CAPÍTULO VI - O Barquinho
Ensanguentado, bêbado e nervoso, Oliver saiu do bistrô e dirigiu até seu apartamento. Ao chegar, tomou uma ducha e procurou na caixa de primeiros socorros, algum remédio para dor de cabeça, seu corpo começa a sentir os efeitos posteriores do álcool e das pancadas de Alef.
Tomou um remédio e deitou-se em seu confortável sofá de couro. Ali ele adormeceu.
Estava em um sono profundo, quando foi surpreendido com o toque de seu celular. Olhou no visor e viu que era uma ligação de Samira e antes que tocasse pela 3ª vez, atendeu-o.
- Alô, Sam!
- Olie!
- Por favor, diga que vais aceitar conversar comigo?.
- Olie, pode vir aqui?
- Já estou indo.
Oliver rapidamente se aprontou e fora ao encontro de sua amada.
Samira custava acreditar que tivera coragem para chamar Oliver, andava de um lado para o outro, tentava se controlar. Não sabia ao certo o que aconteceria, mas sabia que queria estar com ele.
Toc toc, alguém bateu na porta. Samira abriu-a. Oliver a olhava no fundo dos olhos, mesmo com a pouca luz do ambiente, era possível ver perfeitamente o profundo olhar de Oliver.
Ele entrou em silêncio, aguardou que ela falasse alguma coisa, estava disposto a respeitar o espaço dela.
Samira o fitava, olhava os hematomas em seu rosto. Acariciou lhe o rosto e ele assentiu.
- Sam, como eu senti sua falta.
- Não fale nada - Sam o abraçou e pôs-se a chorar.
- Por que choras Sam? O que te fiz?
- Olie, tantas coisas aconteceram... – Samira não conseguia falar, o choro a dominava.
- Sam, nunca duvide que a amo. Por favor, deixe- me provar o quão verdadeiro é o meu amor por você.
Samira sabia que deveriam conversar e acertar o passado, mas este lhe causava tanta dor que resolveu que não tocaria neste assunto. Ela sentia falta de Oliver, então aproveitaria enquanto ele estivesse em Londres, não contaria que ainda o amava, apenas o aceitaria em sua vida.
Oliver a prendeu em seus braços, ele a deseja tanto, mas aquele momento em seus braços não havia conotação sexual. Queria apenas que Sam não chorasse, pensava no quanto ela era frágil e se perguntava o que teria feito de tão mal á ela, mas não questionaria, iria esperar até o momento em que ela resolvesse contar-lhe a verdade.
- Você parece cansada. Venha. - Oliver pegou-a no colo e a levou ao quarto, deito-a na cama e beijo-a na testa.
- Não se preocupe Mon Petit, cantarei para você dormir e amanhã conversaremos.
Oliver deitou-se ao lado de Samira, de modo que ela se aninhou em seu peito e quase como um sussurro ele começou a cantarolar:
" Well you only need the light when it's burning low Only miss the sun when it starts to snow Only know you love her when you let her go ..."
Para Samira, aquilo era surreal. Oliver cantava enquanto ela estava agarrada ao seu peito, aos poucos fora se perdendo no perfume almiscarado de Oliver e adormeceu.
Oliver deslizou as mãos pelos cabelos de Sam. Era incrível como ela o fazia sentir os mais confusos sentimentos. Ele sentia raiva por ela ter fugido, mas a amava de maneira tão intensa, que ali, segurando-a nos braços era impossível sentir qualquer sentimento que não fosse amor.
Na areia quente de Sahab, Samira corre, está fugindo de alguém. Passos rápidos, os cabelos esvoaçantes ondulando com o vento, o suor escorrendo por seu rosto misturado com as lágrimas.
- Por que, Oliver? - Ela grita em meio ao deserto. - Por que fez isso comigo?
Ela cai e se encolhe em posição fetal, enquanto a areia arde em seu rosto. Neste instante se dá conta de que está sozinha, sem ninguém e perdida. Levanta-se, olha ao seu redor e não vê nada, a única sensação que sente é o medo.
