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Resignificar

·♪♪♪·

ARTHUR CEVERO

·♪♪♪·

   Falta pouco para o show começar, novamente estou aqui no bar suvaco seco, onde tudo isso começou...

Lembro-me da primeira em que subi em um palco, era pequeno e simples, mas cabia todo o amor e admiração que a platéia tinha por mim. Mesmo desafinado, mesmo com a voz falha e com vergonha de errar algum acorde, eles me aplaudiram, me apoiaram e me ajudaram em tudo que eu precisei.

Minha família sempre esteve comigo desde o início, e agora, tocar nesse pequeno e simples palco é sempre uma honra para mim. É uma forma de mostrar aos que se foram que eu ainda estou aqui, eu ainda lembro deles, eu os amo. E seja lá onde estiverem, vão ouvir minha canção.

— Esse show promete ein, campeão! - Ouço Balu comentar terminando de limpar o chão do cômodo. — Estou ansioso para ver vocês e os guri tocando novamente.

— A gente vai dar o nosso melhor, senhor Balu! - Exclama Murilo alegremente limpando o balcão do bar.

— Essa noite vai ser a melhor de todas - Afirma Marcelo complementando o comentário de seu irmão. Ao contrário de todos, Marcelo é o único que não está ajudando em nada na organização do bar. Mas conhecendo bem o Marcelo estranho mesmo seria se ele ajudasse em algo.

Ivete nos deixou aqui arrumando o lugar enquanto ela e Aghata foram até o mercado mais próximo reabastecer o estoque de bebidas, todos sabem que hoje é noite dos Gaudérios Abutres, e para isso o máximo de bebida possível é recomendada para comemorarmos a noite com sucesso!

Tudo dará certo, e eu o verei novamente...

Quando será que ele chega? - Pergunto a mim mesmo olhando pela décima vez para a porta do estabelecimento, acho que estou ansioso em ver Dante novamente, e fazem apenas três dias que não nos vemos...

Três dias.

Espero que ele esteja bem... - Penso me lembrando do que o loiro havia dito. Ele disse que nos veríamos no dia seguinte no colégio, como de costume. Mas ele foi ontem, nem ante ontem, nem antes disso...

Ele não tem o costume de faltar, me pergunto se algo de errado aconteceu, perguntei isso a Leonardo, amigo de Dante, mas o jovem disse que não sabe ao certo o que aconteceu, também perguntei a Aghata que conversa com Beatrice nos intervalos mas a jovem disse que até Bea está faltando.

Alguma coisa está acontecendo.

Vou perguntar a ele quando chegar. - Afirmo comigo mesmo terminando de preparar os equipamentos para o show. Tudo está pronto, só falta as bebidas.


— Voltamo, porra! - Exclama Aghata energicamente. A jovem deixa algumas sacolas sobre o balcão correndo em seguida para os fundos do estabelecimento. — Nossa eu preciso muito ir ao banheiro, já volto.

— Ninguém se importa - Comenta Marcelo de forma seca.

— Não comecem vocês dois com as implicâncias, vocês tem que estar em harmônia em cima do palco - Explica Ivete se posicionando atrás do balcão. — E eu não estou falando de música, guri.

— Eles amam se odiar, essa é a verdade - Afirma Murilo sorrindo para o seu irmão que automaticamente nega fazendo uma careta de repulsa.

— Não, credo.

Me sento no meio do palco descansando um pouco, pego minha mochila que estava jogada ali perto tirando meu velho caderno de letras junto a um lápis. Em momentos como esse me sinto ansioso, isso me inspira de certa forma em transformar esse sentimento em versos, noto que se aproximando de mim estava Ivete, que também se senta no palco olhando para mim com curiosidade.

— Vai finalmente cantar sua tal música secreta? - Pergunta Ivete olhando para o caderno em minhas mãos.

— Não é secreta - Explico calmamente.

— Você não mostra pra ninguém e faz suspense sobre a letra, então é secreta. Sem falar que eu nunca vi você se dedicar tanto em algo como nessa letra aí, já está a meses compondo isso...ela deve ser importante para você - Explica a mais velha colocando sua mão sobre meu ombro. — Posso ver?

— Ah, mãe..não sei não...acho que ainda não tá pronta... - Murmuro olhando pensativo para o caderno.

— Você falou a mesma coisa no mês passado - Explica Agatha caminhando até o palco. — Sabe que não precisa estar pronta para ser ouvida, não sabe?

— Ela tem razão, por que não faz uma prévia pra gente? - Pergunta Murilo alegremente. — Aposto que ela está ótima, e se não estiver, tudo bem!

— Ninguém aqui vai te criticar, campeão - Explica Balu na tentativa de me tranquilizar.

Antes que pudesse dizer algo a respeito do assunto ouço o ronco de algumas motos se aproximando do estacionamento do bar.
Ao ouvir isso Ivete se levanta calmamente sabendo que se trata do motoclube da região, os integrantes do clube são os clientes mais fiéis que o bar já teve. Eles mais do que ninguém esperam ansiosamente para esse show.

— É agora família - Afirma Marcelo caminhando até o palco a procura de seu instrumento.

— Boa sorte a todos! - Exclama Murilo fazendo o mesmo que seu irmão.

— Sorte, até parece que precisamos disso - Agatha revira os olhos brincando com uma de suas baquetas entre os dedos. — Sorte é coisa de gente insegura, nós somos foda pra caralho!

— Vamos lá - Afirmo tirando minha boa e velha Fender Stratocaster de sua capa. Vamos nos aquecer e começar o show em breve, espero que Dante chegue a tempo para a apresentação. Ele não vai se atrasar, é sempre tão pontual com tudo.

