23 | Hora de brincar
Nós tínhamos que atravessar tudo aquilo, mas nem eu mesma sabia se iríamos sair vivos.
– Temos que atravessar...
– Tem certeza dessa decisão, querida?
Matt surgiu em um dos caminhos. Todos seguraram as armas com mais força. Eu queria cortar a cara dele em pedaços, mas não perderia o que ele teria a dizer.
Ada surgiu ao seu lado, segurando um controle brilhante e cheio de botões. Ela agitou o mesmo no ar para Andy.
– Pegamos o seu brinquedinho. Não são tão espertos quanto pensam, ou são?
– É o seguinte: vocês saem pelo labirinto e vão embora como quiserem, se conseguirem – Matt apontou para as plantas atrás de si. – Nós ficamos com o controle nas mãos caso algo aconteça. A pegadinha é: um fica, todos saem.
– Como?
– A magia de Ada foi bem útil na minha construção. Agradeço à Andrômeda pelo enorme esforço nesse projeto – sorriu para as duas. Andy tinha feito tudo aquilo então. – Vocês pestes podem ir embora, mas alguém terá que se sacrificar.
– Como sabemos se você não vai nos prender assim que entrarmos? – Charlie perguntou erguendo a sobrancelha. Matt deu de ombros.
– Não temos controle do lugar, ele tem vida própria e escolhe sem quiser. Não estou dizendo que vai ser aleatório, mas se alguém quiser se sacrificar ou... É escolha de vocês. Já que não posso ter todos, então que seja assim.
– Você não vai se safar dessa, idiota – resmunguei. – Nós vamos dar um jeito de te pegar e voltar para casa.
Ah, como eu queria estar em casa. Nada melhor que um dia normal com meu melhor amigo, comidas não saudáveis e Netflix. Perto dos meus pais, minha avó...
– Podem tentar – ele sorriu e acenou para Ada. Os dois se dissiparam uma fumaça.
Brenda olhou para a construção de pedra que ia até o alto.
– Tem certeza que ninguém sabe voar ou escalar isso aqui? Eu posso tentar! – deu de ombros e tomou impulso para subir na parede. As pedras eram muito escorregadias.
– Bre, não dá – Lucas puxou seu braço. – Vamos conseguir. Ao menos que alguém se sacrifique para todos saírem.
– Espera, você acreditou naquele papinho dele? – Aimee riu. As facas nas mãos não me deixavam mais calma. Ela parecia querer cortar alguém ao meio. Alguma hora ela vai fazer isso sem dúvidas.
Lucas apontou para Andy. A menina respirou fundo e anuiu com a cabeça.
– Eu ajudei na construção do labirinto. O castelo todo e aqui estão repletos de magia negra. Não sei como sair, apenas fui à parte do sistema básico do castelo. Matt mandou construir o labirinto para o caso de uma fuga acontecer! Eu falei que correr era uma má ideia!
– Eu disse que vamos embora e nós iremos! – Mike a agarrou pelos ombros. – Já passei por muita coisa pra chegar aqui. Não é agora que vou desistir.
Ela tinha passado bastante tempo aqui pelo visto.
Dei uma volta pelo local. Estávamos cansados demais com tanta correria e luta. Passar por uma barra dessas não seria fácil.
– Onde você está? – perguntei para certa pessoa escondida nas profundezas da minha mente. Eu não queria morrer ali e com certeza precisava da ajuda de certo titã, odeio admitir.
– Se o que eles disseram é verdade – Charlie começou e voltamos nossa atenção para a mesma. – Então alguém vai ter que ficar.
– Mas o que acontece com quem fica? – perguntei a Andy. Ela apenas balançou a cabeça em negação. – Vamos fazer o que? Correr e ver quem chega por ultimo ou alguém quer ficar?
Ninguém respondeu. Se fosse para correr, Mike e eu chegaríamos primeiro pelos poderes, e logo depois Corey e Brenda, depois os outros ficavam por conta própria se fossem mais rápidos pelo tamanho. Eu não queria ficar e morrer, não mesmo. Depois de saber todo o plano psicótico do filho de Invidia e suas intenções sobre mim, sem chance!
Mas algum de nós se sacrificar para deixar os outros?
– Tem um corredor para cada – Lucas observou. Era verdade. As oito entradas iam a direções opostas. – Todos entram, mas alguém fica.
– E o que tem lá dentro? A magica pode pegar mais de um se não tomar cuidado – Aimee disse.
– Não, não – Mike disse em observação. Eu me sentia em uma mistura de Harry Potter e Maze Runner bem louca, o que não era um bom sinal. – Matt fez algo lá dentro. Os poderes deles são mais ligados à mente, pecado, arrependimentos, lembranças... Tudo levando à vingança em si. Quem já foi vitima percebeu.
É verdade também. Matt olhava para mim com um brilho assustador nos olhos. Ele sabia tudo sobre mim, conseguia tomar posse das pessoas. Com certeza não ia deixar nos safarmos tão fácil.
