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Querido Diário

Querido Diário,

O outono chegou rigoroso, com alguns dias muito frios e até quedas isoladas de neve. O cenário verdejante de um pequeno território brasileiro, em meio à Terra do Fogo, deu lugar à melancolia com cheiro de terra molhada. Para onde quer que a gente olhe, as folhas das árvores oferecem um festival de cores - vermelhas, alaranjadas, douradas e marrons.

Eu venci etapas importantes, no último mês. Para começar, consegui definir o estilo de ilustração para o códice, como havia planejado. Indiretamente, o exercício contribuiu para aperfeiçoar o meu traço em relação a outras "produções artísticas", como Dalilah insistia em denominá-las. Ela dizia que se eu não valorizasse o meu próprio trabalho, ninguém mais o faria - já que muitos apreciadores qualificavam um objeto de arte pela "convicção que emanava do próprio artista, mais do que pela própria convicção, ou pela própria arte". Bem... eu achava esta lógica um tanto questionável. De qualquer maneira, resolvi repetir para mim mesma, como um mantra: eu sou uma artista de fato.

Do meu renovado entusiasmo por mim mesma, kkkk, resultaram dois novos projetos: uma linha de figuras paisagísticas abstratas, para os cartões postais que o Sr. Fenton vendia em sua loja; e o layout básico da revista em quadrinhos que JW Hume estava planejando lançar. Eu criei até a mascote da publicação: o preguiçoso e vaidoso Roy. Confesso que me diverti a valer, desenvolvendo as tiras de humor para a pantera soberana da Muralha.

Adriano sempre me encarava com desdém, toda vez que eu lhe mostrava os rascunhos. Ele não era bobo... Sabia que eu tinha incorporado em Roy, alguns dos seus trejeitos. Confesso que eu adorava aquele ar arrogante e gelado, que ele assumia de vez em quando. Aliás, eu adorava tudo nele! Por isso, não sosseguei enquanto não consegui transportar essas características para Roy. Inclusive os olhos verdes tão especiais... E consegui! No final das contas, Adriano já tinha se conformado em ser meu modelo involuntário constante.

Mas estes não foram os únicos acontecimentos do último mês. O meu principal feito foi ter passado no ENEM com uma ótima pontuação. Isso atendia a uma das exigências básicas para ser admitida na UWall. As outras exigências consistiam em passar por uma entrevista, e pela análise pormenorizada do meu portfólio. Isso só iria ocorrer no meio de novembro. Mas eu ficava nervosa só de pensar.

Sei que Adriano me abriria todas as portas, se assim eu desejasse. Mas não era a maneira como eu sonhava vencer. Eu precisava provar para mim mesma de que era capaz. Sabendo o quanto isso era importante para mim, ele me deixava caminhar com próprias pernas.

Poderoso, terno, cínico, dono de mil faces... Adriano Cahill continuava sendo um mistério para mim, sob muitos aspectos. Mas um pouquinho desse mistério foi desvendado... Aquela noite, na cabana, continuava vívida na minha mente. Seria a mais doce lembrança que eu guardaria da Muralha, se algum dia precisasse partir. Confesso que nunca imaginei antes como seria a minha primeira vez. Mas, se tivesse imaginado, eu diria que foi muito melhor do que já sonhou a mais exigente das virgens.

Adriano era um homem surpreendente, imprevisível, indomável... Uma força da natureza, se é que o termo se aplica. Eu gostava de admirá-lo quando andava, quando falava, quando comandava, quando buscava a minha atenção... Fazia um bem enorme ao meu ego saber que aquele homem, que não precisava de ninguém, que podia escolher quem ele quisesse, preferia estar comigo.

Frequentemente, Adriano me mandava um presente inesperado e diferente... Tornou-se um hábito encontrar sobre a minha cama uma rosa, um cartão, ou outra pequena lembrança que contava a nossa história juntos. Da última vez, ele mandou fazer uma miniatura de Roy em pedra escura, com duas pedrinhas de jade no lugar dos olhos. A estatueta ficou exatamente como a personagem que idealizei.

Não havia um só dia em que a gente deixasse de se falar. Nossa troca de mensagens via celular era hilária! A parte mais divertida do meu dia.