Ele já deve estar a caminho. -  Afirmo a mim mesmo me tranquilizando, me aproximo do microfone dando os avisos de sempre em relação ao show.


— Obrigada a todos que vieram e a todos que virão! Nós somos os Gaudérios Abutres, e como muitos aqui sabem nós tocamos com mais frequência na casa de shows lá no centro, ela se chama Rock em São Paulo, caso queiram apreciar variedades de estilos musicais toda semana no lugar, estaremos a espera de todos! Agradecemos desde já pela presença de todos aqui e espero que gostem do show!  - Explico educadamente olhando para a clientela do lugar que aos poucos aumentavam mais e mais.

Hoje será incrível.

— Vamos ao que interessa agora, quem está pronto para um rock?! - Pergunto energicamente ao ver alguns conhecidos do motoclube. A energia e admiração deles abatesse essa banda. Se depender deles tocaremos até o amanhecer, e é o que faremos.

·♪♪♪·

GAL SAL


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Violino.

  Instrumento usado em consertos de músicas clássicas, o instrumento mais difícil, porém mais belo em uma orquestra. O lado bom de tocar um violino é que apenas em saber posicionalo de forma correta ao seu corpo as pessoas já notam o quão experiente você é.

Eu não me considero um bom violinista, o aprendizado de qualquer tipo de músico nunca para, é uma constante evolução. Eu aprendo o suficiente para ser o melhor da orquestra, o suficiente para me destacar nas apresentações no teatro, o suficiente para agradar o meu pai.

Por que apenas o suficiente? Porque nem se quer tocar violino eu realmente gosto, dizem que quando você gosta de fazer algo seu interesse se transforma em dedicação, você nunca vai parar até estar satisfeito. E o melhor de tudo é que o gostar não pesa em sua mente, se você gosta, você não se cobra, você apenas gosta.

Eu não gosto de violino. Não gosto de participar de orquestra, trabalho em grupo não é algo que eu goste de fazer, até porque eu estou mais do que afrente do que todos que tocam na orquestra, ter que me rebaixar ao nível deles para estar no mesmo "ritmo" que ele me tira do sério.

E eu não gosto de ser tirado do sério.

Não gosto dele...- Suspiro pesadamente olhando para meu pai, que sentado em sua poltrona imponente observa cada movimento meu durante todo ensaio. Me pergunto porquê ele finge que se importa com o meu desempenho.

— Pare. - Olho para o mais velho ao ouvir sua ordem, faço o que ele disse. — Por que está olhando para o chão? Não é ali que o público estará - Em passos lentos ele caminha até mim, estendendo sua mão até meu queixo levantando meu rosto levemente. — Olhe para mim, e para o público.

— Sim senhor... - Afirmo encarando seu olhos, consigo ver todos os meus demônios através de suas orbes, olhos amarelados.

Maldito olhos.

— Continue - Ordena o homem voltando a se sentar. Ouço meu celular em meu bolso, em um reflexo o pego olhando fixamente para a tela.

Léo...- Sorrio para a tela por poucos segundos voltando a olhar para meu pai. — Posso atender? - Pergunto a espera de uma resposta.


— Continue - Comenta o homem novamente.

Que saco... - Desligo a ligação voltando ao meu ensaio.

Maldito ensaio.

Em menos de dois meses uma nova apresentação irá acontecer no teatro de São Paulo, pessoas de vários lugares virão para apreciar o conserto da melhor orquestra do estado. É claro que esse título dado ao grupo é graças a mim, por esse motivo meu pai insistiu ao maestro que eu deveria iniciar o conserto com um solo de violino.

Ele teve essa ideia brilhante e nem se quer me perguntou se eu queria participar. Agora os ensaios duram o dobro de tempo que normalmente eu gasto. E pensar eu enquanto estou aqui o show dos Gaudérios Abutres está acontecendo, eu não gosto deles, é claro. Ainda acho uma banda amadora comparada a minha.

Mas preciso conversar com Arthur sobre um assunto importante, preciso conversar sobre o Dante e sua decisão sem sentido de parar de tocar. Olhar para a GIbson abandonada no canto do meu quarto me revolta. Tenho vontade de acabar com o Dante, de obriga-lo a tocar música para sempre e ser feliz, porque é isso que o faz feliz, eu sei disso. Eu o conheço.

Mas no fundo Leonardo tem razão, eu não posso usar a violência, não nesse caso.

Talvez as palavras façam mais efeito na cabeça do loiro do que um murro, por isso vou pedir ao Arthur para me ajudar com esse assunto, afinal, ele gosta da música e do Dante. Então não me ajudar não é uma escolha.

Ele vai saber usar as palavras melhor do que eu. Não gosto de conversas sentimentais, nem se quer faço ideia de como elas funcionam.

— Senhor Kian, seu advogado ligou, disse que é importante - Explica a governanta da casa olhando para meu pai que se levanta calmamente caminhando até o escritório.

— O ensaio acabou por aqui, coma algo e vá dormir - Explica o homem saindo do cômodo.

— Sim senhor - O respondo automaticamente. Olho para a mulher que ainda estava no cômodo a me encarar, ela parece querer dizer algo. — Que foi? - Pergunto guardando o violino.

— Seu amigo ligou, eu achei que seu pai tinha deixado claro que não quer números estranhos ligando para cá - Comenta a mulher olhando preocupada para mim. — Sabe que eu não ligo de atendê-lo, mas se fosse outra pessoa que tivesse atendido não pensaria duas vezes antes de informar ao seu pai, Gal.

— Eu sei, eu sei. Obrigada por não contar nada a ele, eu vou retornar a ligação e pedir para que não ligue mais para o telefone da casa - Explico me sentando na poltrona tirando meu celular do bolso.

