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Apagão

As lembranças sobre as semanas, ou meses, que antecederam a minha internação no Hospital Geral Caledônia, perderam-se no poço fundo e escuro que se transformou a minha mente. Das coisas que as enfermeiras me contaram, descobri que estava numa cidadezinha chamada "A Muralha", situada em alguma parte ao sul. Muito ao sul...

Como fui parar lá?

Tudo o que eu me lembrava... Toda a minha insignificante existência estava na Comarca de Hemp, mais precisamente num pequeno vilarejo chamado Travessia de Dailey - no trajeto entre Berlim e Groveton. Era como se eu tivesse adormecido num lugar e, no dia seguinte, acordado em outro.

Esse "apagão" da minha memória passou a comandar os humores que me assolaram naqueles primeiros dias de internação... Eu sabia, é claro, que não adiantava espernear, nem entrar em pânico. Não havia ninguém a quem eu pudesse culpar. Ou a quem pudesse recorrer. Só a minha mente poderia fornecer as respostas. Assim, fiquei à deriva...

Por muito tempo, não vi Adriano outra vez. Ninguém soube me informar a seu respeito. Ou melhor, eu estava praticamente certa de que não queriam me informar. O que é muito diferente. Eu sentia certa reticência por parte das pessoas, por isso resolvi não forçar a barra. Porém, se ele havia dito que estava cuidando da mim... para alguém perdida e fragilizada, como eu estava me sentindo, o seu desaparecimento soou como uma promessa quebrada. Uma pequena grande decepção - mais uma para eu colecionar.

Os residentes se revezavam durante a semana, porém, o médico responsável pelo meu caso era o chefe do departamento de neurologia - o Dr. Talbott. Ele entrou em cena na manhã seguinte à visita de Adriano.

Ele não me pareceu preocupado com a minha amnésia. Quando eu formulava algumas perguntas mais diretas, sempre dava um jeito de evitá-las. Dizia que as lembranças retornariam naturalmente, e que não era bom ter minha curiosidade saciada tão rápido, pois isso não estimularia a memória a trazer à tona as informações verdadeiras; eu poderia acabar criando falsas memórias, a partir das informações que obtivesse de terceiros. Apesar de frio e impessoal, ele me pareceu um médico cuidadoso. Então, resolvi acatar o seu conselho de deixar "o barco correr".

Mas a sensação de angústia só aumentou. Eu passei a dormir mal... E antigos pesadelos - companheiros de minha infância triste – voltaram a me afligir.

Numa noite, a enfermeira surpreendeu-me aos gritos. O sonho era sempre o mesmo. Ou quase sempre... O bater das asas da criatura enorme e escura ecoou por muito tempo nos meus ouvidos, naquela mesma madrugada. A partir daí, uma sucessão de sonhos maus me atormentou a cada noite, acompanhada da sensação de perigo iminente.

Eu não queria falar sobre meus pesadelos com quem quer que fosse. Preferia manter mais aquele capítulo da minha vida em segredo, pois já tinha me causado dores de cabeça suficientes na infância e na adolescência. Desde pequena, aprendi a não confiar nos médicos. Sempre tão calmos e controlados... Mas, por trás da fachada de serenidade, eles nos definiam e rotulavam. E com o seu veredicto, podiam estabelecer como um paciente seria visto pelos demais membros da comunidade. No meu caso, especificamente, se não tivesse sido apanhada pela inocência característica das crianças, não teria sofrido tanto quanto sofri naquela época.

Naturalmente, vendo que os pesadelos se intensificavam, a enfermeira comunicou a situação ao Dr. Talbott. Ele decidiu me submeter a uma bateria de exames, que não encontrou nenhuma razão orgânica para o que estava acontecendo. O que não me surpreendeu. Na infância, eu já tinha passado por tudo aquilo. Pensei em lhe explicar isso, mas acabei desistindo.

Desde a morte do meu pai, eu tinha aqueles pesadelos. Eles sumiam sem explicação, por períodos mais ou menos longos, e voltavam em situações de estresse intenso, tão vívidos quanto se eu estivesse assistindo a um filme em 3D. Só que os sonhos que eu estava tendo agora eram bem mais elaborados; repletos de figuras enigmáticas. Com isso, ficava muito mais difícil separar a "fantasia" da realidade, mesmo estando acordada.

