C u l p a d a
Qual é o peso da culpa que eu carrego nos braços?
Me entorta as costas e dá um cansaço
A maldade do tempo fez eu me afastar de você...
(A Noite - Tiê)
Durante o período de dificuldade, entre idas e vindas para um hospital famoso em Seattle, nos EUA, consultas com renomados cientistas e cirurgiões, um deserto emocional estabeleceu-se dentro de nós dois e um grande abismo afastou nossas almas. Entre lutar pela recuperação do homem que eu amava, tentar ser a melhor mãe que Matheus pudesse ter e ainda manter de pé minha vida profissional, tudo virou uma bagunça.
Eu não sabia lidar com aquilo!
Não sabia ser a pessoa que Alex precisava que eu fosse, não conseguia deixar de me preocupar vinte e quatro horas com seu bem estar. Tornei-me excessivamente mandona, exigente. Acho que acabei sufocando-o, mas com certeza não com meu amor.
Só queria o meu Alex de volta. Queria meu melhor amigo de volta.
Não conseguia compreender que todo bom humor e otimismo que o tornavam tão especial haviam simplesmente morrido. Alex não tinha mais o brilho no olhar, ele não tinha mais aquela expressão iluminada quando olhava para mim. Apesar de não ter sofrido nenhum trauma que o impedisse de sentir prazer no âmbito sexual, raramente me tocava.
Eu não era mais atraente aos seus olhos. Alex me via como uma obrigação, um trabalho o qual precisava bater ponto.
Sentia-me menosprezada como mulher, alguém descartável. Ele nunca conversava comigo! Nunca explicava suas atitudes, ou quando gritava comigo jamais se desculpava. Aprendi a não chorar na frente dele, criei gatilhos emocionais e os desativei pouco a pouco. Nunca considerei que pudesse estar sendo egoísta, mas como ajudar alguém que te afasta minuto após minuto? Como apoiar alguém que não quer ser apoiado?
Os únicos momentos em que o verdadeiro Alex Torres retornava à superfície era quando Matheus precisava dele. Perdi as contas das vezes em que levantei-me durante a noite, sentindo a falta do meu marido na cama, encontrando-o no quarto do nosso filho. Quase sempre Alex estava sentado ao lado da caminha do garoto, acariciando seus cabelos escuros. Em alguma ocasiões ele estava deitado ao lado do menino, sendo agarrado pela cintura pelos seus bracinhos, lendo alguma história.
A última vez que fiquei calada na porta do quarto, vendo o homem da minha vida interagindo com o fruto do nosso amor, pude ouvir o que dizia de um jeito saudosista:
- Você parece tanto com ela, filhão. - Ele tinha um sorriso no rosto e parecia estar falando com nosso filho adormecido há tempos. - Sinto muita falta dela.
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