A – Estou entrando no PS agora. Vou costurar alguns sofredores.

M – Sádico.

A – Você tem alguma dúvida, meu amor?

E muitas vezes, a situação se invertia...

A – O que está fazendo agora?

M – Hoje, Roy vai cair com a cara sobre uma tigela de leite...

A – Sádica.

M – Agora que você descobriu, querido?

Só que, em relação às minhas "perguntas cabeludas", como ele mesmo as chamava... Oh, ele respondia, sim... Mas só o que queria responder. Ele sempre dava um jeito de se esquivar do que eu realmente queria saber. Alegava que existia um protocolo a ser respeitado, e que, para minha segurança, devíamos segui-lo. Bah! Um protocolo invisível, pois eu nunca sabia onde estava pisando. Chegava a ser uma ironia que ele tivesse me pedido um voto de confiança... No final das contas, era ele quem não confiava em mim. Caso contrário, não me esconderia tantas coisas.

Exemplos de como ele lidava com a minha lista de perguntas? Deixe-me ver... Quando eu perguntava e conseguia fazê-lo responder diretamente: "Adriano, você consegue ler pensamentos"? Resposta: "Não"."Você é invulnerável"? Resposta: "Noventa e cinco por cento". Quando perguntava e ele respondia só o que queria responder: "Quantos anos você tem"? Resposta: "Sabia que é falta de educação perguntar a idade das pessoas"? Réplica minha:"Mas você disse que tinha 23"! Tréplica dele:"Então, você já sabe a resposta". "Como me encontrou em Porto do Sul"? Resposta: "O que Porto do Sul tem de tão especial? Existem tantos outros lugares para se conhecer, nas ilhas da Terra do Fogo"...

Vivíamos num mundo de faz de contas, um mundo que ele criou para nós dois... Eu sabia o que ele não era. Ele, por sua vez, sabia que eu sabia... E nós dois prosseguíamos como dois jogadores de pôquer. Isso me irritava, especialmente agora que compartilhávamos de uma intimidade absoluta. Pelo visto não era tão absoluta assim...

Eu vivia me dizendo que o que tínhamos bastava... Só que eu já não estava mais certa disso. Ele dizia que eu estava me deixando levar por uma desconfiança absurda, que o importante era o que sentíamos um pelo outro... Dizia que eu precisava ter paciência, enquanto ele organizava tudo o que era necessário...

Mas, o que era necessário? Necessário para quê? Para quem? Por que eu não podia saber o que ele estava fazendo? Isso tudo me deixava com a pulga atrás da orelha. Por que ele ainda me escondia suas atividades? Acaso eram hediondas? Será que ele realmente era aquilo que eu não queria admitir? Um monstro? Até hoje, eu pensava no que teria acontecido a Joe Verano...

(Foto de uma cena do filme O que terá acontecido a Baby Jane?, com Joan Crawford e Bete Davis)

Eu estava desconfiada de que as coisas que Adriano escondia, de alguma maneira, tinham a ver comigo, e com a forma como nos conhecemos.

Ah, mas eu ainda iria descobrir. Isso, era quase uma meta religiosa...

Minhas investigações estavam seguindo rotas cada vez mais abrangentes. Pelo menos agora eu sabia que não era doida. Caso contrário, seríamos duas doidas: Dalilah e eu. Preferia pensar que nós formávamos uma dupla. Mais para... Sherlock e Watson.

Naturalmente, eu era o Watson... o mais sensato dos dois. Mesmo Sherlock não conseguiria desvendar os segredos da Muralha de Adriano. Segredos que possuíam camadas e mais camadas.

Nossas investigações atualmente esbarravam em um sério impasse: Enquanto Stephen era filho de chocadeira, Adriano possuía um pai idoso. Algo que ainda não se encaixava no mosaico que eu e Dalilah estávamos construindo a duras penas. Como era possível que um vampiro ou um deus sombrio tivesse um pai idoso? Isso nos deixava frustradas, no que dizia respeito às nossas respectivas teorias.

