Meu primeiro dia de aula foi bom tirando toda a mudança que era inevitável, os colégios nos Estados Unidos são diferentes dos colégios no Brasil, mas apesar disso eu estou me adaptando bem. Meu pai e meu tio encontraram o xerife no necrotério, o corpo não foi identificado e deram entrada para ele como indigente.

Os dois foram me buscar na saída do colégio e fomos até uma cafeteria, afinal ninguém merece ficar preso o dia inteiro em um quarto de hotel.

— Isso é estranho não é… quer dizer… metade do corpo. — Sam comentou enquanto olhava para a tela do laptop — As mordidas… tem algo aqui que simplesmente… não se encaixa!
— Pode ter sido só um animal… um lobo talvez!? — Dean disse enquanto tomava um gole do seu café — mas ainda não explica o fato de só metade ter sido encontrado… 
— E se… não tiver sido um monstro… e sim um humano!? E se a garota foi morta por um humano… esquartejada, e jogada na floresta!? — Comentei lembrando do meu encontro com aquele cara na floresta.
— Pode ser… mas ainda não explica as mordidas nas pernas! — Sam continuou enquanto pegava seu cappuccino a garçonete — Como foi o seu primeiro dia?
— Foi… legal… eu acho. — Respondi distraída olhando para a janela tentando lembrar se aconteceu algo legal para comentar e não dar a impressão de que odiei o novo colégio.

O celular do meu tio começou a tocar enquanto conversávamos, era da delegacia de Beacon Hills avisando que estavam a caminho do endereço do possível assassino.

— Temos trabalho a fazer. — Meu tio disse enquanto levantava e colocava o pagamento sobre a mesa. — Não temos tempo de deixar você no hotel, mas você vai ter que ficar no carro, ok?

Dei de ombros, não seria a primeira vez que eu iria ter que esperar de qualquer forma. Enquanto meu pai dirigia tive a impressão de já ter passado por aquele lugar, e no fim percebi que não era só impressão, meu pai parou o impala a alguns metros da mansão velha que eu havia visto antes.

Eles saíram do carro para conversar com o xerife e como me foi pedido eu esperei no carro, bem… pelo menos alguns minutos, mas algo do lado de fora me chamou a atenção, alguém entrou na viatura onde o suspeito estava preso e alguns segundos depois foi retirado pelo xerife com um puxão de orelha, foi nesse momento que me dei conta de que conhecia aquela pessoa… era o Stiles, o garoto hiperativo que sentou do meu lado na aula de química.

Tive que desobedecer ao pedido do meu tio, precisava saber quem era aquele cara, e se Stiles entrou na viatura para falar com ele queria dizer que já o conhecia.

Me aproximei depois que o xerife se afastou.

— Stiles! O que você tá fazendo aqui? — Perguntei me aproximando mais alguns metros até ficarmos frente a frente.
— Eu poderia… perguntar a mesma coisa — Ele sorriu.

Apontei na direção dos rapazes que estavam conversando com o xerife outra vez.

— O cara mais baixo é meu pai, e a chamada foi um pouco urgente demais para me deixarem em casa antes de vir… — Expliquei observando outro garoto se aproximar.
— Scott essa é a Bella, Bella esse é meu amigo Scott — Stiles nos apresentou falando daquela forma acelerada como ele sempre faz.
— Eu sei… eu vi você jogar hoje mais cedo! — Comentei. — Você é bom! Mas, porquê vocês estão aqui?
— O meu pai é o xerife… — Stiles respondeu.
— Isso explica o puxão de orelhas! — Sorri — E… vocês conhecem aquele cara?
— Derek Hale. — Scott respondeu — A outra metade do corpo estava enterrado na propriedade dele.

Meu pai, meu tio e o xerife se aproximaram de onde estávamos.