__________

Lerdo-nardo

Ou
Ou
Ou
Tá aí?
Gal?
Ou?
GAL?
pode atender agora?
E agora?
Gal?
Ou?
Véi não me ignora 😭

Oi?
Q foi?
Não tô te ignorando Léo, para de mimimi

Demorou ein
Te liguei três vezes

Se eu não atendi na primeira pq ligou mais duas?

Pq sim ué

Pq sim?
Léo eu tava ensaiando
Você me atrapalhou e meu pai me olhou com cara de cu
Não me liga tantas vezes assim
Principalmente para a minha casa

Hm...
Desculpa então
Achei que vc tava só me ignorando mesmo
Não sabia que tava ensaiando
Foi mal

Agora eu ensaio cinco vezes por semana
Pq meu pai é um cu
Odeio ele
Odeio violino
Odeio o Dante

Novidade
Pera, o Dante?

É
Ele tá me ignorando
Esse merdinha
Sumiu do whatsapp

Sério?
Achei que era só comigo

Ele também tá fazendo isso com vc?


Acho que alguma coisa aconteceu cara

Provavelmente

Quer ir na casa dele e dar um apoio?

Não sei fazer isso
Mas posso levar bebida

Sem bebida
Vamos sofrer sóbrio com nosso amigo
Pq é isso que amigos fazem!

Tá né
Fazer o que
Vamo passar no bar antes

Gal
Sem bebidas cara


mas a gente vai lá sim
Vou levar um guitarrista para ele
Assim ele para de chororo

Tá falando do Arthur?
Ele tá fazendo um show agora
Não acho que vai sair do palco por qualquer motivo

O motivo de chama Dante
É claro que ele vai
Do jeito que é gado

Gado?

Eles se gostam, não percebeu?

Sério?

É
Lerdo.

Tô saindo agora de casa
Me encontra no suvaco seco

Blz
Tô indo

__________

— Marta, preciso sair. É urgente - Explico olhando para a mulher que afirma levemente com a cabeça. — Fala que eu fui dormir, tá bom?

— Volte logo, Gal. - A mais velha me aconcelha preocupada.

— Não demoro.

·♪♪♪ ·

DANTE


·♪♪♪·

·4 anos atrás·

— Você me...ama? - A pergunta saiu de sua boca com tanta surpresa que senti meu chão estremecer, como se eu tivesse acabado de cometer um erro.

Um erro gravíssimo.

O que eu acabei de fazer...?- Engulo seco as palavras que disse desviando o olhar para o chão, me sinto leve por ter finalmente contado, mas também idiota ao mesmo tempo. Não preciso de uma resposta sobre meus sentimentos, está nítido em seu rosto, não são correspondidos.

— Desculpa...eu só achei que deveria te contar... - Explico encarando meus cadarços pensativo. Se deixarmos de sermos amigos por isso, eu nunca irei me perdoar... — Me desculpe, Jasmim...

— Desculpa? Pelo o que? - Em passos lentos vejo os pés da jovem se aproximando dos meus, levanto meu olhar lentamente encarando a jovem nos olhos.

Tão escuro quanto a noite e brilhante quanto as estrelas, viveria por toda minha existência admirando suas orbes...

— Dante, essa foi a coisa mais sincera que alguém já me disse antes, eu...eu fico feliz que sinta isso por mim, e por favor, não peça desculpas - As palavras de Jasmim acalmam todos os pensamentos ruins que invadiam minha mente, ela não está brava? Ela...me ama também? — Eu sinto o mesmo, Dante...

— Sério? - Pergunto temendo ser um sonho, tão perto de mim, ouço sua respiração sair junto a suas palavras, palavras tão sinceras...são verdadeiras...?

— Eu fico feliz que sinta isso por mim, de verdade, achei que era a única que via algo além de uma amizade, e sei lá, não queria estragar isso, entende? - Explica a jovem mostrando inquietude em sua explicação. — Mas você não estragou nada, tipo, tá melhor, digo...tá incrível, você é incrível...obrigada...

— Eu também não queria estragar nossa amizade, mas...achei que era um risco que eu deveria correr - Explico voltando a encarar o chão ainda com um pouco de receio de toda essa conversa. — Eu não estraguei nada mesmo, não é? Está tudo bem, tipo, entre a gente?

— Claro que está, ainda somos amigos - Afirma Jasmim segurando em minhas mãos. — E se...sei lá...se você quiser algo mais, tipo...

— Namorados? - Completo sua frase por pura ansiedade pela espera de sua resposta.

— É... - Noto a vergonha tomando conta das bochechas de Jasmim, não contenho meu sorriso ao notar seu rubor, possivelmente estou da mesma forma. — Pareço uma boba, não é?

— Não mais que eu - Dou de ombros ainda envergonhado, porém mais leve. Isso é tão bom...

Finalmente eu posso ama-la, sem medo de nada, sem medo de ninguém.

Sem medo de parecer um adolescente bobo apaixonado, afinal, é o que eu sou.

·Atualmente·

— Dante? Está me ouvindo? - Deixo de encarar o nada voltando a minha atenção para Clara, que com uma caneca em mãos pergunta novamente. — Quer chá?

— Não, obrigado... - Volto a encarar o nada ignorando a existência da mulher, ou pelo menos tentando. Por que ela está aqui?

Beatrice tem que parar com essas atividades em "família" - Encaro a jovem que distraída procurava algum filme nos catálogos.


— Affe, não achei nenhum filme bom! - Reclama Bea me entregando o controle. — Procura você, meus dedos estão com cãibra.

Suspiro fundo pegando o controle, noite de filme, só o que em faltava.

— Já está na hora do antibiótico, Dante - Ouço Clara comentar olhando para seu celular. — Vou pegar para--- a interrompo me levantando do sofá.

