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trois

Eu senti meu corpo se desintegrar. Tipo, literalmente. Lembra daquela viagem para Amsterdã que eu mencionei? Nada que eu usei lá sequer chegou perto dessa sensação maldita de morrer e continuar viva. Foi bem intenso, mas também muito rápido. Alguns segundos depois daquela luz, eu tive a sensação de acordar de um cochilo, olhando para o meu quarto... Mas eu não estava mais no meu quarto. Eu escutei Leanne gritar um monte palavrões e murmurar algumas rezas e então olhei para um espelho de moldura de madeira e vi Angelique olhando no meu quarto, tremendo.

— Joséphine, você está aí? — Perguntou Leanne. Acho que ela não consegue me ver mais.

— Diga a ela que eu estou bem. — Eu disse para Angelique, mas ela não respondeu. Ela continuou tremendo igual a um pinscher e ficou mais pálida do que ela já estava.

— Puta merda, eu acho que a garota tá tendo um ataque de pânico... — Disse Leanne, quase gritando, como se falar mais alto facilitasse a comunicação através do tempo.

— Caralho! — Eu murmurei, completamente em choque e impossibilidade de fazer qualquer coisa para ajudar. Ah, se essa garota morrer...

Leanne chamou uma ambulância e logo os paramédicos chegaram para salvar a garota estranha vestida como um fantasma de uma mansão mal assombrada. Eu dei uma última olhada para Angelique através dos nossos espelhos enquanto ela estava sendo carregada para fora do meu apartamento por um par de socorristas gatos. Ela deixou o meu quarto viva e respirando, eu só preciso que ela continue assim.

Certo! Essa foi a pior ideia da minha vida! Logo depois que Angelique foi embora, eu deixei de ver o meu próprio quarto e precisei contemplar a minha imagem naquele espelho setecentista, percebendo então que eu estava completamente maluca. Sim, eu tomei a impulsiva decisão de viajar no tempo apesar de todas as óbvias e terríveis consequências... Eu estava tão animada e decidida e agora tudo o que eu quero fazer é gritar e... Merda, ataque de pânico. Está tudo bem, Joséphine, apenas pegue um dos remédios que você sabiamente trouxe consigo para sobreviver em tempos pré-Diazepam e você ficará ótima.

— Mademoiselle Angelique, está tudo bem aqui? — Perguntou uma voz desconhecida para mim. Eu estava com uma pílula de Diazepam nas mãos e precisei arremessar para o outro lado do quarto para que a mulher não visse. Talvez eu pudesse ter engolido, mas meus reflexos jamais teriam sido tão gentis comigo.

— Estou ótima! — Eu respondi, levemente sem fôlego. Que merda ela está fazendo aqui? São quase duas da manhã. Essa deve ser Madame Basset, a governanta da casa de Angelique que ela mencionou.

— Eu poderia jurar que escutei você falando com alguém... Eu estava preocupada que pudesse ser aquele rapaz. — Disse a mulher. Ela tinha um tom amável e muito gentil, mas eu estava sentindo meu coração sair pela boca nesse momento.

— Não, nenhum rapaz. — Eu disse, quase engasgando nas minhas próprias palavras.

— Por que você está acordada? Está tão tarde... Por que você acendeu tantas lamparinas?

— Eu estava... Eu estava... Rezando.

— Oh, é claro, minha querida. — Disse a governanta, soando um pouco triste. — O Padre Renouard estará aqui amanhã. Você está nervosa?

— Não, é claro que não. — Eu respondi, com naturalidade. — Eu só quero ficar sozinha, por favor.

— Você parece... Bem disposta. — Disse Madame Basset, sorrindo. — Eu espero do fundo do meu coração que a extrema-unção seja desnecessária.

Madame Basset deixou o quarto e eu freneticamente comecei a procurar pela pílula que eu joguei fora - que felizmente eu encontrei. O quarto de Angelique era interessante, com uma quantidade assustadora de bonecas de porcelana. Eu fui até uma mesa de madeira onde havia uma jarra de água e coloquei um copo para tomar o calmante. Naquela mesma mesa havia o diário que Angelique havia deixado para mim. Ela havia deixado as lamparinas do quarto acesas e a lareira ajudava, mas ainda assim era bem difícil ler à meia-luz. Eu fechei o diário e fui até a janela, ainda tremendo um pouco. Abrindo as cortinas e o trinco das janelas eu olhei do segundo andar para aquela estreita e vazia ruela de paralelepípedos, iluminada por lamparinas à óleo. Eu nunca havia visto o céu parisiense tão estrelado.

— É um milagre, é um milagre! — Gritava Madame Basset. Eu estava deitada na cama de Angelique com um médico e um padre em volta de mim enquanto a governanta simpática rodopiava pelo quarto comemorando a recuperação milagrosa de Mademoiselle Angelique.

