Uma conversa com o chefe
🔫 Danilo 💵
Acordei às 9 horas da manhã com o choro da Aruna, gritei pela minha mãe já que ela não estava aceitando a mamadeira.
-Menino você está berrando mais do que a criança.- Falou minha mãe ajeitando o cabelo dela.
-Ela não quer mamar.- Falei ficando preocupado, como faço ela parar??
-Verificou a fralda dela?- Perguntou a minha mãe e eu neguei. -Tá esperando o que para verificar?-
Tomei coragem e quase dei graças a Deus por ter sido xixi.
-É xixi.- Falei aliviado. -E agora?-
-Tem que tirar a fralda. E não tem outra para trocar. Faz o seguinte compra um pacote de fralda tamanho P, talco também. Enquanto você vai eu vou dar banho nessa menina.- Falou ela tirando a roupa da Aruna.
Sai correndo para não esquecer o que a minha mãe disse. Não achei na vendinha perto de casa, então tive que ir num mercadinho no pé do morro. Comprei logo dois pacotes e subi quase morrendo, deveria ter pegado minha moto.
Nem parei para falar com ninguém e nem para reclamar do porque tinha umas 50 PESSOAS SAINDO DA MINHA CASA.
-Pronto.- Falei quase botando os bofes para fora.
-Que isso garoto?- Falou minha mãe segurando a Aruna que estava com fralda de pano.
-Eu quase morri para a senhora colocar uma fralda de pano.- Falei me sentando no chão para respirar direito.
-Então minha neta, seu pai é tudo vida ou morte. Vai entender.- Falou minha mãe e Aruna sorriu. -Ela concorda comigo.-
-A culpa é minha agora?- Falei e a Aruna começou a chorar. -Vai me dizer que ela cagou no pano.-
-Não, isso deve ser cólica.- Falou a minha mãe tentando acalmá-la.
-Mas já? Nem é pré adolescente.- Falei me jogando no sofá. Como eu ia adivinhar o que cada choro significa?
-Para de graça garoto, é só deitar ela na sua barriga. Minha mãe ensinou assim com você.- Falou minha mãe colocando Aruna em cima de mim. -Eca você está todo suado. Vai assim mesmo. Aproveita e aprende a dar um banho nela, está calor.-
-Eu tinha cólica?- Perguntei e a minha mãe revirou os olhos e confesso que senti umas pontadas, e Aruna se acalmou.
-Depois você lê aí no seu celular sobre coisas de bebê para aprender por si mesmo.- Falou ela saindo da sala e guardando as coisas que comprei.
Passado uns 10 minutos dei um banho na Aruna com ajuda da minha mãe. E coloquei fralda na minha menina. E deixei ela dormindo com a minha mãe e fui ver a situação da minha casa. Estava um caos... vômito, cheiro de bebidas e de drogas, invadiram meu quarto, cheio de louça na pia e nas mesas. Subiu uma raiva. Respirei fundo. Precisava arrumar aquilo pois não podia ficar dependendo da minha mãe, até porque tenho quase 30 anos na cara.
Tentei visualizar onde iria ficar o berço. Minha casa era pequena mas tinha um bom quintal. Talvez eu faça um puxadinho para ter o quarto dela. Tinha tanta coisa para fazer.
Primeiro mandei uma mensagem para o Rei...
-O que vocês fizeram com
a minha casa, eu não vou
arrumar essa zona aqui
não. Dê seus pulos aí
porque nem aceitei que
tivesse festa na minha
casa pra princípio de
conversa. Vou ter que ir
no Centro para comprar
umas paradas e depois te
conto o que aconteceu.
Mas quero minha casa
arrumada. Mais do que eu
deixo. Falou.
Pode deixar mano,
desculpa aí. Mas
trate de falar porque
não tava curtindo com
a gente.- Rei da Coca.
-Valeu manoo.
Voltei para a casa da minha mãe e eu a encontrei subindo a escadaria.
-Onde que a senhora estava?- Perguntei respirando fundo.
