Dragões Metálicos
♪♪♪
→Dante←
♪♪♪
É hoje.
Hoje eu colocarei as noites em claro de ensaios em prática, enfrentarei os melhores jovens talentos da cidade de São Paulo, por mais que disputas não sejam o meu forte, tenho que tentar.
Tenho que ganhar.
O dia da audição finalmente chegou, é hoje.
— Como se sente? - Pergunta Bea pela quinta vez desde que acordei, sentado na mesa enquanto espero a refeição matinal comento:
— Um pouco nervoso, mas estou bem - Explico tranquilizando minha irmã, é visível que seu nervosismo chega perto ao meu.
Desde que comecei os ensaios dia e noite Beatrice me fez companhia o tempo todo, deixando seus compromissos e os passeios que sempre gosta de fazer com os amigos. Até Clara está voltando mais cedo do trabalho para me observar tocar, como forma de apoio.
As duas mulheres hoje acordaram mais cedo com uma disposição assustadora, enquanto a mais velha prepara o café da manhã junto a alguns pães Bea me mostra as últimas atualizações sobre a audição, que ocorrerá no período da tarde.
— Leonardo acabou de postar isso aqui, ele já chegou no estúdio - Explica Beatrice a procura de mais informações na rede social do jovem assessor. — Ele chegou mais cedo para ajudar a organizar as coisas, não é? -
Afirmo com a cabeça checando as mensagens em meu celular.
— Esse tal Leonardo, eu já o vi, não? - Pergunta Clara olhando de relance para mim, voltando a se concentrar nos ovos sobre o fogão.
— Não senhora, acho que conhece apenas o Gal. Conheci Leonardo bem depois que... você se foi... - Explico a respondendo, murmurando a última parte.
— O importante é que agora ela voltou, não é? - Beatrice olha para mim a espera de uma afirmação, penso em suas palavras a absorvendo com mais leveza.
Finalmente, me sinto leve.
Após anos de dores e dificuldade sozinho com Beatrice, minha mãe retorna. E mesmo não gostando de sua chegada e ter a tratado de forma rude por isso, ela conseguiu me entender, assim como estou tentando a entender também.
As escolhas que ela tomou moldou o jovem que sou hoje, e ao invés de se desculpar com tentativas falhas, ela resolveu apenas aceitar isso e decediu recomeçar do zero conosco.
Eu não conheço minha mãe, mas estou disposto a conhecê-la melhor e esquecer os erros do passado, afinal, já é passado.
A forma como Arthur me ensinou isso de forma tão sútil e simples é incrível... - Olho para Clara que assim como Bea também esperava uma resposta.
— É, é isso que importa... - Afirmo olhando gentilmente para a mais velha, que sorri ao ouvir minha palavras.
— Sabe, nós deveríamos comemorar isso - Comenta Clara com entusiasmo. — Dante será o melhor músico de todos os tempos!
— Sem dúvida alguma, hoje será incrível! - Afirma Bea concordando com sua mãe.
É, será...- Tomo meu café normalmente, junto a minha família. Durante o café assuntos como minha futura carreira é posto em pauta, elas estão com certeza exagerando sobre tudo isso mas não vou cortar a alegria delas.
Quem sabe eu realmente me torne um grande músico, se tudo der certo...
— E aí, quando ele estiver em seu auge vou poder falar para todos que ele é meu irmão, haha! - Exclama Beatrice animada, as risadas se sessam ao ouvir o interfone do apartamento, já sabendo de quem se trata me levanto calmamente para atender a porta.
— Ele chegou - Explico abrindo a porta à espera de Gal, que calmamente sobe as escadas, sorrio ao vê-lo sorrir da mesma forma olhando para mim.
Gal parece estar tão bem.
— Bom dia, Gal - O comprimento apertando em sua mão, ao apertar em minha mão o jovem me puxa para um abraço repentino, me comprimentando da mesma forma.
— Bom dia, Dante - Gal se afasta do abraço adentrando em minha casa comprimentando as mulheres da casa em seguida. - Bom dia dona Clara, eai Bea? Bom dia.
— Hey Gal, bom dia! - Beatrice o comprimenta alegremente. Minha irmã e Gal nunca tiveram um bom convívio por conta de suas personalidades opostas, mas a alegria da mesma é tamanha que me deixa até surpreso.
— Já tomou café, Gal? - Pergunta Clara oferecendo uma xícara ao jovem.
— Tomei o melhor café que poderia, mas agradeço a educação dona Clara - Explica Gal me seguindo até meu quarto, me viro para o jovem perguntando confuso.
— O melhor café? Achei que odiasse o café de Leonardo - Brinco com o jovem o provocando. — O que o amor não faz , não é mesmo?
— Me acostumei com a água suja que ele serve, até que não é tão ruim assim - Explica Gal com um sorriso de canto.
— Cara, nunca achei que acordaria todo dia ao lado dele e tomaria seu café da manhã, apesar de não ser um dos melhores.
— Fico feliz por vocês dois, já era tempo disso resolver logo.
- É, agora está resolvido! Final feliz para todos - Comemora Gal deitando preguiçosamente em minha cama. — Até para você, Dante!
— Final feliz...para mim? - Suas palavras me deixam pensativo.
Será mesmo...?
— Mas eai, me chamou para te ajudar a afinar tua Gibson, não é? Cadê ela? - Mudando de assunto, o jovem se levanta novamente olhando aos arredores.
Pego o instrumento que descansava em um apoio próximo a minha estante, me sento ao lado de Gal entregando a guitarra ao jovem. Seus olhos encaram a Gibson durante alguns segundos pensativo.
— Parece que foi ontem, não é..? - Em um tom nostálgico o jovem comenta. — Nossos sonhos pareciam tão simples quando pequenos, não é? Agora você vai entrar em uma banda e ser o segundo melhor músico do mundo - Um sorriso de canto surge em seu rosto.
— Segundo? Ah, é. O primeiro é você - Afirmo o provocando.
