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Um pouco do passado

🌼Açucena 📚

Mal cheguei no quarto e as lembranças começaram a me atormentar.

🕜 Flashback on 🕜

-Açucena que nome ridículo.- Falou um garoto da minha sala enquanto se fazia a chamada. E a turma riu.

-AÇUCENA!- Gritou alguém de trás e jogou a bolinha de papel na minha cara, pois eu virei para saber quem é.

E a professora fazia a chamada tranquilamente, ela tinha uma certa idade.

-Professora, me tacaram uma bola de papel.- Falei indo até a mesa da professora e os meus colegas riram novamente.

-Senta no seu lugar Açucena que a aula já vai começar.- Falou ela e eu obedeci.

-Açucena... Você não sabe falar direito não?- Falou Danilo eu acho que se sentou atrás de mim.

-Sossega por favor.- Falei pegando minha caderneta que tinha o meu nome escrito, minha mãe que decorou ele.

-Me dá isso aqui.- Pegou o meu caderno o benedito do Danilo.

-Me dá?- Falei e ele negou. -Por favor.-

-Não caipira.- Falou e jogou para o Michael.

-Me devolve Michael.- Falei para o meu primo que estava indeciso entre me devolver ou jogar para um dos seus amigos.

Ele jogou para seu amigo. Fiquei tentada em chamar ele de primo, mas meu pai disse para não fazer isso por conta do meu tio. Ninguém gostava do meu tio, e já tinham pessoas o suficiente que não gostava da minha família.

-Ocês podem parar com isso. Me dá a minha caderneta.- Falei ficando irritada.

-Olha só a caipira está braba. Vem pegar.- Falou um dos amigos e eu fui, mas antes ele jogou para o Danilo.

-Quer parar vocês se não vou passar redação.- Falou a professora e Danilo jogou o meu caderno na mesa.

Então sentei no meu lugar. E vi o meu caderno todo amassado e com algumas folhas rasgadas. Segurei a vontade de chorar, os meus pais deram duro para conseguir comprar um material para mim, mesmo comprando o mais barato que tinha na loja, mas custou alguma coisa. Mas meus pais disseram que estavam investindo em mim. Eu serei o futuro da nossa família.

-Não vai chorar caipira? Nem tentar me bater?- Falou ele perto do meu ouvido.

-Ocê não merece a minha raiva ou meu choro.- Falei olhando para ele. E o vi ficar surpreso, mas logo voltou com seu sorriso debochado.

🕜 Flashback off

Comecei a respirar rápido demais. Minha mente estava um turbilhão assim como o meu coração. Pensei que tinha o perdoado mas só tinha jogado tudo debaixo do tapete. E agora a sujeira se revelou.

Eu estava no chão do meu quarto sentindo falta de ar. Não sei o que estava acontecendo comigo. Parecia uma crise de ansiedade mas nunca tive antes... não que eu me lembre. Eu não tinha forças para ligar para alguém e nem para levantar para pedir ajuda fora da creche.

Só tinha alguém que pudesse me socorrer neste momento. Deus...

-Deus o que está acontecendo? Me ajuda.- Falei soluçando e estava chorando pra caramba.

🕜 Flashback on

Minha mãe havia morrido ontem. Eu chorei muito, perdi meu irmãozinho e ela ao mesmo tempo. Por um lado eu não acreditava e por outro estava revoltada por terem impedido a minha mãe de ser atendida.

Meu pai conseguiu um empréstimo com o meu tio para conseguir enterrá-la. E foi hoje de manhã. Meu pai estava muito triste, mas me mandou ir para a escola para conseguir me distrair. E eu obedeci, a cada momento me lembrava da minha mãe e de seu barrigão, eu tinha ajudado a costurar roupinhas para o meu irmãozinho.

Me arrumei e fui sozinha.. estava indo sozinha já alguns meses pois a minha mãe me levava, mas parou pois a barriga estava grande. Fui no caminho todo chorando, me lembrando do caixão dela.

-Tá chorando caipira?- Questionou a voz de alguém familiar.

E olhei para trás e era Danilo e sua gangue (como o pessoal da escola o chamava, ele perturbava geral).