-Fui ver a mãe da criança. A Aruna nasceu há duas semanas, ou seja, nasceu no dia 18 de Janeiro. Conversei com os pais dela também, mas eles têm menos juízo que a filha.- Falou minha mãe respirando fundo.
-Mãe preciso de mais um favor seu. Não sei o que a Aruna precisa, vamos lá no Centro comigo. E me explica algumas coisas.- Falei e ela sorriu assentindo.
-Aruna vai ser o seu primeiro dia de compras. Espero que não seja dinheiro sujo seu Danilo.- Falou ela me olhando seriamente.
-Não é não.- Menti, se ela percebeu então decidiu acreditar na mentira.
Depois de me disfarçar o máximo para não ser reconhecido no Centro do Rio. Então pegamos um ônibus, minha mãe usou o passe dela de idosa, ela não aparentava ser tão velha. Entrei com a Aruna tranquilamente e nos sentamos no banco preferencial. Minha mãe quase me espancou quando dei a ideia de irmos de moto. E ela está certa.
-Eu anotei o essencial ontem.- Falou ela e eu estranhei. -Querido você vem com o milho e eu já tenho a pipoca pronta.-
-Vai entender. Mas fala ai.- Falei verificando rapidamente a fralda de Aruna... vai que me deixa um presente fedorento no meio da loja.
-Banheira, berço, brinquedos como mordedor, mamadeira, chuquinha, fralda para a babar, chupeta, pratinho para a papinha, a papinha, leite, aspirador nasal, cobertor, toalha, coisas para amarrar o cabelinho, bastante roupas e fraldas.- Falou ela enquanto eu olhava assustado para Aruna.
-Isso tudo?- Perguntei, já tinha entendido que ela cagava que nem coelho, mas podia comer num prato de plástico comum, toalha ela podia usar a minha, sei lá.
-Não sei do que está reclamando, isso é apenas o início. Espera ela aprender a andar e ter que comprar protetor de tomada, um purificador de ar para esse calor do Rio de Janeiro. Brinquedos e roupas de acordo com o crescimento dela. Cada coisa que eu escuto.- Falou a minha mãe indignada e voltou a olhar para mim. -Você trouxe quanto de dinheiro? Pois dependendo do berço é mais de mil reais, tem que ser um bom para ela não ficar fugindo que nem você.-
-Fica tranquila, mas acho que preciso pegar mais no banco.- Falei respirando fundo.
Então assim que chegamos no Saara procuramos um carrinho, e o preço quase levou minha alma. Acho bom esse carrinho durar até os 3 anos de idade dela. Depois fomos ao banco pegar mais dinheiro. E começamos a pechinchar e rodamos quase todo o Saara. Gastei quase 4 mil reais e quando pensei que tinha acabado, minha mãe me fez ir até o Mundial, lá perto dos Arcos da Lapa porque era mais barato, compramos 4 pacotes de leite em pó e 6 caixas de leite líquido. Fralda então foi uns 6 pacotes com 25 dentro.
Tivemos que pedir um uber porque não ia dá para subir com Aruna que estava reclamando do calor. Pedi para parar na minha casa e tinha um pessoal arrumando a minha casa e eu aproveitei para pedir ajuda para montar as coisas enquanto a minha mãe levava a Aruna para sua casa.
Tudo instalado depois de duas horas tentando decifrar cada parafuso com os moleques, tive que pedir chaves de fenda para o vizinho e depois paguei os moleques. Guardei os leites e as fraldas... tinha comprado um armário pequeno para Aruna. Estava um bagaço e estava cheio de fome.
Maluco, que papo é esse
de berço na sua casa?
Vem agora almoçar aqui
em casa mano.- Rei da Coca
Aqueles moleques deram com a língua nos dentes. Calma Danilo, ele ia descobrir de qualquer maneira. Praticamente o morro todo viu você com um neném.
-Já vou mas tira o fedor
de droga. Serião, você
vai entender mas faz
esse favor pra mim.
É praticamente impossível
mas vou tentar, mas vai
começar com neuras não
né?- Rei da Coca
Apenas ignorei, até porque depois de quase ter tido uma overdose, eu não uso mais nada e ele diz que é palhaçada minha. Passei na minha mãe e ela colocou a Aruna no canguru em mim. Estranhei muito a minha filha ter virado uma mochila. Na verdade era a Aruna na frente e a mochila com as coisas que ela precisava nas costas.
-Leva o guarda chuva também. E cuidado com ela. Ai se você subir numa moto com ela.- Falou minha mãe que me enchia de coisas.
🔫
Chegando no corredor que levava a casa do chefe, vários menores e outros traficantes bem armados estranharam a Aruna comigo. Mas ignorei, eu devia explicação a apenas uma pessoa.
-Entra ai parça.- Falou o rei atrás da porta e eu abri. -Que criança é essa?-
-Senta ae.- Falei e ele estava meio exaltado, só tinha nós dois e não tinha drogas na mesa, ainda bem. E ele se sentou e eu fiz o mesmo tirando a Aruna do canguru.
-Ela é a tua cara.- Falou ele olhando para Aruna que olhava pro meu chefe com curiosidade, também aquela barbicha de bode e cabelo platinado. -Cadê a mãe?-
-Não quis a criança e me entregou ontem de madrugada.- Falei segurando a mãozinha da minha filha.
-Como assim ela não quis.- Falou ele dando um soco na mesa e Aruna chorou.
-O seu pertubado, quer parar de assustar a menina, já basta a sua cara feia.- Falei reclamando mas logo rimos enquanto tentava acalmar a menina.
-Mas me conta ai. Cadê essa... melhor nem xingar.- Falou ele e eu concordei.
-Não vou dizer nada. Até porque eu quero que a mãe da minha filha esteja viva.- Falei e o rei fechou a cara.
-Você acha que vou matar ela?- Perguntou indignado, o rei não tinha coragem de matar ninguém além de rivais e policiais.
-Não, mas não quero nenhum maluco do nosso comando tomando as minhas dores. Mas falando sério eu estou querendo sair daqui.- Falei e ele ficou mais indignado, crescemos e entramos pra boca juntos.
-Nem vem com essa, você sabe que não tem volta, seja para os rivais ou para polícia que provavelmente sabe sobre você.- Falou ele apontando o dedo na minha cara e eu ignorei.
-Ata, então como quer que eu cuide da minha filha sendo traficante? Crescendo junto com as drogas? E quando você quiser dar sua outra festinha na minha casa, como vai ser? Se tiver confronto terei que largar a minha filha em casa para ir na linha de frente?- Questionei já irritado e Aruna berrava o que estava estressando nós dois. -Um minuto de silêncio para acalmá-la por favor.-
Comecei a nina-lá, verifiquei sua fralda ali na mesa dele mesmo, não tinha nada, dei um pouco de água, ah era sede, pedi para abrir a janela porque estava abafado. Depois de hidratar ela deixei no meu colo caso tivesse cólica. E ela dormiu alguns segundos.
-Entendeu que não tem como, ela só tem a mim. E não posso deixar tudo nas costas da minha mãe.- Falei baixo e respirando fundo.
-Vou te dar licença maternidade até ela poder ir pra creche e você se organizar. Eu preciso pensar se é possível você sair.- Falou ele sério e passando a mão na cara. -Qual é o nome dela?-
-Aruna.- Falei e ele riu. -Não temos 8 anos Michael.-
-Desculpe, mas os colegas dela terão. E sem Michael por favor.- Falou o "rei" me encarando e segurando o riso.
-Palhaço, preciso levar ela pra casa. Qualquer coisa e espero que não precise me manda um zap.- Falei e ele revirou os olhos. -Espera cadê o almoço?-
-Não tem mano, uma das minhas gatas contou errado as quentinhas.- Falou Michael revirando os olhos.
-Está me devendo viu.- Falei colocando a Aruna de volta no canguru.
-Você que está, até mais tarde.- Falou ele e eu saí rindo.
Cheguei em minha casa que estava até cheirosa.
-Aruna, bem vinda ao seu lar. Podia ser melhor mas é o que temos por enquanto. Qualquer coisa você fica com a vovó.- Falei olhando para a coisinha pequena enquanto botava no berço, torcia para estar seguro o suficiente.
-Está um silêncio, né? Sei que você não entende, mas gosto de falar com você. Acho traumatizante cantar música da cuca. Deixo-me lembrar de uma original como seu nome... já sei.- Falei pesquisando a parte da música no YouTube e deixei tocando. Até porque eu sou um péssimo cantor, então apenas cantarolei...
Quando nasce uma criança
O mundo inteiro sorri
Pois brilha esperançaDe algo bom que está por vir
Deus tem um plano para cada bebé
Antes mesmo de nascer
Um lindo proposito
Uma missãoUm sonho guardado em seu coração
Não sabia o que irei fazer nessa vida, nem sei porque você veio a esse mundo neste momento. Mas cuidarei de você. E como a minha mãe diz, seja como Deus quiser.
🌼 Açucena 📚
Levei praticamente a manhã toda arrumando o meu quarto, pedi um caminhão pequeno para trazer minhas coisas, minha cama e meu armário, não tinha tantas coisas até porque eu mal parava em casa.
Tudo montado, frete paga. Ajudei as irmãs com as coisas que faltavam e agradeci pela ajuda. Aproveitei para conhecer cada canto depois de toda a reforma, verifiquei a cozinha e já tinha alguns mantimentos. Preparei um almoço rápido e comi lendo algumas mensagem e alguns currículos que foram enviados ao meu e-mail. Agendei duas entrevistas para amanhã pois estava cansada.
Tirei um cochilo de 2 horas na minha cama e acordei assustada com barulho de tiro. Havia me esquecido como era morar ali. Comecei a me arrumar pois tinha que conversar com o dono do morro, vulgo meu primo.
Meu tio Robson veio morar primeiro aqui no Rio, e teve seu filho Michael com uma carioca mesmo. Depois que meus pais foram expulsos de casa, viemos morar aqui. Porém não contávamos que essa tragédia ia acontecer e que meu tio era um agiota até com a família.
O resto foi que ele não quis ficar comigo e nem eu. Mas em alguns anos meu tio morreu de cirrose, meu primo não queria ficar junto com os meus pais adotivos, a sua mãe nunca vi desde que vim para o Rio. E agora ele manda nisso aqui. Só Deus na causa.
Coloquei um vestido longo, estava calor para usar calça mas não ia usar algo curto no meio boca. Deixei o meu celular em casa até porque o Ismael estava me enchendo de mensagens.
-Boa tarde, gostaria de falar com o dono do morro.- Falei parando no meio de vários caras armados.
-Projeto de Deus e amor cai fora daqui.- Falou um dos caras se levantando com uma pistola na mão. O qual tinha cabelo azul gritante.
-Não vou sair daqui até falar com ele. Não estou grampeada mas me dá licença por favor.- Falei educadamente e eles riram.
-Você é muito engraçada garota. Dê um fora ou vai receber chumbo.- Falou ele vindo até a mim e eu permaneci imóvel. -Okay gracinha, você está começando a me irritar.- Falou ele puxando pelo meu braço e me empurrou no chão.
-Eu já disse que não sairei daqui sem falar com ele. Me façam o favor de me liberar.- Falei me levantando.
-Você se acha valente né? Aqui os afrontosos morrem.- Falou ele apontando a arma para mim.
Não tinha medo de morrer e mesmo que morresse eu só iria me lamentar por não ter inaugurado a creche.
-Você pode até atirar, mas se arrependerá. Na verdade você deveria pensar em sua salvação. Eu sei pra onde irei, e você? Pode atirar mas está marcando um alvo na sua cabeça.- Falei seriamente e ele ficou meio receoso.