— Exatamente. Mas olha, para alguém principiante como você entrar em uma banda com tanto prestígio como os Gaudérios é um passo enorme - Explica Gal olhando para o instrumento que tem em mãos. — Como se sente em relação a isso?
— Nervoso...mas é um nervosismo bom... - Em um suspiro olho de relance para o celular que vibrava em meu bolso, pego o aparelho vendo as mensagens da pessoa de quem tanto esperava receber. — Eu tenho em mente que talvez não passe na audição e não consiga entrar na banda, mas sei que independente do resultado, continuarei tocando e eles continuarão ao meu lado...
"Fazendo parte dela ou não...somos uma banda..." Sorrio olhando para a tela do meu celular.
— Urubus do rock? O que caralhos é isso? - Me assusto ao ver Gal ao meu lado olhando para o meu celular.
— Curioso - Solto uma risada abrindo o grupo em que fui adicionado recentemente. — Agatha fez esse grupo para conversarmos sobre banda, não me pergunte o porquê mas falamos sobre tudo, menos sobre a banda - Explico com uma risada frouxa.
— Essa garota parece ser meio doida - Comenta Gal olhando para as conversas que há no grupo. — Que figurinha obscena! - Incrédulo ele aponta para o meu celular.
- Haha, mais um dia normal recebendo figurinhas nesse grupo - Dou de ombros com simplicidade.
— Enfim, você praticou a noite toda, vamos fazer isso valer a pena! - Com determinação Gal volta a pegar minha guitarra preparando a afinação das cordas.
É hoje...
♪♪♪
→Ivete Beicur←
♪♪♪
É hoje.
Após semanas de ensaios, finalmente o dia chegou. Assim como eu, todos do bar estão ansiosos pela chegada de Dante para irmos todos juntos na audição.
A espera é pequena, o loiro disse que após o café viria para cá, mas explicar isso a esses dois é humanamente impossível.
— Pessoal, relaxem. Ele já já está vindo - Explico tentando deixar Arthur e Agatha menos eufóricos, me arrependo profundamente de ter deixado essa guria ingerir açúcar essa manhã.
— Você disse isso mais cedo, quanta demora! - Andando em círculos Agatha reclama.
— Mais cedo a três minutos Agatha, aquieta esse fogo guria - Reclamo chamando a atenção da mesma que indignada responde.
— Eu mandei uma figurinha, uma figurinha! Por que ele não respondeu até agora?? Alguma coisa aconteceu, certeza que aconteceu!
— Não diga uma coisa dessas Agatha - Arthur se pronuncia sentando ao meu lado. — Ele está bem, e virá para cá em breve.
— Exatamente - Afirmo bagunçando os cabelos do Gaudério. - É esse o pensamento meu filho! Tudo vai dar certo, em breve vocês terão um novo membro na banda!
— Se tudo correr bem, sim - Comenta Agatha se rendendo ao cansaço e se sentando ao lado de Arthur, concordando com o mesmo.
Caminho para trás do balcão voltando a limpar os copos sobre a pia, com as crianças quietas no bar, o que me resta é esperar a chegada de Dante.
— Mas eae, Arthur? Quem vai participar da audição é o Dante e quem está visivelmente tenso é você. Tá certo isso?
— Ah, é...tô meio tenso mesmo... - Admite o jovem.
O silêncio se instaura no lugar rapidamente, enquanto Arthur encarava o nada à espera de algo Agatha teclava em seu celular. Volto a limpar os copos os colocando enfileirado sobre a bandeja do balcão. Olho para porta do bar ao ouvir passos adentrando no local.
— Bah, finalmente né guri - Sorrio ao notar a presença do loiro, acompanhado de um emo que vagamente me lembro de quem se trata.
Esse é aquele guri, como é o nome mesmo? Sal...Saleiro? É, deve ser algo assim. - Afirmo comigo mesma sem dar muita importância para o nome do tal emo.
♪♪♪
Leonardo Gomes
♪♪♪
— Ei...acorde, Léo - Ouço uma voz me despertando de meu sono. Meu tão e querido amado sono.
Acho incrível a capacidade que eu tenho de não viver como um ser humano normal. Algo tão simples como fechar os olhos e dormir, como é possível eu não conseguir fazer algo assim?
Eu realmente precisava dormir direito para conseguir aturar o dia que me espera, e é exatamente por saber disso que meu cérebro fez totalmente o contrário do que deveria.
Dormir? Não, vamos ficar acordados a noite inteira pensando nas possibilidades de tudo dar errado! Parabéns, cérebro.
Graças a você não preciso ter um inimigo, você faz esse papel excepcionalmente bem.
Que droga...eu não quero levantar...
-Me Reviro na cama me enrolando nas cobertas, tentando continuar aquecido. Sinto dedos frios deslizando por meu corpo, me fazendo despertar sentindo um arrepio.
— Léo, já está na hora - Gal me encara sorrindo de canto. — Você é lindo até cheio de remela, como isso é possível?
— Que? - O encaro ainda sonolento. Me levanto rapidamente ignorando o meu eu procrastinador que ainda está tentando me convencer a ficar na cama. — Que horas são?
— Seis e vinte, faltam dez minutos... - Responde o jovem se sentando na cama.
— Nem me deu bom dia...está de mau humor?
— Eu estou é atrasado, que saco - Reclamo em frustração. Caminho até o banheiro ligando o chuveiro às pressas, coloco a cabeça para fora do cômodo sentindo fome. — Pode fazer o café hoje, Gal?
— Hum, tentarei. - Dando de ombros o jovem se levanta calmamente.
Volto para o banheiro e tomo um rápido banho, pego minhas peças de roupa me trocando rapidamente, procuro meu celular entre as cobertas e como já previsto, há várias ligações perdidas.
— Eu tô realmente atrasado. A Érika me ligou umas vinte vezes - Saio do quarto ajeitando meu terninho. Novamente, cá estou eu com essa coisa no corpo.
— Érika é a tal secretária, né? - Pergunta Gal se virando para mim, o encaro torto repreendendo a risada entre os dentes.
