Idiotas
Os rapazes ficaram fora por uma semana, aparentemente é difícil dar fim a um espírito aquático... Isso se devendo provavelmente ao fato de ele ser aquático. Desenvolvi um pouco mais minha habilidade com a água, apesar da última aventura ter sido ligeiramente traumatizante ainda me diverti bastante, e principalmente aprendi bastante, não apenas a matar um zumbi, como também a voar. Ainda não contei aos rapazes, resolvi fazer uma surpresa.
Estavam todos na biblioteca quando os surpreendi com a minha recém-aprendida habilidade. Ouviu-se um farfalhar de asas quando apareci na cadeira ao lado do meu tio Sam.
- Que bom que voltaram! Esse lugar fica muito vazio sem vocês! - Comentei.
Os olhos deles se arregalaram e eles sorriram enquanto se entreolhavam.
- Você... Aprendeu a voar... - Sam disse sorrindo.
- Viram só? Cada dia que se passa eu melhoro um pouco mais! - Eu estava animada por ter aprendido, pratiquei um pouco na última semana antes que eles voltassem, acabei acostumando com aquela coisa de "tudo e em todo lugar ao mesmo tempo" e aprendi a não esbarrar nas coisas durante a aterrissagem.
Foi uma sensação boa deixá-los orgulhosos, mesmo estando cansados eles ainda me davam atenção, e isso me deixava feliz.
Charlie ainda estava no Bunker, começamos a ler um livro juntas, um romance sáfico, ainda era diferente ter uma pessoa mais velha com os mesmos gostos que eu, mas tenho que dizer... Eu amo isso.
O lado ruim da último semana foi o início da volta as aulas, tudo bem, é homeschooling! Mas de qualquer forma ainda era um saco. Por outro lado no bunker estava tudo bem, o que era minimamente inusitado considerando que tínhamos o próprio diabo hospedado conosco.
Os rapazes ainda estavam tentando descobrir quando o Miguel do outro universo chegaria, estavam procurando sem parar nos arquivos dos homens de letras algo que pudesse dar ao menos uma dica sobre como lidar com essa situação, mas sempre falhando, afinal como os homens de letras poderiam prever que em algum momento algo assim aconteceria!? Foi algo que pegou todos de surpresa. Na noite daquele mesmo dia recebemos uma ligação, era um antigo contato do meu avô, alguém que Sam e Dean não viam a anos, uma vidente chamada Missouri Mosley, ela precisava de ajuda.
Eu estava começando a ficar pálida depois de tanto tempo em um bunker subterrâneo, pedi aos rapazes que me deixassem ir com eles, meu pai relutou por alguns minutos mas me deixou acompanhá-los, arrumamos as mochilas e em poucas horas lá estávamos nós, destino: cidade de Omaha, Nebraska. Tivemos uma noite tranquila de viagem... Ou ao menos eu acho que foi tranquila, nem me dei conta de ter adormecido no banco de trás poucas horas depois de anoitecer.
Estávamos em Nebraska quando acordei na manhã seguinte, e estávamos a 12 quilômetros de Omaha quando paramos para comprar comida e bebida. Aparentemente eu estava dormindo tão mal nos últimos dias, que mesmo às 8:50 AM parecia que ainda eram 5:00 AM e meu cérebro implorava por outro cochilo de pelo menos duas horas enquanto meu corpo se alimentava de um pacote de batatas fritas e uma caixinha de suco de laranja.
Chegamos a um hotel em Omaha, e antes de saírem os rapazes tinham algumas coisas para me explicar.
- Se você vai caçar com a gente, tem algumas coisas que você vai precisar aprender! - Meu pai disse enquanto sentava em uma cadeira próxima a cama onde eu estava, ele sentou virado para o encosto da cadeira.
- É, nós temos alguns códigos importantes que podem salvar sua vida-...
- Ou as nossas! - Meu pai interrompeu.
- Ou as nossas... Certo. - Meu tio continuou.
Eu os escutei em silêncio enquanto falavam e tentei prestar o máximo de atenção possível em suas palavras.
- Primeiro e mais importante... - Meu pai anunciou. - Temos uma palavra para dizer uns aos outros para largar tudo e dar o fora.
- Poughkeepsie. - Sam completou. - Se falarmos essa palavra para você a qualquer momento, fuja! Não importa o que estiver fazendo, se você falar para nós, vamos saber o que quer dizer.
- Usamos essa palavra para ter certeza de que o outro vai conseguir fugir antes de ser pego por seja lá o que estivermos lidando no momento. - Dean explicou.
