Capítulo 24
Sempre falam que "30 é a idade do sucesso", pode até ser, mas ninguém conta que 3 é a idade de trocar a alma da criança com a do demônio. Quando Théo fez 3 anos, ele era difícil, muito difícil; tudo tinha que ser do jeito dele. Agora chegou a vez de Ekena. E ela é dez vezes pior.
- Zack, me ajuda, olha o Théo!!!
Coloquei um shorts lindo na Ekena, que ria enquanto assistia algo no Discovery Kids.
- Não, mamãe, quero saia.
- Depois.
- Agora.
- Era só o que me faltava, uma criança de três anos querendo mandar em mim.
- PEGUEI! - Zack voltou com Théo em seu colo.
- Até onde ele foi dessa vez?
- Até a casa do vizinho. Esse menino é rápido! Ufa, calma, deixa eu recuperar o fôlego, cansei. Onde você queria ir mocinho?
- Na loja de brinquedo - Théo disse.
- Fazer o que?
- Comprar tudo que você disse que ia comprar pra mim mas não comprou. Não mente pra mim mais papai. - E então ele tirou a carteira de Zack da bunda.
Esqueçam o que eu disse. 5 é a idade da troca de alma.
Zack pegou sua carteira rapidamente, com uma cara de indignado, e colocou Théo na cama para terminar de pintar seu desenho do Batman.
- Estou com um sério medo dessa criança - disse, e se sentou do meu lado. - Amor, se você não quiser ir nós não vamos.
- Claro que eu quero ir! É o aniversário de 16 anos da sua irmã. Eu quero ir sim!
- Mas eu não quero ir. Então nós não vamos.
- Quem disse? Eu vou sim. Todos aqueles doces, presentes, lembrancinhas... - Ekena pulou em mim. - Vamos, filha, tá na hora de colocar a blusa.
- Sem blusa.
- Que sem blusa o que. Vai sair pelada não. Já te deixei ficar sem saia, não vai ficar sem blusa.
- Não. Quero vestido.
Peguei a Ekena no colo e a passei para Zack.
- Vai que é tua, campeão. Théo, filho, vamos nos arrumar...
- Calma, mãe, só falta o braço do Batman.
- O que é esse círculo vermelho em que ele está pisando?
- É o sangue do inimigo! Ruaaaaaa! - Ele fechou o punho e fez a careta-de-solta-pum.
Bem, a careta-de-soltar-pum é a careta que meu carinhoso filho faz quando quer soltar um pum mais fedido que o do Zack ou fazer o número dois. Também serve como uma cara de raiva, às vezes. Tipo essa vez.
Eu e Zack nos encaramos e depois olhamos para Théo. E então meu marido me solta a frase "Isso não é de Deus".
Depois de mais algumas indecisões a respeito de Ekena querer provar todas as roupas da face da terra, nós resolvemos que ela iria de calcinha e sandália. Você já viu uma criança só com roupas íntimas triste? Não. Porque esse é o mais legítimo traje infantil.
Nós vamos passar o fim de semana na nova casa de praia dos pais de Zack, que, por uma felicidade do destino, é a antiga casa de praia dos pais do Chad. Sim, aquela em que passamos o final de semana no qual Zack carregou minhas coroas pela primeira vez. O aniversário de April será nesse fim de semana, e rolará a maioooooor festona. Zack está muito louco se pensa que eu não vou.
- Quem diria, né? Depois de 9 anos a gente vai voltar naquela casa.
Pegamos nossas malas e nossos filhos e colocamos tudo no carro. Zack conferiu mil vezes se tinha fechado tudo (ele tem problema em deixar a casa sozinha por mais de meia hora) e ainda acionou os diversos alarmes que ele mandou instalar depois de perceber que os vizinhos estavam roubando nossas plantas (é sério, gente, eu não tava brincando, ele é doido).
Ajeitei os dois na cadeirinha e me sentei no banco do motorista.
- Ekena, o que quer ouvir? - Zack perguntou, mexendo em seu celular.
- DISNEY!
Imediatamente começou a tocar um mashup de diversas músicas da Disney.
- Por que eu não posso escolher? - Théo perguntou, emburrado.
- Na volta você escolhe, filho.
- Ok. Olha, pai, meu desenho! Esse sou eu, esse é você e essa é a mamãe.