-Não lhe interessa.- Falei e apressei os meus passos e torci para não tropeçar e rolar a ladeira abaixo.

-Cara, deixa ela. Ela perdeu a mãe hoje.- Falou Michael e eu me segurei para não chorar novamente.

-Não acredito. Além de caipira é sem mãe também. Nem ela te quis?- Falou Danilo e fui a até ele cheia de raiva.

-Eu poderia muito bem falar que o seu pai abandonou ocê, mas não irei te imitar.- Falei e ele ficou irritado.

Então desci o mais rápido possível, mas naquele dia ele me irritou como nunca antes. Mas meu primo me defendeu dando um soco nele. E ambos foram para a diretoria.

🕜 Flashback off 🕜

-Deus, eu não consigo perdoar, ele não merece.- Falei ainda puxando o ar fortemente. Eu não queria morrer assim com toda essa mágoa e raiva.

"Eu te perdoei" ouvi uma Voz na minha cabeça em meio às lembranças. Uma Voz firme mas calma, que já conhecia.

-Mas Pai. Olha o que ele fez a mim, ou aos outros da escola... alguns até se suicidaram ou ainda têm traumas. Ele não merece.- Falei balançando a cabeça tentando pegar ar.

"Mas Eu morri para perdoar seus pecados e o dele. Se Eu o perdoei, quem é você para não perdoar?"

Então fiquei muda. Quem era eu perante Deus? Se Ele conhece todos os erros do Danilo que eu nem sei? Quem não deveria perdoar é Deus, mas mesmo assim Ele perdoou tudo. Isso é a graça que Ele nos concede.

-Pai!- Gritei chorando. -Me ajude a perdoar, pois sozinha eu não consigo. Eu não consigo perdoar ele. Mas não quero isso dentro de mim. Me ajude! Tira todos esses sentimentos que me fazem mal! Me ajude Pai!- Gritei por socorro.

"Apenas confia em mim, Eu cuidarei de tudo." Falou a Voz na minha mente pela última vez naquela noite.

Então chorei tudo o que eu havia guardado esses anos todos. Tudo o que eu tinha que me lembrar, me lembrei pela última vez e senti pela última vez. Não sei quanto tempo eu fiquei jogada no chão chorando mas com um tempo eu me acalmei e a minha respiração voltou ao normal. Meu coração não parecia um chumbo como antes e consegui me sentar no chão.

Peguei o meu celular e vi as horas e já eram 22 horas... Já devia estar dormindo, então fui pegar uma das marmitas e tentei enfiar algo no meu estômago. Peguei minha bíblia, precisava da direção de Deus para o que fazer se eu encontrar ele de novo, eu não podia ter uma crise dessa toda vez que o encontrar. Não podia ficar refém disso.

Não seria justo eu expulsar sua filha da creche por conta do erros do passado e eu não ter superado. Abri a bíblia na parte de temas, entre eles estava sobre perdão. Escolhi o versículo que está em Levítico no capítulo 19, versículo 18.

18. Não se vingue, nem guarde ódio de alguém do seu povo, mas ame os outros como você ama a você mesmo. Eu sou o Senhor.

Depois abri em Efésios no capítulo 4, e li a partir do versículo 31

31. Abandonem toda amargura, todo ódio e toda raiva. Nada de gritarias, insultos e maldades!
32. Pelo contrário, sejam bons e atenciosos uns para com os outros. E perdoem uns aos outros, assim como Deus, por meio de Cristo, perdoou vocês.

-Senhor peço mais uma vez ajuda para perdoar o Danilo por completo, sara a minha alma para que não seja um lixão de sentimentos ruins. Mas farei a minha parte e buscarei fazer o bem e amar ele como Senhor amou. O Senhor lhe deu a oportunidade de ser filho de Deus assim como fez comigo. Se um dia o Danilo se arrepender e ser salvo, espero que sim, no céu não haverá tempo para richas ou mágoas. Me ajuda Pai, sozinha não consigo.- Orei e consegui dormir por conta do cansaço e até porque eu tinha que acordar cedo pra amanhã.