Eu tinha quase certeza de que acabaria esquecendo a palavra e que deveria escreve-la e memoriza-la, mas por enquanto iria apenas ouvir as outras.
- A próxima tem quase o mesmo significado, Five-O, se falarmos para você significa que fomos pegos e você deve cair fora antes que seja pega também. - Dean continuou.
- "Cidade divertida" é um código para nos avisar que tem uma arma apontada para a sua cabeça. - Sam disse. - E tem mais três coisas.
Eles me passaram a senha do compartimento do Impala onde ficam as armas e munições, a senha é o dia da morte da minha avó (11/02/83), minha avó morreu no dia 02 de setembro, exatamente o dia em que meu tio fez 6 meses de vida. Eles também me explicaram que as vezes pode acontecer de nos separarmos, e que caso isso aconteça eu deveria ir ao primeiro motel que aparece na lista telefônica. Também existe um código para avisar que está sendo seguido, "tem uma pedra no meu sapato", os rapazes estão sem dúvidas preparados para todos os tipos de situação.
Sam e Dean foram até a casa da vidente e eu fiquei esperando no hotel. Refleti por alguns minutos sobre tudo que havia acontecido nos últimos meses, e por algum motivo me veio a mente o tio Gabriel, "o arcanjo Gabriel", adoraria saber onde ele está, e se está bem depois de tudo que aconteceu... Será que o veremos outra vez algum dia!?
Os rapazes voltaram algumas horas depois, disseram que tínhamos que ir, destino da vez; Buckhead, Georgia. Saímos de Omaha o mais rápido possível, pelo que pareceu, a missão da vez seria proteger a neta de Missouri de uma criatura, uma "aparição". A garota em questão de chama Patience, que segundo a avó, também é uma vidente muito poderosa.
Missouri estava temendo pela neta, aquela aparição está perseguindo videntes e sugando seus fluidos cerebrais, ela sabia que Patience estava em perigo, e amava a neta a ponto de nem se importar com sua própria vida ao mandar Sam e Dean para Buckhead. Enquanto estávamos na estrada saiu a notícia de que Missouri havia sido encontrada morta.
Em Buckhead encontramos o sobrado do pai de Patience, meu tio Sam tentou falar com o homem para alertá-lo do perigo que a filha estava correndo, mas ele ignorou, ele negava a ideia de que a filha pudesse ser uma vidente, pareceu para ele a pior coisa que poderia acontecer, ele expulsou os rapazes de lá, agora a única forma de impedir que o pior acontecesse seria avisar a própria Patience.
Sam e Dean acharam que precisariam de uma ajudinha nesse caso, por isso chamaram reforços enquanto ainda estávamos a caminho de Buckhead, xerife Jody Mills já estava preparada para ajudar no que fosse necessário, que no momento seria tentar falar com Patience. Acontece que ela também não foi facil de convencer, ela sabia das habilidades da avó, mas não tinha auto-confiança o bastante para acreditar que era tão poderosa quanto ela. Para nosso azar, a aparição encontrou Patience e todos tiveram que correr contra o tempo para salva-la.
O lado ruim das aparições? (Além de serem monstros assassinos) eles são metamorfos, podem ser qualquer pessoa a qualquer hora, e isso dificulta o trabalho dos caçadores.
Eu sei que meu pai só quer me proteger, mas no fundo me senti um pouco decepcionada por não poder ajudá-los na parte prática do caso, eles não sabem que já lidei com minha própria investigação, estou pensando seriamente em contar.
Os rapazes e a xerife retornaram da caçada durante a madrugada, porém não estavam sozinhos, Patience estava com eles. Quando a garota aceitou seu dom de clarevidencia, resolveu contar ao pai, entretanto a reação dele não foi nada boa... Ele disse que não a aceitaria em casa se insistisse no assunto, e assim foi, assim como Alex e Claire, Patience foi acolhida por Jody e agora estavam a caminho de Sioux Falls.
Já passava de 3 AM quando começamos nossa viagem de volta ao bunker, não tínhamos tempo a perder, a ameaça de Miguel estava a cada dia mais próxima e sequer tínhamos noção de quando ele chegaria, o tamanho do seu exército, e é claro, o tamanho da sua força.
Eram 8 AM quando finalmente chegamos no Libanon, quando acordei no banco de trás, estávamos a caminho do bunker na estrada abandonada e discreta que levava ao local. Por um momento de volta ao lar, até esqueci que podíamos contar com a calorosa recepção de lúcifer em pessoa para alegrar o dia.
