Capítulo 1
Joana
Despedir-me da minha família para seguir uma nova aventura é difícil, principalmente despedir-me do meu irmãozinho de 5 anos, o Carlos. Ele é tão fofo, não consigo deixá-lo. Ele mal conhece a nossa família.
- Vais voltar não vais?- ele pergunta.
- Claro que vou voltar. Ou então podes ir visitar-me nas férias.- baixo-me para falar com ele, pelo simples facto de ser bem mais alta que ele.
- Promete?- ele olha-me de lado.
- Prometo.- abraço-o e levanto. Olho para a minha mãe.- É agora.
- Adeus filha.- a minha mãe abraça-me e começa a choramingar. Típico.- Vou ter saudades.
- Adeus. Eu também vou ter saudades.- o meu pai fala e eu abraço-o.
- Um último abraço de família?- abro os braços e abraçamo-nos. Sinto o melhor calor do mundo, aquele calor que só a tua família te pode dar.- Bem tenho que ir, o avião espera-me.- rompo o abraço. Dou um último beijo à minha mãe, ao meu pai e ao me maninho.
Entro no avião. Sento-me no meu lugar, bem no fundo junto da janela. Olho para fora. Eu já viajei muito de avião, por isso não estou nervosa. Estamos prestes a descolar. Poucos minutos depois sinto o avião levantar. Ele levanta rápido, em cinco minutos estamos no céu. Olho a janela e vejo as nuvens. Parecem mesmo algodão, mas são apenas gotas de água.
Passadas algumas horas a hospedeira de bordo vem trazer o jantar. Essa é uma viajem grande por isso tenho direito a jantar. É apenas um humburger e um sumo de laranja. Estava bem bom. Depois de comer a hospedeira leva o lixo e eu pego o meu livro "Se eu ficar". Eu levo ele sempre comigo. Começo a ler. Pouco tempo depois adormeço.
No dia seguinte acordo com os raios de sol na cara. Estamos quase a chegar. Já consigo até ver a costa. Tudo visto cá de cima parece tão pequeno. Estamos prestes a aterrar. Estou super entusiasmada, mal posso esperar para voltar a abraçar a minha avó, a minha tia e a minha amiga. Sinto que estamos a descer. Já todos temos os cintos postos. A aterragem é como se fosse uma avalanche, parece que a qualquer momento vamos cair e morrer, mas não. É apenas uma forma de chegar, uma forma de sentir que já estamos onde pertencemos, uma forma de cair sem morrer, uma forma de cair e levantar. Sinto as rodas do avião tocarem o chão e pararem lentamente. Estou oficialmente em casa. Levanto-me, pego a minha bagagem de mão rápido e saio à pressa, sem me importar se estou a atropelar os outros. Chego à porta do avião e respiro fundo. Sentir o ar fresco de Portugal sabe bem. Desço as escadas rapidamente, corro para dentro do aeroporto. Vou buscar a minha bagagem para sair depressa para o lado de fora. Chego ao lado de fora e vejo a minha avó e a minha tia. Depois a minha amiga Marta com outra miúda que eu não conheço, a segurarem um cartaz que diz "Bem vinda de volta, Joana". O cartaz é cheio de corações e gliter. Só mesmo a Marta para fazer uma coisa destas. Vou até à minha avó e à minha tia e abraço-as.
- Que saudades que eu tinha vossas. Finalmente posso abraçar-vos de novo.- abraço forte, como se a qualquer momento fosse perder isso.
- Também sentimos sua falta.- minha avó diz.- Mas não precisa apertar tão forte.
- Desculpa. É que estava mesmo com saudades.- respondo à minha avó e viro-me para a Marta. Abraço-a.- Também tive saudades tuas parva.- dou um soco leve no ombro dela.
