Capítulo IX - Kalifah
Samira caminhava por uma estreita rua de terra batida, já estivera a dois dias procurando alguma pista sobre o paradeiro de seu filho, o sol estava alto e o calor era intenso, típico dia árabe. As crianças corriam em sua direção, saudando a princesa, quando uma voz masculina preencheu seus ouvidos.
- Mas olhe o que temos aqui. - Disse a voz familiar.
- Kalifah!. – Disse ela, tentando disfarçar a surpresa.
Ele ainda mantinha a barba desenhada, condizente com seus 1,80 de corpo moreno e bem malhado. Trajava uma túnica branca e turbante vermelho, com olhos protegidos por um óculos de sol. Abraçou-a, demorando-se no abraço, apertando seu corpo contra o dela e sentindo o cheiro de seus cabelos, que esvoaçavam com o vento.
- Não sabia que estava na cidade, Habib. – disse ele.
- Cheguei ha 2 dias.
- Há, sua mãe sofreu um acidente, certo? Li algo no jornal local.
- Sim. – respondeu tristemente.
- Achei que não voltaria mais para Sahab.- disse ele em tom irônico.
- Eu também não, mas como o acidente fez com que minha mãe perdesse parte da memória, ela não se lembra de que tem um neto e ninguém sabe onde está o meu filho.
- Hmmm, então está tentando encontrá-lo?
- Sim, já reviramos todos os documentos dela e não encontramos nenhuma pista.
- Se quiser, posso ajudar. Tenho conhecidos que podem investigar. – Disse ele enquanto avaliava a reação dela.
- Oh, seria muita gentileza da sua parte.
-Bem, ficarei na cidade por alguns dias. Aceita jantar comigo hoje? Assim podemos falar sobre a criança.
- Sim. – Samira sentiu uma onda de felicidade, sabia que a ajuda de Kalifah seria muito bem vinda.
- Ótimo, te pego ás 08:00.
- Combinado. – Disse ela esperançosa.
Despediram-se e Samira continuou perambulando pela cidade.
-----------------------------------------
Kalifah fora pontual, chegando exatamente ás oito, ficou fascinado com a beleza de Sam, que vestia um traje azul, que se enrolava pelo corpo, com detalhes dourados, cabelo solto, os olhos delineados com kajal. Era assim que ele se lembrava dela, vestida em suas típicas roupas da família real. Lembrou-se do dia em que foram prometidos em casamento e de como se sentira perdidamente apaixonado por ela, ambos com 15 anos, só poderiam se casar quando estivesse com 21 anos. Ele sonhou todos os dias com aquele momento, e ficara em êxtase quando ela aceitou o namoro, nunca se esqueceu de quando Sam finalmente cedeu aos seus encantos e fizeram amor. Tudo caminhava bem, até o dia em que Oliver chegou e roubou o coração de sua princesa, destroçando todos os sonhos de Khalifa, e todos os planos entre ele e a família Dej Sahab.
As lembranças dos planos destroçados o fizeram sentir muita raiva, mas manteve a tranquilidade no olhar, afinal, aquela seria uma noite de decisões.
- Habib, você está maravilhosa.
- Obrigada, minha mãe me fez colocar o traje, ela disse algo do tipo "uma princesa que se preze, deve vestir-se como tal" – disse ela, olhando para a roupa e gargalhando. - Já são quase 5 anos sem me vestir assim.
- Sua mãe está certa, você está lindíssima.
O restaurante escolhido por Kalifah fora o mesmo em que ambos jantaram na primeira vez que saíram como noivos. Flor do Oriente era o restaurante mais elegante da cidade e muito frequentado pelos turistas de alto poder aquisitivo. Para a total surpresa de Sam, alguns flashs foram disparados na direção dos dois.
- Malditas câmeras fotográficas! – bufou Kalifah.
- E celulares também – retrocou Sam.
Enquanto jantavam, olhos curiosos os observavam, todos na cidade sabiam do passado dos dois e sabiam de como a união teria sido importante para os dois reinos.
- O que você sabe sobre seu filho, Sam?. – ele quis saber.
- Não muito, apenas que minha mãe o visitava uma vez por semana. Mas, não encontramos nenhuma pista de onde ele possa estar.
- E você nunca o viu desde que saiu daqui?
- Não – disse ela, sentindo todo o peso de remorso e do arrependimento.