-Não, por favor. Não!
Samira acorda assustada e, de repente, Oliver a abraça. Ela se dá conta de que ele está ali com ela, seu coração se tranquiliza.
- Sam, eu estou aqui. Ei, foi só um pesadelo.
- Olie! - ela o abraça, enterrando seu rosto no pescoço dele.
Oliver beija o topo da testa de Sam, pega seu rosto entre as mãos e ela suspira.
- Eu amo você - ele diz olhando diretamente nos olhos dela. E ela suspirou e voltar a se aconchegar no corpo dele.
Ambos adormeceram.
Samira acordou e percebeu que Oliver não estava na cama. Levantou-se assustada correu até a sala e o viu na pequena cozinha preparando um café.
- Bom dia - Ele disse sorrido
- Bom dia. Olie, não precisava fazer o café. Oh, você comprou croissant?
- Sim, venha. Aproveite que estão quentinhos. - Disse ele estendendo a mão em sinal para que ela se sentasse. Ela assentiu.
Ele então lhe serviu uma xícara de café.
- O que você vai fazer hoje à tarde, Sam?
- Hoje tenho ensaio.
- Você pode faltar?
- Posso verificar com Silver. Por que a pergunta?
- Daqui a 40 minutos terei uma reunião muito importante. Mas, gostaria de te levar a um lugar à tarde.
- Vou ligar para Silver.
- Bem, preciso ir ou chegarei atrasado. - Ele então a beijou no rosto, pegou seu casaco e saiu.
Samira estava atônita com tudo o que havia acontecido. Precisava manter-se no controle, já que Oliver ficaria tão pouco tempo na cidade, provavelmente depois que ele partisse nem lembraria mais dela. Esse pensamento a fez sentir um calafrio, mas não mudaria seus planos e aproveitaria a presença de Oliver o quanto fosse possível.
Ligou para Silver e dera a desculpa de que não estava se sentindo bem. Ele concordou em lhe dar um dia de folga, pois ele mesmo tinha que resolver algumas questões pessoais e daria o dia de folga á todas às dançarinas.
Após finalizar sua ligação, ela então se sentou em sua poltrona amarela e se sentiu feliz como não se sentia a muito tempo. Havia menos de meia hora que Oliver havia saído e seu cheiro ainda estava impregnado no corpo de Sam. Ela então se perguntou se seria prudente contar a Oliver tudo o que havia acontecido no passado e deixar que ele se explicasse, afinal de contas todos merecem uma segunda chance.
Do outro lado da cidade, Oliver estava cercado por assessores e representantes comerciais, que discutiam se deveriam enviar uma grande carga de peças eletrônicas para a Austrália via aérea ou por via marítima. A discussão se estendeu por toda a manhã e chegaram à conclusão de que a via marítima possibilitaria o transporte de uma maior quantidade de produtos, enquanto por via aérea seriam necessárias mais de 3 viagens.
Oliver se prontificou a acompanhar o navio cargueiro e cuidar para que tudo não saísse do planejado. Aproveitaria e convidaria Samira para lhe acompanhar na viagem.
O dia passou rápido para Sam e Oliver, ela aguardava ansiosa, havia colocado uma calça preta e uma blusa azul de mangas curtas e tinha os cabelos amarrados no alto da cabeça. Ouviu a batida na porta e fora abri-la.
-Uau, você está linda, Sam. – Oliver estava boquiaberto.
Sam Sorri.
- Não seja bobo.
- Pronta?
- Sim.
- Vamos, tenho uma surpresa.
Oliver dirigiu por cerca de 40 minutos, saiu da área urbana de Londres e seguiu para um lindo campo de flores, com arvores de vários tamanhos, formando imensos corredores e ao fundo um lago de água cristalina. A beleza do local era estonteante.
- Chegamos. - Oliver saiu do carro e abriu a porta do passageiro para que Sam descesse.
- Que lugar lindo!
- É meu local favorito de Londres.
- Não sabia da existência deste lugar. É com se estivéssemos no interior.
- Você nunca esteve aqui?
- Não. Pra ser sincera, eu não saiu muito.
- O que tem feito nestes últimos 5 anos? – Oliver perguntou enquanto seguiam sem direção ao lago.
- Nada de extraordinário.
- Muito vaga essa resposta. – Ele pega nas mãos dela.
- Bem, quando cheguei de Sahab logo consegui uma vaga na Cia de Dança e desde então me dedico às minhas apresentações e sou voluntária no orfanato.
- Orfanato? Nunca pensei que gostasse dessas coisas.
Sam se sentia desconfortável em falar do orfanato.
- Precisava ocupar meu tempo com alguma coisa que não seja a dança, estou sozinha aqui em Londres, longe da minha família. Apesar de ter bons amigos aqui, a saudade que sinto de casa é grande.
- Você poderia ir visitar a sua família. Se o problema for falta de dinheiro, eu paga a sua passagem.
- Não, a questão não dinheiro. Bem, dinheiro também, mas não é o problema principal.
- Então o que é?
- Você!
- Eu? Como assim. – Oliver não entendia, afinal de contas do que ela estava falando?
- Ei, viemos aqui para falar do passado ou para que você me fizesse uma surpresa?
- Está bem, venha. Já andou em um barquinho?
- Não.
- Então venha. – Ele aponta um barquinho a remo com uma sombrinha fixada em uma das extremidades. Ele a ajuda a se sentar e se acomodar, depois começa a remar. Há patos no lago, flores que caem do alto das arvores, o sol da tarde reflete na água gelada. Aos poucos o barquinho vai se distanciando das margens do lago e ele para de remar, senta-se ao lado de Sam.
- Você acredita que eu a amo?
- Estamos separados a quase 6 anos Oliver.
- Eu sei, mas nunca deixei de te amar. Você acredita?
- Você me confunde. Eu te amei, faria qualquer coisa por você.
- Acredite, eu ainda sou capaz de fazer qualquer coisa que você me pedir, Sam. Pedi para Silver te chamar para jantar conosco a dois dias atrás, mas quando te vi com Alef, tudo o que eu queria era te arrancar de perto dele, mas sei que isso seria muito imprudente. Saí do restaurante transtornado, segui Silver até a sua apartamento e quando vi a situação do prédio em que você mora, tive vontade de te levar para o meu.
- Então você era o convidado misterioso. Ei, não fale do meu apartamento, ele é tudo o que eu consigo pagar.
- Por que você não trabalha na sua área de formação? Lembro-me de que você era uma das melhores alunas do curso de economia.
- Oliver, todos conhecem o meu sobrenome Sahab, quando vim para Londres, meu pai fez questão de me prejudicar, induzindo todos os empresários a não me contratarem.
- Por que seu pai fez isso?
- Simples, sou uma idiota que sempre perde tudo. – Samira tenta não chorar
- Não falei essas coisas. Você é linda, Sam. É doce, dedicada e muito inteligente. Não acho que esteja correto isso que seu pai fez com você.
- Você não entende.
- Entendo sim. Seja lá o que tenha acontecido, se tenho ou não culpa como você já falou. Sam, eu estou aqui ao seu lado, coloque a sua mão no meu coração. – Samira coloca a mão direito sobre o peito dele. – O sentiu batendo?
- Sim – ela sussurra.
- Ele está batendo mais acelerado, cada molécula do meu corpo está pedindo por você. Sam, eu não posso resistir. Tentar dizer não ao que estou sentindo é como estar lutando contra um furacão.
- Não resista – ela estremece.
Oliver a envolve em seus braços. Beija sua boca com desejo, enquanto suas mãos percorrem o corpo dela. Deita-a no fundo do barco de maneira que ninguém pudesse vê-los, e entrelaçados um ao outro, se entregam ao prazer ímpar que envolve os dois. Naquele momento não houve passado, nem lágrimas ou solidão, era apenas um casal apaixonado completamente perdido no amor que sentiam pelo o outro e o desejo de estar juntos para sempre.
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***Nota da Autora***
Música que Oliver canta para Samira : Passenger - Let Her Go
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