🔫 Danilo 💵

Assim que cheguei em casa mudo, minha mãe percebeu mas eu não estava afim de conversar. Não sobre ela. Não sobre o que aconteceu no passado.

Não conseguia dormir de jeito nenhum e nem comer. Mizael e Jeremias foram embora sem entender nada. Minha mãe percebeu que eu não estava bem.

Minha mente só me culpava. Que eu a machuquei. E a voz estava certa. Eu fui cretino, desde pequeno que nem o meu pai. Eu só fazia besteira e não apenas com ela. Eu deveria morrer por isso. Ela poderia ter tirado a própria vida (o que aconteceu com alguns que eu prejudiquei), ela poderia ter me matado naquele momento e eu não reclamaria. Será que ela quer se vingar da Aruna? A Aruna não tem mãe assim como ela? A Açucena foi uma Aruna na vida. E eu fui babaca o suficiente para não ser compreensivo com sua origem e por ter perdido a mãe. Eu me odeio. Eu não mereço a minha filha.

E não apenas ela, quantos garotos novos morreram no tráfico por minha culpa. Quantos foram prejudicados para que eu ganhasse dinheiro fácil.

Acabei saindo de casa... nem enxergava direito, não sei se era por conta da raiva ou se estava chorando.

🕜 Flashback on 🕜

-Açucena, você foi na feira dos paraíbas?- Questionei perturbando ela mais uma vez.

Aquilo é prazeroso, ver sua cara irritada e ela não fazer nada. Absolutamente nada. Ela é a melhor pessoa para descontar a minha raiva com tudo.

-Vamos Açucena, fala ocê de novo.- Falei cutucando ela e ela pegou seus materiais, e foi para uma mesa mais distante.

Então fiz o mesmo. Até porque meus amigos mataram aula e eu fui obrigado a vir por causa que eu estou cheio de falta. E a minha mãe ia tacar o chinelo em mim.

-Fala comigo, Caipira.- Falei me sentando ao seu lado.

-Está aqui por falta de opção ou porque gosta da minha companhia?- Falou ela escrevendo algo no caderno e me encarou por não ter falado nada. -Ficou mudo o que me faz acreditar que eu estou certa.-

-Cala sua boa sua caipira imunda. Você não tem que se meter em minha vida, vai voltar pra roça.- Falei derrubando os materiais dela da mesa. E ela me olhou irritada, respirou fundo e recolheu suas coisas sem falar nada. -Não vai sair daqui?-

-Ocê que veio atrás de mim. Não tenho culpa se ocê corre atrás da caipira.- Falou ela me rebatendo, ela usava agora a gentileza para me desequilibrar.

-Vai se ferrar.- Chutei sua mesa e sai de perto dela.

🕜 Flashback off  🕜

Eu sou um bosta... quando me vi eu estava de frente para os utensílios de obra. Então comecei a socar toda a minha raiva no saco de areia. Minhas mãos já sangravam, mas isso era pouco para o que já tinha feito. Tinha que ser a minha vida. Só assim teria paz... Não, eu não mereço paz.

-Filho! O que faz aqui? Pensei que era alguém invadindo a casa.- Falou a minha mãe aflita e ficou mais ainda ao ver minhas mãos sangrando e eu chorando. -O que foi menino? Você voltou da creche mudo. Me conta por favor. O que está acontecendo?-

-Eu sou um idiota mãe. Eu sou horrível. Eu ferrei tantas vidas, a minha, a sua, você não merece um filho como eu e nem Aruna um pai desse.- Falei aceitando o seu abraço. Uma dor percorria todo o meu corpo. E eu merecia isso e muito mais. -Mãe eu fiz mal a muita gente... Eu sou que nem o meu pai...- Falei chorando em seus braços, eu parecia um bebezão chorando mas eu não conseguia aguentar aquilo.

-Filho já passou... basta você recomeçar.- Falou ela acariciando meus cabelos.