-Que palhaçada é essa aqui!- Gritou o meu primo chegando, que logo viu o meu rosto e a arma mirada na minha testa. -Não acredito que está mirando numa civil? Tá chapado por acaso?-
-Não senhor, mas ela chegou cheio de marra querendo falar com você.- Falou o cara guardando a arma.
-E por acaso você me perguntou se ela podia entrar seu infeliz? Andem logo, liberem a entrada pra ela.- Falou meu primo e seus subordinados obedeceram.
Acompanhei meu primo e o cara que me ameaçou, todos nos encaravam. E eu apenas ignorei. Entramos numa casa que dava direto para uma sala. Meu primo fez sua pose de Poderoso Chefão até seu subordinado sair.
-Já acabou ou ainda tenho que fingir que não somos parentes?- Perguntei debochadamente.
-Você podia ter me avisado antes.- Falou ele voltando a ser o garoto de 8 anos que eu conhecia. Ainda tinha rosto de sapeca apesar de não nos vermos há muito tempo.
-Você não acha que eu tentei? Estou bloqueada no seu Face e não tenho o seu Zap. E seus seguranças são muito abusados.- Falei cruzando os braços e meu primo riu.
-Eles são abusados? Você chegou metendo bronca. Conseguiu fazer um abalo na mente de um dos meus membros mais frio.- Falou ele e consequentemente me fez rir.
-Apenas falei a verdade, até porque eu te conheço muito bem. E apenas perguntei se ele entregou o coração para Cristo em outras palavras.- Falei e eu deveria ter sido mais calma. -E a sua primo?-
- Não vem com isso. Já bastou o seu pastor vir aqui sobre a ideia da creche e ficar pregando para mim. Eu só estou retribuindo com o bem, o que o agiota do meu pai fez a vocês.- Falou ele frustrado.
-Você não precisa fazer nada. Tudo tinha um propósito. Meu pai já estava triste com a partida da minha mãe e do meu irmãozinho. O que me consola é que ele partiu com o coração entregue a Cristo.- Falei segurando as lágrimas de saudades, vir morar aqui depois de uns 15 anos me despertou lembranças mesmo com as mudanças pelo morro.
-Mesmo assim. Mas o que devo ao prazer da sua visita, Açucena?- Perguntou ele voltando a seriedade.
Tanto para a minha segurança quanto para a dele. Somos os parentes mais próximos um do outro. Não queríamos que nada acontecesse um com outro, nunca falei dele para ninguém além dos meus pais adotivos. E ele fez o mesmo. E tínhamos uma certa vantagem de termos fisionomia diferentes. Ele moreno magro e eu parda meio cheinha (isso tirando o meu rosto avermelhado pelo sol).
-Tenho algumas exigências para assim que eu abri a creche.- Falei me levantando.
-Exigências?- Perguntou ele seriamente com uma das sobrancelhas arqueadas.
-Sim. Seria bom anotar e depois reclamar.- Falei e ele pegou o celular, ativando o modo gravador. -Não quero que nenhum dos seus subordinados dentro ou em frente na creche, a minha creche não é boca de fumo e nem lugar de foragido; Não quero confronto perto da creche para que as crianças achem as balas perdidas; E futuramente quero deixar a creche funcionando a noite, mas não posso deixar que as minhas funcionárias que moram longe saindo de madrugada nesse morro que fica deserto ou com bailes, mas preciso de pessoas de confiança mesmo daqui do morro; E mais futuramente estou pensando em criar projetos para todas as crianças. Agora pode falar.-
-Só te avisando que em meio ao confronto agimos procurando um lugar para se proteger. Mas posso ver o que posso fazer. Mas não garanto nada aos policiais.- Falou ele com desgosto da última frase.
-Eles só entrarão com um mandato e farei questão de processá-los se necessário. Mas não quero que a minha creche seja um lugar de violência. Quero que elas e os pais tenham esperança de um futuro melhor.- Falei esperançosa.
-Você sabe que só é uma creche né, isso não irá mudar a nossa realidade da comunidade, que sofre segregação e abandono do governo, que só vem pedir votos.- Falou ele com uma certa raiva na voz, ele é inteligente mas está se desperdiçando sendo bandido.
