde V tinha aulas particulares de artes.
V sentiu que fazia a coisa mais proibida do mundo quando deu seu primeiro beijo no professor.
Era engraçado porque fazia cócegas, mas era bom.
O professor era um ômega também, ele preferia. Tinha medo de alfas, tirando a alcatéia de Suga, mas eles pareciam velhos demais para V se interessar. Por mais que suas aparências ainda eram de jovens.
Talvez fosse o fato de que os alfas o tratavam como uma espécie de filho ou algo assim.
V sorriu para o ômega na sua frente.
- Eu queria dormir na sua casa. - V se ofereceu praticamente se atirando para o garoto que tinha acabado de beijar.
O ômega sorriu docemente pra ele.
- Não vai rolar nada além de beijo entre a gente V. Você ainda é muito novo pra isso. - O professor disse rindo ainda mais alto quando ele fez um bico de indignação.
V entendia o que o ômega queria dizer, mas estava interessado sobre coisas como relacionamento ultimamente, sem contar que seu cio estava bem próximo.
- Não precisamos fazer nada. Só quero dormir. - V mentiu arrancando ainda mais risadas do ômega.
- Eu ainda nem conheço seus pais e também, eu moro com um cara.
V arregalou os olhos, mas o ômega logo se tratou de se corrigir.
- Ele é uma espécie de irmão mais velho para mim, só isso.
V concordou pensativo.
- Pai. - ele disse distraído com o pensamento. - Eu sou adotado e só tenho um pai. - V completou.
O ômega concordou com a cabeça.
Para V, aquela espécie de amizade com alguns beijos tinha se tornado muito chata depois de menos de um mês. O que fez com que o ômega se tornasse seu melhor amigo sem segundas intenções no final das contas.
V na verdade preferia assim e agora tinha um melhor amigo.
Ele adorava o cheiro do ômega. Bem! Não o cheiro do ômega, mas o cheiro no ômega. Sua roupa cheirava a algo curioso, que despertava algo dentro dele, mas ele não sabia muito bem o quê.
- V, você vai dormir em casa pra gente ir cedo no festival da flores de Seul semana que vem ? - O ômega perguntou ao encontrá-lo na saída de sua aula de artes.
- Meu pai disse que eu não posso ir antes de conhecê-lo. Ele é um maníaco por controle. - V disse dando de ombros.
- Posso ir com meu irmão na sua casa essa noite. O que acha ?
V ficou pensativo.
- Acho que pode ser. Eu vou pintar o cabelo hoje, então pode ser depois disso?
- Ou eu posso pintar o cabelo com você.
V riu. O ômega era tão fofo, difícil dizer não a qualquer coisa que ele queria.
- Vou avisar o Suga. - V disse em resposta.
…
Suga não gostava do tal ômega que V tanto falava. Principalmente porque o safado tinha beijado seu ômega, mesmo sabendo que ele ainda era uma criança.
V contestava toda vez que ele tocava no assunto, dizendo que já não era uma criança, mas isso não fazia Suga gostar mais do tal professor abusado.
Quando V falou sobre a visita do ômega, Suga achou uma ótima idéia. Assim assustaria aquele pervertido para bem longe de V e tudo voltaria ao normal.
Ele tentava bancar o indiferente, mas quanto mais o tempo passava, mais Suga desenvolvia o instinto de proteção ao redor de V.
O alfa desceu as escadas, ouvindo a campainha tocar ao anunciar a chegada do tal ômega, que parece que viria acompanhado de um alfa.
- Covarde. - Suga murmurou enquanto descia as escadas às pressas.
Luisa abriu a porta para os convidados. A voz de V era animada e contagiante enquanto ganhava elogios da Luisa por causa do seu novo cabelo, mas Suga parou imediatamente, no momento em que sentiu o cheiro do outro ômega.
Ele respirou pela boca, sentindo as pernas bambas enquanto caminhava pelo corredor.
Seus olhos ficaram esbugalhados e apesar do cheiro de tinta de cabelo, o cheiro do ômega ainda era bem forte.
- Suga. Esse é meu melhor amigo…
- Jimin? - Suga sussurrou rouco, fazendo todos o encararem em surpresa.
- Já nos conhecemos? - Jimin perguntou, encarando o alfa sem saber se sorria ou desconfiava de sua expressão confusa.
V enrugou a testa, cruzando os braços com irritação, já que viu pela primeira vez Suga demonstrando algum sentimento diante alguma coisa ou alguém, mesmo que fosse o de surpresa.
Suga balançou a cabeça e tossiu, tentando se recuperar.
- Não. Nós não nos conhecemos, é só que V fala muito de você. - Yoongi disse gaguejando enquanto tentava engolir em seco, hipnotizado com a assombração na sua frente.
V nunca havia chamado Chim de Jimin, ele tinha certeza sobre isso.
Um silêncio desconfortável tomou conta da grande sala, deixando os dois ômegas desconfortáveis, mas o silêncio foi cortado assim que o carro do alfa que morava com Jimin estacionou na estrada de prédio em frente a casa.
- Ah! Finalmente. - Jimin disse saindo às pressas da casa. - Eu falei oito horas. Você está atrasado de novo, cabeça de vento. - Jimin gritou das escadas, fazendo o tal alfa rir baixo.
V encarou Suga com repreensão, fazendo ele dar de ombros falando um “Que foi?” , sem som.
V olhou ainda mais sério para o alfa, mas corrigiu a postura quando Jimin voltou, para dentro da casa, rindo de alguma piada que o alfa fez baixinho.
Suga estava cego e hipnotizado com o cheiro do seu ômega. Era o cheiro do príncipe, seu príncipe. Tinha o mesmo cheiro de açúcar queimado, talvez um pouco mais fraco, como caramelo ou era só sua lembrança que já tinha esquecido o cheiro exato do seu ômega?!
Mas algo perturbou sua mente e antes mesmo que o outro alfa pisasse para dentro da casa, Suga se transformou em lobo, escorregando pelo piso de madeira e quebrando alguns móveis e quadros por onde passava enquanto corria na direção do alfa e lhe agarrava pelo pescoço.
Jimin deu um gritinho agudo e caiu de bunda assim que o Lobo gigante passou, mas ambos correram até a porta assim que possível, achando que estavam vendo coisa.
O alfa de Jimin também se transformou no ar, agarrando o lobo completamente branco pelo pescoço e quanto rolavam pela grama enorme do jardim colonial em frente a mansão.
- Que porra é essa? - V perguntou assustado, agarrando os braços do ômega ao seu lado.
- Seu pai é um lúpus, um puro. Como meu alfa. - Jimin disse assustado. Ele nunca pensou que veria um outro alfa puro além de Jungkook.
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