-Isso não basta. O que eu fiz no passado está de volta.- Falei e ela ficou muda, me levantei para encarar minha mãe. -Você sabia que era ela. Por que não me avisou?-

-Eu não sabia qual seria a sua reação. Tanto no dia que eu queria falar com vocês dois juntos, é para saber o que aconteceria.- Falou ela me puxando para ela. -Me conte o que aconteceu quando a encontrou.-

Então eu contei tudo. Minha mãe a conhecia, pois na primeira vez que ela me pegou zoando ela fora da escola e jogou o chinelo em mim, o que não adiantou de nada pois a Açucena era o melhor bode expiatório que eu conheci.

-Isso foi normal. Filho, eu sempre disse que esse tipo de atitude iria te prejudicar. Mas quero que me ouça.- Falou ela segurando o meu rosto para prestar atenção. -Não adianta chorar pelo leite derramado. Se está realmente arrependido e não quer ser mais assim, conserte seus erros. Se há vida em você e nela, há tempo de consertar e mudar.-

-Mãe, ela não vai me perdoar, eu nem mereço isso. O meu maior medo por Aruna, a minha filha é uma Açucena na vida.- Falei tentando recuperar.

-Eu não sei se ela pode te perdoar, mas também você tem que se perdoar. E não acho que a Açucena irá fazer mal à uma recém nascida. Agora bora enfaixar esses punhos e amanhã a Aruna tem creche. E você vai levar ela.- Falou minha mãe e eu me assustei com a última frase. -Não vai me dizer que vai se esconder dela? Danilo...-

-Não vou.- Falei mesmo não tendo muita certeza.

Minha mãe limpou a ferida, enfaixou e foi dormir. Por outro lado, não preguei o olho. Pensamentos ainda me perturbavam mas com menor intensidade.

🔫💵

Minha mãe acabou levando a Aruna pra creche e eu consegui dormir só às 10 horas da manhã, mas acordei com muita fome na hora do almoço. Minha mãe tinha saído, preparei qualquer coisa (macarrão instantâneo com feijão gelado, e um pedaço de frango que não comi ontem na janta).

Fiquei comendo em silêncio e pensando como sempre. E meus pensamentos tinham uma protagonista, Açucena e os meus erros com ela.

🕜 Flashback on 🕜

Eu estava com os meus amigos na hora do almoço, e estávamos esperando para entrar no refeitório. E eu vi Açucena conversando com um garoto da outra turma. Os dois conversavam tranquilamente. E ele ficou ao lado da Açucena na fila das meninas. E nós começamos a colocar pilha.

-Oh Caipira, arrumou um outro caipira para você?- Gritei e o inspetor me reprovou com o olhar.

-Eita, o casamento vai ser na festa junina?- Falou Michael rindo pra caramba.

E o garoto ficou constrangido enquanto Açucena conversava com ele como se não tivesse nada demais. Então ele veio para a fila dos meninos e mandou um tchauzinho para Açucena.

Então o meu bando cercou ele. E ele revirou os olhos. Cheio de marra.

-Qual foi tá se contaminando com a caipira? Vai falar ocê também?- Questionei e geral riu junto comigo.

-Danilo, você acha que é o único que pode brincar com ela? Confessa vai. Essa implicância toda é por gostar dela. Mas você não é homem o suficiente.- Falou ele debochadamente e aí perdi a cabeça.

Logo eu já tinha dado um soco nele e meus colegas estavam junto comigo. O inspetor estava tentando conter os outros mas eu ainda estava por cima do cara.

-Danilo chegaaaa!- Falou Açucena me puxando mas dei um empurrão nela. Mas logo ficou na frente do garoto e acabei dando uns dois socos nela.

-Açucena! Saí da frente.- Falei parando o meu punho e encarando ela que chorava, ela cobria os lugares atingidos.

-Danilo! PARA! Olha ao seu redor.- Falou ela ainda na frente.

Então eu vi o menino desacordado sangrando, as minhas mãos tinham sangue, e a Açucena também tinha esse sangue. Os inspetores tentavam conter os curiosos.

-Danilo. Me xinga. Jogue as minhas coisas longe. Bote o pé para tropeçar ou puxe o meu cabelo. Mas nunca, nunca machuque alguém que apenas falou comigo.- Falou ela tentando ajudar o garoto que estava desacordado. -OCÊ ME ENTENDEU DANILO?-

-Sim.- Falei me retirando dali.

