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Em Alto e bom Tom


♪♪♪
DANTE
♪♪♪

   É tão estranho...a forma como tudo aconteceu.

Eu me sentia perdido nos caminhos que trilhei no passado, submerso em meus pensamentos, nas escolhas que tomei.

No que eu poderia ter feito para que tudo não acontecesse da forma que aconteceu, mas aconteceu.

A morte chega para todos, isso é um fato inevitável que a humanidade não pode questionar, a questão é o tempo.

Sempre foi o tempo.

Eu poderia ter feito as coisas de forma diferente, poderia ter sido mais presente, perguntado mais vezes se ela estava bem, se precisava conversar, se precisava de alguma ajuda.

Ou apenas de um abraço...

Eu poderia ter feito mais, mas não fiz. E por isso deixei a culpa me arrastar para um mar imenso de dor e arrependimento.

Era tão estranho olhar para o que um dia me fez tão bem e ver que não era mais a mesma coisa.

A música não era mais a mesma coisa.

Eu nunca mais tocaria nada em minha vida, foi o que eu prometi a Jasmim após  sua morte, mas muitas pessoas em minha volta me fizeram enxergar que definitivamente não é isso que ela queria que eu fizesse.

Eu preciso continuar a tocar, por ela, por Gal, por Arthur...

Por todos que ainda estão aqui, e por mim mesmo.

É estranho sentir isso, fazia tanto tempo que não sentia esse sentimento em situações simples como essa...

Risadas sinceras são estranhamente boas de se ouvir...

A risada dele é tão...única...- Sorrio para Arthur o observando ser naturalmente ele mesmo junto a sua amiga Agatha, que enquanto aponta uma de suas banquetas em direção ao Gaudério o ameaça seriamente.

Mas por algum motivo Arthur não via seriedade nas ameaças da jovem, e por isso ria tentando a abraçar a qualquer custo.

— Ah, qual foi Agatinha? Vem cá! - De braços abertos Arthur a chama novamente tentando alcança-la.

— Saí pra lá, você tá todo molhado! - Reclama Agatha atrás do balcão, tentando se esconder atrás de Ivete. — Eu tô avisando, vou acertar a cara do seu filho se ele não parar de graça! - Avisa a jovem novamente olhando para Ivete.

— Eu só quero um abraço, vai me negar isso? - Pergunta Arthur passando pelo balcão do bar, Ivete encara o jovem seriamente pedindo pela terceira vez.

— Guri, vai trocar de roupa antes que você pegue um resfriado - Explica a gaúcha deixando alguns copos sobre o balcão. — Vocês não deveriam estar ensaiando? - Ela pergunta mudando de assunto.

— Deveríamos, né! Mas o Arthur tá aí enrolando - Reclama Agatha o encarando zangada.

— Eu só queria um abraço, só porque estou todo encharcado ninguém quer chegar perto de mim, que maldade! - Exclama o jovem cruzando os braços, com um olhar cabisbaixo.

Esse temporal pegou todos desprevenidos -  Olho para a porta entre aberta do bar, de onde podia se ouvir a tempestade que caí lá fora. Hoje decidimos nos reunir aqui no bar para ensaiarmos um pouco, na verdade o ensaio é apenas para mim, já que eu estou atrasando a banda e preciso o mais depressa possível ter o mínimo de experiência.

Se eu não me esforçar não vou conseguir ser selecionado como um integrante da banda, poderia perguntar para Leonardo quais são os músicos que estão se escrevendo para participar, assim tendo uma noção com quem terei que "competir", mas sinceramente, além de injusto isso apenas me deixaria ainda mais tenso.

Preciso me esforçar ao máximo, só assim terei chance de oficialmente fazer parte da banda. Só assim poderei tocar com Arthur...

Não posso perder tempo... -  Caminho até a porta do bar a fechando calmamente, evitando que a corrente de ar gélida entrasse no estabelecimento, olho novamente para Arthur que próximo ao balcão continua a falar com Agatha com o mesmo assunto.

— Só porque estou molhado não me amam mais! - Exclama Arthur de braços cruzados, feito uma criança carente.

