Aceitar ou não?
Atenção: isso não é um conto de fadas, porém também não é um conto de terror. Não teremos violencia aqui, porém também não haverá amorzinho.
Boa leitura ♥
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A boca macia o envolvia com perfeição, subindo e descendo em um ritmo lento enquanto assistia o desfile através de uma projeção mágica a sua frente. O servo ajoelhado a seus pés o degustava com maestria, de forma sublime para aquela ocasião.
— Você é sempre a escolha perfeita para o dia de hoje, Dimitri! Continue...
Sua voz soa ainda mais rouca e grave, dominada pelo prazer em seu corpo e em seu ego, amaciado pelos devotos que desfilam pelas ruas austríacas com suas fantasias, buscando imitar sua aparência mesmo que nunca o tenham visto.
O ritmo era ditado pelos tambores e as tochas em chamas faziam seus olhos brilharem em satisfação, alimentando sua energia com aquela adoração genuína que apenas o deixava mais satisfeito.
Conforme se aproximavam do altar ainda apagado, seu corpo formigava pelo movimento perfeito do servo, que salivava abundantemente, tornando o ato ainda mais delicioso. Seus olhos, então, pesam e ele joga a cabeça para trás, permitindo-se apenas ouvir o final da passeata enquanto sente os espasmos de prazer crescer e se espalharem lentamente, o fazendo gemer arrastado ao mesmo tempo em que leva sua mão aos fios encaracolados de Dimitri.
— Junto comigo, meu garoto... Ooohhh... ─ profere com voz profunda, sentindo o servo tremer entre suas coxas enquanto esporra sua garganta de forma potente, se deleitando no prazer que o invade, sorrindo com luxúria ao sentir-se satisfeito.
Olhando com atenção para o servo, ele se retira da boca avermelhada e lindamente inchada, limpando os resquícios de seu prazer com o polegar e os levando a língua do garoto, que suga com avidez, com os olhos marejados pelo prazer que também havia alcançado.
— Você foi perfeito! Está na minha hora ─ o sorriso em seu rosto aumenta e ele se levanta, vendo o servo imitar sua ação.
Num último gesto ao servo tão obediente, ele bagunça seus fios e então, num impulso de magia, se transporta para a vila que o adora naquele instante, empoleirando-se na árvore mais alta daquela praça para observar o ponto alto da celebração: a entrega de sua oferenda.
Os olhos atentos percorrem todo o lugar, sentindo-se mais que satisfeito pela energia das pessoas que realmente mantinham sua devoção a si de forma tão verdadeira, e logo os gritos e cânticos começam a ser entoados, o alimentando cada vez mais, fazendo o sorriso afiado se abrir e sua língua se projetar para fora dos lábios cheios.
— Tão sublime, eu realmente adoro essa vila ─ sussurra em expectativa, criando um vento que percorre seus fieis, agitando suas fantasias e os dando ainda mais ânimo para o ritual. — Vamos ver o que eles tem para mim esse ano...
O tilintar de correntes era abafado pela euforia das pessoas, porém aos ouvidos do deus soava como uma música clara e nítida. E não demora para que, na ponta do enorme corredor, surja a bela imagem de sua oferenda sendo trazida pelos fieis fantasiados que gritam em louvor a si, aumentando ainda mais seu sorriso maléfico.
Sem que pudesse se livrar, o jovem se debate nos braços dos homens que o arrastam pelo corredor de moradores que agitam suas tochas, cantando em homenagem a aquele que viria em busca de sua oferenda, fazendo o coração do garoto disparar pelo medo.
Os ferros em seus pulsos balançavam conforme o levavam adiante, fazendo seu desespero crescer enquanto se aproximava da estrutura de madeira, que se tornava cada vez maior e mais assustadora, acelerando de forma de perigosa o coração do jovem que sabia ser ali o fim de sua vida, mesmo que implorasse misericórdia.
Do alto da árvore, o deus observava a tudo com enorme satisfação, ansioso para ver o interior daquele que o entregariam como oferenda, visto que em todos os anos a alma que devorava carregava a escuridão que o alimentava, sentindo o desespero daquele jovem tornar tudo ainda mais divertido.