Naquele dia eu apanhei muito, ainda mais por ter batido numa mulher. E o garoto, depois de faltar vários dias, parou de falar com Açucena e saiu da escola.

🕜 Flashback off 🕜

Quando vi o meu almoço estava no chão junto com os cacos de vidro. Eu tinha a sensação que as minhas mãos estavam com sangue daquele garoto. Estava nervoso, irritado demais. Depois de uma hora tentando me acalmar limpei aquela sujeira do chão mas ainda estava com fome.

E do nada veio um nome na minha cabeça. Michael. Esse cretino sabia de tudo. Peguei minha moto e desci voado. E cheguei até a boca.

-Que isso cara. A boca vai sair do lugar não.- Falou Pequeno enquanto eu entrava.

-Hoje não estou para brincadeira. Me deixa passar. Tenho umas coisas pra resolver.- Falei irritado e eles liberaram.

Então passei por todos e pela a minha cara ninguém ousaria me barrar. Ao abrir a porta vi a Isabela. Essa era a última pessoa que eu queria ver agora, se eu estava com raiva antes, agora dobrou.

-O que ela faz aqui?- Eu praticamente rosnei.

-Olha como fala comigo. Ela está perguntando onde tem vaga de emprego no morro.- Falou Michael estranhando a minha atitude.

-Espero que não queira entrar na boca e nem para a creche, Isabela.- Falei irritado e ela me olhou com desdém. -Queira se retirar por favor.-

-Vou mesmo e depois eu volto.- Falou ela e eu dei um esbarrão em seu ombro.

-Desculpa. Melhor olhar bem por onde anda.- Falei e ela saiu assustada. Fechei a porta.

-Qual é seu problema cara?- Questionou Michael sem entender nada.

Eu não ia delatar ela, por mais que eu desejasse isso. Eu não queria mais sangue em minhas mãos e eu não quero ser a causa da morte da mãe da minha filha.

-Eu que te pergunto. Qual é o seu problema?- Falei dando um soco na mesa e minha mão latejou. Michael fez cara de boboca. -A sua protegida é a Açucena.-

E ele ficou espantado mas logo voltou a sua expressão neutra.

-Não fez nada a ela né?- Questionou ele e aí que eu não entendi nada.

-Como assim eu fiz algo? Qual é o seu problema? Você zoava tanto quanto eu. Por que ela é tão importante assim?- Questionei e ele revirou os olhos.

-Vamos fazer uma troca. Quem é aquela morena? E eu digo quem é Açucena para mim.- Falou Michael friamente. Então é assim.

-Então prometa que não fará nada a ela.- Falei e ele fez uma cruz no coração, como fazíamos quando éramos pequenos. -Ela é a mãe da Aruna.-

-Aquela desgraçada teve a ousadia de vir aqui na cara de pau de pedir emprego.- Falou ele ficando irado e eu refiz o nosso gesto. -Não irei fazer nada mas não ajudarei ela com o emprego.-

-Sua vez. Quem é Açucena? Por que protegê-la?- Questionei novamente.

-Me prometa que não vai dizer nada para ninguém. Só eu e ela sabemos disso. E guardamos esse tempo todo com a nossa vida. Está me entendendo? Se você contar algo, serei obrigado a te matar. Mesmo sendo tudo o que é para mim e por querer o bem da sua filha. Não me obrigue a fazer isso. Me entendeu?- Falou ele e meio receoso fiz o sinal. -A Açucena é minha prima paterna.-

Assim que ele falou isso, parece que a minha mente implodiu. Tentando compreender cada memória minha com os dois. Pensar já estava ficando doloroso.

-Meu pai veio ao Rio na sua adolescência, fugindo da vida nordestina. E encontrou a porcaria da minha mãe. Nasci e quando eu tinha 6 anos a família da Açucena chegou de mala e cuia aqui. Meu pai não curtiu muito, mas permitiu ficar em uma das suas casas. Meu pai nos fez todos jurar que não íamos falar que éramos parentes. E assim fizemos, e a família da Açucena não gostava muito do meu pai por ele ser um agiota.- Falou Michael se sentando na mesa.