— Não precisa, eu pego.

— Meu filho, se não tomar o que o médico receitou de forma correta você não irá melhorar, deixa eu cuidar de você, tá bom? - Explica a mulher sorrindo gentilmente para mim, sorrindo como se nada tivesse acontecido.

Como se ela não tivesse ido embora do nada e também voltado do nada em minha vida, quem ela pensa que é para brincar de passear por aí e deixar os filhos sozinhos? Beatrice pode até perdoar, é claro que perdoa, ela mal se lembra de tudo o que aconteceu.

Mas eu não vou perdoa-la...

— Cuidar de mim? - Pergunto indignado. — Clara, não perca seu tempo fingindo que se importa comigo, eu sei cuidar de mim, melhor do que você jamais soube - Reclamo friamente caminhando até a cozinha, onde os malditos antibiótico estão.

Esse resfriado tá acabando comigo. Ando perdendo dias de aula por isso e nem se quer avisei a ninguém, eu sei bem que não é apenas essa virose que está me deixando confinado em casa.

Eu deveria dar algum sinal de vida...- Com meu celular em mãos encaro a tela pensativo, várias e várias mensagens de Gal. Ele ainda deve estar chateado comigo.

E agora bravo por não atendê-lo...

Droga, eu tô fazendo tudo errado...- Desligo o celular novamente, em momentos difíceis precisamos de apoio, de amigos com quem se pode contar para qualquer coisa a qualquer hora.


Eu tenho isso, tenho eles...os Escriptas, minha irmã, o Arthur...

Sei que todos me ajudariam se eu pedisse, mas por que não peço? Qual é o meu problema? Por que eu não consigo...?

— Dante... - Me viro ao ouvir uma voz familiar me chamando. Beatrice com lágrimas nos olhos me pergunta: — Está tudo bem...?

— Não, Bea. Não está... - Suspiro pesadamente abraçando a jovem. — Eu sei que você quer recomeçar do zero, sei que independente de tudo o que ela fez ela é a sua mãe...mas eu não consigo agir da maneira que você age, talvez porque você não a conhece como eu a conheço...

— Mas ela mudou, maninho...ela disse que mudou...

— Pessoas dizem isso o tempo todo, Bea. Quem garante que ela não vai passar por aquela porta de novo e vai embora? - Pergunto a encarando seriamente. — Você era só uma criança na época, assim como eu também era...eu fiz tudo sozinho, sempre. Por que ela voltou justo agora?

— Porque ela é nossa mãe, Dante...eu nunca tive isso, eu quero saber como é, entende? Jantares, passeios, filmes...nós somos uma família, por que não podemos agir como uma? - Pergunta Beatrice com seu rosto enterrado em meu peito. Tão pequena, ainda cabe nos meus braços...

Ah, Bea...as coisas não funcionam assim... - Acaricio seus cabelos pensativo. Nem sempre o que é o certo a se fazer é o que queremos, eu não quero perdoar Clara, não acho que fazer isso pelas vontades de minha irmã seja uma forma correta de se perdoar alguém.

E por mais que seja convincente, eu saberei que não será um pedido sincero, eu ainda vou guardar o rancor. Mais um de muitos sentimentos que guardarei aqui dentro de mim em silêncio...

— Bea, eu sei que não ando sendo muito... amigável em relação a Clara e sua aproximação repentina, eu sinto muito por isso. - Encaro a jovem nos olhos me desculpando por tudo. Mesmo não achando que tenho total culpa de tudo isso, eu nunca trataria alguém mal sem nenhum motivo, mas talvez Bea tenha razão.

Talvez ela tenha mudado.

— As coisas daram certo, e seremos uma família, eu te prometo isso, tá...? - Afirmo confortando minha irmã que volta a me abraçar em silêncio. Vejo a aproximação de Clara adentrando na cozinha.

— Dante... - A mulher me chama me olhando apreensiva. Talvez esteja pensando em como se desculpar? Claro que não, não faz o seu feitio. — Tem alguns amigos seus lá em baixo, eles querem subir... - Comenta Clara desviando seu olhar para o nada.

— Era isso mesmo que queria me dizer? - Pergunto após minutos de silêncio. — Que amigos? - Mudo de assunto.

— Não me disseram os nomes, mas a voz era...diferente - Foi a melhor palavra que a mulher conseguiu pensar.

— Diferente, tipo, metaleiro fumante? - Pergunta Beatrice sendo bem direta em sua pergunta, sua frase foi tão específica que consigo deduzir a quem a mesma está se referindo. — Deve ser o Gal.

— É... - Caminho até a porta do apartamento atendendo o interfone calmamente. — Oi? Quem é? - Pergunto a pessoa do outro lado da linha.

_____

Eu, abre aí.
Tô a uns quinze minutos apertando esse botão, anda logo.

Eu quem?

Eu Gaspar, pelo amor  abre esse portão.

Precisa de algo, Gal?

Preciso que você ABRA o caralho do portão

Gal! Não seja bruto, oi Dante! O que ele quis dizer com o caralho do portão é que...tipo, podemos entrar? Para conversar, sabe?

Léo?

Eu mesmo, viemos ver você. Cê tá legal?

Sumiu do colégio por que, ein Gaspar?

Tem como abrir? O sorvete vai derreter

Sorvete?

É, trouxemos um sabor estranho lá que o bigoduno falou que você gosta, o Arthur veio de brinde. Abre logo

A-arthur...?

...
ABRE O PORTÃO GASPAR

Gente, talvez ele não queira visitas, não vamos encômo---

Fica shiu Arthur, o Gaspar vai abrir esse portão SIM porque precisamos falar com ele.