- E eu? - Ekena ergueu o pescoço para ver o desenho.
- Você não existia ainda, por isso que eu desenhei nós três sorrindo.
- Théo! - Zack o repreendeu. - Para de dizer bobeiras para sua irmã!
- Papai, não quero mais Disney, quero Lolysone - ela pediu.
Chegamos na casa de praia escutando Brown Sugar, dos Rolling Stones. Descemos, eu com a Ekena no colo e Zack segurando uma mala e dando a mão ao Théo. Enquanto esperávamos alguém atender a porra da porta (pô, criança pesa cara), Ekena começou a cantar e se balançar.
- Su suuu pa pa pa papa ooooo ran ran papapapapa ui ai ma quem digôô.
Ela parou de cantar assim que abriram a porta. Michael Jackson é você?
- Olá queridos! - a mãe de Zack nos recepcionou.
Essa mulher fez tanta plástica em tão pouco tempo que olha, eu nem lembro mais de como ela era quando a conheci. Agora ela me chega com esse nariz mais fino que um palito de dente. Puta merda, não sei como respira.
- Quem é essa garotona no seu colo, Ariel?
- Sou eu vovó, a Ekena.
- Não, mas a minha Ekena não era tão moça assim! Jura que é a Ekena? - Ela assentiu, rindo. - Ah, então vem me dar um beijão.
Ela pegou minha filha no colo e eu percebi que não sentia mais meus braços. Senhor.
- E esse meninão com você, Zack?
- Aí vó, faz outra brincadeira porque essa não dá mais - Théo disse, sério.
Depois que descarregamos as malas e as crianças sumiram com Zack para dormir (eu que dirigi e eles que dormem, ah é muita falta de noção), Sogra Jackson me chama pra conversar.
- Ariel, querida, está cuidando bem do meu bebê?
O bebê é Zack. Sim.
- Faço o melhor que posso, dona Teresa. Mas na maioria das vezes é ele que cuida de mim.
- Ah, que ótimo, isso é ótimo.
- E onde está a April? - perguntei.
- Olha, eu não sei. AAAAAAAAAPRIL!
Lembrem-me de comprar um aparelho auditivo pois sinto que perdi a audição do ouvido esquerdo.
Em dois minutos, ela desce a escada apressada.
- Arieeeeeeel!
- Precisarei deixá-las meninas, tenho que ligar para o organizador da festa. - Sogra Jackson saiu.
Eu e April nos sentamos no sofá da sala como duas amigas loucas pra saber das fofocas uma da outra.
- Me conta, e aquele boyzinho lá que você tava de rolo... - comecei.
- Virou namorado, menina. Xô te contar o babado. - Ela me deu um tapinha.
- Ai, me conta o babado.
- Ai, eu vou contar o babado. Então, estamos juntos há uns dois meses mais ou menos... E ele vai naquele jantar hoje, para conhecer meus pais... e o Zack. Ai, amiga, por favor, dá uma preparada no meu irmão, porque ele só me faz passar vergonha.
- Pode deixar menina. Me mostra uma foto dele aí, deixa eu ver o princeso.
Ela me mostrou uma foto deles dois e meu queixo foi ao chão. Caralho, que menino feio. Ai, Ariel, que dó, não pode. Vai que esse tipo de menino tá na moda agora. Não sei. Ele pode ter um coração bom, apesar de eu não saber se gafanhotos possuem coração...
- E aí, o que achou?
- Pô, mó gatinho hein. Qual o nome dele?
- Phillip, mas eu chamo de Phil.
- Phil, legal.
Dona Teresa chamou April para terminar de resolver as coisas e eu subi para desarrumar as malas.
Encontrei Zack dormindo na cama de casal com Théo do seu lado e Ekena jogada em cima da cabeça dos dois. O acordei porque não sou obrigada a desarrumar tudo sozinha.
- Amor, April pediu pra te avisar... Ela está namorando, e o dito cujo vai jantar com a gente hoje. Não dá vexame, por favor. - Ele já me olhou com uma testona vermelha de nervoso. - Não se preocupe, o coitado é feio, uma varetinha.
- Qual o nome disso?
- Phil.
- Vou chamar de Phil dental.
Ah, pronto.
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