-O que explica os nossos pais foram amigos.- Resmunguei e ele concordou com a cabeça.

-Você sempre zoou ela, eu não podia falar nada e eu não queria ser zoado assim como ela, eu tenho sangue nordestino.- Falou ele e eu senti um tapa na minha cara. -Claro que às vezes eu pedia desculpas quando voltávamos para casa. Eu sempre tentava suavizar a zoeira. Ou distraía vocês para outro aluno.-

-Por que nunca me parou?- Questionei já sabendo a resposta.

-Você acha mesmo que iria me ouvir? Você tinha uma obsessão em fazer da vida dela um inferno.- Falou ele e eu senti mais um tapa na consciência. -Logo a mãe da Açucena morreu e seu irmão que ia nascer. E meu pai "ofereceu" pagar o enterro digno e meu tio inocente aceitou. O que resultou em sua morte de tanto trabalhar por uma dívida que vivia crescendo. E um casal da igreja da família dela brigou na justiça para adotá-la. E ela conseguiu uma condição melhor de vida.-

-Por isso que ela sumiu da escola e do morro de repente.- Falei o óbvio.

E a minha mente continuava a pesar ao ouvir a história dela.

-Ela até me perguntou se eu queria me juntar a ela quando o meu pai morreu, mas eu neguei. E ficamos anos sem se ver ou se falar. Até surgir a ideia da creche. Então vi a oportunidade de retribuir com o bem todo o mal que eu e o meu pai causou em sua vida. Dei tudo o que ela pediu, material, funcionários e proteção da minha parte. Ela é a minha única família.- Falou ele segurando para não derramar lágrimas assim como eu só que de culpa.

-Eu fiz besteira esse tempo todo. E só me toquei porque a Aruna tem a mesma história que ela.- Falei olhando para o chão e Michael respirou fundo.

-Cara, conselho de amigo mesmo.- Falou ele e eu o encarei. -Vocês estão mais maduros e você tem mais empatia por ela. E ela tem um bom coração, tenta conversar direito com ela.- Falou ele botando a mão no meu ombro.

-Se fosse com você, ia me perdoar?- Questionei e ele ficou mudo, provavelmente se lembrando das vezes que perturbamos ela. -Isso quer dizer um não.- Falei irônico.

-Essa é exatamente a questão da diversidade. Eu não sou a Açucena e nem tenho as mesmas opiniões que ela. Você só vai saber pedindo.- Falou ele voltando para sua cadeira..

-Isso é motivador.- Falei irônico e a minha barriga roncou. -Tem como decolar um rango ai?- Perguntei e ele riu assentindo.

🔫💵

Deu o horário de ir buscar a Aruna, minhas mãos estavam suando, precisava trocar esses curativos, cheguei um pouco mais cedo. Aqui estava eu aguardando sentado no chão, minha mente continuava uma bagunça, meu coração dolorido e descompensado. Eu estava um lixo, eu ia mesmo pedir desculpas? O que estava me tornando? Do nada vinha os "ensinamentos" do meu pai: Homem não chora, não se pede desculpas para mulher, nunca abaixa a guarda... Eu segui esses conselhos por muito tempo e olha no que deu.

-Seu Danilo?- Chamou uma senhora de cabelos brancos tocando em meu ombro e eu me levantei, ninguém nunca me chamou de Seu. -Se me falasse eu ia trazer uma cadeira pra você. A diretora está te chamando.-

-Não precisava e obrigado.- Falei e a segui até a sala da diretoria, mas quando íamos entrar a Açucena saiu com um copo de café.

-Obrigado irmã Maria, mas acho melhor conversar com ele em outro lugar. Não veio tirar a Aruna da creche não né?- Questionou Açucena me encarando, eu paralisei. -Seu Danilo?-

-Não não, é uma das melhores creches em que eu pude deixar a minha filha.- Falei o que era fato pela proteção do Michael. E Açucena sorriu e tal Maria já tinha nos deixado sozinhos há um tempo.