Alguns sonhos não eram ruins, e se repetiam - como aquele que sempre começava do ponto em que eu estava descendo uma longa escadaria de pedras. Os degraus terminavam em um terraço amplo, que dava para um bosque. Ao longe, avistava-se uma faixa marrom-acinzentada contornando toda a linha do horizonte - parecia uma espécie de muralha, com suas guaritas simetricamente dispostas a distâncias regulares. Algo impressionante!

Uma estátua de mulher em tamanho natural interpunha-se entre mim e o terraço. Ela segurava um pequeno objeto contendo um estranho símbolo. Algum tipo de aviso?

No sonho, também havia um rapaz muito alto, esguio e musculoso que me esperava do outro lado do terraço, diante de um altar de pedra. Ele usava uma túnica alva e um manto vermelho jogado displicentemente sobre os ombros (no tradicional estilo dos soldados romanos, como acabei descobrindo através do "tio" Google).

Ele tinha a pele bronzeada, como se passasse os seus dias ao ar livre, ou à beira do mar. Nunca consegui distinguir o rosto do rapaz – sempre oculto pela sombra das árvores que se projetavam sobre o altar.

Por que, então, aquela figura me parecia tão familiar?

Saudade e tristeza inexplicáveis tomavam conta de mim, ao acordar desse tipo de sonho. Eu contava as horas do dia para que a noite chegasse logo e eu pudesse reencontrar o desconhecido em nosso refúgio onírico. Quando isso não mais acontecia, eu mergulhava na depressão.

***

Com certo receio, acabei contando ao Dr. Talbott sobre os meus sentimentos. Ele disse que meu estado de espírito apenas refletia uma reação emocional ao perigo pelo qual passei. Segundo ele, a minha mente havia deletado da consciência o acontecimento traumático original. No entanto, deixara-o arquivado no inconsciente – de modo a trazê-lo à tona por meio de distorções simbólicas.

Isso tudo era grego para mim. Por isso, eu apenas balançava a cabeça e fingia que entendia.

Minhas noites foram ficando piores... Sinal de que minha mente tinha muita coisa para trazer à tona, conforme a lógica do médico. E as figuras estranhas que povoavam os meus sonhos só me transmitiam horror. Eu sentia falta do estranho da túnica. Pelo menos, ele deixava uma sensação boa, de segurança... De saudade. Mas as outras criaturas com as quais eu sonhava... Deus me livre!

Certa vez, uma estranha garota surgiu no cenário criado pela minha mente. Era linda, pequena e delicada... porém, sua beleza não parecia deste mundo... Seus olhos fulgurantes eram negros como piche. Os longos cabelos acobreados esvoaçavam em torno do rosto miúdo, formando uma moldura que realçava a pele translúcida. Ela era tão parecida com a estátua do outro sonho... só que viva.

Havia algo de perigoso nela. Na maneira como seus lábios se abriam e deixavam entrever os dentes muito brancos. Pressenti que a fantástica criatura iria me fazer mal muito antes que ela se agachasse e, com um gracioso impulso, saltasse sobre mim. Eu saí correndo aos tropeções... Mas, no fundo, sabia que não tinha a menor chance de escapar.

Acordei, como sempre, banhada em suor e com a respiração ofegante – só que mal tive tempo de me recuperar. Um movimento nas sombras me assustou a tal ponto que perdi o restinho de ar que ainda havia em meus pulmões. Automaticamente, minhas costelas protestaram.

A garota tinha surgido do nada! Estática ao lado da cama como a estátua do meu sonho. Mas, a semelhança terminava aí... Apesar de ser tão linda quanto a outra, estava longe de parecer delicada. Seus cabelos eram negros, tinha olhos amendoados, quase orientais, e usava um jaleco branco. Devia ser outra residente, pensei com alívio.

Mas, analisando a garota melhor, voltei a me sentir apreensiva. Ela me encarava de um jeito tão esquisito – que me fez lembrar daqueles documentários sobre o reino animal, quando a cobra agita a cauda e hipnotiza o pobre camundongo. Era exatamente o mesmo olhar. O olhar de um predador.

Notei que ela segurava a pasta contendo a minha ficha, com força suficiente para rasgá-la ao meio.

-Então... é você!

Hein?

Ela avaliou minha expressão confusa e prosseguiu, torcendo os lábios finos: - A garota que encontraram desacordada na Montanha do Polonês.

-Montanha do Polonês?

Que raio de nome era esse?

-Você não sabe nada sobre nós, não é mesmo? - ela indagou com desdém, em seu sotaque inconfundivelmente britânico.

-Não - sussurrei. - Deveria? Quem é você?