— Vai de terno hoje? Meu Deus...
— Não zombe de mim, por favor... - Entrego a gravata ao jovem que a ajusta em meu pescoço calmamente.
— Eu não disse nada, só disse Meu Deus...isso pode ter vários significados - Com seu sorriso largo de sempre o jovem deixa de encarar a gravata, fitando meus lábios.
— Que no caso é...? - Pergunto o encarando curioso.
— Meu Deus, que homem é esse que eu tenho - Responde o jovem me olhando por inteiro. Ao terminar de arrumar minha gravata, o mesmo me dá alguns tapinhas na roupa, terminando de arrumá-la. — Pronto, está um gatão, até demais para um dia normal no trabalho, se quer saber. - Com um olhar desconfiado ele me olha de canto, voltando a fazer o café.
Pra onde mais eu iria se não fosse pro trabalho? - Questiono revirando os olhos achando seu ciúmes sem cabimento, não é como se eu tivesse escolha a não ser pagar as contas.
— Dia normal? Sabe quantas reuniões eu tenho hoje? Quem me dera se fosse um dia normal - Mudo de assunto olhando para meu celular novamente. — Essa viagem que Arnaldo fez para a Itália ferrou comigo. - reclamo suspirando pesadamente.
— Esse teu chefe é meio misterioso, não é? Vive saindo mundo afora por aí...a casa de shows não lucra tanto assim para ele sair de turismo por aí, lucra? - Pergunta Gal curioso voltando para o fogão.
Apenas dou de ombros não ligando para o que meu superior faz ou não com seu dinheiro, pagando meu salário está ótimo.
— Fala sério, é cada pessoa estranha que você convive - Gal me entrega um prato com mistos quentes e um copo com suco.
— Nem me fale - O encaro incluindo o jovem na lista de estranhos que convivo.
— E o café? - Pergunto olhando para o copo de suco com desdém. — Quer que eu tome café da manhã sem café de fato?
— Eu não sei fazer café, e o seu é horrível. - Gal cruza os braços me encarando seriamente. — Você está atrasado, esqueça o café e tome isso mesmo.
Como se fosse possível - Caminho até os armários à procura do pó de café.
— É sério que você vai ignorar o que eu disse?
— Eu não tô ignorando, só preciso de café para não surtar hoje - Explico preparando o café às pressas.
— O dia será tão difícil assim? - Pergunta o jovem com certa preocupação.
— Eu nunca fiz reuniões com pessoas assim, eu tô nervoso, sabe? Tipo...pra caralho - Encaro a cafeteira pensativo. -
— Se eu falhar posso perder o emprego, e porra! Se eu perder o emprego acabou tudo, eu... eu tenho contas... tenho você...eu não posso perder esse emprego, nem pensar!
— Ei, ei, ei, relaxe! Não pense em mim nessa situação, eu me viro e você sabe disso... - Explica Gal na tentativa de me acalmar, apesar de suas palavras não fazerem tanto efeito nesse momento.
— Eu só não quero decepcionar ninguém, isso é importante para o futuro do meu trabalho, e da banda Gaudérios Abutres, entende o peso disso? - Suspiro pesadamente, os braços de Gal alcançam meus ombros rígidos os acariciando levemente.
— Não precisa carregar esse peso sozinho, eu tô aqui, ok? - O encaro nos olhos com um leve sorriso. Ele é tão incrível...
— Eu sei... obrigada...
— Não agradeça, meu amor - Sinto meu coração se aquecer com suas últimas palavras. São só duas palavras, meu Deus ele é incrível demais para mim. — Vamos tomar o café e começar o dia! E vencer esse dia, certo? - O jovem muda de assunto perguntando com determinação.
— É, venceremos sim, caralho! - Exclamo junto ao jovem. Tomamos nosso café às pressas e trilhamos nosso rumo, eu em direção a gravadora e Gal até a casa de Dante, como o jovem havia marcado com seu amigo.
Durante o trajeto pude organizar meus pensamentos, grande parte do nervosismo se esvaiu. A cada passo firme que dou me aproximo mais da gravadora, local onde a equipe técnica se encontrará. A fachada do lugar indica que cheguei ao meu destino.
Adentro no local tirando meu celular do bolso, confirmando o horário em que cheguei. Alguns minutos atrasado, mas espero não ter problemas por conta disso.
— Atrasado. - Ouço uma voz séria chamando minha atenção, ao reconhecer a voz da mulher, pergunto confuso a mesma.
— E você não, Érika? - Questiono olhando para a jovem, que com um terno social murmura algo consigo mesma.
— Não tanto quanto você - Ela afirma.
— Agente literalmente acabou de passar pela porta - Comenta Kish confuso com a reclamação da jovem. Apesar de não haver um certo nessa história, já que nós dois estamos atrasados, eu sei que a jovem quer sair por cima da situação.
Como sempre.
Sem tempo para isso, apenas volto minha atenção ao balcão de atendimento, onde deveria ter alguma pessoa.
— Cadê o pessoal? - Pergunto olhando para o balcão confuso.
— O pessoal somos nós, Leonardo - Responde Érika de forma impaciente.
— Sinceramente, essa equipe não faz o menor sentido. O que raios uma empresária, um assessor e o carinha do café faz em um lugar como esse? - Seu olhar de julgamento se direciona a Kish, que de forma distraída olhava os arredores em que se encontrava.
— Aqui é grande, né?
— É - Concordo com Kish olhando aos arredores. — Em que salas os jurados estão? - Pergunto com certa preocupação, já estamos atrasados e não temos tempo a perder.
— E eu que vou saber? Você não é o que sabe das coisas? Eu só tô aqui para...sei lá o que eu tô fazendo nessa vida, mas eu tô aqui. - Pergunta Kish voltando seu olhar para mim. — Você tá de terno?
— Que? - O encaro confuso não entendendo as suas perguntas. — Kish, tomou café hoje?