E realmente, ele parece estar meio carente hoje...

— Eu tô embrulhada em três moletons, olha o frio do caralho que tá fazendo! E você todo encharcado quer vir me abraçar? Tenha noção nessa sua cabeça Arthur - Reclama Agatha se escondendo no capuz de seu moletom.

Realmente está frio hoje, talvez por isso Arthur queira tanto um abraço.

— Arthur, você vai acabar ficando doente dessa forma - Explica Ivete novamente ao jovem que continua emburrado olhando para Agatha.

Hm ... - Me aproximo do Gaudério o abraçando em silêncio, eu não sei se eu deveria ter feito isso, mas era o que ele queria, não? Talvez fosse um abraço específico de Agatha, e não um abraço qualquer.

— Dante... - Ouço Arthur me chamar baixinho, seu rosto ruborizado encara Agatha e Ivete que nos encaram de volta sem reação. Acho que isso foi de repente demais.

— Se sente melhor? - Pergunto envolvendo meus braços ao redor do jovem, sua estatura baixa permite que eu descanse meu queixo sobre sua cabeça tranquilamente.

— O que? Ah, sim. Melhor... - Afirma o Gaudério envergonhado. Sorrio bobo ao notar sua expressão, ela é até que é fofa...

— Bem melhor né - Afirma Agatha com um sorriso de canto. — Agora os dois estão molhados, que beleza ein.

— Não tem problema, estou bem - Explico me distanciando do abraço, meu suéter não está totalmente seco mas não é algo que me encomode.

— Troque de roupa, Arthur - Afirma Ivete novamente olhando para a mochila do jovem sobre o balcão, Arthur a pega caminhando em direção ao banheiro.

— Já volto - Avisa o jovem entrando no cômodo.

— Ui ui - Ouço Agatha me provocando enquanto caminha em direção ao palco no centro do estabelecimento. — Enfim, chega disso, vamos focar no que importa agora!

— Temos duas semanas de ensaio até o dia da audição - A campanho até o palco a observando preparar os equipamentos, conectando alguns cabos em um amplificador de som.

— Você vai conseguir entrar para a banda Dante, eu confio no potencial que você tem - Afirma Agatha me entregando uma pasta repleta de folhas, onde em uma delas estava marcada em específico. — Você vai ensaiar essa música, ok?

— É de autoria dos Gaudérios... - Murmuro olhando para o papel, naquela noite eu o ouvi cantando essa música, foi tão... — Você quer que eu toque essa música? - Pergunto com certo receio.

— Por que não tocaria? Essa música é nossa marca, foi a primeira que o Arthur compôs, a primeira que ele decediu tocar para uma platéia desconhecida e a primeira que ele estreiou a banda lá na casa de shows. Ela é a primeira de tudo, tipo, ela é mais do que importante para a banda, entende? - Explica a jovem enfatizando a importância dessa música, aumentando mais ainda o meu temor de tocá-la.

E se eu tocar errado?

— Prontinho! Eai? Qual vamos ensaiar?? - Pergunta Arthur saindo do banheiro com sua mochila em mãos, perto dos instrumentos ele a joga se sentando ao meu lado em seguida. — Ah, essa é bacana. - Afirma o Gaudério olhando para o papel que tenho em mãos.

— Foi a primeira que ouvi você cantar... - Murmuro olhando de relance para seus olhos, frações de segundos que me fizeram perder a noção do tempo, esses olhos bicolores...

Naquela noite pude apreciar a voz melódica de Arthur, junto aos acordes mais impressionantes que já ouvi em toda a minha vida. Mesmo sempre ouvindo a banda Escriptas tocar, que possuí trilhas sonoras intrigantes e envolventes, eu nunca havia ouvido algo como o que os Gaudérios Abutres tocaram naquela noite.

A letra, o ritmo, a voz dele...

Tudo, absolutamente tudo em Arthur me cativou naquela noite. Ele brilhou mais do que os olofotes sobre a banca, destacando se entre os outros membros no palco.

Ele se destacou...