— Bella nós pedimos para você ficar no carro! — Meu pai disse enquanto se aproximava.
— Eu sei… só vim falar com os meus amigos — Sinalizei em direção aos garotos.
— É a sua filha? — O xerife perguntou parando ao lado de Stiles.
— É. — Ele respondeu colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Meus cabelos ainda estavam curtos, na verdade eu havia cortado outra vez desde o dia em que fiz aquela burrada e Lúcifer ajudou a consertar… acho que meu cabelo longo de antes não reflete quem eu sou, não agora. Fiz questão de cortar igual ao que Lúcifer fez antes, mesmo com as pequenas falhas… afinal essa sou eu desde que aquilo aconteceu.
— Esse é o meu filho, Stiles — O xerife disse aos rapazes. — Esse é o amigo dele, Scott. Eu pensei que havia dito para vocês irem para casa.
— A gente já vai né!? A gente já estava de saída! — Stiles disse agitando as mãos sinalizando em direção a um jipe a alguns metros. — Você vai ver o jogo de amanhã a noite?
— Ahn… acho que sim… — Respondi.
— Se manda Stiles! — O xerife murmurou.

Stiles ergueu as mãos em rendição e Scott o seguiu enquanto caminhavam em direção ao jipe.

— Desculpem por isso! — O xerife se pronunciou com um sorriso ligeiramente envergonhado.
— Éh… sem problemas — Meu pai disse me olhando pela visão periférica.
— Pode por favor nos avisar quando estiver com o resultado da perícia? —  Tio Sam pediu.
— Sim, claro.

Eles apertaram as mãos e nós voltamos para o carro.

— O que você realmente foi fazer lá fora? — Sam perguntou erguendo uma sobrancelha.
— Eu fui falar com o Stiles… e… perguntar sobre aquele cara. — Expliquei pegando o celular para olhar a caixa de mensagens, mesmo que eu não tivesse exatamente muitos amigos que tivessem o costume de me mandar mensagens.
— Derek Hale, morava naquela casa com a família até um incêndio à mais ou menos seis anos. — Meu pai explicou enquanto dirigia para fora da mata.

Os rapazes continuaram conversando sobre o caso… para eles ainda não estava resolvido e por isso iríamos continuar na cidade por mais algum tempo. Fiquei em silêncio pensando no que meu pai disse sobre o incêndio… se não há mais família quer dizer que todos foram mortos, isso é um grave crime, não foi apenas um incêndio, foi homicídio.

A noite meu pai Castiel e Jack ligaram pela webcam do laptop, conversamos sobre o caso, mas principalmente meu pai estava preocupado comigo.

— Bella você está dormindo bem? — Castiel perguntou me olhando daquela forma que se estivéssemos cara a cara seria um contato visual extremamente intenso.
— Eu dormi… o suficiente… — Tentei dizer de forma convincente mas soou mais como insegurança. Eu parei de ter pesadelos depois do que aconteceu com o Jack… mas ainda é difícil conseguir pegar no sono e não acordar atordoada pensando que tem alguém tentando me matar enquanto durmo.
— Anda tendo problemas para respirar? — Ele perguntou outra vez. Estava se certificando de que eu estava saudável sem a minha graça… — Se precisar você sabe que pode me ligar e eu vou para Beacon Hills o mais rápido possível!.
— Eu sei, e eu tô bem… obrigada pai. — Sorri carinhosamente — Como vocês estão?.
— Gabriel está ajudando Miguel a consertar a bagunça no céu. E nós estamos bem.

Continuamos conversando até a hora do jantar, eu ainda estava pensativa demais para conversar com os rapazes, algo nessa cidade está me incomodando, não sei o quê ou porquê, mas vou descobrir.

No dia seguinte segui normalmente para as minhas aulas. Na hora do almoço sentei na mesma mesa com Scott e Stiles, não pudemos conversar direito no dia anterior, mas para a minha surpresa Stiles também tinha perguntas.

— Bella, eu posso perguntar uma coisa? — Ele diminuiu o tom.

Assenti, não sabia o que ele iria perguntar, mas imaginei que talvez fosse algo sobre o jogo que teria daqui a algumas horas.

— Por que seu pai e aquele outro homem estavam fingindo ser do FBI? — A pergunta dele me fez engasgar.
— O que? — Fingi um leve sorriso.
— Eu conheço todos os federais que trabalham com meu pai e… — Ele hesitou por momento. — E pelo que meu pai disse os agentes se chamavam Wanek e Heigher… nenhum dos dois se chama Winchester.
— Droga rapazes! — Pensei — bem… que tal um acordo? Eu explico isso se vocês me explicarem que bizarrice sobrenatural está acontecendo nessa cidade, e não venham me dizer que não sabem porque ninguém vira automaticamente uma estrela do lacrosse só por levar um empurrão! — Argumentei em um tom baixo, porém perfeitamente audível para os dois que estavam na mesa comigo.

