Manuela
Em dezesseis anos de vida, Manuela, medrosa que só, nunca pensou que faria uma visitinha ao cemitério de sua cidade tão tarde da noite, em plena noite de Halloween. Quem a arrastou a força foi sua colega de jazz, Ágata, uma jovem um ano mais velha, que parecia não sentir medo de nada. Nada. Nadinha mesmo. Falo isso porque Ágata era do tipo de pessoa que não pensava duas vezes antes de apelar para as entidades mais ocultas aquela forcinha básica quando queria algo difícil de se ter.
Você deve estar curioso para descobrir o feitiço daquela noite, acertei? Bom, o feitiço daquela noite tinha um objetivo bem específico: Abrir um portal com acesso ao inferno, para que as piores criaturas do submundo pudessem subir à superfície do planeta para aniquilar todas as pessoas da humanidade.
Brincadeirinha.
Ágata só queria se vingar dos alunos que se formariam com ela naquele ano. Já viu aquele meme, "me vinguei das pessoas que me humilharam por ser feia ficando linda"? Então, este era o objetivo do feitiço de Ágata: Ser a mais linda, fabulosa e paparicada do baile de formatura de sua escola. E isso tinha que ser por meios rápidos. Afinal, o fim do ano letivo já estava batendo à porta.
Assim que escureceu, Ágata e Manuela chegaram juntas ao cemitério, cada uma segurando uma sacola cheia de cacarecos que usariam no feitiço. Era comum que naquele horário o portão de entrada estivesse trancado, mas por algum motivo inexplicado alguém esqueceu de passar o cadeado naquela noite.
— Conseguimos! — Ágata comemorou ao invadir o cemitério sem nenhum alarde. — Agora só precisamos encontrar o túmulo de uma moça jovem e bela — ela tirou da sacola uma lanterna e a acendeu. — Me ajude com isso, Manuela.
— Eu? — Manuela indagou. — Ajudar com o que?
— Ora, com o quê? A encontrar o túmulo de uma moça jovem e bela.
— Eu não. O feitiço é seu, não é meu. Eu vim só de companhia.
— Aff. Onde eu estava com a cabeça quando pensei que te trazer junto comigo era uma boa ideia! Você não presta pra nada. Vai só nos atrasar.
Avistado à distância, o relógio no topo da torre da igreja matriz marcava 19h40min. Atrás da grande torre, uma lua parecia sangrar no céu daquela noite estrelada.
— Não exagere. Não são nem oito horas ainda. Você tem a noite toda para encontrar esse túmulo.
— Não. Não tenho. O feitiço para ficar linda tem que ser conjurado às oito em ponto. Nenhum segundo antes nem um segundo depois.
O uivo lúgubre de um cão ao longe se fez ouvir.
— Ai, meu Deus, que foi isso? — Manuela perguntou, sua mão elevada ao peito.
— Um cachorro.
— Não parecia um cachorro. Parecia o uivo de um... Ai, meu Deus. Quero ir embora daqui. Agora.
— Quê? Nem a pau. Não depois de tudo o que eu enfrentei para conseguir reunir todas essas coisas pra esse feitiço. Você tem ideia das coisas que tive que conseguir? Tem até raspa de cascos de bode nessa sacola. Agora, vai. Para de ser cagona. Vamos encontrar esse túmulo logo. Estamos ficando sem tempo.
***
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