Os rapazes cumprimentaram Charlie e Cas na biblioteca e foram descansar em seus quartos. Jack e Lúcifer estavam na sala de guerra (a enorme sala com o mapa mundi), Cas estava preocupado com a proximidade entre os dois, jack é uma criança inocente e fácil de impressionar, Lúcifer sabe disso, e sem dúvidas vai tirar proveito de cada minuto para se aproximar.
Eu estava na masmorra explorando os misteriosos objetos lá guardados, com cuidado para não acabar tocando em algo. Encontrei um pequeno baú no canto de uma das paredes, a curiosidade veio a ser maior que a sensatez, e no calor do momento o abri, "a curiosidade matou o gato, mas a satisfação o ressuscitou".
Dentro do baú encontrei coisas que pareciam ser apenas um monte de quinquelharias, haviam algumas camisas de flanela, alguns mapas, bonés, e um livro que particularmente me chamou mais a atenção dentre todas as outras coisas, parecia um livro, mas não tinha capa ou lombada, eram apenas um monte de folhas juntas presas com um grampo.
A primeira folha, que eu estava supondo ser a capa, possuía a frase "o guia de caça de Bobby Singer". O abri em uma página aleatória que estava falando sobre quando meu pai se recusou ser o receptáculo do arcanjo Miguel, e então uma frase específica me fez sorrir, ela dizia; "até onde eu sei, Sam e Dean são o final da linha... E eu não os vejo tendo filhos tão cedo, se é que terão algum dia".
Eu pensei em levar as páginas a um dos rapazes quando acordassem, entretando Lúcifer me parou antes que eu saísse da masmorra.
- Você realmente não consegue ficar parada, não é? - Ele comentou. - Típico dos Winchesters.
Ele tinha um pouco de razão a respeito disso, acontece que o Bunker é um lugar interessante demais para se ficar apenas na biblioteca ou no quarto.
- Eu só estava procurando algo para ler. - Sorri, era estranho como ele conseguia não me deixar desconfortável, eu deveria estar, ele é o diabo afinal.
- Parece que já encontrou... - Ele analisou a capa. - Bobby Singer.
- Eu já li algumas coisas sobre ele, estava indo perguntar aos rapazes a respeito desse livro.
Ele deu alguns passos ao redor da sala.
- Porque não pergunta diretamente a ele? - Ele disse repousando as mãos algemadas sobre meus ombros. - Posso ensinar você a trazer ele até aqui.
Não achei que fosse uma boa idéia, principalmente por ter vindo dele.
- Eu não estou tentando enganar você, eu prometo. - Ele sorriu. - Aposto que ele ficaria feliz em ver os rapazes outra vez e em conhecer você...
Bem, por um lado ele estava certo, aparentemente ele gosta muito dos rapazes, é como se fossem filhos, e eu adoraria conhecê-lo.
- Tudo bem! - Afinal o que poderia dar errado?
Voltamos para a sala de guerra que estava vazia, Charlie havia saído, Sam e Dean ainda estavam dormindo, e Cas e Jack estavam na cozinha. Lúcifer disse para levar o diário, isso porque para teleportar alguém é preciso possuir um objeto de quem se quer trazer.
Ele sentou-se em uma das cadeiras.
- Castiel já ensinou a você aquela chatisse de autocontrole, e os elementos... Deve ser tedioso, não é!? - Ele comentou. - Você vai aprender hoje algo um pouco mais interessante.
Ele me disse para segurar o diário firmemente com as duas mãos e me concentrar nas energias dele. Por ser um diário, cada palavra foi escrita com um sentimento, esses sentimentos possuem energia, a essência de quem as escreveu.
- Concentração, você é uma das criaturas mais poderosas da existência, então não esqueça, você pode! - Ele me encorajou, foi estranho ouvir essas palavras vindo dele, mas serviram como incentivo.
Fechei os olhos enquanto me concentrava, a maioria dos sentimentos naquele diário eram negativas... Raiva, tristeza, culpa... Quando senti o máximo de energia possível abri os olhos e um clarão irrompeu o local enquanto eu me concentrava em trazê-lo até nós.
- Deu certo? - Perguntei liberando o ar que eu nem percebi estar segurando até então.
Pareceu que nada havia acontecido, até o momento em que me virei e me deparei com um homem mais velho que parecia visivelmente atordoado.
- Que lugar é esse?? - Seu tom parecia irritado. - Como eu vim parar aqui e quem-...?
Os olhos dele pousaram em Lúcifer, que permanecia sentando tranquilamente com as mãos algemadas sobre a mesa.
- Lúcifer!! Eu estou no inferno?? - Ele gritou, o que fez meu coração disparar, "Porque tanto desespero? Ele nunca esteve no Bunker?" Pensei.