— Dante, caralho! - Exclama Agatha com impaciência. Sinto algo acertar minha cabeça, olho para as mãos da jovem que se afastam de mim com a mesma rapidez que se aproximaram. — Vou usar sua cabeça como prato de bateria se continuar me ignorando! - Reclama a jovem fazendo uma careta irritada.

— Q-que? - A encaro confuso massageando minha cabeça. — Não estava te ignorando, desculpe-me se achou isso... - Murmuro a encarando sem jeito.

— Para de comer o Arthur com os olhos e foca no que eu tô falando, esse ensaio é importante, lembra? - Explica a jovem seriamente.

— Haha, comer com os olhos! Não diga absurdos, guria - Exclama Ivete olhando para Arthur. Seu olhar se direciona a mim com certa desconfiança. — Não estava fazendo isso, ou estava? - Ela me pergunta.

— N-não - Nego automaticamente me virando para Agatha, eu nunca vi tantas coisas absurdas como essa saírem de uma única boca. — Não diga coisas assim, Agatha. - Chamo a atenção da jovem que ignorando o que eu disse volta a explicar.

— Como eu estava dizendo, essa música é muito importante para a banda, e é a favorita do chefão lá então se tocar ela com maestria ele vai ficar tipo, oras, esse loirinho é incrível! - Exclama Agatha deixando sua voz ligeiramente grossa, não sei se isso foi uma tentativa de imitação ao dono da casa de shows, apenas sei que foi uma tentativa extremamente falha.

— Não, não. Ele vai ficar tipo, ora ora como esse loirinho canta bem, está contratado! - Exclama Arthur ajeitando seu bigode.

— Haha, ele faz exatamente assim! - Brinca Agatha rindo da imitação de Arthur.

— Então a estratégia de vocês é tocar a música favorita do véio da casa de shows? - Pergunta Ivete saindo de trás do balcão, caminhando até nós com uma garrafa em mãos. — Acha que vai dar certo?

— Claro que vai, independente da música, vai dar certo sim - Afirma Agatha junto a Arthur com determinação.

— É! Vai dar certo, o Dante vai entrar para a banda e nós vamos fazer inúmeras turnês mundiais! Todos ouvirão nossa voz...vai ser incrível - Explica o Gaudério sorrindo para mim, seu sorriso é tão leve e inocente.

Gostaria de sorrir assim, de ter a mesma determinação que eles têm.

No fundo sei que minhas chances são poucas, e eu odeio competir, para existir um vencedor deve haver um perdedor, e por mais que essa seja a verdade ela sempre doerá na pele dos mais fracos.

E se eu for um desses...?

— O segredo é ensaiar. Sempre estar cada vez mais em busca de aprimoramento, em tudo nessa vida é assim - Comenta Agatha pegando meu instrumento, com cuidado a jovem o entrega a mim. — Vamos começar?

Afirmo levemente com a cabeça posicionando a guitarra em minhas mãos, graças ao incentivo de Arthur e meus outros amigos eu consigo segurar essa GIbson sem sentir peso algum.

Sem o peso da culpa.

Gal costuma dizer que a relação entre um músico e seu instrumento deve ser sincera, durante tanto tempo menti para mim mesmo em relação ao instrumento, o usei como desculpa para desistir da música, quando na verdade o problema estava em mim.

Sempre fui eu.

Desatento com as atitudes que tomava e insensível com o que elas causavam com as pessoas em minha volta, hoje recebo elogio em relação ao meu comportamento, já ouvi inúmeras vezes o quão maduro e responsável sou para um jovem com a minha idade, mas já fui tão imprudente.

Já fui tão falho.

E ainda sou, mas não me cobro mais como antes, ser falho me faz ser humano. E eu adoro ser um humano, adoro sentir, errar e aprender com isso. Eu adoro evoluir cada dia mais como ser humano.

Não é fácil evoluir, principalmente quando se tem um lado tão autodestrutivo como o meu, é difícil lidar com isso. Lidar com esse meu lado, eu tenho sorte de ter tantas pessoas me ajudando em minha volta.

Deveria agradecer mais a elas, retribuir o que elas fazem por mim.

