Maldito violino
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GAL SAL
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·Flashback·
Três anos atrás
- É notável o potencial que seu filho possui, e eu te garanto que ele será usado de forma impecável com os meus ensinamentos, senhor Kian.
- Impecável...são exatamente palavras como essas que quero ouvir dos críticos daquele teatro. Eu deixo meu filho em suas mãos professor, faça tudo o que for preciso para ensina-lo.
- Eu farei. Farei de tudo.
·Atualmente·
"Potencial".
Tudo se adquire com esforço e prática, principalmente quando se trata de instrumentos, Mozart não nasceu como um gênio talentoso, muito menos os demais melhores músicos que já existiram na terra.
Eu não gosto de tocar violino, nunca se quer me esforcei para isso, não por livre e espontânea vontade, é claro. Se não fosse por meu pai eu nunca teria encostado no antigo violino de minha falecida mãe, e se não fosse por ele não teria conhecido aquele homem nojento.
Maldito professor particular, maldito violino.
Maldito potencial que todos vêem em mim, todos, por que eu não vejo? Qual é o meu problema...? Fui abençoado com o potencial tão incrível e não o valorizo.
O abomino.
Maldita benção.
Por que, ó divindade de existência questionável? Por que me abençoou com um algo que eu simplesmente não pedi? Eu não pedi!
Maldita divindade.
Quanto tempo faz...? Desde que aquele incidente aconteceu eu não o vi mais, aquele homem foi preso e nunca mais soube de seu paradeiro, qual era o seu nome...? Por que não me lembro?
É tudo tão vago em minhas memórias, como se minha própria mente quisesse esquecer de tudo aquilo.
Mas mesmo não me lembrando, mesmo sendo novo demais, quando tenho esse maldito violino em mãos eu me lembro, não me lembro bem, mas sei que aconteceu. Eu sinto que aconteceu...
Sinto ódio. Dele, de meu pai, desse instrumento maldito, de tudo e todos. Desse evento...
Maldito evento.
Dias como esse me fazem pensar em toda essa merda. Eu não quero ir e tocar para inúmeras pessoas que nem se quer conheço, eu não quero fama, não quero aplausos e elogios.
Eu só quero ficar aqui...aqui é tão confortável...
- Bom dia... - Uma voz rouca e sonolenta me comprimenta próximo ao meu ouvido, por mais que ela seja familiar me soa tão distante, como reflexo me assusto ao sentir uma de suas mãos se envolvendo em minha cintura.
Hãm?! -Tiro suas mãos de mim me virando abruptamente, confuso Leonardo me encara com minha reação.
- Merda... - Murmuro me levantando da cama do jovem. Por uma fração de segundos questionei quem estava deitado ao meu lado. É claro que é ele, quem mais seria?
- Tudo bem, Gal...? - Pergunta Leonardo preocupado. - O que você tem?
- Nada - Digo passando pela porta do banheiro a fechando em silêncio. Havia me esquecido que vim para a apartamento de Leonardo noite passada. Minha cabeça dói, mas nenhuma novidade nisso.
- Gal? - Ouço o jovem me chamar com preocupação. - Tá tudo bem mesmo...?
- Tá - Afirmo com minhas costas contra a porta do cômodo, permaneço durante um tempo encarando o teto do lugar melancólicamente, os barulhos a distância dos carros e outros veículos avisam a mim que mais uma manhã se iniciou.
Já está na hora, eu tenho que ir.
Que droga...- Fecho os punhos encarando pensativo o meu reflexo no espelho. Respirando pesadamente abro a porta do banheiro. Procuro Leonardo pelo quarto mas não o acho, o cheiro de pó de café informa que o mesmo está na cozinha.
No quarto pego minhas peças de roupa, colocando novamente minha blusa e calçando meus tênis, pego meu celular ignorando as diversas mensagens de meu pai que recebi ontem.
Véspera de evento da orquestra, mais uma briga entre mim e ele sobre o assunto, nenhuma novidade nisso também.
- Bom dia, Léo...- O comprimento me sentando sobre o balcão da cozinha, ao lado da pia onde o jovem organizava sua louça.
- Não é só porque não tenho cadeiras em casa que você precisa sentar em cima do balcão, sabia? - Comenta Leonardo sorrindo de canto para mim, me espreguiço em meio a bocejos deixando de lado o comentário do mesmo. - Quer café?
- Sua água suja? Não mesmo - Coloco minhas mãos sobre o ombro do jovem o encarando calmamente. - Eu quero um bom dia, já que fui educado e te dei bom dia também quero um de volta.
- Eu te comprimentei lá no quarto - Explica Leonardo com um olhar tristonho, ainda demonstrando preocupação. - Você ter acordado atordoado com algo...
- Eu estava dormindo ainda, não te ouvi direito e por isso me assustei com... - Desvio o olhar pensativo sobre quais palavras usar, e se devo usar. Talvez seja melhor continuar assim...
Em silêncio.
- Me desculpa, Léo. Não queria ser grosso... - Acaricio seu rosto gentilmente. Sua pele é tão macia, esse ângulo me permite apreciar cada traço de seu rosto, como eu tenho sorte. - Acabou de acordar e está tão bonito, como pode? - Pergunto em um tom descontraído mudando de assunto.
- Eu, bonito? Não sei do que está falando - Comenta Leonardo sorrindo de canto para mim, seus olhos deixam de encarar os meus olhando para a camisa de algum festival genérico de música do qual peguei emprestado do mesmo sem sua permissão.
Ok, roubei. Mas ele não liga para isso.
Eu espero que não...- O encaro por alguns segundos a espera de algo, em silêncio Leonardo continua a me observar, seguro o queixo do jovem levantando seu rosto até o encontro de meus olhos novamente.
Se ele soubesse a calmaria que seu olhar sereno me trás. Eu espero que ele vá hoje ao evento, desde que nos conhecemos ele sempre vai, e eu sempre o encaro tendo minha atenção voltada totalmente aos seus olhos. O único olhar que me trás conforto, a única pessoa com quem me importo na imensa platéia.
- Léo... - Sussurro seu nome me perdendo lentamente em seu olhar profundo, apesar de sempre parecer estar cansado demostra tanta calmaria em um simples olhar.
- Pode descer do balcão? - A pergunta do jovem em faz sair de minhas boiolices raciocinando suas palavras.
- Hm? - Olho aos arredores me dando conta que ainda estava sentado do balcão de sua cozinha. Tenho quase certeza que não existe pessoa mais folgada que eu mesmo.
Tenho certeza absoluta disso.
- Descer? - Pergunto de forma despojada. - Nah, tô legal aqui. Por que quer que eu desça?
- Nada. - Resmunga o jovem desviando o olhar, volto a segurar seu queixo inclinando sua cabeça levemente para cima. - Eu não alcanço aí em cima... - Explica o jovem envergonhado.
- Fala isso como se eu estivesse em um prédio de vinte andares - Brinco continuando imóvel no lugar que estou.
- Só desce logo - Insiste Leonardo envolvendo seus braços em minha cintura, apoio minhas mãos no ombro do loiro sentindo o calor de nossos troncos próximos um ao outro. Acabo soltando uma pequena risada ao notar a careta do mesmo, como se estivesse gastando todas as suas forças me segurando em seu colo.
- Para de brincadeira, eu não sou tão pesado assim - Brinco com o jovem o encarando nos olhos, é tão visível o que ele quer com tudo isso, é quase uma súplica sem usar palavra alguma.
Por que apenas não diz?
Esse Lerdo-nardo - Sorrio bobo para o loiro perguntando ao mesmo:
- Vai me beijar ou não?