Deixando as investigações um pouco de lado, a rotina da universidade não era mais problema para mim. Em parte, graças à convivência com meus colegas de pensão. Poderia dizer que, finalmente, fiz alguns amigos.... Palmas para mim!!!!! Eu torço para que essas amizades sejam duradouras. Que sejam, principalmente, verdadeiras. Bem, isso só o tempo dirá.

O fato de ter precisado estudar para a prova nacional, e de pesquisar referências para as ilustrações do códice, foram duas coisas que também contribuíram para me familiarizar com a estrutura da UWall. Antes da prova, eu praticamente fiquei acampada na biblioteca universitária!

E por falar em códice... cada vez que aprofundo sua leitura sinto como se fosse transportada para uma época remota. No entanto, o texto parecia ter sido escrito agora... Doideira!

Adriano dizia que eu devia estudar o códice com atenção, se realmente desejava entendê-lo. Uma vez, quando estávamos na cafeteria da faculdade, ele citou a frase que abre o caderno: Ille nihil dubitat qui nullam scientiam habet . Eu perguntei o que significava, e ele traduziu: "Nada duvida quem nada sabe".

Hum... eu tinha que duvidar para saber? Fala sério! O que eu precisava era de alguma certeza, e não de um amontoado de dúvidas. De dúvidas, minha cabeça já estava cheia!

Adriano disse, na ocasião, que eu entenderia o significado da frase no devido tempo. E quando seus comentários enigmáticos me deixavam confusa e irritada pra valer, ele simplesmente me beijava para encerrar a discussão. Depois, ria.

Aliás, ele sempre acabava rindo da minha revolta. Como se eu fosse um bichinho de estimação engraçado, que se zangava à toa. Vampiro, deus sombrio, ou fosse o que fosse, eu podia assegurar que os homens eram todos iguais: uns machistas de carteirinha.

Por outro lado, às vezes, eu achava que ele fazia esse teatro todo para tornar as coisas mais leves, como se o fato de me manter ignorante, dentro de uma bolha feliz, fosse me proteger... Sabe-se lá do quê. Comecei a desconfiar que ele estava com medo de me perder.

Para complicar as coisas, Jonathan Gibbs resolveu me assediar para valer. Eu até me senti lisonjeada, no começo. Mas, depois, eu me dei conta de que não seria prudente dar corda ao garoto. Eu não sabia como Adriano poderia reagir... Ele era ciumento, mas também era orgulhoso demais para demonstrar abertamente. E eu não gostaria de estremecer o nosso relacionamento. Não que ele fosse possessivo...

Bem, sim, Adriano era mesmo possessivo, mas tentava não me controlar além da conta. Eu inclusive achava que ele se sentia culpado por me manter sob vigilância 24h, e fazia um esforço extra para compensar, não se metendo em meus assuntos.

Mas algo mudou no dia em que apareceu de surpresa na pensão, e me flagrou conversando animadamente com Jonathan. Tudo muito inocente. Só que o jeito que ele nos encarou, fez com que eu me sentisse uma traidora.

Claro que ele disfarçou, colocando os óculos sombreados. Mas eu já sabia, pelo meu poder de observação, que a cor de seus olhos mudava quando ele não conseguia conter uma reação emocional muito forte. Isso se comprovou pela maneira fria com que cumprimentou Jonathan. Este, ao contrário, ficou tão a vontade que quase soou ofensivo... Como se nós três fôssemos conhecidos de longa data. Por pouco não se convidou para sair com a gente.

Mas tenho certeza de que aquele momento constrangedor, de silêncio intenso e perigoso, falou mais alto do que a sua natural impulsividade. Devo aplaudi-lo pela cautela e por ter optado por uma saída estratégica. Especialmente diante do sorriso polido, porém gelado como um iceberg, que Adriano lhe endereçou.

Quer saber exatamente qual foi a reação de Jonathan? Bem, ele comprimiu os lábios e nos desejou "um bom passeio". Claro, tudo muito civilizado de ambas as partes. Mas, no fundo, eu achei que os veria lutando sobre o tatame.

Acho que consegui resumir os principais fatos do último mês Por hoje é só, pessoal.

Ah, esqueci de datar (de novo!).

Muralha, 18 de outubro de 2010.

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