– Eu fico.
Desviamos a atenção para a voz. Andy.
A morena estava mais machucada e suja que todos aqui, sua expressão cansada quase cobria a raiva nos olhos.
– Não sou importante de qualquer jeito. Sou a mais jovem, não sei fazer muita coisa e vocês não me conhecem tanto para se importar. Eu fico. Ele já se aproveitou de mim por muito empo, posso ficar mais.
– Sem chance! – Mike interrompeu. – Sua vida é importante. Viemos te salvar também.
– Estou apenas retribuindo o favor – ela insistiu. Todos encaravam a conversa com raiva, é claro que ela era importante. Andy merecia ter uma vida de novo. – Pensem bem! Se eu ficar posso dar um jeito de voltar e tentar distrai-lo, ou resolver as bombas, bolar uma armadilha! Qualquer coisa!
– Chega! Eu já sei como fazemos! – Charlie disse alto. Tive a sensação de como nosso tempo estivesse acabando ou algo assim. A morena arrumou o cabelo e fechou os olhos por alguns segundos. – Certo. De um jeito ou outro vamos pelo labirinto. Não dá pra pular, ir por cima voando, cortar, queimar...
– Nós vamos morrer – Aimee lamentou para si mesma. – Eu falei isso em voz alta, foi mal. Continua.
– Isso é decisão de cada um, mas ninguém fica para trás. Eu juro que se alguém parar no meio do caminho pros outros saírem, vou voltar e matar ok? Já passou da hora de bancar o herói – Brenda disse.
– Vamos entrar nos corredores de uma vez e correr até chegar ao outro lado – Charlie continuou. Tive o vislumbre do dia em que a conheci na mesa de ping-pong, dizendo as instruções para o jogo. – Mike e Daphne vão alguns segundos depois por serem mais rápidos. Não sabemos o que tem lá dentro, então é cada um por si. Pensem nos outros e em si mesmos.
Concordamos. Eu não queria que fosse agora, mas não tínhamos tempo. Fiquei com medo. Se eu ficasse para trás, se mais de nós ficássemos para trás. Vai saber o que pode acontecer.
– E o Matt? – perguntei olhando para o chão.
– Ah, ele vai querer explodir tudo isso quando a gente sair – Corey disse. – Mas nós conseguimos pegar ele, eu sei que sim.
Eu espero mesmo. Ainda temos muitos assuntos inacabados.
Silêncio. Ninguém tinha nada para falar. O medo de entrar era tanto que mal pude me mover.
Olhei parra o chão gramado e levei as unhas á boca. O habito de roer sempre foi presente, por isso era difícil vê-las crescer. Senti calafrios por toda a parte, temendo o que poderia acontecer.
Senti o frio diminuir e o calou ficar em minha volta. Não foi magica, era só um abraço familiar e acolhedor que apertava e cheirava a suor e morango.
– Nós vamos ficar bem – Mike disse ao meu ouvido. Eu sabia que não era totalmente verdade, mas concordei, aproximando ainda mais seu casaco do meu rosto.
Em pouco tempo, abracei forte todas as pessoas que pude. Todos como se fosse a ultima vez. Senti o cheiro forte de uva vindo de Aimee, a sensação dos ventos da praia em Charlie, o delicado abraço de Corey e Lucas, a força de Brenda e a fragilidade de Andy.
Eu queria ficar com eles até o fim, sei lá, nem que a gente cavasse um buraco no chão até alcançar o mar e dar no pé.
– Se você morrer eu vou ter que aguentar ele pra sempre – Aimee resmungou apontando para Mike. O moreno riu e arrumou os óculos sujos. – Quero voltar com os dois ao meu lado. É tudo o que eu tenho.
– Eu vou voltar para a minha mãe e você para as suas, Aimee – ergui a sobrancelha. Ela ficou mais rosada que o habitual. – Eu amo vocês.
– Não vou dizer isso em voz alta com ele por perto – ela disse e rimos. Mike riu e deu um beijo em sua bochecha de modo desafiador. Arregalei os olhos com mais entusiasmo. Aimee ficou vermelha igual a uma placa de trânsito e deu um soco forte em seu peito. – Tá pedindo pra morrer, Harris.
– Quando nós sairmos, você me retribui.
Segurei mais ainda a risada. Mike nunca foi de ser o mais atrevido do grupo. Normalmente eu fazia essas coisas.
– Certo, agora vamos – Brenda disse, posicionando-se em um dos corredores. Fiquei entre ela e Mike. Os outros se dispersaram aleatoriamente nas posições.
– Um... – Charlie contou.
– Dois... – olhei para Andy e Corey, lado a lado.
– Três!
Eles partiram. Eu e Mike esperamos cinco segundos para ir.
– Quero te ver do outro lado. Você me deve uma revanche no Overwatch – ele disse antes de corrermos.
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