Eles se entreolharam.

— Ela sabe… — Ele sussurrou.
— Eu guardo o segredo de vocês se vocês guardarem o meu! — Afirmei enquanto tamborilava os dedos na garrafa d'água.

Eles se entreolharam novamente, conheço bem esse ato, é usado constantemente por meu pai e meu tio quando estão querendo saber as opiniões do outro sobre algo mas não querem falar em voz alta.

— Você conta! — Stiles disse depois de mais alguns segundos de troca de olhares.
— Tudo bem, mas você vai ter que prometer não contar a ninguém! — Scott acrescentou.
— Eu prometo. Mas vocês também não podem contar a ninguém sobre toda a coisa do FBI.
— Ok, prometemos. — Stiles concordou.
— O que está acontecendo é que… eu sou um… lobisomem. — Scott confessou. Eu estava imaginando algo do tipo, mas não um lobisomem… quero dizer, os lobisomens que estamos acostumados a ver comem corações humanos na lua cheia, e nem se lembram do que fizeram no dia seguinte. Por outro lado existem variações das lendas, e diferentes formas de contrair licantropia.

Acenei com a cabeça e fiquei em silêncio por alguns segundos enquanto absorvia a informação.

— Você não tá chocada? Ou assustada? ou sei lá… qualquer coisa? — Scott perguntou franzindo o cenho.

Um leve sorriso apareceu no canto dos meus lábios.

— Já vi tantas coisas estranhas, precisaria de mais do que isso para me assustar — Sorri. — Mas isso explica a melhora automática no lacrosse, seus reflexos melhoraram. Tem muitos lobisomens por aqui?
— Só eu e o… Derek Hale. — Ele disse hesitantemente.

Lembrei de quando nos encontramos na floresta e de como ele sumiu rapidamente quando virei as costas.

— Entendi… acho que é a minha vez de me explicar. — Suspirei. — Aqueles dois homens que fingiram ser do FBI são meu pai Dean Winchester, e meu tio Sam Winchester. E eles estavam fazendo isso para poder cuidar daquele assassinato porquê na verdade eles são… caçadores.

Scott pareceu chocado ao ouvir isso, não era para menos… afinal a maioria dos caçadores não costuma ser amigável em relação aos lobisomens.

— Você não vai contar para eles, vai? — Ele perguntou quase sussurrando.
— Mesmo que eu não conte eles vão acabar descobrindo… mas não se preocupe, desde que você não machuque nenhum humano você vai ficar bem.
— Pela experiência que tive com caçadores eu acho que não… — Eu não sabia que haviam outros caçadores na cidade, então fiquei confusa.
— Seguimos um código de honra diferente do dos outros caçadores, confia em mim, não machuque ninguém e você vai ficar bem! — levantei da mesa para levar a bandeja, mas me virei outra vez antes de sair. — Boa sorte no jogo!.

Depois das aulas voltei para o hotel. Pouco antes de irmos ver o jogo meu tio recebeu uma ligação, era da delegacia de Polícia de Beacon, o resultado da perícia havia saído, "Jane Doe" nome que as autoridades deram a garota encontrada na floresta, havia sido identificada.

— Vocês não vão acreditar… — Sam comentou — A garota da floresta era Laura Hale!
— Hale!? — Dean questionou — Como o…!?
— É, ela era irmã do Derek Hale! — Ele continuou. — E tem mais, a perícia disse que ela foi morta por um animal, não um humano…Derek Hale foi solto.
— Sério? — Eu sabia que provavelmente deveria ter contado que já sei o que ele é, que ele é um lobisomem e que tem outro lobisomem na cidade, mas apesar de o Scott não ser uma ameaça, eu havia prometido a ele que não contaria, e achei que essa promessa também se estendia a Derek.
— Mas vamos ficar de olho nele de qualquer forma… só para garantir, tem uma lua cheia chegando e pelo que diz o relatório, a noite que Laura Hale foi assassinada era uma noite de lua cheia. — Dean comentou.
— Não é a primeira vez que encontramos um lobisomem com padrões diferentes dos convencionais… — Sam disse enquanto olhava o celular.

