Capítulo 2
Lydia ativou seu Pager, já se mostrando estar com uma aparência esgotada. Mal havia chegado em East Valley e o tanto de proibições que lhe foram impostas por suas tias, já estava causando um nó em sua garganta.
Porém, o que a fazia querer gritar mais era que sabia o que exatamente, a sua tia iria falar.
O semblante de Nádia Morgan pareceu crepitar entre furioso e preocupado através da tela do Pager. A mulher já desgastada pela idade, estava apreensiva com o tanto de cartas que a sobrinha, Lydia, poderia embaralhar na sociedade dos humanos sem magia.
Resolveu lhe advertir de que mostrar os seus feitiços na frente de todo mundo, não a faria esconder e se certificar de que o Grande Segredo das Bruxas estaria seguro, mas sim, apenas jogá-lo ao vento e permitir que pessoas maliciosas, falassem o que bem quisessem, e para piorar, que até viessem a procurar o recanto de onde se aninhavam todas as bruxas.
— Pequena Morgan, — disse Nádia em tom incisivo — não perca a oportunidade e a confiança que todos depositaram em suas mãos. Pare de agir como uma bruxa, pois sendo uma não vai conseguir esconder nada!
— Mas eu sou uma bruxa! — Lydia protestou, irritada.
— Aí não é, não! — Nádia disse com rispidez. — Em East Valley você é apenas Lydia Morgan, uma adolescente e estudante do Ensino Médio. Você está aí para fazer o seu papel e encontrar uma forma de eternizar o Grande Segredo.
Lydia grunhiu de raiva. Aquele encargo que lhe deram não parecia nada interessante. Não havia uma só gota de diversão em viver uma vida em que a mágica não estava inclusa. Porém, como queria acabar com aquele teatro logo, resolveu abrir o jogo com a sua tia:
— Acho que tive uma ideia…
— Pense bem antes de apresentar qualquer coisa — ela disse, em tom de alerta. — E não haja como uma maluca que foge da escola e das pessoas. Você não precisa se aprofundar em conhecer ninguém, apenas necessita parecer uma adolescente comum, para não levantar suspeitas. — Nádia estava quase pronta para desligar, quando de repente se lembrou: — e nada de usar mais a sua bota roxa!
Lydia fechou uma carranca no mesmo instante. Afinal, a sua bota era o acessório que mais dava personalidade ao seu estilo. Sem contar, que ela era milhões de vezes mais confortáveis que qualquer sapatinho de bailarina que as meninas do colégio costumavam usar.
Mostrou a língua e antes que a sua tia lhe dissesse que não era para usar também a sua vassoura — coisa que Lydia já sabia — ela desligou o Pager, sem deixar chances para qualquer comunicação indesejada.
Decidida a ignorar o conselho de Nádia e pensar exatamente na ideia que tivera, Lydia se encaminhou para o sofá, para maquinar exatamente o que poderia fazer.
Ela tinha um plano que lhe parecia excelente, mas demandava tempo e vários esforços. E a garota duvida muito, que conseguisse fazer qualquer coisa em tempo recorde, com um monte de olhos curiosos em cima dela.
“Será que é assim com todas as pessoas novas que aparecem pelo colégio?”, ela pensou rapidamente.
“Se for assim, aquele bando de pessoas são mais tediosas do que imaginei”, Lydia concluiu e antes que pudesse se sentir confortável, a campainha tocou.
A bruxa não fazia ideia de quem poderia ser. Ela não aguardava por ninguém, mas parecia que a encrenca tinha pernas próprias e sempre insistia em vir para o seu lado.
Ignorou então o olho mágico que havia em sua porta e escancarou-a de uma só vez, decidida a se livrar de quem quer que fosse, em menos de um segundo.
Porém, ao fazê-lo, percebeu que havia cometido um grande erro, pois quem estava ali na sua porta era Heitor Stan e os seus olhos antes brilhantes e bondosos, naquele instante estavam um pouco ressentidos.
— Posso entrar? — ele perguntou, parecendo decidido a conversar com ela.