ANDA LOGO O---

_____

EscandalosoAperto o interfone abrindo o portão do prédio antes que Gal continuasse a gritar a essa hora da noite na minha porta. Me pergunto o porquê de sua visita, ele não estava...bravo?

— Quem é? - Pergunta Clara curiosa, junto a Bea a mulher caminha até a porta a abrindo calmamente. Vejo subindo as escadas Gal e Leonardo, atrás deles estava Arthur.

Ele está aqui...

Está bem arrumado, em suas coatas ele carrega uma capa instrumental de cor preta, sua jaqueta de couro está acompanhando a camiseta de sua banda, os Gaudérios Abutres.

O show...- Como um estalo em minha memória lembro-me do show, foi hoje? Eu me esqueci totalmente. Esses dias andam sendo tão estranhos...

— Olá, amigos do Dante. - Clara os comprimenta educadamente. Leonardo a comprimenta de volta com um aperto de mão e um leve abraço, ao contrário de Gal que passa por ela não dando importância para a mesma.

— Por que sumiu? - Pergunta Gal preocupado, noto certa impaciência em sua entonação de voz mas também há preocupação nela. — Tá me ignorando?

— Não... - O encaro seriamente. — Eu que achei você que estava me ignorando...sei lá, pelo o que tinha acontecido no colégio...

— Então, viemos aqui para isso - Afirma Leonardo olhando para Gal. — Vai lá Gal, fala logo.

— Tá, tá! D-desculpa...- Murmura Gal desviando o olhar para o chão da minha sala. — Aquela briga não teve cabimento algum...por mais que seja errada ao meu ver, porque é, a escolha é sua. Totalmente sua...e eu tenho que respeitar isso, independente da discussão, da escolha, de qualquer coisa...ainda somos amigos, não é...? - Pergunta o jovem olhando para mim receoso de minhas palavras.

Sorrio aliviado para o jovem afirmando sua pergunta.

— Claro que somos, Gal...

— UFFA, não me mata coração! - Reclama o jovem me abraçando sem aviso algum, não esperava por um gesto tão repentino do jovem mas fico feliz por isso. Feliz por ainda sermos amigos...

— Eu falei que tudo ia dar certo - Comenta Leonardo sorrindo para mim.

— É, haha que maravilha! No fim nem precisamos do plano B, pode ir embora então Arthur - Gal encara o jovem seriamente que ainda sem jeito olhava aos arredores de minha residência.

— Hm? E-eu sou o plano B? - Pergunta Arthur olhando para Gal confuso.

— Sim, pode deixar o sorvete no balcão e ir emb--- Gal é interrompido por Leonardo que o encarando torto chamava sua atenção.

— Haha, Gal! Você é tão engraçado que chega a ser grosso, sabia? - Reclama Leonardo. — Ainda bem que é só uma brincadeira, NÉ, Gal?

— Não é não. - Comenta Gal dando de ombros.

— Arthur, quer uma água ou algo assim? - Pergunta Bea oferecendo ao jovem de forma receptiva. — Fica avontade, tá? Você é super bem vindo aqui - Explica a jovem olhando torto para Gal e sua falta de educação.

Apenas Gal sendo Gal.

— Ah, que isso...valeu mesmo mas...tô sem sede, obrigado. - Explica Arthur sem jeito olhando para o carpete da sala. O que ele tem?

— Filhou, tomou o remédio? - Pergunta Clara novamente. Olho para a mulher me lembrando do que realmente fui fazer na cozinha.

O antibiótico, droga - Caminho até a cozinha apressadamente temendo perder o horário para tomar os remédios receitado pelo meu médico, se eu não tomar corretamente essa gripe insuportável nunca irá passar.

— Remédio? - Pergunta Leonardo preocupado, o jovem me acompanha até o cômodo me fazendo várias perguntas. — Como assim? Tá doente? Desde quando? É o seu marca-passo...? - A última pergunta saí com receio de minha resposta.

As vezes eu me esqueço que faço uso de um, tenho sorte por estar vivo. Tenho sorte de ter morado no orfanato Santa Merefreda, se não fosse pelo dono do lugar, Arnaldo Fritiz, eu não teria condições para tratar de minha saúde.

— Não... - Respondo o tranquilizando, ao ouvir minha resposta Leonardo suspira profundamente, ao lado do loiro Gal reclama de braços cruzados.

— Não existe remédio para marca passo cara, para de ser neurótico com isso - Comenta Gal olhando para o frasco de remédio em minhas mãos.

— Existe sim - Afirmo corrigindo o comentário do jovem.

— Viu só? Eu não tô neurótico! Essa situação é delicada, você tem que se cuidar cara - Leonardo me encara preocupado perguntando novamente. — O que você tem, Dante...?

— Eu tô bem, é só uma gripe que eu acabei contraindo, essas mudanças de clima repentina acabam comigo - Explico pegando um copo de água. — Me receitaram repouso e esses antibióticos, minha ausência no colégio será justificada com meu atestado, fiquem tranquilos...

— Tranquilos?! Você sumiu! Seu arrombado, uma gripe não é desculpa por ter dado vácuo em geral, sabia? - Reclama Gal me encarando torto.

— O Gal tem razão, você podia ter avisado né, tipo, dado sinal de vida para qualquer um do grupo. Todo mundo ficou preocupado contigo - Explica Leonardo olhando para a sala de estar de onde eu ouvia a voz de Clara conversando com Arthur sobre algum assunto banal. — Até o Arthur tava preocupado...

Permaneço em silêncio pensando no erro que cometi, mais um de muitos. Todos ficaram preocupados comigo sem grandes motivos, deixaram seus afazeres e compromisso de lado, gastando um tempo valioso apenas para me ver.

Ele perdeu o show por minha causa?