Com passos arrastados e dança, em minutos de euforia, desespero e diversão, o jovem é jogado aos pés do altar com os olhos em lágrimas ininterruptas e abundantes em meio a seus gritos desesperados que, mesmo podendo ser ouvidos por sua potência, eram completamente ignorados por aqueles que o haviam escolhido.
— Por favor, não podem fazer isso comigo! Eu já disse que não podem ─ suplicava em desespero, continuando a ser arrastado pelos brutamontes que o levavam escada acima, o prendendo na estaca de madeira sem ao menos um pingo de cuidado.
— Você é devoto a ele, deveria entender a importância de estar aqui e não fingir esse desespero todo ─ esbraveja um dos homens, já irritado com a relutância do garoto. — Todos os anos fazemos nossa oferenda com tranquilidade, por que com o alecrim dourado seria diferente? Aceite seu destino, hase, fez por onde estar aqui e sabe disso... Adeus, mei freund!
— Não, não é certo! Joom, por favor, estou dizendo, não podem ─ enquanto os homens se afastam, o deixando preso ali sem uma mínima chance de fuga, o jovem continua a implorar, fazendo os olhos do deus se revirar nas órbitas, pois mesmo que gostasse de ver o medo, aquele exagero já estava o deixando entediado.
Ignorando por um instante o garoto dramático, ele observa todos se posicionarem para fora do altar, e se coloca de pé, novamente fazendo um vento forte varrer toda a praça, apagando todas as tochas e fogueiras, calando todos ali até mesmo o jovem preso, os fazendo mergulhar num mar de silêncio e escuridão, quebrado apenas pela luz do luar crescente que iluminava parcialmente a vila pelo céu límpido, apesar do frio.
O ápice daquele ritual havia chegado, onde os corações dos humanos palpitavam em expectativa, soando como música suave aos ouvidos de Krampus, exceto o daquele preso no altar, que martelava em puro desespero, deixando o deus curioso pela razão e até mesmo ansioso para ver o que habitava o interior daquela alma.
Então, sem mais enrolação, visto que já tinha demorado tempo demais apenas observando, num impulso de energia ele se transporta para o altar, assumindo sua forma demoníaca por completo ao mesmo tempo em que incendeia as madeiras sob a estaca, assim como aquelas ao redor do altar, ouvindo os gritos eufóricos dos fieis, entretanto aquele que esperava não foi ouvido.
— Mas que porra é essa? ─ esbraveja, subindo os degraus do altar, vendo o garoto olhar para todos os lados, ainda calado, deixando o deus cada vez mais curioso e até mesmo irritado. — Que merda está acontecendo aqui?
Com seu olhar afoito e o coração acelerado, cada vez mais desesperado, o jovem olha a seu redor, vendo apenas as chamas alaranjadas queimarem as toras do altar, chorando cada vez mais em puro desespero.
O corpo do garoto estremecia, o medo aos poucos o consumia e, conforme as chamas aumentavam, suas lágrimas as acompanhavam, temendo o resultado daquele ritual. E enquanto ele procurava por algo que jamais poderia ver, Krampus o rodeava em passos lentos, analisando cada pedaço de sua alma, intrigado com jovem que não o via mesmo que, em teoria, devesse ser a alma mais corrompida dentre todos ali.
Entretanto, o deus estava um tanto alheio ao sofrimento do rapaz, passeando seus olhos não por seu corpo, mas vasculhando seu interior, encontrando ali uma alma pura que, mesmo tendo sido entregue à morte de forma errônea, temia não por sua vida, mas pela vida de seus conterrâneos, sentindo-se enjoado e outra vez irritado por aquela oferta inútil pelo qual tinha esperado o ano inteiro.