— Quem liga para isso?! - Reclama Érika cortando o assunto antes que ele desse continuidade. — Cadê o atendente dessa gravadora?!?
— Calma mulher. Uma hora alguém aparece - Explica Kish com a tranquilidade que Érika não possui e possivelmente nunca irá possuir. O jovem se senta em uma cadeira de espera, colocando a mão sobre a cadeira ao lado convidando a jovem a fazer o mesmo. — Calma, querida.
— Querida o caralho, que saco - Érika se senta tirando seu celular do bolso. — Dá um jeito de achar a sala que foi reservada pra gente Leonardo, meu trabalho aqui é só mexer com a papelada - Ela e suas ordens me dão nos nervos.
— Tá - Afirmo olhando aos arredores. Vários corredores que levam a várias salas, como eu vou saber em qual eu deveria estar?
— Aqui, eles ainda não chegaram - Afirma Kish me mostrando uma conversa em seu celular. — Atraso de dez minutos, esse trânsito de São Paulo é uma merda mesmo
- Ele lê as mensagens de um dos jurados. Sendo bem específico. — Emoji bravo, emoji bravo, emoji suspirando.
Pra que tanto emoji?
— Esses caras acham que chegar atrasado é estilo, compromisso que é bom, nada! - Reclama Érika voltando a ficar impaciente.
— É o trânsito, calma mulher. - Explica Kish se levantando. — E isso é até bom, podemos achar a sala e fingir pontualidade - Afirma o jovem olhando para mim. — Se perguntarmos a algum funcionário daqui eles podem nos auxiliar com mais facilidade.
— A questão é onde caralhos eles estão! - Reviro os olhos ao ouvir mais outra reclamação de Érika. Hoje ela acordou emputecida com a humanidade e todos que a compõe. — Nunca vi tanta falta de organização de um lugar, que saco.
— Disse a pontual e organizada - Olho para Kish com preocupação. O jovem acabou de comprar uma discussão da qual vai se arrepender.
— Escuta aqui seu merda, eu me atrasei porque um certo alguém não queria sair da porra da cama!
— Tava frio! E quem não saía era você - Reclama Kish olhando torto para Érika. Só ao citar o clima noto as vestimentas do jovem, que ao contrário do que nos foi orientado, não está de terno ou vestimentas formais.
Pelo o contrário, Kish parece ter se vestido no escuro ou as pressas. Ou os dois.
— Então a culpa é minha, é?! É isso que quer dizer? - Furiosa a mulher aponta o indicador em direção ao jovem. — Escuta bem, da próxima vez que querer me ver nem da porta você passa, ouviu bem?
Por que estavam na mesma cama? - Levanto uma das sombrancelhas curioso. Me assusto ao ver seu dedo apontando para mim.
— E você? Toma conta da sua vida!
— Eu nem falei nada, Érika! - Reclamo indignado.
— Você não está sendo nada profissional, sabia? - Kish a encara em reprovação, parando com o assunto assim que nota uma nova presença na sala.
— Bom dia, o que desejam? - Uma mulher surge as pressas, caminhando para trás do balcão. — Precisei resolver um assunto, estão a muito tempo esperando? - Pergunta a mulher com certa preocupação.
— Está tudo bem - Afirmo indo de encontro a atendente, deixando Kish e Érika tendo suas discussões matinais. — Uma sala nos foi reservada para uma breve reunião, antes das gravações com os calouros. Pode nos informar qual exatamente é a nossa sala? - Pergunto educadamente enquanto a mulher chega algumas coisas em seu computador.
— Certo, é a sala à direita nesse mesmo corredor. Fiquem à vontade!
— Obrigada, e com licença - Me retiro da sala de recepção seguindo as instruções da atendente. Ao notar que saí do lugar, Érika e Kish me seguem, ainda discutindo sobre o motivo do atraso.
Como se isso realmente importasse.
— Pessoal, foco - Digo firmemente adentrando na sala. Uma grande mesa de vidro acompanhada de várias cadeiras dão imponência ao cômodo. Essa gravadora está há anos prestando serviços, sendo uma gravadora que já deu espaço para vários grandes músicos da época.
Me pergunto quantas reuniões já aconteceram nesse lugar, quantas pessoas importantes já estiveram aqui. Isso me deixa tenso, pois sinto que não deveria estar aqui, sinto que esse não é o meu lugar.
Que não sou importante, e obviamente não sou. Não tanto quanto Érika, uma empresária com anos de experiência em seu trabalho, ou como Kish, que apesar de ser apenas um assistente de palco, mais conhecido como o "carinha do café", possui muito mais habilidade social do que eu. Não conheço uma briga se quer que o jovem não tenha conseguido resolver com seu carisma e paciência.
Eu não me encaixo nessa equipe, ou se quer nesse trabalho.
— Não podemos falhar... - O que deveria ser uma frase firme e direta, soou como um murmúrio falho com um receio nítido em minha entonação de voz.
— Que? - Pergunta Érika não entendendo meu comentário. — Não é só porque o chefe te deixou como o encarregado da reunião que você pode me dar ordens, muito pelo contrário, isso não significa nada. - Reclama a mulher seriamente.
— N-não foi isso que eu quis dizer, eu só... - Procuro palavras para explicar a situação, sinto que sou o único que estou tenso por conta dela. Isso é normal para eles?
— É que...eles são os Dragões Metálicos, uma oportunidade de fechar contrato com eles não surge assim tão facilmente. Se não for agora, se não der certo...eu não posso perder esse trabalho, gente. - Em um suspiro pesado, me sento em uma cadeira pensativo.
Eles não devem entender a importância que essa reunião tem para o nosso futuro...
- Em frustração encaro o nada, até que surge um copo descartável em minha frente. Hm? - Olho para Kish que ao meu lado me serve um pouco de café.
— Cara, relaxe. Eu não sei o que o chefe te falou sobre essa reunião mas... tô sentindo uma pressão no ar, ein? Isso não vai adiantar nada, na real só vai piorar as coisas, cê sabe disso, não sabe? - Explica o ruivo voltando a se sentar em sua cadeira.