- Eu posso? - Pergunta Leonardo encarando meus olhos por poucos segundos, voltando sua atenção aos meus lábios.
- Não. - Mudo minha expressão para uma totalmente séria o encarando em silêncio. O silêncio é tomado rapidamente por minhas risadas, não consigo mentir para esse paspalho por tanto tempo. - Você e suas perguntas idiotas, não é Lerdo-nardo? É claro que você...pode... - De forma apressada seus lábios se encontram com os meus, trazendo uma intensa sensação de desespero vindo da parte do mesmo.
Ao amanhecer recebo beijos assim, ele sabe que terei que ir embora, e se preocupa com isso. Com o tempo que passaremos longe um do outro, por mais que nos vemos com frequência em vários lugares como no colégio e no trabalho, mas são coisas totalmente diferentes.
Lugares públicos e em seu apartamento.
Me sinto mal por tentar esconder isso de alguma forma, eu nunca senti nada assim antes, mas é tão bom. Gostaria que as pessoas soubessem disso, do que sinto por Leonardo Gomes...
Mas se meu pai descobrir sobre isso, sobre ele, eu não sei o que aquele homem seria capaz de fazer. Não quero que ele machuque Léo de alguma forma.
Não quero que ninguém se machuque...
Ele é tão...paciente... - Separo nossos lábios recuperando o fôlego, seus dedos em minha nuca me apertam levemente. Ele não quer que eu vá, assim como eu não quero ir...
Essa situação é uma droga, não gosto de pensar que tenho algo escondido com Leonardo, não quero de forma alguma que ele pense que tenho vergonha ou qualquer coisa do gênero em relação a nós. Eu não sei o que fazer, mas as coisas não podem continuar assim.
Eu não quero que ele se sinta mal...
Hoje é o dia, eu resolverei isso. - Afirmo comigo mesmo em um suspiro pesado.
- Eu preciso ir... - Murmuro com pesar. Quanto mais rápido eu for mais rápido resolvo tudo isso.
Eu vou resolver. Preciso resolver.
- A orquestra é agora de manhã...? - Pergunta Leonardo de forma tristonha.
- Não, é a noite como de costume, mas... - Encaro seus olhos em silêncio pensando em como explicar, não encontrando palavras eu o abraço fortemente. - Eu preciso ir, Léo...
- Tudo bem, te vejo mais tarde no teatro... - Leonardo se despede de mim acariciando minhas costas levemente.
- Eu vou resolver alguns assuntos com meu pai, depois disso vou para o teatro e...eu posso voltar para cá mais tarde? - Pergunto aflito por uma resposta.
- Claro, sempre que você quiser - Responde o jovem sorrindo gentilmente para mim.
Me distancio de seu abraço suspirando pesadamente, a conversa que terei com meu pai não será fácil, mas é necessária, no fim desse dia tudo vai ter valido a pena.
Tudo dará certo.
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LEONARDO GOMES
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Observo os passos de Gal se distanciarem da porta do meu apartamento aos poucos. Fecho a porta apoiando minhas costas contra ela. Deveria ser uma simples despedida, mas é claro que em minha cabeça tudo é mais dramático e complicado.
É como se ele fosse embora para sempre, como se fosse o último abraço, o último beijo...
Hoje a noite ocorrerá a orquestra anual no teatro de São Paulo, músicos influentes se reúnem para fazerem a melhor apresentação de música clássica do ano.
Dentre eles, lá estará Gal, como de costume.
Gal Sal é o músico mais novo do grupo da orquestra, se destacando não só por sua idade mas por suas habilidades no violino, seu destaque sempre foram apreciados por todos da platéia, me lembro como se fosse ontem a primeira vez em que pisei naquele teatro.
O convite que recebi de vê-lo tocar me surpreendeu, os bares que o jovem frequentava dava a entender que ele era apenas mais um adolescente rebelde, a existência de sua banda confirmou isso. Eu sempre o achei tão diferente, mesmo tendo o estilo e personalidade de muitos jovens de hoje em dia.
Sempre o achei tão único, mesmo tendo comportamentos de muitos jovem de hoje em dia, comportamentos preocupantes.
Sempre o achei tão intenso, tocando sua guitarra como se não houvesse amanhã, cantando e se exibindo no palco. Ele tem noção de quantos olhares estão direcionados a ele quando o nome Escriptas é ouvido, e ele adora isso. Adora a atenção e reconhecimento que é dado a ele.
Mas quando se trata desse evento, dessa orquestra, todo ano. É sempre a mesma coisa, eu consigo sentir seu desconforto naquele teatro. Como as pessoas podem aplaudir com tanta intensidade? Sinceramente, não acho que ele toque violino tão bem assim.
Se algo não é feito com o corpo e alma, não vale a pena e não tem valor, porque não tem a vontade sincera de fazer esse algo.
Gal não quer fazer essa apresentação, ele nunca quis, e eu não quero vê-lo. Me dói vê-lo ali por pura pressão de seu pai.
Mas eu preciso estar lá, preciso estar lá por ele.
Ah...que coisa... - Suspiro pesadamente me reerguendo, não tenho tempo para me lamentar. Antes do anoitecer tenho que resolver vários assuntos.
Dentre eles a nova banda de Arthur.
Os Gaudérios Abutres perderam membros da banda, mas ganharam novos...- Tiro meu celular do bolso mandando mensagem para Dante, confirmando o encontro que marcamos hoje em uma cafeteria para discutirmos melhor sobre o assunto.
·Horas depois·
Mancha De Café
- Bem vindo ao Mancha De Dafé! Deseja alguma coisa, jovem? - Pergunta a atendente assim que nota a minha presença adentrando no estabelecimento, olho aos arredores a procura de Dante e Arthur, atrás de mim uma voz familiar se pronuncia.
- Por enquanto nada, moça - Responde Agatha puxando meu braço para o canto do estabelecimento, onde em uma mesa afastada Dante e Arthur conversavam casualmente sobre algum assunto.
- Acabou de chegar, Agatha? - Pergunto para a jovem que se vira para mim fazendo uma pequena careta.
- Acha mesmo que eu viria no horário certo? Olha só para aqueles dois, eu me recuso a chegar mais cedo e ser vela desse casalzinho cafona - Explica Agatha olhando para Arthur e Dante que ao notar nossa aproximação nos comprimenta.
- Bom dia Leonardo.
- Bom dia Dante, eae Arthur? - Me sento junto aos jovens e junto a Agatha.
- Olá! Como está? - Pergunta o Gaudério alegremente.
- Hãm...ótimo, melhor estraga! - Acho que não fui tão convincente dessa vez mas sinceramente, não tenho tempo para atuações agora. - Seguinte, vamos direto ao assunto, ok pessoal?
- Não antes de pedir um bolinho - Comenta Agatha balançando sua mão em direção a atendente que se aproxima de nós.
- Olá, o que querem pedir? - Pergunta a mulher educadamente.
- Bolo de morango - Responde Agatha apontando para o cardápio. - O dono da banda paga, certo?
- E é com muita honra que eu te nomeio dona da banda, querida Agatha! - Brinca Arthur fazendo de cetro real as baquetas de Agatha.
- Haha, podemos dividir a conta. O que acham? - Pergunta Dante dando a ideia a todos. - Um capuccino gelado, por favor.
- Eu quero os dois que eles pediram! - Exclama Arthur se virando para mim. - Vai querer o que, Leonardo?
- Então...eu meio que só quero fazer essa reunião rapidinho e terminar algumas coisas que tenho pendentes - Explico não tentando soar ríspido ou grosso em relação a tudo isso.
- Ah, claro. Vamos começar então - Comenta Dante alinhando sua postura na cadeira, ao contrário de Agatha que por algum milagre da gravidade não se espatifou no chão ainda.
Ainda.
- O que tem pra resolver mesmo? Achei que já havíamos decidido tudo sobre os Gaudérios - Comenta Agatha encarando o teto do estabelecimento.
- Bom, a alguns quatro dias atrás nós havíamos sim decidido sobre a banda, Arthur comentou sobre a ideia de ter Dante como novo membro da banda e como eu havia dito para isso acontecer teria que informar ao dono da casa de shows. - Explico suspirando pesadamente.
- Bom...ele...não apoiou muito essa ideia...
- Não? Por que não? - Pergunta Arthur preocupado. O encaro sem ter uma resposta exata para sua pergunta, afinal, eu só sou o assessor. - Mas o Dante já tá na banda, isso não cabe a ele escolher.
- Arthur, sua banda tem um contrato conosco. Então também cabe a ele escolher, entende? - Explico seriamente tirando meu celular do bolso, abrindo uma conversa em específico. - Nós nos falamos por mensagem, tentei marcar uma reunião presencial com o mesmo para nos aprofundarmos melhor sobre o assunto.
- Papo de burguês - Murmura Agatha entediada, sua atenção se direciona para uma bandeja que a atendente do café trás em mãos para nossa mesa. - Delicinha! - Com seu prato em mãos Agatha encara cada detalhe de sua sobremesa, como se seu objetivo de estar ali fosse somente um pedaço bolo de morango.
Talvez seja mesmo.
- Mas o que ele disse exatamente? Por que não...gostou da ideia? - Pergunta Dante preocupado.
- Resumindo ele queria ver o seu histórico de experiência em outras bandas, e isso você não tem Dante. Nunca esteve no ramo musical antes e nunca fez parte de uma banda, saber apenas o básico já é o começo, mas ele achou melhor não ter um...amador nos Gaudérios Abutres... - Explico seriamente, eu poderia massagear a verdade mas isso só traria mais conflitos.
- Isso pode interferir na clientela que frequentam o lugar somente para ver a banda tocando, precisamos de alguém que faça um bom trabalho, recompensando a ausência que o baixista e o segunda voz farão... - Suspiro pesadamente me lembrando dos gêmeos Marcelo e Murilo.
É um assunto complexo e delicado, e tudo que meu chefe não tem é empatia em relação a isso. Liga apenas para o dinheiro e nada mais, o fato de não ter se importado com a morte de dois integrantes dessa banda prova isso.
Que situação...- Encaro Arthur esperando algum comentário, é visível em sua expressão que ele quer dizer algo.
- Amador? - Pergunta Agatha em meio a uma garfada de sua sobremesa. - Ele fala como se a gente fosse estrelas do rock, Dante não é tão inferior a nós assim. Tipo, ele é desafinado? Sim, mas ele se esforça para evoluir, assim como nós. Por que ele não pode entrar na banda? Esse argumento não faz o menor sentido.
- Exato. - Afirma Arthur indignado. - Ele nem se quer conhece o Dante, como pode chamá-lo de amador sem mais nem menos? Isso não é justo! O Dante faz parte dos Gaudérios Abutres agora, e não há comentário de ninguém que me convença ao contrário. - Reclama o jovem firmemente.
- Pode crer Arthur, esse contrato é só papel. Se não concordarem arrumamos outro lugar para tocar como sempre fizemos - Explica Agatha dando de ombros.
- Gente, tudo isso não é necessário...não se preocupem comigo, é sério - Explica Dante acalmando os ânimos.
- É claro que é necessário! - Afirma Arthur cruzando os braços. - Eu quero conversar com esse tal chefe aí Leonardo, liga pra ele.
- Q-que? Eu não posso, Arthur hoje é sábado, não posso incomodá-lo dessa forma... - Explico tentando acalma-lo.
- É sábado e você tá trabalhando aí feito um imbecil, por que a vossa alteza não pode ser incomodada? - Pergunta Agatha olhando torto para mim.
Bom ponto. - A encaro pensativo. O que eu estou fazendo aqui?
- Isso não vem ao caso - Explico suspirando pesadamente. - A questão é outra, além dessa notícia eu tenho outra para dar... - Complemento desviando o olhar, todos estão insatisfeitos com o que eu disse e ainda nem terminei de falar tudo o que preciso.
- Lá vem - Reclama Agatha voltando a comer seu bolo.
- Bom, a banda precisa de mais integrantes, apenas um baterista e um vocalista não vai dar certo. Não queremos sobrecarregar os Gaudérios---
- É por isso que chamamos o Dante! -Sou bruscamente interrompido por Arthur e sua indignação.
- Calma, Arthur... - Dante coloca sua mão sobre o ombro do jovem o confortando com uma leve carícia. - Deixe ele terminar de falar...
- Como vamos arrumar mais integrantes para a banda? - Pergunta Agatha seriamente.
- Vamos iniciar uma seleção de músicos semana que vem, os que se inscreverem farão um teste e serão avaliados, os melhores serão selecionados e entraram em uma fase de experiência na banda, se tudo der certo formamos a nova banda Gaudérios Abutres. - Explico olhando seriamente para o Dante. - Se quiser se inscrever talvez você consiga ser selecionado e entrar para a banda.
- Me inscrever...?
- Pera, pera, então se o Dante quiser entrar para a banda ele vai ter que competir contra outras pessoas? - Pergunta Agatha dando sua última garfada em sua fatia de bolo. - Isso vai dar um trabalho do cacete viu.
- É sério mesmo que eu não tenho escolha alguma em tudo isso?! - Pergunta Arthur indignado. - Pra que tudo isso? A banda já tá formada, ninguém me consultou sobre isso!
- É verdade, nós como integrantes da banda temos direito a algo nessa seleção aí, não é? - Pergunta Agatha confusa.
- Para garantir que a seleção será justa e não haverá favoritismo infelizmente vocês não terão envolvimento nisso. - Explico me desculpando com os outros, principalmente Arthur que claramente não gostou dessa notícia. - Me desculpem pessoal, eu fiz o que pude. Mas no fim a última palavra sempre vai ser dele, e não posso contraria-lo, entendem?
- A culpa não é sua, Léo... - Explica Dante pensativo. - Eu já previa que isso não seria fácil...
- Não vai desistir, vai? - Pergunta Agatha receosa. - A gente te ajuda nos ensaios cara, você vai deixar todos os outros no chinelo e provar que amador é o caralho!
- Eu não vou desistir, vou dar o meu melhor e ser digno de entrar para os Gaudérios - Afirma Dante com uma determinação admirável no olhar.
- Você não precisa provar ser digno de nada, Dante. Apenas dê o seu melhor e dará tudo certo - Afirma Arthur sorrindo gentilmente para o loiro ao seu lado.
- Qualquer coisa a gente foge também e que se dane o resto, contrato é o meu ovo - Brinca Agatha dando de ombros sem dar importância.
- Haha, exatamente! - Afirma Arthur concordando com a menor. - Nós fugimos e...pera ovo? Que isso Agatha?
- Hahahaha falei brincando, calma gente - Explica a jovem em meio a gargalhadas, a mesma alcança prato de Arthur o pegando rapidamente. - Me dá mais bolinho de morango aí!
- Ei, esse é meu! - Reclama o Gaudério feito uma criança.
- Era seu, era. - Corrige a jovem mostrando a língua para o Gaudério.
- Quando vai começar as inscrições para isso, Leonardo? - Pergunta Dante interessado no assunto.
- Na próxima semana, assim que eu terminar de montar as postagens vou divulgar por aí. Creio que na segunda já estará tudo pronto - Explico me levantando com certa pressa. - Eu vou indo agora, obrigada pela atenção de todos.
- Leonardo, espere - Dante se levanta caminhando junto a mim até a saída da cafeteria. - Até segunda? Vai trabalhar nesse fim de semana inteiro? - Pergunta o jovem preocupado. - De novo?
- É, de novo. Mas tudo bem, isso já tá virando rotina - Rio frouxo da situação olhando para a movimentação da rua. - Vai dar tudo certo Dante, você vai conseguir entrar na banda. - Afirmo o confortando. As palavras de Dante me surpreenderam de certa forma.
Ele disse que não vai desistir do que quer, não vai desistir da música.
Esse é o Dante que eu queria ver...- Sorrio para o jovem me despedindo do mesmo.
- Eu já vou indo, preciso resolver algumas coisas antes do anoitecer. Você vai ver a apresentação lá no teatro, né?
- Claro que vou. Acha que Gal vai ficar enciumado se eu levar o Arthur também? - Pergunta Dante olhando para dentro da cafeteria, onde Arthur brigava com Agatha por conta de uma fatia de bolo.
- Haha, vai nada. Uma hora ele se acostuma com a presença do Arthur no nosso grupo, relaxa - Comento o tranquilizando.
- Assim espero - Murmura Dante sorrindo bobo para o guitarrista. - Se cuida Leonardo, e vê se descansa um pouco.
- Beleza, a gente se vê mais tarde!
- Até...
Ok, de volta ao trabalho. - Traço o caminho novamente até meu apartamento, devo deixar tudo pronto para a divulgação e para a seleção dos novos integrantes da banda, ainda resolvendo o mesmo assunto devo marcar a sessão de fotos para as bandas. Mensalmente marcamos um lugar interessante e junto a uma equipe tiramos algumas fotos para divulgar o trabalho das bandas e seus integrantes, ainda não decidiram qual lugar faremos a sessão dessa vez.
Possivelmente vão colocar a responsabilidade em meus ombros então escolherei de uma vez, se eu agilizar as coisas vou poupar tempo para a orquestra de hoje.
Tudo dará certo.
Ele parecia tenso...- Encaro meu celular me perguntando o que Gal deve estar fazendo nesse momento, talvez esteja ensaiando para a apresentação de hoje. E se eu mandar alguma mensagem?
Melhor não, não posso distraí-lo.
Adentro no apartamento olhando pensativo para o chão, onde em minha porta há um pequeno envelope.
- Será que foi o Sidney de novo? - Pergunto a mim mesmo pegando o envelope, já imaginando que fosse algum aviso do síndico do prédio. - Qual é a utilidade do grupo do Condomínio se ele manda esses recados estranhos? - Entro no apartamento fechando a porta, deixo o envelope em cima do balcão deixando para ler o possível problema mais tarde.
Não tenho tempo para isso agora.
Horas se passam e a tarde se inicia, por sorte já terminei grande parte dos meus afazeres, terei tempo para me arrumar com calma e ir para o teatro.
Em cima do balcão observo o meu celular que vibrava ao lado do envelope.
Hm..?- Atendo a ligação com curiosidade e certa preocupação, para estarem me ligando algo deve ter acontecido.
A questão se é algo bom ou não, e temo que não seja.
________
Mãe
Alô? Mãe?
Leozinho!
Que demora para atendente ein
Como você está, querido?
Ah, oi mãe...
Eu tava meio ocupado, mas estou bem...
E a senhora, como está?
Eu estou indo meu filho
Sabe como é né
Recebeu minha carta?
Carta?
O envelope é da senhora?
É sim, o que achou?
Ah, eu ainda não li, me desculpe
Tudo bem, são só notícias banais aqui da cidade, sinceramente não achei que a carta chegaria até você.
Que bom que chegou, mandarei mais em breve!
Não é mais fácil me ligar como fez agora, mãe?
Eu não entendo dessas coisas Léo, você sabe disso. Quem me ajudou com a ligação foi a sua irmã
Foi?
Haha é notável
A senhora tá com o ouvido na chamada de vídeo de novo
Hãm?
Tô?
É chamada de vídeo, mãe! Já disse isso antes para a senhora, não se lembra?
Essa é a mana?
É sim, você tem que ver o quão bonita ela está!
Eu imagino, manda um abraço pra ela
Mando sim Léo
Mas e você?
Como está?
Já perguntei isso antes?
Haha
Sim
Mas tudo bem
Eu estou muito bem
Mesmo, mesmo?
Mesmo, mesmo
Vou ver a senhora nesse natal, posso?
Nem precisa perguntar Leozinho!
Você é sempre bem vindo aqui, tá bom?
Tá bom mãe...
Manda ele trazer o tão famoso boy emo dele dessa vez!
Haha, ouviu a sua irmã, né?
Ouvi sim
Tenho que ver com ele
É bem provável que ele passe o feriado com o pai
Hum, entendo...
Mas em qualquer ocasião apareçam por aqui! Sinto sua falta, Léo...
Também, mãe...
Eu preciso tomar um banho agora, se cuida tá bom?
Toma mesmo, fedido!
Hahaha, mãe!
Manda ela parar com isso
Pare de infernizar seu irmão, por mais que seja a verdade ela não foi pedida, então fique quieta!
Haha viu só?
Pera, verdade?
Tchau filho, um beijo da mamãe viu!
Mudando de assunto né?
Hum
Tchau mãe, beijo pra você
E para essa pentelha aí também
Chamada encerrada
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Desligo o celular sorrindo bobo para o aparelho, ouvi-las alegrou minha tarde de certa forma, que bom que elas estão bem...
Volto para meu quarto encarando meu guarda roupa pensativo, tá aí uma missão impossível. Estar aceitávelmente bem vestido para aqueles burgueses do teatro, as pessoas de mais alta influência vão estar lá hoje a noite, dentre elas o pai de Gal.
Eu preciso estar no mínimo aceitável para os olhares críticos daquele povo mesquinho. Ainda bem que preciso usar esse terno uma vez por ano, mesmo assim, acho uma tortura contra minha pessoa.
- O que eu não faço por você, Gal? - Pergunto me encarando no espelho segurando o cabide com a peça de roupa em mãos, terno que comprei exclusivamente para situações como essa.
O que é isso...? - Me aproximo do espelho notando algo de errado em mim, mais do que o normal, uma...mancha? Por que eu tenho uma mancha?
Algum bicho deve ter me mordido, mas não parece ser uma ...
Putaquipariu! - Me assusto ao abaixar a gola de meu suéter encarando o meu reflexo em desespero. A manchas por toda parte! Quem eu tô querendo enganar isso é...
- Gal ... - Respiro fundo pensando se surto por mensagem ou presencialmente com o aquele sem vergonha. - Me aguarde - Pego minha toalha caminhando até o banheiro.
Após alguns minutos saio do banheiro voltando para meu quarto, me visto rapidamente voltando a encarar meu reflexo, especificamente a região em meu pescoço. Como não vi isso antes?
- É, vou voltar com o meu suéter - Afirmo pegando a peça de frio a colocando novamente, não acho que a junção de terno e suéter preto ficou tão ruim assim.
É bem melhor assim do que receber inúmeras perguntas em relação a isso.
Após me vestir ajeito o meu cabelo conversando seriamente com os fios rebeldes que ensistem em causar uma rebelião em minha cabeça. As vezes me pergunto como Dante consegue ter um cabelo tão grande e manter a ordem em seus penteados.
- Sinceramente, foda-se. - Saio do quarto desistindo de meu cabelo, paro de caminhar ao ouvir batidas na porta e uma voz familiar perguntando:
- Leonardo? Vai demorar para se arrumar?
- Dante? - Abro a porta o encarando confuso. - Tá fazendo o que aqui?
- Como assim? Eu te mandei mensagem avisando que estava vindo te buscar - Explica o loiro olhando para mim de cima a baixo. - Terno?
- Eu me sento na primeira fila, tenho que usar isso, já que não quero olhares tortos me encarando - Explico dando de ombros.
- Por que ele tá na primeira fila e agente tá lá na casa do caralho? - Pergunta Agatha com certa indignação, coloco minha cabeça para fora do corredor avistando a jovem junto a Arthur a minha espera.
- Ela vai? - Pergunto me virando para Dante.
- Eu chamei o Arthur e ele chamou ela...tem problema? - Pergunta o jovem receoso.
- Não tem não - Fecho a porta do apartamento a trancando em seguida. - Vamos? - Olho para os jovens a espera de sua afirmação.
Chamamos um carro e fomos em direção ao teatro, o silêncio do trajeto foi rapidamente preenchido por diversos assuntos envolvendo a banda. Agatha e Arthur parecem estar animados pelo novo integrante da banda, mesmo não sendo oficialmente, os jovens estão fazendo planos juntos a Dante em relação aos Gaudérios Abutres.
- Mas eu ainda acho que tem como melhorar a estampa, deixar ela mais foda do que já é, saca? - Explica Agatha junto a Arthur.
- Olha, por um lado eu concordo, mas por outro eu acho as camisas perfeitamente perfeitas - Comenta o Gaudério mostrando a Dante algo em seu celular.
- Realmente elas são bem legais - Afirma Dante ao lado de Arthur. Apoio minha cabeça no vidro do carro continuando a ouvir a conversa dos jovens até chegarmos ao nosso destino.
O teatro Nacional de São Paulo, lugar onde ocorrem várias apresentações artísticas de todo os tipos, por conta da orquestra o lugar estará repleto pelos mais famosos engravatados apreciadores da música, o lugar perfeito para os negócios de Kian.
Não consigo ignorar sua existência a três poltronas de mim, apertando as mãos de alguns sócios se aproveitando da situação, se aproveitando da fama de seu filho.
Esse homem...- Suspiro impaciente com toda aquela demora, as pessoas estão se organizando na platéia e nenhum movimento se quer nas cortinas. Quero que isso comece logo, quero ver Gal logo.
Seguro um cigarro em mãos me perguntando o quão desrespeitoso seria acender isso aqui dentro, a tensão de ter o olhar desse homem centrada em mim
apenas aumenta. Ele sabe quem eu sou, assim como eu também sei quem é ele.
Infelizmente eu sei, até mais do que gostaria. Os murmúrios aumentam a cada minuto que se passa, a demora desperta curiosidade e incômodo em muitos do lugar. Olho aos arredores na esperança de avistar Gal em algum lugar, mesmo sabendo que possivelmente ele está nos fundos junto aos outros integrantes da orquestra.
Hm...?- Olho para o assento ao lado de onde um homem se levanta reclamando impacientemente pela demora que está acontecendo. Me viro olhando para as fileiras de cima, avistando Arthur e Dante, o loiro me encara com um olhar confuso não entendendo o que está acontecendo.
Ninguém está entendendo, mas de certa forma eu sei, eu sinto que algo está acontecendo. Algo de errado.
Algo de muito errado.
- Ele não vem mesmo... - Ouço uma voz se pronunciar em meio a um suspiro frustrado, ao meu lado se senta Kian, o homem bem arrumado que estava me encarando desde que cheguei aqui, seu olhar desde até meus pés subindo lentamente até meu rosto.
Tá me julgando e nem disfarça - Desvio o olhar com incômodo, não foi fácil estar em um lugar como esse e ter o pai babaca do garoto que tanto amo ao meu lado me deixa extremamente irritado.
- Sua poltrona não é essa - Digo olhando fixamente para o palco, a espera de alguma coisa.
A espera de qualquer coisa.
- Ainda insiste em se encontrar com meu filho? Quem você acha que é? - Pergunta o mais velho me encarando seriamente. - Você não pertence a esse lugar, não pertence a vida de Gal.
- Isso quem deve decidir é ele, por mais que tente o controlar, certas decisões somente ele irá tomar - O respondo calmamente não tirando os olhos das grandes cortinas empoeiradas do lugar - O senhor gostando disso ou não, é a verdade. - Afirmo deixando o assunto de lado ao notar finalmente uma movimentação do palco, em meio a vários músicos e seus instrumentos meus olhos procuram Gal, que normalmente estaria no centro na orquestra com seu violino em mãos, a espera do sinal do maestro para iniciar a apresentação.
Por que ele não está ali...? - Olho confuso para o palco o procurando novamente, me levanto olhando aos arredores, talvez eu só não o tenha visto ainda.
- Eu já disse, ele não vem. - Explica Kian encarando o maestro da orquestra fixamente.
- O que você fez com ele? - De punho cerrados o encaro seriamente, receoso e preocupado com a resposta.
- Eu não sei onde ele está, graças a você nós brigamos de novo. Espero que esteja feliz com isso. - Reclama o homem com rispidez.
Ele está falando sério? Gal não vem para a orquestra? Então o que caralhos eu tô fazendo aqui?
Onde ele está?? - Me levanto da poltrona ignorando as palavras ditas por Kian, sinceramente não me interessa o que ele tem a dizer. Eu preciso achar Gal agora.
- Ei, onde vai? - Pergunta Agatha em uma das poltronas laterias notando que eu caminhava em direção a saída. - A orquestra já tá começando cara, vai embora agora?
- Vou - Afirmo tirando meu celular do bolso, ligando para Gal sem pensar duas vezes.
Ouço alguém me chamando em meio aos aplausos e acordes dos instrumentos que começam a serem tocados, me viro rapidamente a procura de quem me chamou, possivelmente Dante ou Agatha novamente.
Mas isso não importa.
- Gal? Onde você tá? Encontrei seu pai aqui no teatro mas você não tava lá, me liga assim que puder, por favor - Em passos apressados desligo o celular deixando pela terceira vez um recado na caixa postal.
Talvez ele esteja na casa dele, mas não faz sentido Kian ter deixá-lo lá ao invés de obriga-lo a participar da apresentação, assim como já fez várias e várias vezes.
Na casa de algum amigo? Talvez o Antony ou o Henry. Não sei se eles receberiam Gal a essa hora da noite, seus pais já saíram do trabalho e querem descansar.
Em algum bar? - Paro em meio a uma calçada no centro da cidade observando os diversos estabelecimentos, ele pode estar em qualquer um desses, ou não.
O que eu faço?
Como acho um garoto no meio da cidade de São Paulo? - Suspiro em meio a frustração perguntando a mim mesmo.
E se eu não acha-lo? Ele sabe se cuidar mas...
E agora...? - Olho para meu celular novamente na espectativa de ter alguma notificação de Gal, nada.
Caminho durante um tempo pela cidade pensativo, não há muito o que fazer a não ser voltar para casa e aguardar alguma resposta. No momento em que Gal saiu do meu apartamento eu senti que algo estava errado e essa sensação apenas aumentou ao entrar naquele teatro.
Espero que ele esteja bem.
Adentro no prédio em passos pesados sobre os degraus, ao entrar em meu apartamento confiro novamente meu celular, ainda não há nada.
Ah, Deus... - Suspiro pesadamente me sentando em minha cama, em meio a tragos observo os minutos se passarem, as horas se passarem. Eu preciso dormir...
Mas quem disse que minha cabeça pensa no cansaço que meu corpo sente?
Por que sou assim?
- Alô...sou eu de novo, Gal...você tá bem, não é? Me retorna assim que ouvir isso, por favor... - Desligo o celular encarando o teto do cômodo, depois de alguns minutos sinto minhas pálpebras pesadas, achei que finalmente dormiria, mas o sono se esvai rapidamente ao ouvir meu celular tocar.
- Alô? - Em um reflexo estranhamente rápido alcanço o aparelho atendendo a ligação rapidamente. Uma respiração ofegante murmura meu nome atrás da linha, reconhecendo sua voz rapidamente me levanto caminhando até a porta. - Já tô indo. - Explico desligando o aparelho.
Caminho até a porta a destrancando rapidamente, me deparando com quem já previa.Com quem estava quase morrendo de preocupação.
Ele está...bem?
- Gal! - Reclamo suspirando profundamente. - Por que você não...- Paro minha frase o encarando seriamente. - Por que você tá molhado...?
- Chuva - Responde o jovem olhando para a porta da varanda atrás de mim, onde a chuva de lá fora adentrava em minha varanda molhando parcialmente o chão da sala.
- Ah, que droga - Caminho apressadamente até a porta a fechando rapidamente, olho para o chão molhado suspirando pesadamente. - Não vai entrar? - Pergunto me virando para o jovem, seus olhos encaram os próprios pés pensativo, a água escorre por seu cabelo percorrendo suas roupas. Ele está totalmente encharcado.
- Gal... - O chamo preocupado. - Vai tomar um banho quente, deixa suas coisas aí na porta. - Explico tirando de seus ombros uma grande mochila que o mesmo estava segurando. Não vou perguntar o que são essas coisas, é bem óbvio. - Brigou com seu pai, não é...?
Em silêncio Gal caminha até o banheiro, fechando a porta em seguida. Suspiro pesadamente colocando a mochila do jovem próximo a porta, a fechando e trancando em seguida. Caminho pelo apartamento fechando as janelas e secando a água da chuva que molhou alguns pontos da casa, eu cochilei e nem notei que começou a chover.
Volto a me sentar na cama ainda sonolento, acho que me levantei rápido demais, por mais que queira descansar, já que agora posso sabendo que Gal está bem, bom, pelo menos está inteiro.
Ele está respirando, isso me tranquiliza.
Vou preparar algo para ele, o clima chuvoso pede um chá ou café, ele odeia minha "água suja" então o chá é a melhor opção.
O que será que deve ter acontecido com ele...? - Enquanto preparo a bebida reflito comigo mesmo, o pai dele disse algo sobre estar satisfeito, por que eu estaria sabendo que os dois brigaram?
Isso não é nada saudável.
Por que brigaram dessa vez? - Essa é uma boa pergunta, normalmente são assuntos delicados onde nenhum dos dois cedem em relação a nada, talvez tenha sido novamente sobre a orquestra ou...
♪♪♪
GAL SAL
♪♪♪
Decisões, boas ou ruins.
Eu as tomei, e mesmo encarando as consequências delas, não me arrependo.
Pelo menos eu a tomei sozinho, a decisão foi minha, e dando errado ou não. Estou feliz, pois eu escolhi isso.
Eu tomei essa decisão.
A decisão de ser livre, de finalmente dizer o que sinto ao meu pai, ele gostando ou não, decepcionado ou frustado.
A decisão é minha, e eu estou satisfeito com ela.
Mas...seria importante para mim se ele aceitasse isso, se pelo menos respeitasse a mim.
• Flashback •
Horas antes
- Onde estava? - Reclama meu pai impacientemente pela milésima vez. - É a última vez que vou te perguntar isso, Gal.
- Para de me encher com a mesma coisa, estou aqui, não estou? - Retruco revirando os olhos.
- Essa não foi a pergunta que te fiz.
- Na casa do Leonardo - Repito novamente suspirando pacientemente. Eu estou cansado e sem tempo, a última coisa que quero agora é iniciar uma briga. - Eu queria respirar um pouco, voltei a tempo para a apresentação então...é isso.
- Eu também te fiz outra pergunta - Me viro para o homem mantendo a calma. Perguntas e perguntas, por que é sempre assim?
E eu só tenho o direito de respondê-las, nenhum comentário a menos ou a mais.
Que interrogatório sem sentindo.
- Quem é esse Leonardo? - Pergunta o mais velho novamente.
- Como assim quem é? Você o conhece, já te falei sobre ele com você - Explico o encarando atentamente a espera de alguma reação, talvez ele goste do nome Leonardo, isso já seria um enorme avanço.
É pedir demais que meu pai se dê bem com meus amigos? Se só suportasse um deles, só o Léo...
Isso me faria tão bem.
- Não me lembro desse nome. Então não deve ter relevância. - Deixo as espectativas de lado lembrando de que se trata de meu pai. Não há pessoa na terra que ele realmente goste, a não ser ele mesmo.
Se não tem relevância, por que quer saber?
- O encaro seriamente durante alguns segundos antes de voltar a caminhar rumo ao meu quarto.
- Vou subir e me arrumar para o evento - Digo adentrando no cômodo.
Observo as novas mobílias do cômodo bem posicionadas e limpas, nem parece que esse é o meu quarto.
Marta e seus milagres - Penso comigo mesmo me deitando sobre a cama do quarto, encarando o teto pensativo. Ainda há pedaços e resquícios de fita e papel dos pôsteres em meu teto.
Saudades dessa época...
Quando conheci a banda Dragões Metálicos fiquei completamente viciado nos acordes e letras intensas, depois disso novos horizontes foram descobertos. Tudo era novo, e era incrível, eu diria até mágico.
Agora tocar não é só repetitivo mas exaustivo. Eu ainda gosto de fazer o que faço, mas sei lá. Acho que eu teria menos problemas se eu simplesmente desistisse da música. Meu pai me veria com olhos diferentes e nós nos dariamos bem.
Eu acho.
Desistir, no que eu estou pensando? - Coloco minhas mãos sobre a testa a massageando levemente, meus pensamentos martelam em minha mente ao ponto de doer fisicamente. E para melhorar a situação meu pai volta com suas perguntas desnecessárias.
- Esse Leonardo é um amigo próximo? - Me levanto da cama olhando para o homem em confusão. Por que quer tanto saber sobre isso? Não é como se ele se importasse comigo.
- Deve ser para te deixar passar a noite lá. - Presume o mais velho pensativo.
- Ele é. - Afirmo me levantando calmamente caminhando até meu guarda roupa, enquanto procuro alguma peça de roupa comento com normalidade, ou pelo menos tentando soar normal.- Inclusive... vou para lá depois da apresentação.
- De novo? - Olho para o homem que me encara visivelmente encomodado com o que disse. - Com permissão de quem?
- Pai...depois de toda apresentação você comemora com seus sócios, não é? Por que não posso fazer o mesmo com os meus amigos? - Pergunto tentando o convencer.
- Não quero que você vá.
- Por que não? - O encaro a espera de uma resposta.
- Você não vai. - Foi a única coisa dita.
- Por que não? - Pergunto novamente com indignação. - Eu ensaie inúmeras vezes durante o ano inteiro para uma apresentação que nem se quer quero participar, qual o problema de comemorar com um amigo? - Reclamo o encarando seriamente.
- Amigo, é? O senhor Ronaldo sim é um grande amigo que realmente merece ter a sua presença, não esse tal Leonardo. - Explica o homem me olhando seriamente de cima a baixo. - Você vai se arrumar muito bem essa noite, e depois do evento irá em um restaurante conosco, vamos comemorar todos juntos.
- Vamos? Todos quem? - Pergunto fransindo o cenho. - Ronaldo? Não me lembro desse nome, então não deve ter relevância - Sorrio repetindo as palavras ditas pelo homem mais cedo.
- Não estou brincando Gal. Pareço estar? - O homem me encara seriamente olhando de relance para o seu relógio.
- Eu não estou brincando. - O respondo tentando me recordar desse nome. Vago...
- Como pode esquecer de seu próprio professor? - Questiona o mais velho ao perceber que realmente não me recordo desse nome.
Afinal, quem raios tem um nome tão genérico assim?
- É melhor se arrumar agora, não quero atrasos essa noite.
- Quem é Ronaldo? Professor? Tá falando da Nostradamus ou... - O encaro confuso a espera de uma explicação, impaciente e de forma rápida o homem diz.
- É o seu antigo professor de música, lembra? Ele não é mas um professor mas de qualquer forma, estará lá. E como eu disse ele quer te ver então vamos todos jantarmos após o evento. - Gelo ao ouvir suas palavras.
Esse homem...ainda existe?
- C-como assim? - Sinto minha voz falha acompanhando a minha respiração. O que tá acontecendo? Por que isso logo agora?
Esse homem...
- É, eu também achei estranho a mudança repentina de personalidade, mas cada um com sua vida. - Comenta o homem tirando seu celular do bolso, voltando su atenção ao aparelho. - Não sei por que tomou a decisão de se tornar padre, e sinceramente pouco me importa... - O encaro como desdém raciocinando suas palavras.
- Oi? Ele é o que? - Guardo minhas risadas junto ao meu comentário sobre essa pessoa.
Quem sou eu para julgar, mas padre, é sério?
- Você vai me obrigar a ver um padre que foi meu ex-professor de música, é isso mesmo ou eu entendi errado?
- Eu alguma vez te dei uma ordem que não fosse direta? - Seu olhar volta a me encarar seriamente repetindo pela última vez. - Vá se arrumar, Gal Sal.
Uma ordem...- Fecho os punhos o encarando amargamente, se direcionando até às escadas Kian caminha calmamente.
Como ele pode ser assim? Ele é meu pai mesmo? Eu deveria sentir algo em relação a isso...- Sinto minha visão turva o encarando atentamente, lágrimas percorrem por meu rosto enquanto me pergunto o por que as coisas tem que ser assim? Por que ele tem que ser assim? É o meu pai, eu deveria ama-lo, por que não amo? Eu...deveria ama-lo, pelo menos ser grato a tudo que tenho graças a ele.
Mas eu não consigo.
Eu tentei tanto, durante anos eu tentei...- Me sento nos degraus da escada cabisbaixo.
- Ouviu o que eu disse, Gal? - No fim dos degraus a pergunta de meu pai acoa pela casa. Há somente eu e ele hoje nessa residência, talvez seja o momento de ter essa conversa com ele.
- Pai, eu não quero mais isso...tudo isso...ir a eventos como esses e me dedicar a algo que eu não tenho aquela dedicação sincera, entende o que quero dizer? - Pergunto ainda cabisbaixo, não posso olhar em seus olhos.
Sei como ele está me encarando.
- Sinceramente, não Gal. Eu não te entendo - Responde o homem com sequidão. - Você possuí bastante dedicação quando se trata da sua banda amadora, não é? Por que não pode se dedicar no que realmente é importante?
- É diferente, eu gosto da minha banda...ela é importante para mim.
- A nossa percepção de importante é bem diferente - Explica o mais velho suspirando fundo. - Mas eu sou o pai e sei o que é importante para você, e você sabe disso.
- Eu só sei que...eu não quero mais isso, pai. Eu não quero mais tocar - Ergo meu olhar em direção ao final das escadas, me assusto com a aproximação do maior que subia os degraus novamente se sentando ao meu lado. - Me desculpe, pai...
- Sabe o quanto eu investi em você, não sabe? O quanto eu sonhei em te ver nos palcos, você faz parte dele...por que quer fugir disso? - Sua pergunta me faz me sentir extremamente mal. Fugir?
Eu não estou fugindo, eu só não quero mais, é diferente de fugir.
Eu disse palavras como essas ao Dante, ele se sentiu assim...? Como eu pude...- encaro o nada pensativo.
- Pai...eu sei que gastou muito em minha carreira, mas...
- Mas o que? Vai ser ingrato ao ponto de desistir de tudo que fiz para o seu futuro? - Sou interrompido por suas perguntas ríspidas. - Não gastei só dinheiro mas também tempo, Gal. Muito tempo, sabia disso?
- Olha, eu já pedi desculpas e lamento muito, de verdade. Mas não posso continuar a viver do ramo que você quer que eu viva. São suas espectativas dos sonhos que você teve na sua juventude...eu sei que talvez não faça isso por mal mas... - Me levanto calmamente suspirando pesadamente. - É a última apresentação que eu farei hoje, depois disso, não quero mais nenhum tipo de relação com isso.
- Gal, me escute - Seu pedido me faz parar de caminhar rumo ao meu quarto, me viro levemente para o mesmo o encarando nos olhos. Escondidas em suas orbes vejo um certo desespero. - Você não está pensando direito, o seu futuro é brilhante, e c-com lucros recompensadores.
- Pai, eu não ligo para isso...minha saúde mental não tem preço - Explico firme de minha decisão. Talvez firme demais, pela reação de meu pai.
- Você não tem direito a escolhas aqui, ligando ou não, o que você ganha com a música é o que paga parte dos gastos dessa casa. Acha mesmo que eu vou te sustentar sozinho? - Arregalo os olhos ao ouvir a pergunta de meu pai.
- O que quer dizer com isso? - Pergunto apenas para ter a confirmação do que acabei de ouvir.
Isso foi uma expulsão da minha própria casa?
- Eu quero dizer que se não quer viver sobre as minhas ordens não viverá sobre meu teto - Afirma Kian se levantando também, ficando de frente para mim com um olhar sério.
O silêncio toma conta do ambiente pesadamente. Ainda decedido de minha decisão dou de ombros comentando ao mais velho.
- É, justo. Sua vida, sua casa - Comento me virando calmamente, em passos calmos caminho novamente até meu quarto. Não consigo conter meu sorriso ao ouvir suas palavras.
Isso é bizarro, por que me sinto feliz com essa discussão com meu pai? Acabei de abrir mão de uma grande carreira, de grandes quantias...de um grande futuro.
Até meu lar eu tenho chances de perder, mas conseguirei algo, algo que sempre quis.
Livre... - Em frente ao meu guarda roupa observo minhas roupas, não precisarei de todas essas vestimentas, por isso só levarei o necessário.
- Espera... - Paro de guardar minhas coisas em minha mochila pensando em um detalhe. - Para onde eu vou...? - Um grande e importante detalhe.
- Viu só? Você não tem ideia do que fazer se sair de minha responsabilidade, nem idade para isso você tem - Reclama Kian seriamente, olho para a porta de meu quarto onde o homem se encontra de braços cruzados.
- Não sabia que era necessário idade para querer ser feliz - Comento rispidamente.
- Não me desrespeite Gal, eu sempre fiz de tudo por você, tudo o que você quis! - Coloco minha última peça de roupa em minha mochila o encarando com indignação. Ele tá brincando, não é?
- Tudo o que eu quis? - Antes que ele pudesse me responder o interrompo voltando a reclamar. - Ou tudo que você quis?! Nada que eu fiz foi por minha vontade! Foram os seus planos e suas espectativas sobre mim! Sempre foi você, o tempo todo... - Desvio o olhar sentindo minha visão turva, por que ele não me entende? É tão difícil assim...?
- Eu fiz tudo isso pelo seu bem, pelo seu futuro...entenda isso Gal - Se aproximando de mim o homem acaricia os meus ombros, é uma pena que seu toque me trás tudo, menos conforto.
- Eu agradeço por tentar, de verdade, mas o meu futuro sou eu que decido - Digo dando dois passos para trás. Agarro minha mochila ainda pensativo em relação para onde ir.
Tenho que decidir isso depois... - Penso pegando o terno sobre minha cama, terno que usarei durante a apresentação de hoje a noite.
- Como dito, eu me apresentarei hoje...mas será a última vez - Deixo isso claro ao mais velho o encarando seriamente.
- Gal me escute bem, eu não terei pena de você quando quiser voltar, se passar por aquela porta tenha em mente que não vai voltar, me entendeu? - Ouço as palavras do maior atentamente afirmando com a cabeça.
·Flashback·
Atualmente
- Essa briga parece ter sido séria... - Ouço Leonardo comentando com uma caneca de chá em mãos.
- E foi - Encaro minhas malas na porta pensativo. Ainda não acredito que tive essa conversa com meu pai, e honestamente foi bem melhor do que eu imaginei que seria. - Não quero te trazer problemas, Léo...
- Ei, Gal. Eu já disse que você não me trás problemas, fique aqui o tempo que precisar. - Explica o jovem me olhando gentilmente, esse olhar...
Caralho, como eu tô aliviado - Suspiro sorrindo bobo para seus olhos que me encaram de volta da mesma forma.
- Mas...pode me responder umas perguntas? Eu meio que não saquei alguns pontos - Explica Leonardo me encarando deixando sua caneca sobre a mesa de estar. - Primeiro, seu pai levou tudo mesmo numa boa? Tipo...ele deu um bom argumento...
- Deu? - Pergunto o encarando em confusão.
- Gal, você ainda só tem dezessete anos...meio que ele "manda" sim em você, entende o que quero dizer? - Explica o jovem suspirando fundo. - Olha eu sei que a situação é complicada e eu entendo a sua escolha, eu também saí de casa por problemas familiares, na real eu fugi e foi com menos idade que você tem hoje em dia, e é por isso que digo que talvez possa te trazer problemas...entende?
- Esse problema será resolvido em breve, eu não terei dezessete anos para sempre - Pego meu celular confirmando o horário. Eu tenho ciência dos problemas que isso poderia me causar, e foi exatamente por isso que tive essa conversa hoje com meu pai, pois exatamente daqui a meia hora, ele não terá poder sobre mim. - Como você disse, eu ainda só tenho dezessete anos...
- Que? - Leonardo me encara confuso tentando entender meu raciocínio.
- Até você se esqueceu do meu aniversário? Nossa, magoou pra caralho, viu? - Cruzo os braços fingindo decepção, mas sinceramente não me admira que ele tenha se esquecido.
Ninguém nunca lembra mesmo.
- Espera, sério? - Demostrando certa surpresa o jovem pega seu celular abrindo seu calendário. - É mesmo, caramba...
- Foi tudo friamente calculado, Leozinho - Sorrio com orgulho de meu plano. - Daqui a poucas horas mandarei no meu próprio nariz!
- E você acha isso algo...bom? - A pergunta de Leonardo me deixa pensativo por poucos segundos, afirmo com a cabeça levemente o deixando preocupado. - Olha, Gal. A vida adulta não é nada fácil cara, eu lamento muito em te informar mas é a mais dura verdade.
Meu alívio se esvai com o comentário de Leonardo, por mais que seja a verdade, eu não precisava desse tapa justo agora.
- Obrigado pelo aviso Léo, obrigado mesmo - Resmungo voltando a me deitar no sofá, colocando minha cabeça sobre o colo do jovem admirando sua beleza desse ângulo.
- Mas como eu disse, pode ficar o tempo aqui o tempo que quiser... - Explica o jovem acariciando meus cabelos, sorrio para o mesmo o encarando nos olhos. - Hãm...posso fazer outra pergunta...?
- Que interrogatório é esse? - Questiono em um tom descontraído.
- É que eu não te vi no teatro...seu pai disse que você não iria se apresentar e você realmente não se apresentou, mas pelo o que me disse você iria, não iria? Pela última vez... - Mudo minha expressão ao ouvir sua pergunta.
Eu não compareci ao teatro como disse que iria. Isso é outro assunto complicado que não gostaria de falar sobre, mas se realmente quero ter Leonardo em minha vida preciso contar mais sobre ela.
Sobre o que já aconteceu nela...
- Eu ia me apresentar, eu ia mesmo porque prometi isso ao meu pai... - Explico desviando o olhar para o teto do cômodo. - Mas eu acabei tendo o infeliz encontro com alguém na entrada do teatro, e só em pensar que ele estaria lá dentro, me observando a todo momento...eu não queria entrar, eu não pude... então fugi...
- Alguém...? - Pergunta Leonardo preocupado. - É o tal Ronaldo que você comentou? O...padre? Ele é padre?
- Ele é imundo, não sei como ele pode ser tão hipócrita ao ponto de virar padre, fala sério! - Me levanto rapidamente sentindo meu estômago se revirar, só de pensar nele me sinto enjoado. - Esse homem me dá nos nervos...
- Só isso que você sente por ele...?
- É, ranço. E nojo...talvez medo também...ah, vamos mudar de assunto? - Peço me sentindo mal, concordando e respeitando meu pedido Leonardo pergunta:
- Tá com fome? Quer pedir alguma coisa? - Pergunta o loiro pensando melhor no que disse. - É, pedir um açaí em plena meia noite seria estranho...
Meia noite em ponto... - Olho para meu celular novamente com um sorriso de canto.
Finalmente porra, dezoito anos!
- Cadê meu presente? - Pergunto de mãos abertas em direção a Leonardo que me encara surpreso.
- Nossa, mas já? Eu ainda não comprei nada pra você...só recebo no fim do mês, Gal. Me desculpe - Explica o jovem cabisbaixo. Seguro seu queixo aproximando meu rosto do mesmo, sussurrando em seu ouvido calmamente.
- Não quero nada que tenha um preço, Leozinho... - Murmuro baixinho em seu ouvido aumentando meu sorriso. - Você mesmo já me basta...
- Eu? Falando dessa forma pareço um objeto - De olhos cerrados o loiro me encara, tentando conter seu sorriso de canto.
- Objeto? Eu diria um troféu, algo que tenho muito orgulho de ter - Digo firmemente em minha comparação, mas pela reação do mesmo eu acho que falhei na tentativa de ser romântico.
- Um troféu também é um objeto, Gal. - Explica Leonardo de forma seca.
- Eu tentei ser romântico, mas isso não é o meu forte - Dou de ombros em desistência.
Sinto as mãos do loiro se envolvendo em minha cintura, me apertando levemente contra seu colo, o encaro descrente com tamanho atrevimento. Seus olhos me encarando com desejo me faz arrepiar por inteiro. Onde está o Lerdo-nardo sem um pingo atitude?
- Serei seu objeto, Gal Sal. Considere esse o seu presente. - Caralho, eu vivi para ouvir essa frase.
- Não me iluda dessa forma, garoto - Peço gentilmente selando nossos lábios.
Aos olhos de muitos perder a carreira e a casa seria a pior coisa que poderia acontecer, mas por que para mim isso é tão incrível?
Esse garoto é incrível, merda... então isso é amar...
É, demorei mas tá aí.
Temos mais alguns capítulos para o encerramento dessa história, então não se esqueçam da estrelinha!
Bebam água e se cuidem!
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