Ela riu da minha confusão. Para falar a verdade - era como se isso a divertisse.

-Não, não deveria... Se realmente veio parar aqui por acidente. E respondendo à sua pergunta: meu nome é Ásia.

Hum... Que nome estranho para se dar a uma pessoa! Com certeza, não era tipicamente inglês. Será que ela também se considerava um continente? Ou o nome era uma homenagem a seus olhos amendoados? Eu achava que os ingleses fossem mais formais nas apresentações... Mas essa daí, pelo jeito, não fazia questão de seguir a etiqueta ao pé da letra.

-Eu ainda não faço ideia de como vim parar aqui - relanceei o olhar para o seu jaleco, em busca de um crachá que confirmasse seu nome completo e setor. Mas não havia nenhum. Isso me deixou mais apreensiva, imaginando por que ela não queria ser identificada.

Ásia acomodou-se na beira da minha cama. Seus olhos eram tão estranhos – de um castanho que eu nunca tinha visto antes: entre bordô e chocolate; se é que posso descrevê-los assim. Eram olhos que me inspiravam medo.

De repente, eles ficaram... Amarelos? Pisquei, confusa. Aquilo só poderia ser efeito da luz que vinha do abajur. Quando dei por mim, ela estava pegando os óculos pendurados no colo por uma delicada corrente e colocando-os no rosto. Assim como os de Adriano, as lentes eram sombreadas.

-De fato, é muito estranho. Especialmente, quando se tem uma arma tão poderosa... - ela olhou significativamente para minha mão esquerda e apontou com displicência. – À propósito, que tatuagem... interessante.

Eu olhei para o sinal de nascença em forma de lágrima, que se aninhava no dorso da minha mão, entre o indicador e o polegar.

-Não é tatuagem. Nasci com ela.

-Que conveniente... - ela murmurou, já não tão divertida. - Por que agora?

-Não entendi.

Ásia abriu a boca. Subitamente, outra figura de jaleco apareceu na entrada do meu quarto. Era um rapaz de cabelos arrepiados, cor de ferrugem. Tinha uma aparência franzina, magricela, apesar de muito alto.

-Ásia, você não deveria estar aqui. Essa ala, hoje, é minha.

Ela sorriu com doçura. -Eu só queria conhecer a mais nova e misteriosa paciente do Caledônia.

Ele franziu as sobrancelhas grossas (que para mim, não combinavam com sua cara de bebê).

-Volte para os seus pacientes. Devo lembrar a você quais são nossas ordens?

Olhei para Ásia e podia jurar ter visto um lampejo de rancor, embora não fosse muito fácil decifrar suas emoções por causa daquelas lentes levemente escurecidas...

-Isso não é justo, Jay! - sua reação indignada, para mim, pareceu ter mais de um significado. Obviamente, ela não se referia só a sua permanência no meu quarto.

O rapaz relanceou o olhar preocupado para mim e se voltou para ela, novamente.

-Stephen está no prédio. Você deve imaginar o que vai acontecer se ele souber que você está aqui.

A expressão da moça deixou escorregar um quê de pavor – os olhos se arregalaram, a boca se abriu... Tudo isso em "meio segundo".

-Stephen, Stephen... - A garota resmungou com aparente leveza. - O eterno cão de guarda!

Ela olhou para mim uma última vez. - Salva pelo gongo, hein?! - então, sorridente, passou por Jay e saiu.

O rapaz olhou para o chão por um momento, e depois para mim.

-Desculpe-me por tudo isso. Eu deveria ter vindo fazer a ronda mais cedo. - ele coçou a cabeça, constrangido. – Penso que Ásia quis me poupar o trabalho.

Claro que eu não engoli essa, mas deixei passar. Tive a impressão de que ele também não esperava que eu engolisse. O tal Jay caminhou até a extremidade da cama e apanhou a minha ficha, levando-a consigo.

Mais um residente... Suspirei. Onde estaria Adriano? Olhei de relance para o seu crachá, onde estava escrito: Jay O'Neal – neurologia. Hummm... Irlandês, galês ou escocês? Nas três hipóteses, explicava-se o cabelo cor de ferrugem e as sardas. Só não se explicava o contraste entre os seus tênis destruídos, de tão velhos, e o relógio de pulso que poucos teriam condições de comprar. Seria um Rolex ou Omega?

Contradições. Eu parecia estar cercada delas, ultimamente.

O rapaz parou no meio do quarto e abriu a pasta, sem dizer nada. Estava concentrado na leitura da minha prancheta. Deve ter lido que a única grande novidade do dia foi a retirada da medicação intravenosa.