-Então vamos. Nem perguntei, quer café? A irmã Maria faz o melhor, ela deveria trabalhar no Starbucks.- Falou ela meio nervosa enquanto caminhávamos para a entrada da creche.

-Por que está sendo gentil comigo?- Questionei ironicamente. E já estávamos do lado de fora.

-Então isso foi um não para o café. Olha, acho que percebeu que estou nervosa, coopera na gentileza por favor?- Falou ela me olhando mas logo desviou o olhar.

Açucena tinha mudado para melhor, seu cabelo castanhos ia aos ombros dando um ar de séria, estava com olheiras (não fui o único a não dormir direito, então) e usava o seu uniforme junto com macacão folgado. Ela nem era magra ou gorda, não usava maquiagem mas devia, apesar de suas sardas serem fofas. Ela estava bonita, sempre foi. O QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO DANILO?????

Então nos sentamos em um dos bancos com mesa. Açucena batucava o copo enquanto engolia o café. Estávamos em silêncio esse tempo todo, eu encarando ela e ela olhando para outra coisa que não fosse eu.

-Quer parar de me encarar, está me deixando mais nervosa.- Falou ela me olhando e eu olhei para a mesa. -Por que me chamou para conversar?-

-Eu... eu queria te pedir para não se vingar de mim pela Aruna.- Falei olhando em seus olhos e ela ficou indignada.

-Está de palhaçada com a minha cara, você que eu vou descontar num bebê o que aconteceu no passado, está achando que eu sou..- Falou ela irritada e logo perdeu a fala ao olhar para mim.

-Você ia dizer eu né? Seja sincera.- Falei e ela assentiu. -Como imaginei, fico feliz por não pensar como eu. Eu não vou pedir o seu perdão pois eu não mereço ele, e acho que não me perdoou mesmo.- Falei me levantando e indo embora.

-Danilo.- Me chamou ela com seu sotaque de sempre e eu me virei para ela. -Eu pensei que tinha te perdoado até te ver. Pensei que tinha superado mas eu estava enganada. Eu não te perdoei completamente, mas com a ajuda de Deus eu vou conseguir.-

-Açucena, não precisa fazer esse esforço. Eu não valho a pena.- Falei e ela ficou de frente para mim mas logo se afastou um pouco, seu cheiro era de café e de mingau, e um pouquinho de perfume.

-Para Deus toda alma conta. Se Ele já te perdoou, quem sou eu para não te perdoar?- Fez ela uma pergunta retórica sorrindo.

-Eu sou alguém que te feriu de todas formas possíveis, seja psicológica ou fisicamente.- Falei desviando o olhar e me distanciando dela, o seu cheiro bom estava impregnado no meu nariz.

-Olhe.- Falou ela e eu obedeci, e ela jogou o seu copo de café no chão no meio da gente. -Não tem como pegar o café sujo e colocar no copo novamente, se eu fizer vou ficar acumulando sujeira. E não posso voltar no tempo e impedir que o café vá ao chão. Tudo o que eu posso fazer é limpar a sujeira com água e sabão e colocar um novo café. Entendeu?- Questionou ela e eu assenti. -Como eu te disse, eu não te perdoei totalmente ainda. Mas estou recomeçando e esquecendo o que passou. Mas e você?-

Não respondi, e abriram o portão para os responsáveis, e me juntei a eles e vi Açucena recolher o seu copo do chão. Depois disso eu admirei ela ainda mais e a minha mente dizia que estraguei tudo, e que a realidade poderia ser outra. Busquei Aruna que estava com os olhinhos abertos e rindo atoa.

-Até você rindo de mim?- Falei olhando para ela e ela riu mais ainda. -Seu pai é um bobão mesmo.- E na mesma hora eu passei por Açucena que riu com a cena. E quando saí da creche falei. -Não conte nada a sua vó, viu menina.-

🔫📚💵🌼

Mais um capítulo cheio de memórias e aproveitamos para conhecer a antiga relação entre os dois, que era bem pesada...
De fato, liberar o perdão é difícil mas não impossível...
Até o próximo capítulo que vai estar cheio de novidades e tiroteio.

É isso, fiquem com Deus e bjs ❤

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