Eu vou agradecer, vou retribuir.

Vou fazer tudo valer apena - Afirmo a mim mesmo encarando Arthur nos olhos, assim como havíamos combinado.

Esse é um tipo de exercício que venho fazendo para dar uma impressão melhor ao público, Agatha disse que notou que minha atenção sempre é voltada totalmente para a guitarra quando estou tocando, o que faz sentido. Mas isso não significado que necessariamente eu precise estar com os olhos vidrados no instrumento, o contato visual com o público também é importante, ela diz que transparece mais confiança ao público se eu olhar menos para o instrumento que toco, sem falar que já passou da hora de decorar todas as cordas e casas.

Não quero me comportar como um amador, eu sei tocar essa GIbson e quero provar isso, não só ao dono da casa de shows mas a todos que me verão tocar. Eu quero estar a altura para ser um Gaudério Abutre também.

Ele nem se quer pisca...- Sorrio para o Gaudério enquanto o mesmo me observa tocar, prefiro não desviar a atenção para Agatha que também está me observando, ao contrário do guitarrista a jovem realmente está me avaliando. Arthur é meigo e muito gentil, ele nunca me faria alguma crítica, por mais construtivo que isso seja.

Ele é mais a pessoa que me incentiva e me apoia, a crítica e orientadora é a Agatha, ela vem me ajudando bastante, por mais que sua sinceridade doa as vezes, as vezes sempre.

— Parou - Ouço Agatha se pronunciar levantando uma de suas baquetas, olho para a jovem confuso me perguntando o que eu fiz de errado, provavelmente algo grave para ser encarado dessa forma pela jovem.

Fora do ritmo? - Pergunto a mim mesmo apreensivo. — E-eu fiz algo? - Pergunto a jovem receoso.

— Ele tava indo bem, o que aconteceu dessa vez? - Pergunta Ivete ao lado de Arthur.

— O de sempre - Explica Agatha se levantando calmamente, a jovem caminha até mim subindo ao palco. — Você até que tá indo bem, tá prestando bastante atenção nos conselhos que te dou mas acho que ainda não sacou o mais importante, não é?

— Mais importante? - Pergunto confuso, olho para a baqueta da menor que lentamente se aproxima de meu rosto. — V-vai me usar como prato?

— Eu disse que faria isso se não prestasse atenção no que eu digo, não disse?

— Mas eu tô prestando, eu juro! - Afirmo temendo o futuro de meu pobre e jovem crânio. — O que eu fiz de errado?

— Não é o que vocês fez, é o que você não tá fazendo. Qual é, Dante. Você pode mais que isso! - Reclama Agatha cruzando os braços. — Por que tá todo travado? Só tem a gente aqui, não precisa ficar tão tenso.

— Tenso? - Pergunto em um suspiro pesado. Isso é algo que eu não posso evitar, eu quero tanto entrar para a banda, só em pensar que talvez eu não consiga me sinto...

— Não tem como pedir uma coisa dessas a ele, Agatha - Explica Ivete se espreguiçando calmamente. — Ele tá competindo com outros músicos para entrar para os Gaudérios Abutres, isso é algo que não tem como esquecer ou ignorar nos ensaios. Até essa audição não se encerrar, infelizmente essa tensão é algo que vai ficar pairando no ar. - Comenta a mais velha entendo meu lado.

— Mas ele não precisa ficar assim, ele está fazendo tudo certinho! - Afirma Arthur alegremente. — O público vai ter uma sorte danada de---

— Aí Arthur, parou de boiolagem! A única coisa que você tá fazendo é admirar os olhos do Dante, seu trabalho é fácil demais  - Reclama Agatha revirando os olhos. — Se a parte crítica é comigo então me deixe criticar, e eu falo para o seu bem cara, você pode tocar muito mais se deixar essa tensão de lado. - Explica a jovem me encarando seriamente. Sei que é um conselho mas...

Não é tão fácil segui-lo como parece.

— O medo nos impede de fazer tantas coisas... - Comenta Ivete pensativa.