-Eu sei, mas é um início para mudar as futuras gerações daqui. E se depender de mim, terá muito mais coisas para ajudar esse povo.- Falei sorrindo e ele ficou rindo da minha positividade.
-Só tu mesmo Açucena.- Falou ele imitando o meu sotaque.
-Não começa Mixael.- Falei carregando no x assim como os cariocas.
-Não começa. Agora preciso avisar suas exigências aos meus subordinados. Até outra vez.- Falou ele indo abrir a porta para mim.
-Obrigado.- Falei saindo e passei pelo corredor de subordinados que me encaravam.
🌼📚
Chegando no meu quarto senti o nervosismo só agora. Deus o que eu fiz? Que doideira. No primeiro dia aqui quase morri. Melhor nem contar para os meus pais se não iriam me buscar agora mesmo.
Tomei mais um banho pois estava um calor imenso. Mesmo que esteja quase anoitecendo, irei arrumar meus materiais para quando se iniciar as aulas na semana que vem. Quando terminei fui conferir as mensagens do meu celular, e o Ismael tinha me mandado 17.
Açucena.
Oie.
Desculpa por ontem,
não deveria ter me
exaltado.
Mas poxa, morar
naquele lugar.
Quando você ficar on
me chama.
Hoje eu fui a igreja e
seus pais nem me
cumprimentaram.
Você contou da nossa
discussão né.
Vou pedir desculpas a
eles até porque serão
os meus futuros sogros.
Conversei com eles e
até perguntei por você.
Estou muito decepcionado.
Você foi realmente foi
morar ai.
Você é doida?
Qual é o seu problema?
Quer saber faz o que
quiser, acho que o único
que se importava com a
nossa relação mesmo.
Parecia que nunca tinha
tempo para mim, sempre
foi em primeiro lugar a
sua creche.
Então aproveita e engole
ela.
Adeus. -Ismael
Pensei que ia chorar com esse "término" mas até que não, acho que desde ontem meu coração já estava se desapegando dele. Sempre fui racional, eu achava que até tinha espectro de autismo, claro que quando me apaixonei por Ismael era algo diferente mas não como nos livros ou dos filmes. Por sermos amigos acabei priorizando isso invés dos meus sentimentos. Então apenas respondi:
-Se pensa assim, okay.
Só lamento ter perdido
uma boa amizade de 6
anos. Mas continuo te
desejando tudo de bom
e que Deus te abençoe.
Apenas fiquei na cama refletindo sobre a minha vida, estava quase namorando, fiz mais uma formatura ano passado (com ajuda dos meus colegas), estava esperançosa com o projeto e morava num bairro tranquilo. Agora... é... nem tudo está ruim. Logo começaram as lembranças de quando morava aqui.
🕜flashback on🕜
Meu pai veio me buscar hoje na escola, o que é praticamente um milagre, enquanto meu pai comprava um pirulito para mim, apesar de eu falar que não precisava, eu fiquei aguardando no início de uma ladeira. Até que chegou a gangue do meu primo (entre eles o pior de todos que zoavam, Danilo). Fingi que não vi eles, mas eles fizeram questão de vir até a mim.
-Ora ora, não é a sem mãe.- Começou Danilo e seu grupo me cercou.
-Ocês não podem me dar uma folga, não.- Falei e eles começaram a rir.
- Ocê, é muito engraçada.- Falou meu primo ironizando.
- Engraçado é o nome dela. Açucena. Quem dá esse nome para um filho, nome bosta.- Falou um garoto dando um puxão na minha trança e eu me soltei.
-Eu não perguntei sua opinião.- Falei ficando irritada. E eles fizeram Ihhhhh
-Olha só a nordestina ficou arretada.- Falou Danilo puxando a minha mochila para trás. -Por que não volta de onde veio? Sua caipira.-
-Ela foi expulsa.- Falou meu primo perdendo o humor.
-Além de uma caipira feia, também foi expulsa, o que você fez? Roubou goiaba do vizinho?- Perguntou Danilo me dando uma banda. -Ou será que você roubou galinha.- Falou e seus colegas riram.
-Cala a boca.- Me levantei rápido e fechei os meus punhos, eu estava irritada ao ponto de chorar, mas não iria fazer isso na frente deles.
-O que vai fazer, caipira?- Perguntou Danilo ficando de frente.
-E ocês não tem nada pra fazer não, pirralhos.- Ouvi a voz grave do meu pai irritado atrás deles. E eu o abracei.
-Vamos, perdeu a graça.- Falou Danilo e começou subir a ladeira correndo.
-Obrigado Painho.- Falei o abraçando mais forte.
-De nada fia. Toma seu pirulito. Mas preste atenção.- Falou ele e olhei para ele. -Jesus nos ensina a dar outra face. Não reaja o mal com o mal. E sim com o bem.-
-Mas pai, eu não sou Jesus.- Falei tirando o saquinho do pirulito, era do mais barato mas não ligava.
-Eu sei. Mas lembre-se, seja forte e corajosa, não a sua força mas a de Deus. E Ele sempre estará contigo.- Falou ele se abaixando para beijar minha testa.
🕜Flashback off🕜
Já estava aos prantos quando recebi uma ligação da Jéssica, minha melhor amiga que está noiva do meu pastor. Sequei as lágrimas e tentei disfarçar a minha cara de choro, o que não resolveu muita coisa.
-Oieee!- Falou ela animada do outro lado da tela. Com seus cabelos negros num coque bagunçado mas seus olhos puxados estavam curiosos para saber das novidades.
-Oiee Jess. Como está?- Perguntei dando um sorriso bem largo. Assim como eu estava ocupada com a creche, ela estava ocupada com o casamento.
-Minha vida está uma loucura e nem acredito que mês que vem vou me casar. Estou muito feliz.- Falou ela e eu fiquei feliz com a sua felicidade. -Mas não te liguei para isso. Você se mudou, agora eu mal vou ver você.- Falou ela fazendo cara de cachorro abandonado.
-Menos Jess, pelo menos aos domingos vou aos cultos daí. E qualquer coisa marcamos um dia para nos ver, mesmo que seja vídeo chamada.- Falei e ela concordou.
-Outra coisa, e você e o Ismael? Tipo é... era... sei lá. O meu shipper favorito mas me conta tudo, sem escapar detalhe.- Falou ela se jogando no sofá.
Então contei tudo e ela ficou irritada com Ismael.
-Se ele realmente, no mínimo gostasse de você de verdade, não tentaria te impedir. E provavelmente tem preconceito debaixo dessa raiva toda. Estou realmente indignada. Deixa ele, vou derramar água nele sem querer, ou talvez no teclado, ah não, o teclado da igreja.- Falou ela e eu a repreendi com o olhar.
-O que Jesus disse sobre vingança?- Perguntei e ela ficou pensativa.
-Você está certa. Vou orar para Deus tirar qualquer sentimento de repulsa dele. Ahh amiga. Mas não era pra ser. Quem sabe Deus está preparando um abençoado pra você. Um que apoie seus sonhos e queira participar deles com você?- Falou ela variando seu humor de seriedade para animada.
-Só você mesmo, Jess, mas acho que não. Mas não negarei se aparecer essa pessoa.- Falei rimos bastante.
Depois dela me contar os detalhes do casamento, e mais 1 hora de conversa para repor. Desligamos e capotei na cama de tanto sono.
🌼💵📚🔫
Eai pessoal, mais um capítulo para mostrar a personalidade dos protagonistas, revelar quem é o Primo da Açucena e o Ismael está começando a agir estranho.
Danilo está começando a subir pelas paredes com tantas responsabilidades de pai solteiro.
Bom, é isso e até o próximo capítulo que vai ser a inauguração da creche, será que vai ter aquele reencontro???
Bjs e fiquem com Deus❤
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