A solidão foi o único final lógico
— É um belo lugar que você tem aqui… — Bella comentou olhando em volta, seus olhos vagando pelas prateleiras de livros de medicina até o chão com brinquedos do gato. A casa de Jesse era tudo que normalmente não seria esperado de alguém que já foi intitulado como o anticristo.
O rapaz não sabia onde tudo isso ia chegar, mas essa garota, meio-anjo que estava em sua sala de estar agora era o mais próximo que ele esteve de outra pessoa desde que desapareceu quando criança, claro que isso não incluía as crianças no hospital, ou seus colegas de trabalho. Nunca os convidava para sua casa. Não queria se aproximar de pessoas e colocá-las em perigo.
— Você disse que Lúcifer está morto?
— Sim, foi morto pelo arcanjo Miguel. — Mesmo sendo Miguel de outro mundo, ainda era o arcanjo. A jovem preferiu omitir esse detalhe. — O céu está voltando aos trilhos. E o inferno… bem, é o inferno.
— Porque veio me procurar? O que querem de mim?
— Foi só uma incrível coincidência… eu nem sabia quem você era. — A garota respondeu, pensativa por alguns segundos. — Você não tem esposa?
Nos móveis da sala não haviam fotografias, a casa parecia vazia e estava completamente silenciosa a não ser por suas próprias vozes.
Jesse explicou que desde que teve que fugir de sua própria casa e de seu destino pré-ditado por anjos arrogantes e demônios manipuladores, não conseguia mais permitir que pessoas se aproximassem, viveu sozinho por muito tempo, e sempre que alguém desconfiava da constante ausência de seus pais em uma cidade, se mudava para outra e começava de novo.
Porém, apesar de tudo, as palavras de Sam Winchester permaneceram em sua mente. “Eu não fiz a escolha certa, mas você pode fazer”. O garoto sempre pensava nisso, em como poderia fazer algo certo se continuasse fugindo para sempre. Contudo, portas se abriram no fim do ensino médio, ele escolheu abandonar qualquer poder que tivesse e seguir seu caminho como médico.
Seus poderes agora apenas ajudavam pessoas, e faziam pequenos milagres. Que irônico, não? Um meio demônio fazendo milagres por aí. Não poderia chamar atenção, e não poderia curar a todos os pacientes com câncer sem atrair atenção para si mesmo. Mas ainda poderia ajudar nos casos que ainda estavam no início.
No fim das contas nunca se casou, não tem filhos, não tem nada além de sua carreira, seu gato e uma casa grande que parecia ficar cada vez mais vazia à medida que envelhecia e a saudade da sua família crescia cada vez mais em seu peito. Evitava pensar nisso. A solidão era necessária, foi o mais lógico a se fazer para que tudo ficasse bem.
— Ninguém mais está procurando você. — Bella disse. — Na verdade, desistiram há muito tempo.
— Isso deveria melhorar as coisas? — Ele suspirou. — As coisas estão bem agora, mas anjos e demônios não são amigos. Um dia vão começar a brigar outra vez e tudo vai recomeçar.
— Não seja tão pessimista, pode levar milênios até que isso aconteça.
Bella contou a ele os reais motivos de ter ido procurá-lo, no fim das contas suas diferenças os tornavam iguais. Ambos eram popularmente conhecidos como abominações, possuíam um lado humano que era mais forte que seu lado sobrenatural, e no fim, ambos tem suas próprias escolhas para continuar suas vidas provavelmente eternas.
Como um anjo da guarda inesperiente, Bella pediu ajuda do rapaz com uma parte de sua missão que poderia ser complicada graças a teimosia humana. Convencer a mãe de Elise a levar a garota ao hospital para ver o pai.
Martha Carter não contrariou a recomendação do médico ao ouvir que uma visita da filha poderia fazer um milagre pela recuperação de seu marido, ou ao menos dar a ele uma morte tranquila sabendo que viu sua filha uma última vez.
Milagres aconteceram. No fim das contas Martha levou Elise para ver Ben, e Bella acompanhou a menina para levá-la de volta depois. Enquanto a garotinha apresentava sua babá ao pai, Bella que estava segurando a mão de Elise enquanto a menina segurava a mão do pai, curou o homem.
Dois dias depois Ben descobriu através de novos exames que estava milagrosamente curado, e os Carter não precisariam mais de uma babá.
Bella depositou o dinheiro que recebeu como pagamento por seus serviços na caixa de doações do hospital. E através das paredes de vidro acenou em despedida para Jesse enquanto o rapaz brincava com as crianças que estavam passando pela quimioterapia, e deixou o hospital.
A jovem anjo da guarda retornou ao céu, sua primeira missão havia sido um sucesso.
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