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A festa de Dilva


Era uma sexta-feira, 17 de fevereiro, e tudo o que eu ouvia da boca de Dilva, minha melhor amiga, eram comentários alegres por ter finalmente chegado o dia da sua tão esperada festa de aniversário, pois, só se faz 15 anos uma vez e é o auge da adolescência, senão da vida. E, no caso, havia bons meses que planejava a festa que, sem muitos esforços, cobriria o festival da Gamboa, é o que dizia a menina a quem consagrei como melhor amiga.

-Não!... creio que seja melhor vestir esse vestido, ou posso ir mudando de roupa ao longo da festa. - Disse Dilva após provar sete vestidos totalmente diferentes.

-Pensei que já tivesses escolhido o que vestir! - Exclamei deixando meu tom de ironia escorrer boca á fora.

-Sabes bem que roupas devem ser escolhidas no dia, vai que eu escolha o vestido num dos meus maus dias, é a lógica, leve isso para vida.

Eu não me atrevia a prolongar certos assuntos com a mesma, ela tinha sempre algo a declarar. Suportei a menina até a exaustão. Após horas trocando de vestidos decidiu no final vestir o primeiro que tinha provado, deixou-o estirado por cima da cama e então lembrou que devería ajudar na arrumação da festa.

Às seis da tarde, mesmo antes de todos os convidados marcarem presença, a casa já se encontrava cheia. Podia sentir-se os aromas divinos provenientes dos pratos preparados pela Sra. Nené, mãe de Dilva. Aromas que se misturavam ao do álcool em alguns copos.

O salão estava repleto de corpos que se encaixavam a outros, balançando-se em danças duvidosas e pouco decentes, guiados pela voz de Djodje.

Entre inúmeras caras conhecidas e outras nem tanto, notei que ali, encostado à mesa de bebidas, estava o rapaz que se tinha tornado o personagem principal dos meus pensamentos antes de dormir.

Ostentava no pulso uma fina corrente dourada, da mesma cor da joia que levava ao pescoço e era complementado por um pingente com o formato do continente africano, sobressaía muito bem a cor escura da camisa que o mesmo trajava.

Fui arrebatada da minha adoração quando Dilva surgiu no topo da escada que tinha seu fim no grande salão e, entre gritos e aplausos, desceu com triunfo e lentidão, chegando ao centro da festa, a menina sabia muito bem como protagonizar! Mas o que me congelou a espinha foi ouvir:

- Olá! - O cumprimento entusiasmado guiado por uma voz desconhecida chegou aos meus ouvidos. - És a Neila, certo?

- Sim, esse é o meu nome...

E antes que pudesse prolongar a fala o rapaz conduziu-me até ao centro do salão aonde dançamos incansavelmente sob constantes trocas de sorrisos, a noite terminou com a promessa de nos encontrarmos no domingo as 11 horas da manhã.

A festa tinha sido um tremendo sucesso, todos compareceram e nada falhou, apesar de alguns terem sido arrastados rumo á casa, enfim virtudes da juventude como dizia a Sra. Nené. Tive de dormir na casa de Dilva, a ideia de poder comer os petiscos da festa logo de manhã deixava-me num estado de completa paz.

Apagamos sem esforços, só acordei com o estomago reclamando por volta das 10h e após conseguir a grande proeza que é acordar Dilva, fomos guiadas á cozinha por meio de um aroma divino que saía dos pasteis, das pizzas e inúmeros outros salgados que eu não saberia nomear, mas com certeza saberia provar, depois de confirmar o grande talento da Sra. Nené em preparar banquetes recompus meu estado e fui para casa, conselho dado por mãe de Dilva, ela já conhecia bem a personalidade do meu pai.

- Adeusinho Ney não deixes de escrever.

-Ok, eu deixo-te uma mensagem. -Falei acalmando Dilva. - Tchau Sra. Nené obrigada pelo café!

- Não há de agradecer, diz a tua mãe que depois mando o bolo e mande cumprimentos ao teu pai.

- Podes ter a certeza que não esquecerei de falar do bolo. - Saí sem prolongar de mais a conversa.

Depois de ligar os auriculares no meu telemóvel percorri o caminho á casa sem nem dar conta de verificar a caixa de mensagens, afinal ele pediu o número.

- Olá, boa tarde mãe! - disse dando a ela um abraço apertado. - A Sra. Nené mandou dizer que...

- Sim sim, dizes depois, agora vá mudar de roupa antes que teu pai chegue, não quero que ele saiba que só chegaste a casa a essas horas.

Sem nem prolongar entrei no meu quarto que na verdade era uma parte do corredor que a mãe dividiu com cortinas floradas.

As horas foram passando sem piedade enquanto ela passara o dia á espera do homem, o que realmente julgo desnecessário.

-É melhor ir dormir aquele só volta amanhã isso se o estado permitir que ele reconheça a casa.

- Não fale assim do teu pai Ney, eu não te dei essa educação.

Tirei meu prato da velha mesa de madeira pousei o mesmo na bancada da cozinha e voltei ao quarto, passei a noite com o espírito em pulos afinal o encontro com Marco era já no outro dia.

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