— Me desculpa gente...eu...não queria preocupar ninguém... - Murmuro tomando os antibióticos receitados. Os comprimidos descem por minha garganta com auxílio da água que tomo logo em seguida. — Me desculpem mesmo...

— É só por essa gripe que você sumiu...? - Pergunta Leonardo tão desconfiado quanto Gal.

— Tem outro motivo aí, não tem? - Pergunta Gal preocupado.

— Eu...eu não sei bem o que é, mas é confuso, esse sentimento... - Suspiro pesadamente colocando o copo sobre o balcão. — Eu não sei o que é, e nem como reagir a ele...por isso eu só fiquei aqui, em casa, sozinho. Esperando tudo passar...esse sentimento passar...eu não sei o que é mas vai passar.

— Sentimento? - Pergunta Gal confuso. — Você tá tentando fugir dos seus sentimentos? Dante, você é burro ou o que? Não tem como fugir disso, tipo, saí de você mesmo e não tem como fugir disso, por que é sempre a mesma coisa? - Gal em encara seriamente ignorando o comentário de Leonardo.

— Gal, não começa com---

— Você não pode fugir de tudo que tem medo, só porque é algo novo não significa que seja algo ruim, você nem sabe o que é e tá fugindo! Para com essa mania cara, isso tá te impedindo de viver sua própria vida, sabia disso? - Reclama Gal caminhando até mim apontando o indicador em minha testa. — É sério, para. Coloca isso na tua cabeça!

— Falar é fácil, Gal... - Murmuro desviando o olhar do jovem que continua a me encarar com seu olhar julgador, como se a culpa fosse minha, como se eu quisesse ser assim...

— Dante, vai dar tudo certo cara. A gente tá aqui para te ajudar no que precisar, você sabe disso, não sabe? - Explica Leonardo me confortando, afirmo levemente com a cabeça olhando para o loiro, desvio minha atenção dele ao notar que ao seu lado surge Beatrice junto a Arthur.

Alegremente Bea adentra na cozinha caminhando até os armários a procura de mais sacos de milho para preparar pipoca.

— Farei mais pipoca para todos! Nós vamos ver um filminho bacana - Exclama a menor com empolgação.

— Filme? Parece legal - Comenta Leonardo olhando para mim. — Se importa, Dante?

— Fiquem a vontade! - Responde Beatrice animadamente. — Se quiserem ajudar minha mãe a escolher algum filme lá na sala eu agradeço, o gosto dela para filmes é meio paia.

— Paia mesmo é falar paia - Reclama Gal olhando para o corredor que liga a cozinha até a sala de estar. — Sua mãe tá aqui de novo Dante? - Pergunta Gal despreocupado em esconder seu encômodo ao notar a presença da mulher na sala.

Ele realmente não havia percebido isso. Assim como a mim, ele também não gosta de Clara, por motivos bem óbvios. Só ele viu o quão grandes foram as dores que ela causou em mim ao me deixar sozinho com minha irmã, foram dias naquele apartamento frio, sem nada e sem ninguém, apesar de sentir fome, a esperança de que ela voltaria a qualquer momento me deixou vivo. Mas ela não voltou.

E eu morri por isso. Por culpa dela.

O prédio em que morávamos pertencia ao pai de Gal, um de muitos imóveis que Kian possuí por todo o país. Ao descobrir esse abandono ele chamou o conselho de menores, que nos levou até o orfanato em que moramos até eu ter idade o suficiente para ser responsável por mim mesmo.

E pensar que após me abandonar ela consegue estar no mesmo teto que eu sempre sentir nenhuma culpa. Como ela pode ser tão...

— Vamos escolher um filme, Léo - Explica Gal pegando no braço de Leonardo o puxando para a sala as pressas. — Anda, antes que ela escolha algum romance entre lobos e vampiros ridiculamente bizarro!

— Tô indo, calma. - Explica Leonardo comentando com Arthur. — Ei, guarda o sorvete Arthur, antes que ele derreta, ok?

— Ah, ok... - Afirma Arthur entrando na cozinha com algumas sacolas em mãos. Seus olhos encaram os meus durante um tempo, não sei o que dizer, faz alguns dias que não nos falamos, eu simplesmente ignorei suas mensagens, assim como a de todos os outros. Não fui ao colégio e não o ajudei com as aulas extras, como havia prometido.

Sem falar no show...

Ele deve estar bravo comigo... - Desvio o olhar para o chão deixando o silêncio tomar conta do ambiente, por sorte ele foi quebrado por uma simples palavra.

Um simples comprimento vindo do Gaudério...

— Oi...

— Oi... - O comprimento de volta, todas as minhas perguntas foram cessadas nesse exato momento, tudo está bem, é notável em sua entonação de voz.

Tão calma e gentil...

— Oi... - Comenta Arthur novamente sorrindo para mim.

— Oi, Arthur... - Sorrio gentilmente para o jovem.

— Vão ficar de papinho aí ou vão me ajudar na cozinha? - As palavras de Bea me trazem de volta para a realidade, me viro para a menor perguntando educadamente.

— Com o que exatamente quer ajuda, Bea?

— Com tudo né, sou um desastre ambulante na cozinha - Explica Beatrice fazendo uma careta feia se encarando pelo reflexo do vidro do microondas.

— Hãm...onde coloco isso? - Pergunta Arthur com algumas sacolas em mãos. Olho para a geladeira a abrindo em seguida.

— Você não precisava ter trazido nada, Arthur. Mas agradeço, de verdade... - Explico sorrindo para o jovem, esse sabor de sorvete é realmente ótimo, aquele dia foi ótimo...