- Se tivesse se casado comigo, nada disso teria acontecido.
- Eu sei, Kalifah. Mas você nunca me entenderia.
- Entender? Samira eu te esperei por quase 6 anos, mas você preferiu ele. Trocou-me por um canalha que te humilhou. Diga-me, além de um filho desaparecido, o que mais você conseguiu escolhendo ele?
- Eu...
- Não precisa responder, você não conseguiu nada! Foi expulsa do seu lar, ficou sem o filho e ainda sem com ele. Lembro-me do dia em que você terminou o noivado, suas palavras ainda ecoam na minha cabeça " eu o amo e ele me ama" se ele te amasse, Sam, não teria te humilhado, teria te acolhido, mas olhe pra você, sofrendo por sua escolha errada.
Samira estava espantada, tremia e não sabia o que falar, fora pega de surpresa pelas palavras de Kalifah.
- Eu sonhei com o nosso casamento, sabia? Com a família que teríamos construídos, estava disposto a deixar a residência oficial de Lokhary para morar em Londres, por que sabia que você queria isso pra sua vida. Este seria o nosso projeto de vida, eu era tolo, um bobo apaixonado. Mas agora, tudo mudou.
- Foi para isso que me trouxe aqui, para me humilhar? – Disse ela com os olhos marejados de lágrimas.
- Não. Tenho uma proposta pra você. – disse ele, com um tom de voz sério.
- Que proposta? Achei que fosse me ajudar a encontrar meu filho.
- E vou, mas só vai depender de você.
- O que quer dizer com isso?
- Simples, case-se comigo e trarei seu filho de volta.
Samira sentia-se atônita.
- Você enlouqueceu? Kalifah, que Allah tenha misericórdia.
- Calma, Habib, não precisa dar uma resposta agora, você tem cinco dias para se decidir. Seu pai ficaria muito feliz com essa união, poderíamos reaver os termos do antigo acordo do casamento.
- Kalifah, por que isso?
- Porque você tem que ser minha, Samira Dej Sahab. Você me pertence desde o dia em que te vi, passeando pelo jardim de sua casa, enquanto eu me escondia atrás dos arbustos, eu não sabia que você era a princesa e quando fui apresentado a você, Allah, meu coração estremeceu de alegria e quando você me deixou, algo em mim se desfez. Agora, eu exijo que se case comigo, mas se não o fizer, te garanto que moverei céus e terra para que você nunca encontre seu filho.
Samira sabia que a única coisa que queria mais que tudo nessa vida era ter seu filho nos braços. Estava disposta a tudo por ele, não deixaria que o medo a impedisse de ter seu pequeno nos braços.
- Você realmente enlouqueceu. Não sabe que meu pai está me ajudando a procura-lo?
- Sério, acha mesmo que ele tem mais poder e influência do que eu? Habib, seu pai não saí de Sahab, não se relaciona com os líderes mundiais. Enquanto eu, sou o Sheikh que mais tem negócios no exterior, conheço todos e posso usar a minha influência.
Franzindo o cenho, Samira se deu conta de que em 2 dias em Sahab, ainda não havia encontrado nenhuma pista sobre o paradeiro de seu filho. Percebeu que Kalifah poderia ser sua única chance de conseguir encontrar o menino desaparecido. Com um nó na garganta, ela então falou.
- Se me prometer que trará meu filho, eu aceitarei.
- Uau, nem vai usar os cinco dias para pensar?
- Não, apenas me prometa que o encontrará.
- Temos um acordo, Habib? – disse ele animado.
- Sim, mas eu tenho uma condição.
- Acho que não está em posição de exigir nada.
- Apenas me escute. Aceito me casar, mas só me casarei quando tiver provas concretas de que terei meu filho de volta.
- Hmm, justo. -
- Certo. – Disse ela em um tom desanimado.
- Amanhã começarei a procurar. – Khalifah riu de maneira sarcástica.
Naquela noite Samira sentiu-se um lixo, encurralada entre o erro e a amor. Sabia que era errado aceitar o casamento com Kalifah, mas precisava encontrar o filho e concertar o erro do passado. Pensou em Oliver e no quanto gostaria de estar com ele, mas fora justamente ele o culpado por tudo o que ela estava passando no momento. Escolhas foram feitas, só restava aguardar pelos resultados.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro