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O encontro

"As vezes não há nenhum aviso. As coisas acontecem em segundos.", gosto muito dessa frase de Charles Bukowski, talvez porque resuma perfeitamente parte da minha história.

- Mãe vou sair, já volto!

- Não demores preciso que chegues a casa antes do teu pai, quando ele passa o fim de semana fora, já sabes ele volta furioso.

- Queres dizer bêbado ou talvez caindo aos pedaços? - Não contive o meu tom de ironia.

- Olha essa boca menina.

Saí antes que ela continuasse o sermão.

Ao chegar ao parque avistei de longe o rapaz, não passa despercebido, a cada passo mais me envolvia ao aroma vindo do mesmo, devia ser algum daqueles perfumes franceses que a língua se enrola quando pronunciamos o nome.

- Não, Marco, eu não posso fazer isso! - Neguei, apreensiva e agitada após ser rececionada com um beijo.

O rapaz alto de pele escura, que mais se assemelhava a uma pintura de Da Vinci, ignorava qualquer sinal de revolta em minha fala, mas mesmo assim continuei:

- Marco, tu tens vinte e cinco anos e eu dezasseis! - Relembrei-lhe, pois ele não parecia enxergar a gravidade da situação. - Não tem como levar isso adiante e...

Fui interrompida pelo toque dos seus lábios nos meus novamente. Embora o assunto fosse sério e eu quisesse que ele me escutasse, confesso não ter recusado o ato, o que o impulsionou a continuar.

- Olha, a mim não importa a tua idade. Já és uma mulher feita, além de madura e super responsável. Então considero ti minha namorada?

O sorriso que rasgava a face daquele ser enquanto falava, massacrava em mim qualquer possibilidade de continuar ou aprofundar aquela discussão. E foi assim que eu, Neila, assinei a sentença do meu fim. Tinha cometido o erro de me entregar à maldita lábia de um rapaz cobiçado, que arrasava corações desavisados e atendia pelo nome de Marco. Ah, Marco!

Nos despedimos, pois, ele tinha compromissos a cumprir, eu e Dilva tínhamos um encontro marcado, o domingo é dia de comer a lasanha da Sra. Nené. Porém, nem o privilégio de provar daquele bendito manjar ou a recomendação de minha mãe em voltar para casa antes do meu pai, conseguia tirar Marco, por um minuto que fosse, de meus pensamentos.

Enfim, a visão da casa azul de onde saía em alto e bom som uma música de 2Pac, entregou que eu tinha chegado ao meu destino e que com certeza a Sra. Nené estava em casa. Aquela mulher sim tinha gosto para música!

Ao entrar pela porta, notei o sorriso contagiante que enfeitava seu rosto e o balançar do corpo ao ritmo da música, enquanto tirava a bandeja de lasanha do forno.

- Isso sim é música! - Exclamo, chamando sua atenção. - Eu não podia ter chegado em melhor hora! - Continuei falando quando o cheiro do conteúdo dentro o forno arrebatou minha alma.

Um pouco surpresa, mais ainda embalada pela voz do rapper americano, a senhora veio até mim e lançou sobre meu corpo o caloroso abraço que só ela sabia dar e como se tivesse lido meus pensamentos, ela disse o que eu queria saber:

- Dilva está trancada no quarto há algum tempo. Deve estar mergulhada em algum livro, como sempre.

Era bem típico da minha amiga, então não me causou estranheza quando a encontrei no quarto, como a Sra. tinha dito, mas antes que eu pudesse-lhe pôr a par dos últimos acontecimentos, fomos intimadas a tomar parte na mesa, pois, o almoço estava servido.

Entre talheres, histórias partilhadas e gargalhadas, terminamos a refeição e, enquanto eu e Dilva tivemos permissão para subir para o quarto, a Sra. Nené voltou para a cozinha.

- Eu não acredito!

Minha amiga nem tentou esconder o tom de alegria em sua voz, e continuou despejando questões sobre mim, enquanto arrumava seu corpo sobre a cama repleta de livros.

- Estás mesmo a namorar aquela obra de arte que é o Marco? Mas quando isso aconteceu? Porque não contaste antes? Vai fala, porque não falas?

- Sim estou, mas fala baixo. - Pedi. - Só tu sabes e vai continuar assim. Imagina o que dirá meu pai quando descobrir?

- Nada! Porque ele não vai saber. Mas fala por nome de Afrodite, quero saber os detalhes.

E com um sorriso largo, relatei o que tinha acontecido antes, já menos receosa. O assunto rendeu a tarde toda e já eram seis horas da tarde quando me dei conta de que tinha perdido oito chamadas do meu pai, era certo que o dia não terminaria bem.

A viagem à casa foi um verdadeiro preparo psicológico: ensaiei o choro duas vezes e já tinha o discurso na ponta da língua, então não me matariam por chegar um pouco tarde... Bom, pelo menos era o que eu esperava.

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