— Ah, que isso. O sorvete do Balu é milagroso, cura tudo, haha! - Brinca Arthur colocando os potes na geladeira, ao fechar a porta o jovem me encara por alguns segundos até tirar a capa preta de saia costas. — E isso...onde eu coloco...?

— Hm? Ah, fique avontade para escolher um lugar, entendo sua preocupação com sua Fender mas em qualquer lugar daqui ela estará segura - Explico caminhando até o balcão onde minha irmã colocava algumas panelas sobre o mármore.

— Essa não é a minha Fender, Dante... - As palavras de Arthur me fazem gelar, no fundo eu já sabia que não era a guitarra de Arthur, o formato não era desse instrumento, tantos instrumentos no mundo, tantas pessoas que os tocam, com ambição ou amor as notas, eu reconheceria ela mesmo que estivesse a milhões de distância de mim, eu sentiria ela...

Eu sei...

— É a GIbson...não é...? - Pergunto encarando o nada no chão da cozinha. Ouço seus passos se aproximando de mim, com receio e preocupação ele responde.

— Sim...eu não sei bem o porquê estou com ela, Gal me entregou e disse que eu seria o único que poderia te convencer a ficar com ela...quer conversar sobre isso, Dante? - Pergunta Arthur com a capa em mãos, a segurando firmemente.

— Convencer? - Pergunta Beatrice se colocando no assunto. — O Gal não tem jeito mesmo né. Que tipo de amigo não sabe respeitar as decisões dos outros, nossa, garoto chato!

— Ele te pediu para me convencer?  - Pergunto a Arthur o encarando seriamente.

— Sim, mas...não foi bem assim, quero dizer, antes dele pedir o assunto foi iniciado por minhas perguntas, então...sei lá, se quiser ficar bravo, fique comigo. - Explica Arthur suspirando pesadamente, o jovem pensa em como usar as palavras mas acaba se perdendo na presença de Beatrice que não parecia de importar com o barulho que estava fazendo no preparo de uma simples pipoca.

— Que foi? - Pergunta Beatrice ao notar que eu a encarava de canto. — Olha, vão para o quarto e conversem lá. Eu tô ocupada na cozinha aqui. - Explica a jovem dando de ombros.

— Se cuide - Digo para a menor saindo do cômodo, sigo o corredor ao lado oposto da sala, adentrando em um cômodo bem organizado e silêncioso. O meu lugar favorito no mundo inteiro.

Meu lar, meu quarto...

— O que o Gal disse? - Pergunto para Arthur que observava cada detalhe do cômodo encantado.

— Você coleciona discos antigos? - Pergunta o Gaudério olhando para a estante ao lado da porta, onde entre as prateleiras há alguns discos e livros empoeirados. Ele parece querer mudar de assunto.

— Arthur - O chamo seriamente sendo direto no assunto. — O que Gal disse pra você? - Pergunto novamente ao jovem que suspirando pesadamente murmura.

— Ele disse...algumas coisas... - Explica Arthur se aproximando em passos receosos até mim. — Dante, me desculpa mesmo, eu só fiquei preocupado contigo, não queria me meter em coisas pessoais suas...

Desculpa...?- Continuo a encara-lo seriamente enquanto o escuto.

— Gal não contou tudo aquilo por mal, ele só respondeu as perguntas, perguntas que eu fiz...me desculpa mesmo...

— Arthur, o que exatamente ele disse? O que exatamente você perguntou a ele...?

— É que você tava faltando nas aulas e não apareceu no show...quando eu vi Gal e o Leonardo lá no bar perguntei a eles se tinham notícias de você, você meio que sumiu e...sei lá, fiquei preocupado. Entende? - Explica Arthur desviando o olhar para o instrumento que carrega em mãos. — Gal comentou que vocês não estavam conversando, por conta da briga que tiveram. Eu perguntei sobre o motivo da briga e ele falou sobre o seu sonho de ser músico e a desistência dele... - O jovem volta a me encarar preocupado. — Eu senti que deveria trazer a GIbson, não quero te convencer a tê-la novamente, mas...queria entender o porquê não quer mais toca-la e nem tê-la por perto.

— Por que eu teria algo que não uso mais em minha casa? - Pergunto olhando para o Gaudério. — Arthur, eu entendo que se preocupe comigo mas por favor, não faça mais isso. Não pergunte coisas sobre minha vida para Gal, não é como se ele soubesse sobre tudo sobre mim.

— Todos dizem que vocês são amigos desde crianças então...achei que ele saberia responder as perguntas que tenho... - Explica Arthur envergonhado. — Me desculpa mesmo Dante, eu não queria ser tão intrometido assim...

— Perguntas? - O encaro confuso. — Você tem perguntas em relação a mim? Por que...?

— Porque...eu me preocupo com você, Dante. - Responde Arthur me encarando nos olhos.

Esses olhos bicolores encarando os meus com tanta preocupação, é confuso o encara-lo de volta. Por que ele está preocupado? É por causa de meu resfriado? Meu fracasso na área da música? Ou...

O que Gal disse a ele? - Sinto o suor frio escorrendo por meu rosto. Devo estar febril mas isso pouco me importa agora, ele sabe sobre ela...

Gal contou sobre ela.

— Dante...? - Sinto os braços de Arthur me alcançando, me levando até minha cama onde me sento suspirando pesadamente. — Está se sentindo bem? Isso é tontura? Quer que eu chame alguém?! - Pergunta Arthur me olhando preocupado.

— Ele te contou, não contou...? - Pergunto em meio ao silêncio do quarto, vejo Arthur afirmar levemente, ainda com os braços em volta de meu ombro o jovem me abraça fortemente murmurando em meu ouvido:

— Eu sinto muito pela sua perda, Dante...