- Claro. Eu também tive tuas.- ela volta a abraçar-me.- Finalmente posso apresentar-te a Maria.- ela rompe o abraço e aponta para a miúda.- Maria esta é a Joana, a minha melhor amiga de quem te tenho falado muito.- aww, ela ainda me considera sua melhor amiga. Eu também a considero minha melhor amiga.- Joana esta é a minha vizinha, quer dizer a nossa vizinha nova. Eu conheci-a no início do verão e torna-mo-nos amigas. Ela vai para a mesma escola que nós.- espera aí. A Maria vai andar connosco na escola de música. Que fixe.
- Vais andar connosco? Fixe. Tocas o quê? Eu toco piano e canto.- estou a enche-la de perguntas ainda mal nos conhecemos.
- Sim eu vou andar com vocês e eu toco saxofone. Estava muito ansiosa para te conhecer.- ela fala e vejo que está aos saltinhos. Quando ela percebe que a vi aos saltinhos ela para e sorri sem jeito.
- Vá meninas. Falam mais durante a viagem.- a minha tia empurra-nos para dentro da carrinha. Depois entra no lugar do piloto e a minha avó no de copiloto. Ela arranca. A nossa casa, se assim lhe posso chamar, não fica muito longe daqui.
As meninas perguntam-me várias coisas sobre os Estados Unidos. Eu vivia em Nova Iorque e percorri grande parte do país. A minha tia e a minha avó perguntaram como os meus pais e o meu irmão estavam. Eu lembrei-me que tinha que lhes ligar. Eles vão ficar stressados se eu não disser nada. Pego no telemóvel e digito o número da minha mãe no telemóvel. São 12h aqui lá devem ser umas 8h. Não sei se já acordaram. Hoje é sábado por isso não sei se já acordaram. Após o quatro toque a minha mãe atende. Sei que a chamada vai ficar cara, mas não me importo, é para a minha mãe que estou a ligar.
- Estou?- do outro lado ouço a sua voz.
- Estou mãe. Pensei que não estivesse acordada ainda. Não és de madrugar ao fim de semana.- rio e todos no carro acompanham-me.
- Ha, ha, ha. Que piada. Já chegaste? Está tudo bem? Com quem estás? Que horas são aí? A tua tia já está aí?- modo "mãe super protetora" ativo.
- Mãe eu estou bem, já cheguei, a tia já me apanhou. Queres dizer "olá"?- ponho no alta voz.- Tia a mãe quer falar contigo.
- Olá Sofia.- minha mãe fala ríspida. Parece que ela não gosta mesmo da minha tia.
- Olá Cátia.- a minha tia fala no mesmo tom.- Como tens passado? Ainda estou à espera para conhecer o meu sobrinho e a mãe o seu neto.
- Tenho passado muito bem estes 13 anos longe de vocês. E no que depender de mim nunca vão conhecer o Carlos.- ela passou das marcas. A minha tia está a ficar com a cara vermelha e a minha avó também.
- Pois mãe. Se depender de mim eu nunca mais te vou ver na vida.- ela não está cá mas aposto que se estivesse ficaria vermelha que nem um tomate.
- Joana! O que disseste.- ela está mesmo irritada e eu também estou a ficar. Até parece que ela tem medo de alguma coisa.
- Tu sabes o que eu disse. De que é que tens tanto medo? Qual é o mal do Carlos conhecer a sua família? Qual é o problema de voltar para Portugal? Olha que de certeza que não vos vou visitar nas férias, vou esperar que venham vocês cá.- bufo.- Pronto.- desligo a chamada e todos no carro olham-me, exceto a minha tia que está a conduzir.- O que foi.- sinto-me constrangida.
O resto da viagem foi em silêncio total. Ficaram todos espantados com a resposta que dei à minha mãe. Só que às vezes não suporto que ela fale mal da minha tia ou da minha avó. O pior é que ela fala mal delas à minha frente e sabe que eu gosto muito delas. Eu amo minha mãe, mas sempre que tento falar sobre a nossa família que vive cá, ela passa das marcas, irrita-me e temos uma discussão. Odeio ter discussões com a minha família. Isso deixa-me triste e eu não gosto nada quando estou triste.
Chegamos ao prédio. Está como me lembro. Nada mudou, exceto o porteiro. O porteiro antes eram um homem de idade, podia ser porteiro mas era sábio, agora é apenas um jovem, não deve ter muito mais que a minha idade. Ele está a varrer a entrada. Quando ele percebe que estamos lá, ele cumprimenta-nos e oferece-se para me ajudar a carregar as malas. Eu aceito. Vamos até ao elevador que fica um pouco longe da portaria e ele deixa-nos lá. Quando ele poisa a minha mala é que percebo que ele tem cabelos castanhos despenteados, olhos verdes e é um pouco bronzeado. Até que ele é bem giro.
Subimos para o 5º andar. Os meus pais tinham um apartamento aqui que queriam vender, mas a minha avó não quis e ficou com ele. É exatamente no 5º andar, entre o apartamento da minha tia, do meu tio e da minha prima, e o da minha amiga Marta. Eu irei ficar com a minha avó, já que é nesse apartamento que tenho as minhas coisas e o meu quarto. A minha avó põe a chave na fechadura e roda para a direita. Ela abre a porta está tudo escuro, o que é estranho já que estamos a meio do dia e a minha avó não costuma fechar tudo a sete chaves. Ela entra, depois eu, a Marta, a Maria e a minha tia entram. A minha tia fecha a porta e só fica o escuro.
De repente, acende-se uma luz, eu fecho os olhos e só consigo ouvir: "Surpresa". Abro os olhos lentamente e vejo toda a minha família e amigos, quer dizer, quase toda. Vejo os meus avós paternos, a minha tia Anabela, irmã do meu pai, o meu tio Cristiano, marido da minha tia Anabela, o meu outro tio, Manel, o marido da minha tia Sofia, a minha prima Matilde, filha da Sofia e do Manel, o meu primo Vasco, filho da Anabela e do Cristiano, a mãe e o pai da Marta, a minha madrinha Petra, o meu padrinho César e a sua filha Marina, ela é um pouco mais velha que eu. Eles vieram todos só por causa de mim? Aww. Não consigo evitar e uma lágrima escorre. Tive tantas saudades.
Eles montaram uma mesa enorme para o almoço, com doces e salgados. Eles fizeram uma festa para mim. Eles fizeram os meus doces e petiscos favoritos. Como é que eles ainda se lembram. Dançámos, cantámos, bebemos, comemos e acima de tudo, diverti-mo-nos. Eu não me divertia assim à muito tempo. Tinha saudades de ter a família toda reunida. Ficámos todos juntos até às onze da noite, quando todos se foram embora. A Marta despediu-se de mim e disse que nos víamos amanhã. Os meus tios também vão. Ficamos só eu e a minha avó. Ela vira-se para mim e diz que tem uma surpresa. Ela tapa-me os olhos com uma venda e conduz-me. Eu adoro surpresas, mal posso esperar para saber o que é. Paramos calmamente e a minha avó começa a tirar a venda. Abro os olhos e fico de boca aberta.
O meu quarto! Continua igual. Nada mudou. As estrelas permanecem coladas no teto. A minha cama continua com todos os meus peluches, as minhas bonecas, os meus livros, tudo permanece no mesmo lugar, mas está tudo limpo. Eu adoro como o meu quarto permanece intacto, faz-me lembrar de quando era criança. A minha avó deixa-me e eu acomodo-me. Estou muito cansada. Amanhã será um dia bastante longo. É melhor eu ir descansar. Vou à casa de banho que é do outroblado do corredor. Tiro as minhas lentes de contacto, lavo a cara, os dentes e ponho os meus óculos . Volto para o meu quarto. Tiro os óculos e deito-me na cama, apago a luz. Olho as estrelas no teto. Elas ainda brilham. Isso deixa-me mais calma e serena.
Eu não acredito que a minha mãe disse aquilo à minha tia. Ela não pode manter o Carlos longe das suas origens por muito mais tempo. Ele merece conhecer a família dele de verdade, não apenas conversar por vídeo chamada. Eu gostava mesmo que a minha mãe me entendesse, só isso.
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