Limpei a garganta.

— Melhor irmos ou vamos perder o começo do jogo! — levantei e fui até a porta do quarto do hotel esperando que eles me seguissem.

Quando chegamos ao Colégio, os garotos estavam entrando no campo. Pegamos lugares no andar superior da arquibancada e esperamos até que o time se organizasse.

O jogo começou e depois de alguns minutos depois percebi que havia algo estranho, ou melhor dizendo… normal demais para um time que tem um lobisomem como um dos titulares. Scott nem sequer tocou na bola no primeiro tempo, durante o jogo Lydia e Alisson estavam segurando um cartaz enquanto torciam pelo Jackson, o namorado da Lydia… engraçado, considerando que Alisson é caidinha pelo Scott.

— Quais deles são os seus amigos? — Meu pai perguntou olhando atentamente para o campo.

Apontei para o banco dos reservas a alguns metros abaixo de nós onde Stiles estava sentado assistindo ao jogo.

— Ele não entrou para o time principal. — Enquanto olhava para os garotos no campo pude notar que não estavam passando a bola para o Scott. — E o Scott é o número 11.
— Aquele que mal tocou na bola?

Assenti e continuei olhando para o campo observando a injustiça que estavam fazendo com Scott. Lydia levantou outra vez com o cartaz e pediu a ajuda da Alisson para torcer pelo Jackson, o time estava perdendo é claro, perderam a chance de passar a bola para o melhor jogador (que por acaso era um lobisomem, mas ninguém precisava saber disso).

A noite estava começando a ficar mais fria… o segundo tempo do jogo estava começando agora e Scott não parecia muito bem no campo. Ele estava curvado com os olhos voltados para o chão, eu estava começando a ficar preocupada com a possibilidade de ele estar perdendo o controle, mas para a minha surpresa quando o jogo se iniciou ele havia voltado a ser aquele jogador incrível que todos presenciaram quando fez o teste para entrar no time principal. De forma totalmente brusca o placar começou a mudar, um dos jogadores do time adversário pareceu ter passado a bola para o Scott, as pessoas estavam gostando do que estava acontecendo, afinal faltava pouco para o fim do jogo mas ao mesmo tempo Scott já havia marcado duas vezes… tínhamos uma chance de vencer. Os jogadores do time adversário começaram a cercar o Scott, faltavam 10 segundos para o fim do jogo e faltava só mais um ponto para que o placar ficasse empatado.

Scott conseguiu arremessar nos últimos 5 segundos e marcou o ponto que garantiu nossa vitória. Algumas pessoas correram para o campo para comemorar, tentei cruzar o mar de pessoas que estavam entre mim, Scott e Stiles, todavia quando finalmente consegui passar por todos, Scott havia sumido.

— Stiles!! — Gritei para chamar a atenção dele, que estava junto ao resto do time. — Cadê o Scott?
— Ué, ele tá… bem, ele estava aqui a alguns segundos! — Ele olhou em volta. — Acho que é melhor procurarmos por ele…
— Também acho… — nos separamos e cada um foi para um lado diferente, eu fui procurar no estacionamento e Stiles foi procurar no vestiário.

Ele não estava no estacionamento, mas vendo pelo lado bom ninguém havia gritado, ou seja, ele não atacou ninguém. Voltei para o campo onde meu pai e meu tio estavam esperando por mim.

— Onde você estava? — Meu pai perguntou.
— Procurando o Scott… acho que ele não está se sentindo muito bem… — O que não foi exatamente uma mentira… duvido que esteja sendo fácil lidar com a licantropia.

Vi Scott e Stiles saindo do vestiário e se aproximarem de nós.

— Tudo bem Scott? — Perguntei inclinando a cabeça.
— E-eu tô bem. — Ele respondeu tentando não olhar para meu pai e meu tio. — Nós temos que ir, não é Stiles!?
— Ahn!?... ah sim, nós temos que ir! — Stiles concordou — A gente se vê amanhã Bella!

Os observamos enquanto íamos até o impala no estacionamento. O campo estava quase vazio, com exceção de Jackson que continuava lá. Quando estávamos a uma considerável distância achei ter visto alguém mais no campo, misteriosa figura essa a qual ignorei, seria melhor assim.