— Para a puta que pariu, isso é sério? Logo eles cometem um pecado tamanho? Este garoto é puro, onde está a maldade para me alimentar? — indaga ainda com seu olhar afiado. Dando as costas ao garoto que segue olhando ao redor, ele desce o altar, colocando suas mãos na cintura, completamente desapontado. — Sinceramente, por essa eu não esperava! Estava tão ansioso...
Com sua expectativa frustrada, a irritação dá lugar a decepção, fazendo com que até as chamas que faziam as madeiras estalarem se apagassem, causando um silêncio fúnebre naquela praça, tornando os batimentos cardíacos acelerados a única coisa que soava nos ouvidos do deus. Isso até o grito desesperado cortar a noite.
— Eu disse que não podia, eu falei, implorei! Eu avisei vocês, eu disse ─ esbraveja firme, mesmo com temor na voz, atraindo os olhos de Krampus para si, que novamente se torna curioso quanto ao garoto.
— É bonzinho, mas bravinho, veja só? — solta em deboche, subindo mais uma vez as escadas do altar, ficando cara a cara com o jovem, encarando seus olhos, notando ali um brilho intrigante. — Interessante... Bonzinho, bravinho, determinado também... O que mais temos aqui, uh?
Seu olhar se torna outra vez analítico, entretanto não é a alma que ele analisa.
Rodeando mais uma vez aquele garoto, seu olhar passa por cada detalhe de suas reações. A forma obstinada como se mantém de pé mesmo acorrentado, como se impulsiona para frente ao gritar, o corpo tenso, mas ainda assim tentando manter alguma firmeza.
Krampus observa cada ação, até que não apenas isso é capturado por seus olhos.
— Até que é... Bonitinho? — com a cabeça tombada para o lado, ele passeia seus olhos pelas coxas fortes do garoto, seu abdômen liso semi a amostra pelo pequeno pedaço de camisa queimado, de repente desejando vê-lo fora daquela estaca para que a pudesse analisar também sua bunda. — Você está me fazendo ter ideias, jovenzinho de alma pura. — O sorriso afiado expõe os dentes pontiagudos enquanto o deus se aproxima do rosto molhado de lágrimas do garoto, passando seus olhos pela pele acinzentada por conta fuligem que a atingira, caindo até os lábios finos, fazendo seu sorriso aumentar um pouco mais com o pensamento que rodeia sua mente. — Acho que... Talvez essa ano não foi um total desperdício! Aceitar ou não?
O burburinho de cochichos já havia se tornado alto na multidão, com os aldeões temerosos por aquele silêncio, porém antes que os homens decidissem ir até o garoto, o deus acende as chamas no círculo ao redor do altar outra vez, impedindo que qualquer um se aproximasse, mas fazendo os gritos eufóricos retornarem.
Com um último olhar na multidão de fieis, que até em seu erro conseguiram agradar a si, ele se volta ao garoto deixando sua longa língua para fora, o que tornava seu sorriso ainda mais sombrio. Então, num impulso de magia, ele se mostra ao rapaz soltando uma gargalhada alta quando o grito assustado se sobressai ao barulho dos aldeões, fazendo a comemoração crescer ainda mais com a certeza de que a oferenda foi aceita.
— Olá, minha doce oferenda de Natal — diz com a voz alterada, sorrindo ainda mais ao encarar os olhos arregalados do garoto enquanto passa sua longa língua pela bochecha levemente cheia.
E antes que o garoto gritasse outra vez, o deus adormece sua consciência, o fazendo cair em seus braços ao mesmo tempo em que uma chama alta e esverdeada consome o altar completamente, levando a vila a completa festa, felizes por mais um ritual de sucesso, sem saber a que destino havia condenado o jovem entregue aquela noite nas mãos do temido Krampus.
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Bom, formiguinhas, seguindo a votação do insta, teremos 3 caps curtos. Os próximos eu vou soltar até o ano novo! Pensei em algo diferente pra essa história e espero que consiga passar a minha ideia sem confusão kkkkkkkkk
Não esqueçam de deixar a estrelinha, um comentário, eu ficarei muito feliz de saber a opinião de vcs... Nos vemos no próximo capítulo!
Beijinhos de açúcar ♥
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