— E-eu não tô com medo. Eu só...sei lá... - Suspiro em frustração me perdendo em minhas palavras. A verdade é que não sei o que dizer, não sei o que sentir.

De novo, não sei o que sentir...

— É melhor fazermos uma pausa - Comenta Agatha pegando seu celular, teclando algo no aparelho.

Por que eu sou assim...?  - Me sento em uma cadeira afastada do bar, deixando minha GIbson sobre a mesa. Eu preciso ser mais firme no que quero, no que penso, no que sinto...quero entrar para a banda, quero muito... - Olho para Arthur que com um copo de água em mãos se aproxima de mim.

— Beba um pouco de água e descanse, você foi ótimo hoje - Comenta o Gaudério sorrindo para mim em uma tentativa de me tranquilizar. Não acho que ele esteja mentindo para me agradar, só acho que ele não tem o mesmo senso crítico de Agatha.

— Obrigada, Arthur... - Pego o copo de suas mãos bebendo um gole em seguida.

— Eu sei que as vezes a sinceridade da Agatha dói como um tapa na cara, as vezes sempre. Mas ela só quer ajudar, entende?

— Eu sei que isso interfere muito nos ensaios, mas é que...eu não acho que essa tensão seja algo que eu vou conseguir parar de sentir, entende?  - Explico encarando o copo que tenho em mãos pensativo.

— Eu te entendo, em partes. É normal se sentir nervoso por conta dessa seleção, mas eu sinto que não é só por isso que você está assim... - Explica Arthur colocando uma de suas mãos sobre a minha, segurando o copo enquanto o encara pensativo. — Foi pelo o que eu disse naquela noite, não foi...? - Pergunta o jovem me encarando com preocupação.

O encaro por alguns segundos antes de voltar meu olhar para a mesa. Em algumas semanas atrás, nesse mesmo bar, nos encontramos depois de um mês. Eu passei trinta dias sem ter qualquer notícia de Arthur, o acidente trágico envolvendo os gêmeos Marcelo e Murilo deixou Arthur desolado, o Gaudério perdeu o contato com todos durante um bom tempo, digerindo ainda a triste notícia e encarando o luto sozinho.

Assim como eu, ele se afastou de tudo e todos quando perdeu as pessoas que amava.

Eu consigo entender a preocupação que muitos sentiram por mim agora, a sensação de não ter notícias de alguém importante para você é agoniante, por mais que eu tentasse, por mais que eu perguntasse, durante um mês eu não pude fazer nada para ajudar Arthur.

E quando o vi nesse bar, junto aos seus amigos, a Gal e Leonardo, eu senti que deveria fazer algo para ajudá-lo em uma situação tão delicada como essa.

Eu queria consolar Arthur, e mesmo não sendo o melhor nisso, ele se abriu comigo.

·Flashback·
Uma semana atrás

Lidar com o luto é uma experiência tão complexa e íntima, tão íntima ao ponto de não saber o que fazer, não sei o que dizer. Não faço ideia do que ele está sentindo, no que está pensando...

E mesmo não sabendo ao certo, quero ajudá-lo, quero abraça-lo e dizer que está tudo bem, mesmo não estando.

Vai ficar tudo bem...

De quantas pessoas ele já deve ter ouvido isso? São palavras de conforto muito vagas para uma situação como essa...- Encaro o copo sobre o balcão pensativo, nem se quer sei por que comprei uma dose.


Não há por que beber, não há o que comemorar.

— Saúde! - Exclama Gal brindando junto a Leonardo, poderia chamar a atenção do mesmo mas ele já parece ter se desconectado de sua própria vida, seus próprios problemas.

Não acho que essa seja a melhor maneira de lidar com os problemas, mas quem sou para falar disso, até hoje vivi fugindo dos meus. Cada um com suas válvulas de escape. Mesmo assim, não deixa de ser difícil para mim observar aos poucos um amigo acabando consigo mesmo.

Arthur...- Observo o Gaudério com pesar, o terceiro gole de sua bebida desce por sua garganta com lentidão. Antes que pedisse outro Elizabeth o serviu novamente como forma de consolo ao seu lado.