Pelo menos, eu tinha isso para comemorar. Apesar das noites mal dormidas, a febre finalmente cedeu. Eu já me alimentava melhor, e fazia sessões periódicas de nebulização.

O ortopedista, o Dr. Way, e o pneumologista, o Dr. Endfield, enfatizaram que eu não deveria forçar as costelas. Eles me monitoravam o tempo todo. A visita à máquina de raio-x era um dos poucos eventos em que permitiam a retirada da faixa – uma espécie de cinta especial que me obrigaram a usar o tempo todo.

Jay retirou a caneta do bolso e fez uma pequena anotação num bloquinho.

-Descanse - recomendou, antes de sair.

Como se isso fosse possível!

***

O incidente com a tal Ásia Não-Sei-Do-Quê não caiu no esquecimento. O nosso encontro ficou gravado como um alerta vermelho na minha mente... Meu maior temor era que ela voltasse. A última coisa que eu queria ou precisava era ficar sob a responsabilidade de uma residente psicopata, que parecia nutrir uma antipatia injustificada por mim.

Todas as noites, eu aguçava os ouvidos antecipando sua chegada. Mas, ainda bem, ela nunca mais voltou. O tal Stephen – o cão de guarda ao qual Ásia se referiu - deve ter lhe passado uma tremenda bronca. Bem feito pra ela!

Minha rotina só voltou a ser quebrada novamente dois dias depois, quando o Dr. Talbott me encaminhou a um psiquiatra para avaliação. A princípio, pensei que fosse por causa do meu problema de memória. Ou de falta de memória, melhor dizendo. Mas ele alegou que, como os exames não acusavam nenhuma "desordem" orgânica, sua principal preocupação agora era com os pesadelos que perturbavam a minha recuperação. Segundo ele, eu precisava dormir bem para me fortalecer, e isso não estava acontecendo. Quanto à amnésia, ele simplesmente achava que o problema era temporário. De acordo com suas próprias palavras: "a amnésia geralmente se instala em virtude de um trauma psicológico, que pode ser, ou não, acompanhado por uma pancada na cabeça". A minha concussão aparentemente explicava a segunda parte, mas faltava descobrir o que ocasionava a primeira, ou seja, o trauma. Poderia levar tempo para que minha cabeça entrasse nos eixos... por isso eu precisava de uma ajudinha profissional.

Ele continuava falando grego, e eu continuava balançando a cabeça. Assim, naquela mesma tarde, após o costumeiro banho de sol em um terraço privado do hospital (e que nenhum outro paciente frequentava), a enfermeira empurrou minha cadeira até a ala onde ficavam os consultórios.

Numa das portas, estava escrito: "Dr. Adam Barringer – psiquiatra". A enfermeira bateu rapidamente e foi introduzindo a minha cadeira sem esperar pela resposta. Quis dizer a ela que eu podia andar, mas já sabia a resposta que me daria: "Normas do hospital". Então, resignei-me ao constrangimento que aquele "passeio em quatro rodas" me causava.

Para meu espanto, nós ingressamos numa pequena e aconchegante sala de espera. Bem diferente do ambiente estéril que eu imaginava. Por trás do balcão em forma de "u", acoplado à parede, uma garota digitava furiosamente em seu computador. Tec-tec-tec... Depois de trocarem rápidos cumprimentos, a enfermeira nos apresentou:

-Dana, esta é Melissa, a nova paciente do bom doutor - e virando para mim, prosseguiu: – Quando a consulta terminar, por favor, peça a Dana que me interfone e eu virei buscá-la.

Acenei afirmativamente, na falta do que dizer, enquanto comprimia os lábios para não rir como uma louca histérica.

Seja corajosa, mocinha...

A enfermeira me deu um sorriso encorajador, e então partiu.

Quando a porta se fechou atrás de mim, deixei escapar um suspiro.

É... eu tinha que reconhecer que ela era um doce de pessoa - muito atenciosa, simpática... Como era mesmo o seu nome? Sempre fui péssima para guardar nomes. Em compensação, jamais me esquecia de um rosto...

Lembrei! Berenice.

Dana suspirou e clicou no mouse duas vezes, com os olhos colados no monitor.

-Seu horário é às 16:00 h. Daqui a pouco o Dr. Barringer vai atendê-la.

Sem perceber o meu desconsolo, ela virou as costas para mim e pôs-se a remexer na gaveta do arquivo.

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