— Bem, eu devo admitir, não há outra explicação. — Disse o médico, cutucando o meu rosto e olhando para mim muito confuso.

— Nada me deixa mais feliz do que não precisar performar uma extrema-unção para uma alma tão jovem. — Disse o Padre Renouard. — Devemos agradecer a Deus por esta bênção.

— Monsieur Brunet ficará muito feliz. — Disse Madame Basset. — Eu mandei que ele fosse avisado da sua recuperação, o jantar essa noite será esplêndido!

O relacionamento de Angelique com o pai dela era complicado. A complicação: ele não se importava muito com ela. As palavras dela sobre ele no diário que ela deixou para mim eram uma mistura de respeito e ressentimento. Duas vezes viúvo, o Monsieur Brunet era um boticário muito bem-sucedido - que parecia amar mais seus frascos de perfume do que seus filhos. Angelique era filha de seu segundo casamento, sua mãe morreu no parto. Ela também tinha um meio-irmão mais velho, Martin, que vivia em Lyon. Ausência emocional paterna é algo que eu consigo compreender bem, infelizmente. Os Brunets não eram ricos, mas certamente viviam muito bem para pessoas da classe trabalhadora.

Eu estava ansiosa para explorar as ruas da minha boa e velha Paris - agora, mais velha do que nunca! -, mas Madame Basset tinha outros planos para mim. Depois de me questionar incessantemente por conta do meu cabelo estar mais curto (e eu acabar inventando uma desculpa esfarrapada sobre um anjo ter dito que eu deveria cortar o meu cabelo e jogar na lareira para que eu melhorasse) ela me fez comer uma quantidade enorme de comida e não me deixou sair da cama para que eu estivesse bem descansada para o jantar. Depois de um dia inteiro encarando o teto, eu fui tomar um banho. Eu estaria mentindo se eu dissesse que era ruim tomar um banho em uma linda banheira de louça com todas aquelas loções e óleos perfumados - que só a filha de um boticário teria acesso, já que artigos de banho eram um luxo ocasional para os muito ricos. Eu estava me sentindo uma princesa, mesmo que aqueles produtos parecessem ser extremamente ruins para a minha pele. Depois do banho, finalmente o momento em que eu estava esperando: um típico robe à la française para eu vestir. Aqueles enormes e exagerados vestidos com as saias quadradas e várias camadas de tecidos e armações por baixo eram simplesmente fantásticos! Como eu disse, Angelique não era nobre, os vestidos dela eram relativamente simples, nada comparado às aberrações espalhafatosas usadas em Versalhes, mas ainda assim foi uma experiência maravilhosa. Os espartilhos não eram tão apertados, mas era um pouco difícil se sentar com aquela saia tão volumosa. Depois de estar vestida e pronta, eu pacientemente esperei Monsieur Brunet para o jantar.

— Você parece bem saudável. — Disse o pai de Angelique. Estávamos só nós dois sentados à mesa, comendo. Ele parecia ter o entusiasmo de uma pedra ao ver sua filha milagrosamente recuperada de uma doença terminal. Cuzão.

— Eu me sinto ótima mesmo. — Eu respondi, casualmente.

— Eu escrevi para o seu irmão, talvez ele venha te pagar uma visita.

— Legal.

— Eu também pedi para ele que trouxesse Monsieur Bascher com ele. — Disse o Monsieur Brunet. Como toda boa garota do século dezoito, Angelique tinha um pretendente. O Monsieur Bascher em questão era um conhecido do irmão dela, um comerciante rico de Lyon, de acordo com o que ela escreveu no diário. Ela havia conhecido ele uma única vez e, nas próprias palavras dela, ele era "um cavalheiro respeitável e bem apessoado, apesar de ter o dobro da minha idade".

— Eu mal saí do meu leito de morte e você já está pensando nisso? — Eu resmunguei.

— Algo errado?

— Não, é claro que não. Mas eu acho que eu preciso de um pouco de tempo para me recuperar completamente. Não é todo dia que se é curada de uma doença fatal pela graça de Deus...

— Bem, quando você se sentir pronta...

— Eu acho que um mês será mais do que o suficiente para eu me reajustar. Depois veremos.

Eu estava ferozmente determinada a fazer minha estada no século dezoito ser o melhor o possível. Eu não queria pensar em Angelique, eu não queria pensar no que poderia dar errado... Eu apenas decidi viver cada dia com a certeza cheia de fé de que no dia e hora que combinamos, um mês depois da nossa troca, eu iria retornar para o meu próprio tempo. E eu aproveitei cada segundo daquela extraordinária experiência como se não houvesse amanhã - porque eu sabia que haveria.