— Vocês... não estão preocupados com isso? Quero dizer, se eles não quiserem nem se quer nos ouvir? Ou se algo na seleção de calouros der errado? Ou se-- Me assusto com o movimento brusco de Érika, que levanta os braços com força os colocando sobre a mesa.
— Se não der não deu, caralho! Para de pensar nisso, Leonardo! - Reclama a mulher firmemente. — Primeiro que o contrato em si é comigo, esse é o meu trabalho e eu faço ele de forma impecável. Sempre consegui a afirmação de nossos melhores clientes e sócios e não é hoje que eu vou receber um não, entendeu bem?! - Seus olhos me encaram com a determinação de sempre.
Foram com esses olhos que ela me convenceu a trabalhar na casa de shows, maldita hora que aceitei, maltidos olhos.
— Se está inseguro significa que não confia em minha capacidade profissional, e é melhor não duvidar de mim, a não ser que queira que eu esfregue o contrato assinado nessa sua cara bonitinha - Seu tom é ameaçador, mas o comentário de Kish faz a situação parecer mais leve.
— Mais ein? Bonitinho? - Pergunta o ruivo nitidamente enciumado.
— O que eu quero dizer é que vai dar tudo certo, e não der, não deu! Eai? Vai se lamentar por algo que ainda nem aconteceu? Para de agir como um adolescente no colegial, nós somos adultos, porra.
— Na verdade somos jovens adultos, novos no mercado de trabalho então a ansiedade dele é normal em relação a isso. E sobre o colégio, sabe que ele ainda tá cursando o terceiro ano, não sabe? - Kish explica a Érika com seus argumentos que parecem ter passado reto pelos ouvidos da jovem.
— Nós vamos SIM conseguir a aprovação deles, os Gaudérios Abutres terão novos integrantes e com isso até aumento receberemos, porra! - Afirma a mulher novamente com mais determinação do que antes.
— Aumento já é sonhar demais - Kish argumenta novamente, recebendo um olhar ameaçador da jovem. — D-igo, é isso mesmo! Aumento, porra!!! - Rio ao vê-lo tentando ser tão determinado quanto sua namorada.
É, talvez dê certo. Talvez eu realmente consiga um aumento!
Sonhar não custa nada - Dou de ombros disfarçando meu sorriso. Esses dois são uma graça.
— Ok, me animaram agora. Vamos conseguir, e se não. Tudo bem... - Afirmo comigo mesmo.
Não há porquê se apavorar, está tudo bem...
♪♪♪
Agatha Volkomann
♪♪♪
— Tá tudo bem mesmo, cara? - Novamente deixo a curiosidade falar por mim mesma. Talvez seja um pouco de preocupação também, mas bem pouco.
Pouco mesmo.
Eu já tive pensamentos negativos em relação a Gal Sal, mas isso não é nada demais, já que tenho os mesmos pensamentos com a maioria das pessoas que não o suporto ter por perto.
Ele não é especial.
Muito pelo contrário, ele é babaca. Ele sempre foi o valentão do colégio que tirava meus amigos do sério. Se ele soubesse o quão prejudiciais são seus apelidos maldosos ao Hugo ele pensaria duas vezes antes de abrir a boca. Sem falar de Arthur, que foi odiado por Gal sem motivo algum no começo do ano.
Literalmente sem motivo algum. A prova de sua imaturidade foi quando vencemos o concurso e sua revolta foi evidente pelos corredores do colégio. Brigar com os outros e descontar sua frustração em Dante por isso? Fala sério, Gal é um babaca mesmo.
Mas isso é só o que eu acho, eu também acho estranho a forma como Dante voltou a conversar com ele normalmente, talvez a discussão que ocorreu entre os dois não seja nada comparado aos anos de amizade que há entre eles. Sinceramente eu não sei, só sei que é estranho.
Não mais que essa situação, é claro.
Ele não vai me responder?- O encaro emburrada, em poucas situações gasto meu tempo me importando com os outros, e quando faço isso sou ignorada? Fala sério!
— Ei, te fiz uma pergunta - Ainda insistindo no assunto, chamo a atenção do jovem, tocando seu braço com meu indicador freneticamente. — Hey, Gal. Gal-gal, Gaaal? Gal Sal? Ei, Sal!
— Garota! Que saco, pode me deixar em paz?! - Sem tirar os olhos em seu celular ele reclama.
— Agatha só te fez uma pergunta guri, não seja grosso - Explica Ivete enquanto dirige o carro em direção a gravadora, a mulher volta a conversar com Dante no banco ao lado, o nervosismo do loiro é nítido, afinal, sua audição é hoje.
— Só porque ela fez uma pergunta, eu sou obrigado a respondê-la agora? - Com rispidez ele continua a teclar em seu celular.
Com a força que está digitando vai partir esse celular em dois - O encaro torto, direcionado meu olhar para Arthur que está no banco de trás, ao lado do jovem.
— Aconteceu algo, Gal? - Pergunta Arthur com a mesma curiosidade que eu, ou é preocupação?
Tanto faz! Por que esse emo está tão emburrado?
— Deixe ele, Arthur. - Dante o aconselha olhando para Gal pelo retrovisor.
— Quando ele quiser explicar a nós o que está acontecendo, estaremos aqui para ouvi-lo.
Afe, mas eu quero ouvi-lo agora - Tento conter minha obsessão por informações da vida alheia, aquilo que chamam de fofoca.
— Então tá né. - Cruzo os braços olhando para a janela do carro. Estamos nos aproximando cada vez mais da gravadora, e a cada instante que se passa de nosso destino mais palpável é a tensão no ar.
Dante...- Encaro o loiro pensativa, me perguntando o que se passa na cabeça do mesmo. Bom, não há tempo a perder, e muito menos para se arrepender.
É agora ou nunca.
— Vambora caralho! - Exclamo quebrando o silêncio do carro, Arthur me encara com as mãos em seu peito, possivelmente sentindo seu coração pulsando com rapidez por conta do meu grito repentino.