O olhar dele subitamente se voltou em minha direção e palavras em latim começaram a sair de sua boca.
- Exorcizo te, omnis spiritus immunde, in nomine Dei Patris-...
- Espera! Eu não sou um-...
- O que está havendo? - Ouvi meu pai Castiel perguntar enquanto Jack o seguia pela entrada da sala de guerra. - Bobby??
- Castiel! O que você está fazendo aqui? - Ele parecia ainda mais confuso agora. - Cuidado, esse demônio não é afetado pelo exorcismo!
- Demônio? - Cas se aproximou ficando cara a cara com ele e colocando as mãos em seus ombros. - Bobby, qual a última coisa que você se lembra?
Ele refletiu sobre a pergunta por alguns segundos.
- Eu lembro de ter levado um tiro... Um tiro na cabeça!
- É... Bobby, esse tiro... Você morreu a seis anos. - Castiel explicou olhando-o nos olhos. - Parece que algo o trouxe de volta, ou alguém... Bella!?
- Eu não sabia que ele tava morto, eu juro!
Castiel suspirou, sons de passos ecoaram pelos corredores do Bunker até que Sam e Dean chegaram a sala.
- O que está havendo? - Sam perguntou ao entrar na sala. - Ouvimos alguns-... Gritos... - Os olhos dos rapazes se arregalaram. - Bobby...
- Rapazes! Será que podem me explicar de uma vez por todas quem é essa garota, e que lugar é esse??
Um misto de emoções parecia envolver os rapazes, eles pareciam confusos, mas estavam sorrindo enquanto se aproximavam.
- Bobby, essa é Isabella Winchester, minha sobrinha! - Sam respondeu depois de alguns segundos.
- Sua-... Quer dizer que ela é-...
- É, é minha filha Bobby!
Em meio a toda aquela confusão estava Lúcifer, ainda sentado apenas observando como se tudo fosse um grande Show.
- Como isso aconteceu? Quando? Você simplesmente descobriu que tinha uma filha? - Aparentemente a questão da minha idade não estava ajudando muito na assimilação dos fatos.
- Isso é complicado, a questão agora é saber como você voltou!
No mesmo momento que abri a boca para explicar, uma voz surgiu atrás de nós, pertencia a uma mulher, cabelos encaracolados curtos e pele escura, usando roupas pretas e carregando uma foice, sua expressão não era uma das mais alegres que eu já vi, de fato ela parecia irritada.
- Parece que o fruto não caiu longe da árvore, não é Dean? - Disse ela.
- Eu posso explicar, eu não sabia que ele estava morto, só... Achei que talvez morasse longe... Eu acho.
- A criança tinha uma boa intenção no fim das contas... - Lúcifer disse.
Os rapazes e Bobby o olharam irritadamente fazendo-o revirar os olhos. Continuei explicando como tudo aconteceu, "Achei que havia dito para você se livrar daquela porcaria!" Bobby disse ao meu pai Dean quando mencionei a respeito do guia de caça.
- Eu teria mandado um ceifeiro ficar de olho em vocês se soubesse que iriam ensinar feitiços tão avançados à sua filha! - Reclamou a mulher que agora eu tinha certeza, era a morte.
- Eu não ensinei isso a ela, e apesar de saber que ela está aprendendo algumas coisas sozinha, não acho que ela tenha feito algo desse tipo sem orientação... - Castiel disse, dando a Lúcifer um olhar de reprovação.
Lúcifer ergueu as mãos em redenção.
- Menina, você deveria saber que não deve confiar no diabo! - Ela me repreendeu. - Vou cuidar para que não fiquem sem supervisão.
Ela desapareceu em um piscar de olhos, aprendi a me acostumar com isso depois de um tempo.
Os olhares de todos eles sobre mim me deixaram nervosa e envergonhada por ter dado ouvidos a Lúcifer, sem comentar o fato de ter acabado de levar uma bronca da morte em pessoa.
- Desculpa... - Murmurei levemente encolhida na cadeira.
- Não foi culpa sua... - Cas disse com seu olhar outra vez fitando Lúcifer de uma forma irritada. - Vou garantir que você e Jack não fiquem sozinhos com ele outra vez.
Ele cumpriu com sua palavra, não nos deixou sozinhos por um minuto pelo resto do dia, pelo menos não quando Lúcifer estava por perto.
Os rapazes explicaram ao Bobby cada detalhe de tudo o que ele perdeu nos últimos anos, meu nascimento, a queda dos anjos, a marca de Caim, a escuridão e todo o resto. Sei bem como é difícil assimilar tudo isso... Mas sei também que Bobby está bem mais familiarizado com tudo isso do que eu estava.
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