E ao Lydia abrir espaço para que ele adentrasse na intimidade de sua sala, ela sentiu de novo um aviso de seu corpo querendo lhe dizer algo sobre o rapaz.
Porém, desta vez estava mais claro que o sinal lhe contava, que não seria tão fácil assim, se ver livre de Heitor.
Lydia pediu para que Heitor se sentasse e ele atendeu o pedido, mesmo que parecendo completamente chateado com ela.
E estava!
A bruxa soube daquilo no instante em que havia fitado os olhos dele, que não estavam mais tão transparentes como cristais. E para saber daquilo nem tivera que usar que mágica.
"Já é um passo, diria tia Nádia."
— O que o traz aqui? — ela resolveu não ser amigável.
O tempo corria e ela queria resolver a sua missão logo, para que assim pudesse retornar à comunidade bruxa.
— Pensei que pudéssemos ser amigos, Lydia... — ele disse, muito chateado. — Eu nunca pensaria em te tratar mal, mas você foi desleal comigo, ao fugir daquele jeito. Era só me dizer que queria um pouco de espaço e eu te daria. Eu não sou um monstro… Eu realmente queria ser o seu amigo e não só o seu acompanhante de adaptação, mas agora que você fugiu, a diretoria do colégio me puniu. Eles entenderam que eu não dera conta de ser legal contigo e então me exoneraram da questão...
A fina linha que se estendeu na testa de Heitor, mostrava que ele estava magoado.
Pela primeira vez na história, Lydia Morgan sentiu remorso. E ela pensou apreensiva, que aquela East Valley começava a surtir efeitos indesejados na sua personalidade até então rígida e completamente imprevisível.
— Por que fizeram isso com você?
— Eles acreditaram que eu te afugentei, ao invés de te convidar mais a fazer parte do Colégio — ele disse com um pouco de tristeza na voz. — Eu te procurei em todos os cantos, até perceber que você tinha traído à sua promessa e tinha evaporado.
Lydia se sentiu ser golpeada, ao ouvir da boca daquele simpático rapaz de que ela era uma mentirosa. E que também, desde o início, a sua intenção era enganá-lo para se ver livre.
— Me desculpe — ela pediu, com a voz embargada. — Eu só não estou acostumada a ser seguida. Mas agora mesmo eu vou até o colégio para falar com a diretoria, de que a culpa não é sua e que sou eu que não quero nenhum acompanhante mesmo.
Lydia tentou sorrir para Heitor, mas ele continuou rígido.
— Não tem mais jeito, Lydia — ele disse muito sério. Heitor parecia não ter perdoado ela ainda. — E eu só estou aqui para avisar que quem entrou em meu lugar, foi Abby Sheperman e que ela costuma ser muito malvada comnos seus acompanhados. — Ele piscou um de seus olhos verdes, em sinal de desgosto. — E, você, ainda mais você, depois desse alvoroço todo, se tornou o alvo principal da moça. Ela prometeu infernizar você, Lydia!
Meio segundo depois, Heitor Stan já estava de pé, próximo a porta. Ele estava prestes a partir, quando Lydia segurou em seu braço, completamente nauseada pela situação.
Ela o havia traído e humilhado perante todo o colégio e mesmo assim, Heitor Stan insistia em se preocupar com ela, vindo até o seu apartamento para somente lhe avisar que corria perigo, estando nas mãos de Abby.
Por um instante, pareceu que ele soubesse que ela era uma bruxa. Porém, por fim, Lydia decidiu que ele só devia a achar diferente e que de alguma forma, realmente se importava com o seu bem-estar.
E naquele instante, Lydia desejou mais do que tudo a amizade de Heitor, e ela a conquistaria a de volta, mostrando a Abby que se aquela gatota queria guerra, ela teria!
— Ainda voltará a confiar em mim! — ela disse, com certeza.
Heitor a olhou por meio segundo, logo após sorriu acanhado e partiu. E com aquilo, Lydia não previsou de muito para entender, que aquela era a deixa do rapaz, para que a bruxa tentasse.
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