O carro para em frente a imponente gravadora que marcou a carreira de tantos artistas ao decorrer dos anos, tão pequenos, porém com uma determinação imensurável.
Tantos nomes foram feitos nesse lugar...
Os nossos estarão bem aqui... - Ao sair do carro subo na calçada, encarando a fachada do prédio com empolgação. Ao meu lado Arthur fazia o mesmo, suspirando fundo.
— Caramba, estamos aqui... - O jovem murmura ao meu lado.
— É, estamos aqui... - Afirmo murmurando de volta.
— É. - Sem entender nada Ivete nos encara, perguntando inocentemente. — O que é aqui mesmo?
— Ivete, fala sério! Aqui é tipo, a gravadora mais foda de São Paulo, se não do mundo inteiro! - Digo animadamente, Gal saí do automóvel junto a Dante que encara a gravadora fixamente.
— Não força garota - Reclama o emo encarando o prédio com desdém. — Não tem nada demais nesse lugar, de nomes realmente conhecidos que estiveram aqui são apenas os Dragões Metálicos.
— Apenas?! - Exclamo indignada. — Dante, qual é a desse cara? Você não disse que ele era super fã dos Dragões Metálicos?!? Por que ele tá com essa cara de cu???
— Gal, você está bem mesmo? Eu achei que...sei lá, você estaria um pouco empolgado ao estar aqui - Dante o encara com preocupação, colocando sua mão em seu ombro. — Quer conversar sobre o que está acontecendo...?
— Eu só não acho grande coisa, só isso - Reclama o jovem voltando a encarar seu celular.
— Tpm é foda mesmo - Comenta Ivete dando de ombros caminhando rumo a gravadora. — Vamos lá ver os tal caras metaleiro gurizada, deixa o emo sendo emo.
— Será que eles estão aqui?! - Pergunta Arthur me chacoalhando animadamente. — Nooossa isso ia ser incrível!!!
— Pra caralho! Mas sei lá né, eles devem ter afazeres de astros da música para fazer...por que estariam aqui? - Pergunto pensando de forma realista, por mais que quisesse me agarrar a ilusão de realmente conhecer os maiores músicos de todas as gerações.
Meu sonho seria conhecê-los, eu morreria completamente realizada com isso.
— Porque vocês são os novos astros dessa geração, honestamente, se eu fosse uma integrante dos Dragões Metálicos, eu retornaria ao lugar onde minha carreira começou para conhecer a banda que está fazendo tanto sucesso pela região - As palavras de Ivete me trouxe um formigamento por todo o meu corpo, ela tem...
— Tem razão - Ouço uma voz concordando com a gaúcha, olho para o outro lado da calçada onde um jovem caminha em nossa direção, junto a outros músicos que nos comprimentam alegremente.
— Os Gaudérios Abutres são fodas! Essa é definitivamente é a melhor banda, depois dos Dragões Metálicos! - Afirma uma jovem alta com mechas coloridas em seu cabelo.
Vários outros músicos a acompanham, jovens com estilos diversificados e instrumentos personalizados, todos parecem estar mais do que animados a cada passo que se aproximam da gravadora.
Nossa, de onde saiu essa gente? - Faço uma careta ao notar a quantidade desnecessária de pessoas reunidas no mesmo lugar. Dentre tantos, uma jovem carregando uma guitarra elétrica em mãos me deixa fascinada de certa forma, o instrumento estilo Warlock chama a atenção por onde passa, assim como a pessoa de quem a pertence.
Que linda... - Encaro a guitarra boquiaberta, desvio o olhar do instrumento para os olhos cor verde vivo que me encaram de volta, observando cada fragmento da minha alma.
— Cacete - Desvio o olhar me sentindo nervosa. O que raios foi isso?
— Nossa, quanta gurizada nesse lugar - Ivete encara o grupo de jovens em confusão. — Estão aqui para a seleção de integrantes?
— Sim! - Os jovens gritam em coro, quanta energia em um único lugar, só de pensar que ao fim dessa tarde algum desses jovens farão parte dos Gaudérios me deixa empolgada, e é nítido que eles sentem a mesma empolgação.
— Você é a Ivete, né?! - Saindo entre os jovens a mulher alta com mechas coloridas pergunta. — Você é a mãe do Arthur, eu sei tudo sobre você, sou sua fã!
— Obrigada...? - Ivete olha para Arthur sem jeito, se perguntando se é normal alguém ser fã da mãe de um artista, ao invés do próprio artista.
— Acho que alguém quer comer a tua sogra - Murmuro para Dante, tentando colocá-lo no assunto. Mas o loiro está nitidamente nervoso com toda a situação, ele está encarando bem de perto todas as pessoas com quem vai competir, então é justificável seu nervosismo. — Saí dessa, Dante!
— Oh, você é o Dante então! Eu também sei tudo sobre você, haha - A jovem deixa de encarar Ivete, se virando para Dante. — Eu me chamo Carina, Carina Leone! É um prazer enorme participar disso com você, Dante!
— M-me conhece? De onde? - Pergunta Dante com preocupação, se colocando atrás de Gal que continua a teclar em seu celular.
— Aí Deus, é o Ga! Gente, esse é o Gal! Gal Sal dos Escriptas, não é?!? - Não contendo sua empolgação Carina se aproxima mais de Gal, recebendo um corte seco do mesmo.
— É, sou eu. Pode calar a boca agora?
— Nossa, ele é mais grosso do que parece nas redes sociais - Comenta um jovem com sotaque carioca ao lado de outro músico.
— Real, mas eu também ficaria assustado se aparecesse uma mina doida igual essa aí falando que me conhece e os caralho - Explica o outro jovem olhando para Carina.
— O nome disso é obsessão - Afirma a jovem ruiva me olhando de cima a baixo. — Mas quem sou eu para julgar, também sei muita coisa sobre muita gente...