Eu nunca fui religiosa, mas ir para a missa na Sainte Chapelle se tornou uma das minhas atividades preferidas. Ruas de pedra onde eu costumava ver enormes avenidas, prédios que eu nunca vi em lugares onde eu casualmente já havia tomado um café ou fumado um cigarro enquanto conversava com as minhas amigas. Eu era uma viajante do tempo, eu estava experienciando na pele aquilo que a maioria das pessoas já fantasiou sobre viver um dia. Não era tão glamouroso o tempo todo, a condição social de Angelique tornava minha experiência bem limitada - eu não podia frequentar os infames salons ou dançar a noite inteira pelos corredores de Versalhes ou visitar óperas com Voltaire. Era um pouco chato estar de passagem pelo século do luxo decadente e da extravagância presa na vida de uma garota de classe média sem recursos ou liberdade para degustar de todos os prazeres que a estética rococó poderia me proporcionar. Mas eu ainda estava animadíssima por poder estar ali, para ter uma maravilhosa história para contar quando eu estiver velha o suficiente para as pessoas acharem que eu estou completamente louca - exceto meus pequenos netos, que iriam escutar atentamente a tudo que eu contei, fascinados, colocando sua fé infantil nas histórias de sua avó que viajou no tempo.

Todas as noites eu olhava para o espelho de Angelique na esperança que ela já estivesse curada e aparecesse para dar um oi, me contando que estava bem. Mas todos os dias eu via apenas o meu próprio reflexo e não podia evitar me perguntar se não havia algo errado. E se ela precisasse passar mais de um mês no hospital? E se Leanne não conseguisse trazer ela de volta? E se ela não sobrevivesse? Enquanto os dias passavam e eu começava a sentir falta de coisas como água encanada e meu celular, eu começava a contemplar a possibilidade de ter estar presa em uma situação bem complicada... Até o dia que eu escutei uma voz vinda do espelho de Angelique.

Eu estava quase dormindo quando escutei duas pessoas falando. Eu levei um certo tempo para perceber que as vozes abafadas vinham do espelho - Angelique deveria estar perto! Eu acendi algumas lamparinas e vi que meu reflexo no espelho estava oscilando, embaçado, e uma leve imagem do meu quarto do século vinte e um se formava. Eu escutei algumas risadas - ela estava com alguém - e de repente tudo ficou quieto, mas eu ainda via o meu quarto penando para aparecer através do vidro.

— Angelique! — Eu chamei por ela, não muito alto para não acordar Madame Basset. — Angelique, você está aí?

Tudo permanecia silencioso. O que ela estava fazendo? A imagem estava ficando mais nítida e as vozes um pouco mais altas. Uma das vozes era a dela, com toda certeza, mas a outra... Era uma voz masculina. E soava extremamente familiar.

— Tira sua blusa. — Disse a voz masculina.

— Eu não quero ir para o quarto, vamos ficar aqui. — Disse Angelique.

— Eu não tenho camisinha na carteira, precisamos das suas.

No momento que Angelique entrou no meu quarto, a imagem do espelho tornou-se vívida. Ela não simplesmente entrou no meu quarto, ela foi beijada contra a porta por um homem que a jogou na cama e tirou sua camisa. E esse homem... Esse homem era meu namorado.

— Angelique, que porra é essa? — Eu perguntei, em choque, olhando aquela cena, tremendo de raiva e me esforçando para não gritar. A vadia me ignorou. — Angelique, pare com isso!

Jean-Paul estava em cima dela, beijando-a enquanto ela gemia e fingia que eu não estava ali. Meu sangue estava fervendo de raiva, minhas mãos estavam suando enquanto eu me agarrava na moldura do espelho encarando aquela cena bizarra que mais parecia minha própria sex tape. Que merda ela estava pensando!?

— Angelique! — Eu gritei, finalmente, sem me importar se o resto da casa poderia me ouvir. — Angelique, sua vadia do caralho! Pare de me ignorar! Angelique! — Eu continuei gritando mesmo quando escutei passos vindo em direção ao meu quarto, mas eu não me importei. Eu continuei a gritar enquanto lágrimas quentes escorriam pelo rosto vermelho de raiva. Eu escutei batidas na minha porta. — Angelique, precisamos trocar agora! — Eu chorei, uma última tentativa desesperada de acabar com aquela bagunça. Ao invés de me escutar, Angelique, que tinha meu namorado em cima dela, pegou uma bola de cristal de quartzo que eu mantinha na minha mesa de cabeceira e arremessou no meu espelho. Eu voltei a ver meu reflexo imediatamente - e Madame Basset entrando no meu quarto bem atrás de mim.

Eu arrisquei a minha vida para ajudar aquela garota. E ela simplesmente roubou a minha vida, transou com o meu namorado e me deixou presa para sempre no século dezoito. E ainda quebrou meu espelho de dez mil dólares.

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