— Eu pago tutu, fica de boas - Explica a morena o servindo calmamente. Em silêncio o Gaudério apenas afirma com a cabeça olhando para o nada.

— Arthur... - O chamo preocupado. Não sei exatamente o que dizer em seguida, não sei o que fazer, eu deveria fazer algo?

— Hm... - Em um murmuro baixo Arthur desvia sua atenção aos meus olhos.

Tão vazios...

Onde estão aqueles olhos coloridos que traziam consigo um olhar radiante, aquele brilho...

— Arthur, eu...eu sinto muito, mesmo... - Digo em meio a um suspiro pesado na tentativa de conforta-lo.

— Já ouviu a Despedida De Um Abutre? - A pergunta repentina de Arthur me faz o encarar com certa confusão. Talvez ele queira conversar sobre outro assunto que não envolva perdas e lutos.

O que eu entendo perfeitamente.

— Hãm...receio que não, talvez, o que seria isso?

— É uma música - Responde o jovem sanando minhas dúvidas sobre o assunto, é um nome bem diferente para uma música. — É de minha autoria...

— Sério? - Sorrio gentilmente para o guitarrista. — Espera, está falando daquela música que vocês cantaram como abertura no concurso? - Pergunto me recordando daquela noite.

A primeira noite que o vi, a primeira noite que o ouvi.

Aquela música...- O jovem afirma levemente com a cabeça confirmando minha pergunta, me recordo bem dessa música, depois que a ouvi fiz questão de procurar ela nas mídias, acabei encontrando outros artistas independente que também possuem boas músicas para se ouvir.

Mas as dos Gaudérios expressam tanto sentimentos, diferentes e totalmente opostos, porém se enquadra tão harmonicamente em suas letras, são cantadas de forma tão sincera e única.

— Suas músicas são incríveis, Arthur... - Comento o elogiando, tentando anima-lo de alguma forma.

— Sabe, a arte sempre será a melhor forma de se expressar, com a música eu disse coisas que jamais pensaria em dizer, cheguei onde jamais em pensaria chegar. Eu sou grato por conhecer esse mundo musical, por me conhecer nesse mundo... - As palavras de Arthur saem com tanto pesar, seguro sua mão que de forma tensa dava pequenos toques em seus copo.

— Arthur...se passaram um mês...e eu não pude fazer nada, eu sinto muito, sinto mesmo... - Murmuro o encarando nos olhos apertando levemente sua mão. — Mas agora eu posso, agora eu estou aqui, eu posso te ajudar...te ouvir...se quiser falar alguma coisa, qualquer coisa...sabe?

— Eu agradeço Dante, de verdade. Mas eu tô legal, na verdade não muito, mas vou ficar... - Explica o Gaudério de forma cabisbaixa.

Arthur... - O encaro durante alguns segundos em silêncio, ele não parece bem como diz estar, mas preciso respeitar seu espaço. Não vou mais tocar no assunto.

— S-som? Sooommm?!? - Um som estrondoso ecoa pelo estabelecimento, no outro lado do bar, em uma área disponibilizada para os clientes dançaram e cantaram no Karaokê está Elizabeth, cantando desafinadamente.

Me pergunto se ela é naturalmente assim ou se está sobre efeito do álcool, acho que possivelmente os dois.

— Liz senpai! Caramba, eu pisco os olhos e você apronta uma dessas! - Ao sair do banheiro Joui caminha até a jovem que o repreende rispidamente.

— Ih, deixa eu viver! Cantar é vida! Deixa eu cantar! - Exclama Elizabeth embriagada.

— Você mal consegue se manter de pé, Liz senpai  - Joui a aconselha preocupado, tentando a tirar de cima do palco.

— Deixa ela cara, o pior que pode acontecer é ela fazer meus ouvidos sangrarem ao som de boate azul - Comenta Kaiser bebendo um pouco de sua bebida calmamente.

— Haha, o Cesinha tem razão! Vamos deixá-la cantar, e quem sabe não seja uma declaração de amor para um certo alguém, não é mesmo? - Em passos confiantes Thiago caminha até a área de Karaokê a espera da apresentação da jovem.