Meu Deus, que mulher é esse que colocaste em meu caminho? - Pergunto me sentindo estranha com seu olhos sobre mim.
É um presente ou um castigo? Puta merda no que eu estou pensando?!
— Vamos entrar, Arthur - Digo segurando em seu braço firmemente, o puxando para dentro da gravadora.
— É melhor mesmo, tem muitos fãs seus aqui fora, haha! - Brinca Ivete bagunçando os cabelos de seu filho.
— Meus fãs? Você ouviu o que ela falou contigo?? - Questiona Arthur olhando torto para Carina.
— Também não entendi muito bem, mas fazer o que né, também sou minha fã - Afirma a mulher com normalidade.
Essa gente tá animada - Olho para trás observando o grupo de jovens conversando na entrada da gravadora, ao notar que adentramos no estabelecimento Carina nos segue, guiando todos os outros músicos até nós.
Estão nos seguindo? Ah não, animados até demais - Seguro firme na jaqueta de Arthur, puxando seu braço levemente.
— Cara, estão seguindo a gente...
— Haha, e agora? - Pergunta Arthur com certo desespero.
— Não tô gostando disso, ela parece ser meio... - Dante completamenta o comentaria de Ivete olhando para Carina.
— Stalker. - O loiro segura no outro braço de Arthur, olhando para a quantidade de jovens nos seguindo alegremente. — Todos querem entrar para a sua banda, Arthur...
— Será que é pela a minha mãe? - O Gaudério olha para Ivete que caminhava calmamente até a recepção do lugar.
— O mocinha, bom dia! Estamos aqui para...bom, aquela gurizada ali está para participar do concurso - A gaúcha aponta para o grupo de músicos atrás de nós, que parou de caminhar assim que Arthur também parou. — Já eu e meu filho viemos apenas para assistir mesmo.
— Cof cof - Forço uma tosse seca encarando a mulher em uma careta.
— Ah, eu e meu filho junto a baixinha ali - Corrigindo sua frase Ivete aponta para mim.
— Ah, todos chegaram. Que ótimo - Com uma caderneta em mãos e um sorriso simples a mulher saí de trás do balcão, comprimentando os jovens. — Bem vindos, jovens estrelas! Todos ansiosos?
— Sim! - Os jovens afirmam em coro novamente, me deixando levemente encomodada com tanto entusiasmo.
Tem algo de estranho nesse lugar, ou todos estão felizes demais, ou Dante está tenso demais. De dois, um.
Mudei de ideia, não quero essa gente na banda não - Torço meu nariz olhando para Arthur, que me encara de volta com um sorriso de canto.
— Agatha, eu conheço essa cara e pode ir parando! - O Gaudério chama minha atenção.
— Que? - Olho para os outros músicos que enchiam a recepcionista de perguntas e comentários sobre a gravadora. A esse ponto não consigo mais entender nada do que saem da boca desses tagarelas.
— Olha só para eles, nossa senhora, não calam a boca de forma alguma.
— Não se pode julgar as pessoas pela primeira impressão, sabia? - Explica Arthur olhando para todos com animação. — Eles parecem bem legais, na verdade.
— Credo, escandalosos demais. - Reclamo revirando os olhos. — Prefiro o Dante na nossa banda - Vejo um pequeno sorriso no rosto do loiro ao ouvir o que disse.
— Jovens estrelas, sei que cada um tem suas dúvidas, e todas serão sanadas pelo encarregado Gomes. Minha função é apenas guia-los para a sala de ensaios - Explica a recepcionista com o mesmo sorriso no rosto.
— Ensaios? Podemos ensaiar antes da audição? - Um jovem de cachos presos pergunta ao lado de um senhor com um bigode estranhamente charmoso. — Ouviu isso? Não temos tempo a perder cara.
— Vai na frente que eu te sigo, Rubinho! - Exclama o homem bagunçando os cabelos do menor, que o corrige revirando os olhos.
— É Rubens.
— Todos tem direito a quinze minutos de ensaio, como forma de aquecimento. Isso também fará parte da avaliação de vocês, os jurados estão observando o desempenho de todos - Uma voz surge em uma porta ao meu lado, ao notar que se trata de Leonardo o encaro com curiosidade.
Que sorrisinho é esse? - Levanto uma de minhas sombrancelha me perguntando o que ele tem.
— Como estão, jovens estrelas! - Leonardo comprimenta os jovens um por um, apertando firmemente a mão de Dante.
— Fala aí Dante, ansioso?
— Um pouco...
— Os jurados estão ali dentro? - Pergunto não contendo a curiosidade, pela fresta da porta consigo ver algumas silhuetas, posso jurar que vi um rosto conhecido.
Mundialmente conhecido.
É ele mesmo? Não creio...
— Meu caralho do céu - Olho para Leonardo que bruscamente fecha a porta, piscando um de seus olhos em minha direção. — Tá zuando, né...? - Sorrio energicamente para o loiro.
— Shi... - Murmura o jovem limpando sua garganta, voltando a responder as perguntas dos jovens.
— Como assim jurados, não são os próprios Gaudérios que serão os jurados...? - Pergunta Carina confusa.
— Ah, não. Não teremos nenhum tipo de interação em relação a escolha dos novos membros... - Explica Arthur coçando a nuca com um olhar tristonho. — Quem me dera se pudesse escolher...
— Ah, eu não sabia dessa informação... - Murmura Carina pensativa.
— Puxou meu saco atoa guria - Brinca Ivete ajeitando sua jaqueta, ao lado de Arthur.
— Tinha planos de elogiar a mãe do seu suposto jurado, é?
— Falando dessa forma parece até um plano tosco... - Murmura Carina com um olhar envergonhado, quase murmurando o que disse.
— Só parece, é? - Questiono ouvindo seu comentário. — Tosco é pouco, isso foi ridículo. - Reclamo a encarando com desdém até sentir uma cotovelada me atingindo. — Aí, Arthur!
O jovem apenas me encara torto chamando minha atenção. Não é como se eu estivesse errada, essa garota é ridícula.