Ah... - Sinto as batidas em meu peito se intensificarem, consigo a ouvir ecoando por todo o quarto, por toda casa, por todo o universo. Eu nunca quis tanto chorar como quero agora, já faz tanto tempo, mas ainda dói.

Ela ainda faz falta, ela faz muita falta.

Toda noite quando o silêncio toma conta de tudo minha mente permite que os pensamentos caminhem por ela. Não consigo deixar de pensar de como as coisas seriam se ela estivesse aqui, o que ela acharia de mim e do nosso sonho...

Ela me acharia fraco por não conseguir seguir em frente, falho por desistir de nosso sonho. Desistir da música...

Ela me odiaria por isso, ela me odeia.

Essa dor seria bem menos intensa se eu não a amasse tanto, apesar de tudo, apesar do tempo que se passou...

Eu ainda a amo.

As coisas poderiam ter sido diferentes, mas agora eu estou aqui, afogado em minhas dores me consolando nos ombros de Arthur, alguém que é tão importante para mim como ela foi, como ela é. Eu a amo tanto, foram sentimentos tão únicos ao lado dela, e agora consigo senti-los novamente.

Depois de tanto tempo, os sinto novamente. Sinto em seus braços junto ao seu calor...

Isso é tão confuso, por que ele...?

Arthur...- O abraço fortemente permanecendo em silêncio.

— Você já havia comentando sobre a Jasmim, se lembra...? - Ouço Arthur comentar enquanto acaricia minhas costas levemente. — Você comentou o nome dela quando eu perguntei sobre amar alguém...eu não sabia quem ela era até Gal me explicar, me desculpa por ter feito aquela pergunta...

— Não peça desculpas...a culpa não foi sua... - Murmuro olhando para a cama onde a capa do instrumento está ao lado de Arthur. — A culpa foi toda minha, eu não estive lá quando ela precisou...e por isso ela se foi, como posso continuar carregando um sonho que não me pertence? Como posso tê-la por perto...? Eu não posso, não sou digno disso, não sou digno de tê-la...

— Essa guitarra possuí um significado único para você, não é? Ela já foi um sonho de um casal, hoje te lembra de uma perda que infelizmente você sofreu... - Arthur encara o instrumento por alguns segundos antes de pegá-la a tirando de dentro da capa. — Você percebeu que o significado dela mudou duas vezes? Por que não faz isso novamente?

— O que...? - Encaro a GIbson pensativo.

Do que ele está falando...?

— Resignificar. - Afirma o Gaudério com o instrumento em mãos. — O único que pode ser digno de ter essa guitarra é você, Dante. Você sabe os momentos que passou com ela, sabe o significado que ela tem, ele não precisa significar algo ruim, sabia? A saudade dói, mas é saudável, mostra o quanto a Jasmim era importante para você...e ela ainda é, não é? - Pergunta Arthur a espera de minha afirmação.

— É... - Murmuro encarando a guitarra deslizando meus dedos por seu tronco bem polido.

— Não abandone o seu sonho, muito menos a sua guitarra... - Comenta Arthur me aconcelhando. — Tocar ou não é uma escolha somente sua, mas eu te garanto que onde quer que ela esteja...ela vai conseguir ouvir o seus acordes... - O jovem me encara com um sorriso largo em seu rosto. — Eu toco para as pessoas amadas que se foram até hoje, eu sinto que elas estão comigo, zelando por mim...

— Mas...olhar para ela para essa GIbson me faz lembrar de tudo o que houve...e dói tanto me lembrar... - Explico olhando fixamente para o instrumento.

— Lembrar de tempos bons que não voltam mais é realmente doloroso as vezes, mas
essa guitarra não precisa significar perda, pode significar saudade, entende?  - Explica Arthur colocando a guitarra sobre meu colo perguntando calmamente. — Nesse momento, quando você olha para ela, o que sente?

Eu... - Seguro o instrumento com minhas mãos trêmulas, a posicionando de maneira confortável sobre minhas pernas, já se faz tanto tempo, receio que não saiba mais como tocar.

Mas preciso tentar, preciso ouvi-la. Talvez Arthur tenha razão...

Dedilhando as cordas metálicas levemente com os dedos vejo o quão ela está desafinada, a quanto tempo ela ficou estagnada no canto de meu quarto? O quanto tempo eu fiquei estagnado...?

Estagnado no tempo.

Me lamentando pelo passado e temendo o futuro, me perdi em meu próprio presente, deixando de viver o hoje. Ela não gostaria que as coisas fossem assim...

— Tinha uma música...eu havia escrito para ela... - Murmuro tentando me lembrar da letra, em algum lugar desse quarto meu caderno de poesias deve estar empoeirado a espera de ser lembrado. — Não me lembro muito bem como era...

— Você terá tempo o suficiente para lembrar, ou quem sabe até compor outra - Explica Arthur me motivando.

Compor...outra...? - Sinto uma das mãos do jovem tirando as mechas de meu cabelo que caiam sobre a guitarra, dificultando algo que para mim já estava mais que difícil, eu realmente não sei mais tocar.

— Arthur, obrigada por me ajudar, de verdade...obrigada - Olho para o Gaudério o agradecendo profundamente. Me levanto com a GIbson em mãos olhando para o topo de minha estante de discos colocando o instrumento em seu devido lugar.

Lugar que ela nunca deveria ter saído.

— Eu não fiz nada Dante, não me agradeça - Comenta Arthur sem graça, o jovem se levanta da cama olhando sorridente para a estante. — Eai? Posso saber o novo significado dela?

— O final de um clico... - Afirmo sorrindo para o jovem, segurando em sua mão firmemente. — E o começo de outro... - Desvio o olhar sorrindo bobo. Acho que ainda sou um adolescente apaixonado.





















Continua!

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