O grupo de Arthur é tão harmônico... - Penso comigo mesmo enquanto observo os amigos de Arthur sendo naturalmente eles mesmos.

— Não quer cantar? - Pergunto voltando minha atenção para Arthur que assim como eu, estava a encarar toda a situação.

— Ah, não... - Responde o Gaudério pensativo. — Acho que vou parar...

— Hãm? - O encaro confuso pensando em suas palavras. Eu as ouvi bem?

Ele vai parar? Parar de cantar? Parar com tudo Por que? Por que ele faria isso?  - Os pensamentos sobressaem em minha mente. Ele não pode parar, quero dizer, ele pode. Mas não deveria.


Parar de cantar? Parar de tocar?bCom a banda? Por que? Não!

Não... não faça isso... - O encaro tentando dirigir a angústia que sua palavras me causaram.

Não pode ser, a Agatha sabe disso? E ela concorda? Por que parar, isso faz tão bem a ele, eu consigo ver o seu brilho nos olhos quando ele está nos palcos, consigo sentir o sentimento por trás dos acordes, as letras.

Eu sinto cada uma delas, assim como todos também sentem. Arthur significa muito para muitos, por que parar agora?

O brilho nos olhos que ofuscam os olofotes...onde eles estão?

Onde o Arthur que eu conheço está...?


— Dante? - O jovem me chama após alguns minutos de silêncio, volto minha atenção ao agora o encarando de volta.  — É que você ficou calado de repente... - Murmura o Gaudério. — Eu pensei que---


— Você não pode parar, Arthur. - Digo com firmeza o interrompendo. — D-digo, você pode, a escolha é totalmente sua mas... - Suspiro fundo tentando explicar o que quero dizer. Talvez eu não consiga, mas preciso tentar explicar, preciso tentar ajudá-lo... — A música é tudo para você, você mesmo sempre dizia isso a todo momento, e é tão inspirador...a forma como você apenas... é você. Eu entendo os seus motivos, mas acha mesmo que será o certo a se fazer?

— Eu não sei se vou continuar a cantar como antes, não vai ser a mesma coisa sem eles... - Explica Arthur suspirando som pesar. — É tão estranho...pensar que as pessoas que me ajudaram a compôr uma música em homenagem a morte de meus pais hoje também foram homenageados pela mesma música...

Permaneço durante alguns segundos em silêncio, não sei bem do que ele está comentando, afinal, se passaram um mês sem notícias de Arthur. Não sei o que ele fez durante esses dias, não pude participar da cerimônia dos Gaudérios, e pelo o que Agatha me disse foi algo íntimo, apenas poucos familiares participaram.

Eu gostaria de saber mais, para ajudar mais, mas sinto que os detalhes desse assunto só o machucaria mais ainda.

— O enterro ocorreu na sua cidade natal, não é? - Pergunto sutilmente ao jovem que afirma levemente com a cabeça.

— O silêncio de Carpazinha era ensurdecedor, todos se calaram para ouvir o que eu tinha a dizer, o que eu tinha a cantar... - minha preocupação por ter perguntado sobre o assunto aumenta ao ouvir a voz de Arthur falha e embargada, sinto a dor e peso em cada palavra dita pelo mesmo. — A Despedida de um Abutre carrega uma história com tanto peso, eu sinto que não consigo mais canta-la, não consigo mais carregar esse peso, eu...eu não consigo mais, eu não quero mais me despedir de todos, todos os s Gaudérios se foram...e eu fiquei aqui...

Sozinho... - Observo o semblante do Gaudério com pesar. É assim que ele se sente...

Preciso ajudá-lo...- Envolvo um dos meus braços ao redor de seu ombro, com um olhar distante o jovem encara o balcão.
M

as como...?- Essa sensação de impotência revira meu estômago. Como ajudar alguém que se sente assim? Uma situação dessas é tão difícil de lidar, eu deveria apoia-lo da melhor maneira possível.


Mas a verdade é que eu não sei o que devo fazer...

·Flashback·


  Depois que tivemos aquela conversa não tocamos mais no assunto, apesar da minha "entrada" para a banda, apesar dos ensaios voltarem com frequência, apesar de tudo...

Eu não sei se cantar essa música em específico é uma boa ideia, essa música em específico causou sentimentos específicos em Arthur, sentimentos ruins.

Eu não posso controlar o que o Gaudério pode sentir, não posso privalo de sentir coisas ruins, se eu pudesse o faria o jovem mais feliz dessa terra, deixaria que ele sentisse somente coisas boas, ele mais que todos merece isso.

Mas eu sei que sentimentos ruins também fazem parte do ser humano, e por mais que doa é essencial para vivermos. Mas mesmo tendo total consciência disso não quero vê-lo mal.

Não quero que ele sinta o que sentiu naquela noite. Não quero vê-lo chorar.

— Eu não quero cantar algo que te faça lembrar de tudo o que aconteceu, que te faça sentir coisas...ruins... - Confesso com pesar, me sentindo aliviado de certa forma por ter explicado o motivo de meu receio aos ensaios.

Não sei como Agatha reagiria a isso se eu explicasse o porquê a ela, provavelmente não entenderia, não como Arthur me entende.

— Dante... - Sua voz ressoa séria por todo o bar, ouço não só ela em foco como as batidas de meu coração, temo por um segundo as palavras que disse. Não quero magoá-lo de forma alguma. — Está tudo bem - Logo me alivio com suas palavras, parecem sinceras ao meu ver.

Com certeza são, é admirável a forma que ele lida com os sentimentos causados pelo luto, ele é um jovem tão forte...

— Mesmo...? - Pergunto o encarando com certa angústia.

— Quando eu disse aquilo no bar eu estava meio mal, na real, muito mal. Eu disse que não cantaria mais levando os sentimentos que sentia no momento, me sentia desolado, a forma como tudo aconteceu foi tão difícil de digerir...a saudade nunca será algo superável...mas hoje, com a cabeça leve e alma limpa eu sei o que é o certo a se fazer, eu sei o que eles gostariam que eu fizesse se estivessem aqui. - Explica o Gaudério segurando firmemente em minha mão. — Eu devo tocar em homenagem a eles, em alto e bom tom!

Como ele consegue ser assim? - Pergunto a mim mesmo desviando o olhar para nossas mãos, as lições de Arthur são tão sinceras de uma forma tão sútil, ele nem se quer deve perceber o quanto suas palavras me ajudam a aprender a seguir em frente, superando o passado e os medos que o acompanham sempre com a cabeça erguida.


É isso que devo fazer, em alto e bom tom.

— Cantar em homenagem aos que se foram... - Murmuro pensativo, volto a encara-lo com um sorriso leve em meu rosto. — Onde quer que estejam vão te ouvir cantar, Arthur.

— Vão nos ouvir cantar - Reafirma o jovem com determinação. — Você também pode cantar, e homenagear as pessoas que ama, entende o que digo?

Eu posso? Eu... - Se ela pudesse me ouvir, pediria minhas sinceras desculpas por tudo que fiz, e tudo que deixei de fazer. Por não estar lá quando ela precisou, por ser tão falho quando ela só queria apoio.

— Jasmim... - A cada vez que menciono seu nome doe menos em meu interior, esse nome não tem mais o peso que tinha antes, aos poucos me culpo menos por sua ida, a companhia de Arthur vem me ensinando muitas lições de vida.

Nem tudo podemos controlar, eu sinto falta dela, e isso é algo que tenho que me conformar a conviver.

— Posso cantar em homenagem a ela, não posso? - A pergunta soa como se já soubesse a resposta, é realmente sei.

— Claro que pode! - Afirma Arthur me respondendo com um grande sorriso em seu rosto.

Tão cativante.

Eu posso...- Sorrio para o jovem em um suspiro aliviado, é como se eu olhasse para ela, só que com os olhos diferentes.

Olhos bicolores que brilham intensamente...

Ele é incrível.






















Olá olá, caro leitor!

Gostou do capítulo? Deixe a estrela, ela me incentiva bastante!!!

Se cuidem e bebam água, bye bye!


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