Eu definitivamente não gostaria de alguém assim na banda.
— Cada um com a sua estratégia, pô - Afirma um jovem com sotaque carioca, ao lado de uma gótica com o mesmo olhar de desdém em direção a garota.
— Isso não é uma estratégia, Dominic. - A amiga o contraria, deixando claro sua opinião. — Isso só prova que ela não possui a menor noção de profissionalidade e que não tem chance de vencer apenas com sua competência na música.
— Nossa - Leonardo encara a jovem em reprovação, confesso que achei ela bem ríspida mesmo, mas faço das palavras delas as minhas.
— Calma lá pessoal - Arthur sem jeito ri com a situação, o jovem olha gentilmente para Carina brincando com ela. — A minha mãe é foda mesmo, ela merece todos os elogios do mundo!
— É verdade, sem falar que brigas por esse motivo são desnecessárias - Afirma Ivete acalmando os ânimos.
— Só disse verdades - Retruca a garota novamente.
— Yuki, chega... - Seu amigo a aconcelha.
— Podemos apenas ir logo para a tal sala de ensaio? - A ouço finalmente se pronunciando depois de algum tempo. A misteriosa garota ruiva parece estar concentrada em alguma coisa. — Quero vencer logo - Seu sorriso me faz desviar o olhar novamente como uma idiota.
O que deu em mim? Ou melhor, o que deu nela?
Ela é tão... - Olho para Leonardo puxando seu terno sutilmente, o jovem olha para mim confuso se abaixando levemente para me ouvir.
— Quem é essa...? - Cochicho para ele, não contendo minha curiosidade.
— Ela? Hãm... - Pensativo com minha pergunta Leonardo a encara por alguns segundos, tentando se recordar de algo. — É...bom, isso é uma boa pergunta.
— Que?
— Sei não - ele da de ombros não dando muita importância.
— Caralho, você não sabe de nada também - Reclamo o encarando torto.
— Me chamo Erin - Ela me encara calmamente respondendo minha pergunta, não acredito que ela me ouviu, que vergonha. — Por que a pergunta? - Seu sorriso aumenta ao notar meu constrangimento.
Droga, porque me sinto estranha?
— Tchau. - Volto a agarrar o braço de Arthur, o tirando do meio de todos aqueles músicos estranhos.
Não quero nenhum deles na banda, fala sério, bando de gente estranha! Demorei tanto para me acostumar com Murilo e Marcelo, e agora tenho que passar pelo mesmo processo de novo...
Isso é estranho, é difícil...
Não acho que conseguiria conviver com qualquer um deles.
— Tchau? Ela te faz uma pergunta e você diz tchau? - Sendo puxado por mim Arthur questiona com um sorriso sacana. — Tá nervosinha, Agatinha?
— Cala a boca - Reclamo baixinho.
— Vamos, jovens estrelas! - Guiando o grupo até a sala de espera a recepcionista toma partida, Arthur para no corredor abrindo passagem para os jovens, ao passar por mim a ruiva ajeita seus cabelos e sinto o cheiro doce entrando em minhas narinas, é o shampoo que ela usa?
Parece morango, droga, adoro morango.
Talvez não seja tão difícil assim conviver com certas pessoas, quero dizer, nada que o tempo não resolva, não é?
— Tá viajando no que, Agatha? - Vejo os dedos de Arthur frente ao meu rosto me despertando de minhas boiolagens.
— Nada... - Desvio o olhar ainda pensativa.
— Hum, sei...
— Eu deveria ir com eles...? - Pergunta Dante olhando para a recepcionista que listava os nomes de cada músico que entrava na sala.
— Vamos contigo Dante, relaxa - Explica Leonardo o tranquilizando, o mesmo para de caminhar olhando aos arredores. O encaro surpresa pelo jovem só ter notado a ausência do emo apenas agora. — Cadê o Gal?
— Lá fora - Aponto para a calçada lá fora, pelo pequeno corredor consigo ver o jovem junto a outro músico conversando sobre algo.
— O que ele está fazendo lá? - Pergunta Ivete confusa. — Olha, não é falando nada não, Léo. Mas o Gal ficou emburrado durante todo o caminho até aqui.
— Sério? - Ainda encarando lá fora, o jovem pergunta preocupado. — O que ele tem?
— E você não sabe? - Pergunto confusa.
— Tipo, ele não te contou o porquê está assim?
— Ele não é de contar as coisas, a não ser que eu o convença - Explica Leonardo em um tom preocupado. — Vou falar com ele.
— Mas e sua reunião? - Pergunta Dante segurando em seu braço. — Léo, foque no trabalho. O dia de hoje é importante para você, assim como Gal também é...deixe comigo, eu falo com ele.
— Fala nada - Nego o encarando indignada. — Dante, pode parar de pensar nos outros e pensar em você também? E o dia de hoje, o que é para você?
— Você tem pouco tempo até a audição guri, foca na sua apresentação - Ivete o aconcelha olhando pensativa para fora.
— Eu posso até falar com ele, mas não sou a melhor para lidar com jovens como...ele.
— O que quer dizer? - Pergunta Leonardo com se virando para Ivete com certo incômodo.
— Ela quer dizer que Gal é gratuitamente grosso, eu entendo a falta de paciência dela com pessoas assim - Comento ao lado de Ivete. — Mas mesmo assim, foda-se. Você vai trabalhar e você vai ensaiar - Aponto autoritáriamente para os dois loiros, virando os calcanhares rumo ao lado de fora.
— Onde está indo, Agatha?? - Pergunta Arthur curioso.
— Vou falar com ele, deixe tudo comigo - Afirmo pronta para receber grosserias e mal respostas de Gal Sal.
Mas também, disposto a ajudá-lo.
Ou pelo menos tentar...
Olá olá, caro leitor!
Espero que estejam bem hidratados ein
Esse capítulo foi meio grande e demorado, deixem a estrela caso tenham gostado!
Se cuidem e baey baey ♡
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro